A expressão de Kena mostrava um turbilhão de emoções. Ao testemunhar sua amada irmã Nina no chão, ferida e com um cristal cravado em seu corpo, uma sensação de choque e impotência a dominou.
A visão da pessoa que ela mais amava, alguém com quem ela compartilhara inúmeras experiências e desafios, agora em uma situação tão vulnerável, era avassaladora e inacreditável.
Ela se ajoelhou no chão, seus sentimentos manifestados em sua postura e expressão. Sua paralisia diante dessa cena dramática era uma reação natural à intensidade da situação.
A crença anterior de que, juntas, eram invencíveis havia sido derrubada, e a realidade dolorosa desse momento a atingiu com força total.
— Impossível, impossível, impossível…
Os murmúrios repetidos ecoavam no ar, um eco angustiante de sua agonia interior. Seus olhos vazios refletiam o vazio e a desorientação que a consumiam. A ausência da presença e das orientações de sua irmã deixava um vácuo em sua existência, um vazio que ela não sabia como preencher.
— Observando suas reações durante a luta, percebi que vocês nunca enfrentaram alguém mais forte. É lamentável vencer contra pessoas com tão pouca experiência. É triste, mas precisarei de outro oponente. Bem, é um adeus.
As palavras de Miguel pareciam ecoar em um vazio para Kena. Sua mente estava tão tomada pela angústia e pela perda que ela não conseguia processar ou compreender o que estava sendo dito.
Cada palavra se dissipava rapidamente, incapaz de penetrar a névoa de confusão e dor que envolvia seus pensamentos.
— Morra como a sua irmã.
— Morrer?
As palavras murmuradas carregavam um peso perturbador. Ao cogitar a ideia de morrer junto com sua irmã, ela estava revelando a extensão de sua angústia e seu desejo de estar ao lado de Nina, mesmo além desta vida.
O esboço de um sorriso em seu rosto indicava uma mistura de resignação e um lampejo de paz que ela imaginava que poderia encontrar ao se reunir com sua irmã.
— Hum? Impossível. Perfurei totalmente o seu corpo. Tirando o coração e resto dos pulmões, tudo está destruído, mas porque seu coração continua batendo? Não importa, só tenho que fazer de novo.
— Morrer? De novo?
As murmurações ecoaram novamente, desta vez trazendo à tona lembranças dos ensinamentos que sua irmã Nina havia compartilhado com ela. Essas palavras evocaram um momento de clareza em meio à sua confusão emocional, trazendo à tona as lições e orientações que ela havia recebido do clã.
— Kena. Não importa o que aconteça, enquanto possuirmos o sangue dos demônios. Podemos voltar do inferno mesmo com os órgãos destruídos.
— Sério? Sério?
— Sim. Enquanto o nosso coração estiver intacto. Podemos voltar a viver de novo. Não esqueça disso.
— Sim! Sim!
Lembrar das memórias perdidas no meio do caos foi como uma chama reacendendo a determinação. Ela se ergueu, suas emoções transformando-se em um fervor renovado. Ao perceber Miguel se aproximando de sua irmã caída, a crença de que Nina poderia ainda estar viva impulsionou-a a agir.
Ela sentiu o calor interno aumentando, como brasa acesa em seu corpo. Sua energia ardia mais uma vez, motivada por uma mistura de emoções intensas. Determinada, ela correu em direção a Miguel, movendo-se com uma agilidade e intensidade renovadas.
Impulsionada pelo desejo de proteger sua irmã e reverter a situação desesperadora. Ela estava disposta a lutar com todas as suas forças, acreditando que sua ação poderia fazer a diferença.
— Quê?!
A voadora de Kena atingiu com impacto total. No entanto, a defesa de sangue de Miguel entrou em ação, resistindo e mitigando parte do dano.
Apesar da proteção oferecida pela defesa, a força do ataque ainda era evidente, pois Miguel foi jogado para trás.
— Irmã, você está bem?
Kena se aproximou de sua irmã com uma mistura de preocupação e urgência. Seus sentimentos de determinação e agressividade agora se transformaram em uma ternura enquanto ela se aproximava da figura caída de sua irmã. Cada passo que dava expressava sua profunda conexão com Nina e sua ânsia de protegê-la.
— Não me toque kof!
As palavras fracas de Nina, acompanhadas pelo ato de cuspir sangue, ecoaram como um eco angustiante. Sua voz trêmula e suas ações mostravam o quão frágil e debilitada ela estava após os eventos intensos. No entanto, mesmo em meio à sua condição precária, Nina ainda encontrava forças para se comunicar.
