(...)
Dylan
Um pequeno problema chamado Anna surgiu na minha vida como uma tempestade inesperada. Tentei ser gentil com essa menina travessa, na esperança de que ela entendesse que não éramos uma ameaça. Mas, se eu soubesse que ela se tornaria uma dor de cabeça constante, talvez tivesse adotado uma postura mais ríspida.
Anna passou o dia me atormentando e eu precisei de um controle colossal para não perder a paciência e, bem... quebrar seu pescoço. Essa baixinha é audaciosa e parece não ter noção do perigo que representa.
Charlotte, por sua vez, observa tudo de longe, como uma espectadora silenciosa que se contém para não fazer nenhuma besteira.
Para minha sorte, Charlotte decidiu levar Anna para buscar suprimentos e, enquanto isso, Stefany não parava de se desculpar pelo comportamento desinibido de sua irmã.
Com Anna fora do meu caminho, aproveitei para dedicar atenção ao meu filho. Quando ele finalmente adormeceu, reuni o pessoal para uma aula de tiro.
"DYLAN!" - A voz irritante dela ecoa pelo ar, e eu fecho os olhos, tentando controlar a avalanche de emoções.
"Vamos parar por aqui, pessoal," - informo aos outros, e, para minha infelicidade, sinto braços me envolvem. Viro-me e lá está Anna. - "Quantas vezes eu já disse para não ficar me abraçando?" - Tento me desvencilhar.
"Por que você é tão mal comigo?" - Ela faz um bico, enquanto eu passo a mão pelos meus cabelos, exasperado.
"Porque você é grudenta," - Dion intervém, aproximando-se. - "Agora vá fazer algo útil da sua vida, pirralha," - ele diz, entregando uma bolsa a ela.
"Quero ficar com o Dylan."
"Obedece, Anna," - ordeno de forma firme, e ela sai resmungando, pisando duro. Solto um suspiro de alívio. - "Sabe como é, acidentes acontecem a todo momento," - Dion ri. - "Você ri porque não está na minha pele."
"Graças a Deus," - Dion sorri e Charlotte se aproxima, com um olhar curioso.
"Quando a fedelha era um zumbi, você ficou todo ciumenta. Agora que ela virou humana, parece que nem liga. O que aconteceu, parou de me amar?"
"Confio em você," - Charlotte me abraça com força. - "E também me garanto," - diz, me abaixo para lhe dar um selinho. - "Mas mudando de assunto, tive uma ideia."
"Vai matar a fedelha?" - pergunto, animado.
"A vontade não falta," - Dion ri. - "Mas é outra coisa e estamos curiosos para saber o que você acha da ideia maluca da Charlotte."
"Estou ouvindo."
"Quero fazer uma transmissão via rádio, anunciando que tenho a cura e informando um endereço para quem quiser se curar."
"Por que você quer fazer uma loucura dessas?"
"Acredito que existem mais zumbis racionais por aí, espalhados pela terra dos mortos. Com o soro que desenvolvi, poderei salvá-los. Você acha a ideia muito ruim?"
"É uma ideia boa, mas arriscada. Não serão apenas zumbis racionais que serão atraídos pela cura."
"Eu sei, por isso vou direcioná-los para outro local. Depois, pensarei em um plano melhor. Primeiro, preciso encontrar um canal seguro para transmitir a mensagem."
"Não será bom a mensagem cair na frequência do exército. Vamos pensar em algo."
"Você aprova a minha ideia maluca?"
"Não é uma ideia tão ruim," - respondo, sorrindo. Ela volta a me abraçar. - "Só tenha cuidado."
"Não se preocupa, vou ter," - ela sorri, soltando-me em seguida. - "Vou verificar meu bebê." - E assim, ela se afasta, nos deixando a sós.
"Eu estava totalmente errado sobre ela. Charlotte tem um coração enorme."
"É passado. Você se arrependeu e ela te perdoou."
