LIZ
21 dias para o baile de inverno.
Maya passou o tempo depois do jogo implicando que eu tenho uma queda por Cecília, eu já estava quase convencida disso de tanto ela falar, mas claro que em todas as vezes neguei veemente.
No domingo acordei com Maya entrando feito um furacão no meu quarto, ela me obrigou a levantar. Me arrastou para fora de casa, disse que queria comer e então fomos a Waffle House. Lá encontramos Cecília, conversamos por alguns minutos e depois minha amiga me arrastou de lá sem mais nem menos.
Maya não explicou direito, só disse que queria bater no atendente da Waffle House e que não comeria lá enquanto ele trabalhasse lá. Não parecia algo sério, porque se fosse ela teria falado, eu também fiquei desconfortável com o rapaz nos olhando e posso julgar que ele já foi um dos casos de Maya.
A semana estava correndo bem. Madelaine não me procurou, Cecília eu só vi algumas vezes pela escola, mas nem nos falamos. Foi só eu e Maya, tudo na mais perfeita normalidade. Nada me incomodando.
Não passei a semana fugindo como na anterior, mas estava agradecida dos meus pais não terem me pegado ainda para conversar. Mas nem tudo são flores...
— Podemos conversar?
Mamãe me pega subindo a escada para o segundo andar, acabo de chegar do treino da torcida e ainda estou vestida com o uniforme. Suspiro e logo respondo:
— Podemos, só vou tomar banho e já desço.
— Tudo bem, vou preparar um chá enquanto isso.
Suspiro numa tentativa de superar o cansaço que sinto e ainda tenho que ir trabalhar para "melhorar" tudo. Jogo minha mochila na cama e escolho minha roupa, vou tomar banho e tento não demorar. Depois de arrumada pego minhas cartas das universidades na caixa atrás da porta e desço. Mamãe está sentada na cozinha bebendo chá.
Coloco as cartas na mesa e sento de frente para mamãe.
— Você se inscreveu em quantas? — Sei que está perguntado isso porque ela queria que eu me inscrevesse apenas em três ou quatro.
— Em sete. — Respondo e ela me olha querendo que eu fale quais as universidades inscritas. — Além de Columbia, Yale e Princeton... Me inscrevi para Tulane, Florida State, University of Florida e Florida International University.
— Em quais foi aceita? — Pergunta e mesmo assim sei que quer ver as cartas. Claro que eu já as tinha aberto, sou ansiosa não consigo ficar com as cartas por perto e não ver as respostas.
— Tirando Princeton, fui aceita em todas. — Ela passa os olhos rapidamente sobre as cartas. — Mas isso não importa, eu não iria para lá de qualquer forma, não quero ficar longe da cidade.
Um suspiro alto sai da boca da minha mãe e sei que ela vai começar a falar sobre as universidades de perto não serem tão boas.
— Liz, você tem que entender que as universidades de longe são melhores em questão de ensino...
— Não ligo para isso, eu só quero me formar e ficar por perto, mamá. — Falo quase em um muxoxo, não quero brigar, mas ao mesmo tempo não quero ceder. — Eu já cedi a fazer advocacia, sendo que inicialmente eu queria literatura... Então só me deixa escolher ao menos uma vez.
— Yale fica 6 horas daqui...
— É em Connecticut!
— Columbia fica há apenas 2 horas e 45 minutos, Liz.
— Eu sei e mesmo assim não é perto, fica em Nova Iorque! — Lá estava ela suspirando pesado e eu da mesma forma. Onde está o meu pai para apaziguar a situação quando se precisa dele? — Eu não vou para lugar algum que seja longe!
— As pessoas brigam para ir para longe e você não quer isso? — Minha mãe não quer nem ao menos me entender, esse é o problema dela. Ela se acha a rainha da sabedoria, sempre achando estar certa sobre tudo e que sabe o que é melhor.
— Exatamente! Não quero isso. — Minha mãe leva as mãos para cabeça num ato de dramatização.
— Você não está pensando direito!
— Estou sim, não faz ideia de como estou. — Elevo minha voz, não porque tenho a intenção. — Pode respeitar minha opinião ao menos uma vez?
Não espero que ela responda, apenas saio para o meu quarto. Deixo minhas cartas ali mesmo e vou fazer alguns exercícios antes de ir trabalhar.