— Irmã.
— Escute Kena. Mate-o!
A perplexidade em relação à impossibilidade de tocar sua irmã foi substituída por uma compreensão urgente. As palavras de Nina finalmente lançaram luz sobre o dilema que a cercava, e ela percebeu a única solução possível para salvar a vida de sua irmã: eliminar Miguel.
Kena se ergueu com uma determinação feroz, suas emoções em chamas e seus objetivos claros à sua frente. Ela correu com agilidade em direção ao seu inimigo, sua expressão determinada revelando a intensidade de sua missão.
— És um pê no saco hein!
O confronto entre os dois era um jogo de estratégia e habilidade, com cada movimento carregando o peso das consequências.
Miguel adotava uma abordagem defensiva, esperando pacientemente o momento certo para lançar seu contra-ataque. Sua postura indicava sua compreensão das ameaças que ela representava e a cautela necessária para enfrentá-la.
— Morra! Morra! Morra!
— Ainda não, mocinha. Ainda não.
O combate corpo a corpo entre eles estava se desenrolando em uma intensa sequência de movimentos. Kena se destacava pela rapidez e agressividade de seus ataques.
Sua abordagem estava testando os limites de Miguel, que estava lutando para acompanhar a velocidade e a intensidade de seus golpes.
— Agulhas sangrentas!
A estratégia dele mudou quando ele se distanciou, dando espaço para lançar sua nova técnica. Essa nova abordagem era caracterizada por ataques rápidos e precisos, projetados para incapacitar. Ele estava se adaptando à intensidade da batalha, buscando uma maneira de neutralizá-la.
No entanto, a agilidade de Kena eram notáveis. Ela estava constantemente desviando dos ataques, demonstrando sua habilidade em antecipar os movimentos dele e reagir com velocidade.
— Para de me seguir. Eu não gosto de você.
— Perca! Perca!
O desespero tomava conta dela enquanto ela lutava. O relógio estava correndo, e a vida de sua irmã estava em jogo.
Cada segundo que passava parecia uma eternidade, e Kena estava consciente de que não podia se dar ao luxo de demorar demais. Sua mente estava focada no objetivo urgente de vencer a batalha e levar sua irmã para a segurança do clã.
— Estava aqui pensando. Por que suas roupas não queimaram? Com todo esse fogo não deveria ser possível manter intactos?
— Perde! Perde!
— Esqueci que estou falando com uma mula. Desculpe e Adeus.
— Arrrgggghhh!
A surpresa e o choque dominaram Kena quando ela foi atacada por trás, suas costas sendo alvejadas por uma série de agulhas afiadas. A dor aguda e repentina a atravessou, fazendo com que ela caísse ao chão com um gemido de angústia.
Sua visão turvou momentaneamente pelo impacto, e ela lutou para se recuperar enquanto sentia uma sensação de entorpecimento se espalhando por seu corpo.
Ela lutava para entender o que havia acontecido enquanto as agulhas a almejava novamente. Ela estava presa, imobilizada pelas agulhas que a perfuravam implacavelmente, sua expressão refletindo o sofrimento e a confusão que a dominavam.
— Essa foi fácil. Últimas palavras? — As palavras cortaram o ar, ecoando com um tom frio e calculado.
Ele se aproximava de Kena com uma mistura de confiança e triunfo, sua presença dominante permeando a cena.
As lágrimas começaram a escorrer pelos olhos dela, traçando trilhas brilhantes por suas bochechas enquanto a dura realidade se impunha sobre ela.
Sua expressão mostrava a mistura de emoções que a consumia: frustração, desespero e a dolorosa aceitação de que a vitória parecia inatingível. O peso do que estava em jogo, a vida de sua irmã e a luta para protegê-la, era avassalador.
Irmã. Eu perdi. Me desculpe.
— Vai chorar?
— Mate.
— Que assim seja.
— Pare Miguel!
Uma voz cortou o ar, rompendo o tenso momento que envolvia o confronto. Miguel se viu instantaneamente distraído, virando-se para localizar a origem da interrupção. Seus olhos se fixaram na figura que se destacava, sua expressão passando de confiança a surpresa e choque.
O congelamento momentâneo era evidente, sua postura tensa e seus movimentos interrompidos pela presença da pessoa inesperada.
Seus olhos refletiam um misto de confusão e questionamento, enquanto ele processava a reviravolta na situação. A pessoa que havia gritado para ele era um fator improvável, uma variável imprevista que poderia alterar o curso dos eventos.