"Dylan," - Anna me chama, interrompendo nossos pensamentos.
"A pentelha está te chamando, irmãozinho," - Dion provoca.
"Posso matá-la?" - pergunto, e Dion explode em risadas. - "Quer trocar de lugar comigo?"
"Nem em sonho," - respondi, sorrindo.
Duas pessoas depois...
Charlotte
Stefany pediu para que Anna e os outros ficassem conosco, e eu aceitei. Mas Dylan não ficou nada satisfeito com a minha decisão, já que Anna continua sendo uma verdadeira dor na sua vida.
Essas duas semanas foram um teste de resistência, com Anna grudada nele e Dylan lutando contra a vontade de despejar sua frustração sobre ela. E quem acaba sendo a punida nessa história sou eu.
"Por sua culpa, estou passando por esse aborrecimento, por isso merece um castigo."
Sempre escuto essas palavras à noite, e para piorar, Dion aparece na festa.
Agora percebo que ter dois companheiros não é nada fácil. O ciúmes deles aumentou desde que um jovem começou a me ajudar com a transmissão.
Sam, com seus 22 anos, é um garoto inteligente, alto e magro, que tem olhos verdes brilhantes e cabelos loiros. Mas, como sempre está usando um moletom com capuz e óculos, sua beleza passa despercebida. Ele é gentil e educado, mas o que realmente preciso dele é sua mente brilhante, e só por isso ele está ao meu lado. Mas Dylan e Dion acreditam que ele tem uma queda por mim.
"Todos sabem que pertenço a vocês dois."
Por mais que eu repita isso, eles não parecem acreditar. Por raiva, deixo Anna perturbar Dylan. No início, eu sentia ciúmes da garota, mas percebi que essa atitude era mais infantil do que qualquer outra coisa, já que Dylan nunca demonstrou interesse por ela.
Anna é pequena, com pele clara, olhos azuis e longos cabelos pretos, mas é mimada e age como uma criança. Stefany, sua irmã mais velha, explicou que Anna passou por muita coisa após se tornar um zumbi. Seus pais tentaram fazer tudo para ajudá-la, e por isso ela é assim.
Stefany, com 25 anos, é um pouco mais alta que Anna. O rosto delas é semelhante, mas Stefany tem cabelos loiros e curtos. Ela está há sete meses de gestação, é sonhadora e muitas vezes parece estar nas nuvens, mas senti falta de seu marido.
Eles eram namorados desde a adolescência. Para protegê-la, um zumbi mordeu o marido, mas ele manteve sua racionalidade, e Stefany decidiu ficar ao seu lado. Depois, encontraram outros zumbis racionais, e a irmã dela também se transformou. Seus pais criaram uma colônia apenas para zumbis racionais, mas meses depois, bandidos invadiram a fazenda deles.
Stefany tenta ser forte, mas está destruída por dentro. Por isso, deixei que elas ficassem conosco.
Deixo Dylan reclamando e vou pendurar a roupa no varal com Stefany. Durante o trabalho, falamos sobre livros. Ela ficou radiante ao saber que também gosto de ler. Enquanto eu sou fã de fantasia e ficção científica, ela adora Monster Romance e Dark Romance. Não é à toa que demoramos tanto para trazer sua biblioteca particular para minha fazenda.
"Confesso que estou impressionada com sua paciência," -diz Stefany, mudando de assunto. Olho para ela. - "Minha irmã está sendo muito irritante, mas você está aguentando bem."
"Confio no Dylan."
"Confiança é tudo. Mas minha irmã está passando dos limites." - Fico em silêncio, e após alguns minutos, terminamos de pendurar as roupas. - "Minhas costas e meus pés estão me matando."
"Eu sei como é," - respiro fundo. - "Melhor você descansar, eu termino o resto."
"Obrigada," - ela começa a se afastar.
"Lotte," - olho para trás e vejo Sam se aproximando. - "Estava pensando... se usarmos a rádio da escola para transmitir a mensagem."