*****
wayhaughtvibes
Eu sou muito trouxaaaa
O que faço para esquecer a garota
A líder?
SIM
Se apaixone por outra 😆
Vou me apaixonar por você kkkk
Mentira que nem tem como isso acontecer porque já sou apaixonada 🌚😂
Ai, Waves
Assim eu que me apaixono
Essa é a intenção haha
Eu nem falei com ela essa semana
Tenho medo de ficar perto demais e acabar cedendo a alguma bobeira que meu corpo der
Talvez isso devesse acontecer
Não, é loucura
E o que eu estou sentindo também parece louco
Você está ferrada!
Eu sei, que merda!
*****
Estranhei OJ vir falar comigo, mas deixei de me perguntar o porquê de ele ter feito isso depois que vi o quanto ele pode ser legal, Maya o adorou também. OJ é um dos atletas principais do time de futebol, praticamente só tem ele e Ian, os dois não fazem milagre sozinhos, mas fazem o que podem.
OJ assistiu ao treino de última hora que Madelaine agendou, já que as sextas não costumamos treinar. Apenas troquei de roupa para poder ir embora, ninguém parecia com pressa de ir para casa por ser sexta.
No ginásio procuro por Madelaine e vejo-a sentada conversando com Cecília (Gomez) e Sina. Um pouco á frente numa roda está Danielle Schmidt com outras garotas do time.
Ingrid está conversando com Cecília Castillo que veio assistir ao treino, o amigo delas também está ali, mas parece bem alheio as garotas (o que é bem surpreendente). Mais alguns alunos estão por ali, OJ deve ter ido embora assim que o treino acabou porque não o vejo ali.
— Liz agora quer se unir ao OJ para ganhar o título de rainha, isso é uma manipulação "pesada" dela. — Estou indo falar com Madelaine quando escuto Danielle falar, ela está de costas para mim.
— O que você disse?! — Não posso deixar de perguntar, eu não ia deixá-la inventar um boato quando eu nem ao menos queria ser indicada. Danielle não esperava que eu estivesse ali e suas amigas são tão boas que nem avisaram que eu estava atrás de si. — Ficou surda? Me resposta.
Danielle se vira trazendo os olhares de todos no ginásio para nós. Tudo o que eu não quero é chamar atenção e é sempre o que mais consigo.
— Eu disse que você acha que dar em cima do astro do time de futebol vai te fazer ganhar como rainha do baile!
Rio da cara dela. Se ela soubesse... Primeiro que eu nem gosto de homens e segundo que tudo que eu menos queria era participar da merda de uma competição de popularidade ridícula.
— Garota, você está falando merda! — Esbravejo e me aproximo dela. — Eu nunca faria uma babaquice dessas, eu nem ao menos esperava concorrer ao baile de inverno.
Madelaine se aproxima silenciosamente, chego a desconfiar dela quando Danielle lhe olha por alguns segundos. Becker inventou isso para essa chata da Schmidt?
— Não era de se esperar que ficou surpresa. — Danielle desdenha de mim. — E agora depois do golpe de sorte quer ganhar as custas de um cara bonito.
Semana passada ela não me parecia tão ácida sobre ganhar essa competição, agora vejo o quão detestável ela pode ser. Danielle acabou de me chamar de feia (tudo bem, não sou afetada tão facilmente por uma bobeira dessas) e me chamou de interesseira e manipuladora sendo que ela nem me conhece.
— Eu não sou assim, você que deve estar planejando isso e OJ não deve te achar um ser humano repugnante a ponto de não querer ficar com você nem que paguem ele.
Não pensei em nada melhor para falar, mas foi o suficiente para Danielle me dar um tapa no rosto. Eu abri a boca em choque e todos pareciam nem respirar. Quando Cecília saiu lá de trás para vi para frente e Madelaine se mexeu para se aproximar, eu sorri irônica.
Tudo bem... Ela tentou me humilhar, certo... Mas bater no meu rosto e achar que isso não vai ter volta é pedir um pouco demais da minha paciência.
— Vadia do caralho!
Escutei alguns murmúrios surpresos, mas nem foi pelo meu xingamento e sim porque eu pulei em Danielle e bati na cara dela como se ela fosse um algum tipo de terapia para a raiva que eu sentia.
— Liz, larga ela!
— Liz!
Fui tirada de cima da Schmidt por duas pessoas, eu não soube qual das meninas era, mas elas me puxaram para sentar na arquibancada. Vi o amigo de Cecília e Ingrid segurando Danielle que tinha uma cara assustada.
— Você está bem?
Cecília pergunta, avaliando meu rosto. Ingrid aparece com uma garrafa de água gelada e entrega para Madelaine que coloca a garrafa na lateral esquerda do meu rosto sem cerimônia, onde Danielle me deu o tapa.
— Ai! — Bato na mão de Madelaine que não afasta a garrafa mesmo assim.
— Vai ficar roxo, boxeadora. — Ela implica e ri baixinho, Becker é abusada demais. Cecília está me olhando num misto de susto e diversão.
— Sério que ela esperava que fosse falar mal de mim e ainda sair numa boa?
Olho para Madelaine na tentativa de averiguar se ela tem algum envolvimento nessa ideia da Danielle, ela me devolve um olhar sem entender porque estou olhando-a.
— O que está acontecendo aqui? — A diretora Edwards berra da entrada do ginásio.
— Que merda! — Suspiro ficando ainda mais tensa conforme a aproximação da diretora. Ela para e conversa com as meninas que assistiram mais de perto a briga. — Ela vai chamar a mamá.
— Acabou de bater em alguém e tem medo da mãe. — Becker brincou, Cecília riu também o que me surpreendeu pois ninguém ficava tão a vontade perto de Madelaine.
— Você não a conhece Stela Rodriguez...
— Danielle Schmidt e Liz Rodriguez na minha sala agora!
Suspiro e tiro a mão de Madelaine que segura a garrafa do meu rosto.
— Quer que eu vá com você?
Cecília quem se oferece. Esperava isso da Becker e quando a olho, ela está sorrindo. O mesmo sorriso do banheiro, o sorriso de quem acha que tem algo acontecendo entre Cecília e eu.
— Seria legal da sua parte.
Cecília balança a cabeça e me estende uma das mãos para que eu pegue, aceito e mesmo sob o olhar de Madelaine eu saio mais tranquila estando de mãos dadas com Cecília.
Danielle falou primeiro com a diretora, depois eu fiz isso, mas só poderíamos ir embora quando nossos pais chegassem e conversassem sobre nosso comportamento.
Cecília ficou ali comigo enquanto Danielle esperava sozinha, Ingrid apareceu e puxou papo também. Minha mãe chegou primeiro que os pais de Danielle, ela me olhou primeiro e depois olhou para as meninas perto de mim e por último para quem estava mais machucada que eu.
— Desculpa ter feito a senhora vir aqui. —Pedi antes que ela abrisse a boca para ficar brava. — Eu não fiz isso sem um motivo, mamá.
— Depois conversamos. — Mamãe me lançou um olhar que dizia o quão irritada estava, se ela já estava brava antes comigo agora devia ter multiplicados infinitas vezes.
Ela bateu na porta da diretora e logo entrou.
— Ela parece brava. — Ingrid comenta e sei que ela sente um pouco de pena de mim no momento.
— Sua mãe é cubana?
— Sim, deu para perceber pelo sangue quente, não é? — Tento amenizar o clima mais tensão que minha mãe deixou.
— Sim, a minha também é. — Cecília dá de ombros preguiçosamente.
— Ah, está explicado.
— O quê? — Me pergunta interessada, fico com vergonha instantaneamente.
— Sua anatomia, eu reparei... Achei que seus traços seriam cubanos mesmo.
*****
— Você está de castigo por conta das suas atitudes superficiais! — Minha mãe esbraveja assim que chegamos no meu quarto. Alguns dos meus parentes já estão por aí então ela trata de fazer isso no meu quarto. — Eu nunca fui chamada na escola antes, Liz, que vergonha... Você só pode sair de casa para trabalhar e nada mais.
— Eu ganho o meu próprio dinheiro, saio quando eu quiser! — Levanto da minha cama e falo irritada. — Além disso, não foi minha culpa se Danielle ficou inventado coisas de mim, não sou obrigada a deixar ela espalhar boatos meus.
— Você se acha superior demais não é mesmo? Você que teste de sair para qualquer atividade sem a minha permissão ou a do seu pai. — Mamãe gosta de dar a última palavra sempre então assim que acaba de falar ela sai e fecha a porta do meu quarto.