"Não vai precisar de eletricidade?"
"Ela tem geradores elétricos. Acredito que funcionará se usarmos a frequência da rádio da escola, será mais seguro."
"Amanhã bem cedo iremos à escola," - concordo. - "Você não sente calor todo encapuzado?"
"Já estou acostumado a ficar assim."
"Mas desse jeito, as meninas não verão o belo jovem que está por baixo desse moletom."
"Não exagera, Lotte," - diz, paro em frente a ele. Arranco os óculos e tiro o capuz da cabeça dele, bagunçando seus cabelos. - "Charlotte!"
"Você parece um anjo. Deveria exibi-los mais." - Começo a andar.
"Meus óculos," - ele reclama, e eu olho para trás, sorrindo, e acelero o passo. - "Charlotte!" - Ele corre atrás de mim.
"Você nem precisa deles," - digo, vendo que ele está sério. - "Samuel é um nerd bebê gigante," - aperto suas bochechas.
"Para de brincar comigo," - ele responde, irritado. Olhando para trás, vejo Anna perturbando Dylan. - "Isso não te incomoda?"
"Eu deveria me preocupar?" -pergunto.
"Não é isso. Desculpe a intromissão," - ele pega os óculos da minha mão. Ouço risadas e volto a olhar. Anna ri. -"Mesmo sendo uma adolescente, ela não deixa de ser uma mulher," - olho para ele. - "O que Anna está fazendo é falta de respeito com você, mas seu marido não faz nada para impedi-la."
"Anna é persistente."
"Ele deveria ser mais firme e fazê-la entender que é um homem comprometido. Isso não é nada bonito," - fico em silêncio. - "Se eu fosse ele, já teria tomado uma atitude." - Paro de andar. - "Desculpe, isso não é da minha conta."
"Tudo bem," - tento controlar a raiva que se acumula. Samuel começa a andar novamente e, em alguns minutos, me encontro sozinha, em guerra com meus pensamentos.
"Então, o pirralho plantou a semente da discórdia," - Dion aparece. - "Não fica pensando, Charlotte."
"Se eu pensar, coisas ruins podem acontecer."
"Sério, amor?" - Ele se aproxima e segura meu rosto. - "Só existe você para o Dylan." - Fico em silêncio. - "Tenho certeza de que é obra da pentelha," - ele diz. - "Ela deve estar usando o pirralho para envenenar sua cabeça e fazer você largar o Dylan, para que ele fique livre."
"O quê?"
"Tenha muito cuidado com esse garoto, amor."
"Samuel só está me ajudando com a transmissão."
"Para de ser ingênua, mulher," - ele segura meu rosto. - "Você é um obstáculo para Anna, e eu sou um obstáculo para ele."
"Isso é um absurdo, Dion!"
"Não é, e lá no fundo, você sabe que tenho razão. Uma mulher ambiciosa é perigosa, imagine uma adolescente?" - Ele começa a beijar meu pescoço, e fecho os olhos.
"Ninguém irá me separar de vocês."
"Mas está duvidando da lealdade do meu irmão," - ele diz, e desvio o olhar. - "Posso te garantir que Dylan não está gostando da investida da garota. Ele sempre se queixa e se preocupa que isso prejudique vocês dois."
"Anna é linda e cheia de vida. Já eu sou quebrada."
"Você é mil vezes melhor que ela, amor," - ele sorri. - "Não estou falando isso porque te amo, mas porque é um fato." - Ele encosta a testa na minha. - "É normal sentir medo. Eu, assim como Dylan, não temos 22 anos. Ver um garoto mais jovem interessado em você nos deixa inseguros."
"Eu não vejo Samuel dessa maneira." - Dion se afasta. - "Fique tranquilo. Seja lá o que Anna está planejando, não funcionará comigo."
"Digo o mesmo sobre o meu irmão. Ele não passou por todo esse inferno para escolher outra mulher." - Ele me abraça, e eu permaneço em silêncio