— Veremos se eu não vou sair.
Me arrumo para ir trabalhar, pelo menos para isso estou liberada. Logo agora que minha casa vai ficar lotada por duas semanas eu não vou poder sair de casa e tirar um pouco de estresse da cabeça, eu vou pirar aqui.
Quando chego para trabalhar Gal e Ross me olham por algum tempo.
— Briguei na escola. — Apontei para minha bochecha esquerda que ainda doía e estava um pouco roxa.
— E por que fez isso?
— Aposto que foi por um garoto. — Ross brincou e recebeu olhares meus e de Gal em repreensão.
— Mulheres tem mais o que fazer. — Gal responde para o rapaz musculoso.
— Nunca espere que eu brigue por um homem, a menos que seja pelo meu pai. — Respondo e Ross murmura: "garota esperta". — A garota inventou umas mentiras sobre eu querer ganhar popularidade para ser rainha do baile de inverno, sendo que eu nem ao menos queria participar dessa competição idiota.
— Você vai ser rainha do baile? Que orgulho.
— Gal por favor... É só uma competição boba sobre garotas com estereótipos que a sociedade acha ser...
— Liz, cala a boca e fica feliz por ser bonita!
— Desde quando você está tão saidinho assim Ross Moore?
Gal ri quando pergunto. Ross estava mais simpático, o que eu não reclamo porque é bem melhor ter ele dessa forma.
*****
— Você me chamou e eu vim.
Me assusto com a voz de Madelaine atravessando o beco escuro. Passa da meia noite, Gal mandou que eu fosse embora para casa, mas eu não quero isso.
— Você quer ir á Miami Beach comigo?
— Sinceramente, Liz? Se estou aqui eu vou qualquer lugar. — Madelaine não parecia tão animada como esperei que estivesse. Até pensei que ela fosse chamar nosso passeio de aventura noturna ou algo bobo assim.
Me aproximo dela e a abraço.
— Você está bem? — Madelaine se afasta um pouco do meu corpo. — Acha que Danielle te bateu forte demais.
— Idiota.
Becker me puxa na direção do seu carro, sorrindo um pouco mais que antes. Menos de meia hora e estamos sentadas na praia, uma brisa gelada passa e menos que estejamos agasalhadas eu tremo um pouco.
— Você não está bem. — Reparo no semblante cansado dela. — O que aconteceu?
— Desde quando falamos de mim?
— Desde que percebi que sou egoísta...
— Não acho que seja. — Madelaine retruca e tenta um sorriso. — A única coisa que acho é que você devia ter chamado Cecília Castillo para te fazer companhia, não sou a melhor companhia hoje.
— Por que eu chamaria Cecília? — Becker me olha como quem fala: não se faça de sonsa.
— Não me venha com essa, vocês se olham como um casal idiota apaixonado.
— Não nos olhamos não. — Nego veemente e volto para ela: — O que aconteceu com você?
— Hoje faz um ano que alguém que eu amo me deixou. — Ela fala tão pesarosa que suponho que a pessoa morreu.
— Meus pêsames. — Madelaine sorri um pouco depois que falo.
— Ela não morreu, na verdade está bem viva. — Me surpreendo com sua resposta. — Você não achou que fosse a primeira garota que eu beijei, certo?
— Pensei que fosse exclusividade minha tirar você da prisão do heterossexualismo. — Brinco e Becker sorri. — Na verdade eu não parei para pensar sobre isso, tem muita coisa rondando minha cabeça... Mas o que aconteceu para essa garota te deixar?
— Coloquei todas as coisas superficiais possíveis na frente do nosso namoro. É tudo culpa minha.
— E ela te deixou... — Concluo.
Ficamos em silêncio por alguns instantes. Madelaine deita nas minhas pernas por ser uma inegável folgada, mexo nos cabelos ruivos dela e vejo os detalhes bonitos do seu rosto perfeitamente modelados.
— Eu não tenho coragem de falar com Cecília sobre mim. — Eu mesma fico surpresa com a admissão que faço. — E acho melhor não envolver ela...
— Você está perdendo tempo se realmente gosta dela. — Becker comenta de olhos fechados recebendo meu carinho no cabelo. — Só não pense demais que isso estraga tudo.
O que eu mais faço é estragar tudo, não seria nada de novo se isso acontecendo...