Em Boa Companhia

Logo cedo, Ariandel aproveitou mais um banho e, com um humor contagiante, se dirigiu à cafeteria.

Ao chegar, encontrou o local um pouco lotado. Depois de pegar sua xícara de café, procurou rapidamente por seus adoráveis (na imaginação dele) companheiros, que já estavam reunidos no canto dos "cadáveres". A mesa estava vazia, pois ninguém queria ficar perto de Cássia, e Sunny, a pária dos Adormecidos, era evitado por qualquer outro grupo.

Ariandel sorriu ainda mais, transbordando de alegria. Parecia que os dois estavam destinados a ser excluídos juntos pelas próximas quatro semanas. Mas, para ele, isso não era um problema. Pelo contrário, estava satisfeito em desfrutar da companhia deles.

Controlando-se para não parecer estranho, aproximou-se dos "quase cadáveres", acenou para a assistente de Cássia e cumprimentou seus (no coração dele) amigos.

"Sunny, Cássia, tudo bem? Posso lhes fazer companhia?"

Sunny olhou para Ariandel com um misto de cautela e desconforto velados, desviando o olhar da visão de Cássia. A garota estava com expressão séria, o café em suas mãos repousando como se o peso de sua situação a sufocasse.

"Bem, não vejo problema", Sunny respondeu com uma voz baixa, tentando evitar qualquer proximidade excessiva. Fez um pequeno gesto com a cabeça, como se dissesse 'só não faça algo estranho'.

Cássia, ao seu lado, permaneceu imóvel por um momento, as mãos firmemente fechadas sobre a xícara. Quando a voz de Ariandel alcançou seus ouvidos, ela sentiu a gentileza e a consideração em sua pergunta, o que a fez relaxar um pouco, apesar de sua insegura.

"Claro, Ariandel", ela disse, sorrindo suavemente. "Fique à vontade."

Enquanto Ariandel começava a se acomodar na mesa, algo fora de lugar chamou sua atenção. Um burburinho crescente se espalhou pela cafeteria, e ele virou-se para ver o que estava acontecendo.

'Já está na hora, hein. Em qual ranking eu vou ficar? E qual será a reação?'

Ele olhou para os muitos Adormecidos que estavam reunidos em torno da tela grande pendurada na parede da cafeteria, com rostos cheios de empolgação e admiração. Na tela, uma lista de nomes era exibida, classificando a nova leva de Adormecidos do mais fraco ao mais forte, deduzida a partir dos resultados das entrevistas.

Ele rapidamente procurou por seu próprio nome. E, para sua surpresa, viu-o no topo da lista.

'O quê?' Ariandel pensou, os olhos se arregalando ligeiramente de surpresa. Ele estava em primeiro lugar. Quase não podia acreditar.

"Eu fiquei à frente de Nephis…" murmura, ainda sem entender. "Eu, acho que exagerei ao revelar tantas informações." Ele olhou novamente para o ranking, tentando encontrar uma explicação.

"Talvez eles levem mais em conta a capacidade de sobrevivência do que a de combate…", pensou, com um leve sorriso nervoso. "E ela pode ter sido mais reservada sobre o seu Aspecto."

Mas enquanto Ariandel tentava digerir a surpresa, os murmúrios ao seu redor começaram a crescer em volume. A tela se tornou o centro das atenções.

"Como… como isso é possível?!"

"Eu não estou vendo coisas, certo?"

"Que tipo de monstro são esses dois?!

"E quem é esse em primeiro?! Alguém já o viu antes?!"

Caster ficou em terceiro lugar. Acima dele, o retrato de uma garota de cabelos prateados era claramente visível, logo abaixo do de um jovem de beleza etérea, como saído diretamente de um conto de fadas.

À direita dele, duas linhas simples de texto foram exibidas:

"Nome: Ariandel"

"Verdadeiro Nome: String of Faith"

***

Então, o bastardo-florido e a garota de cabelos prateados, Nephis, também haviam recebido um Nome Verdadeiro em seu Primeiro Pesadelo. Sunny não pôde evitar uma comparação: para conquistar o seu, ele teve de enfrentar o Herói e o Rei da Montanha, com um Aspecto que, na melhor das hipóteses, era inútil. Uma vitória que parecia ter impressionado até o Feitiço.

"Me pergunto como ele conseguiu o dele." Sunny lançou um olhar discreto para o jovem afável, agora sentado próximo à garota cega, uma figura que irradiava uma perfeição quase provocante. "Então, não é só aparência... Você é realmente capaz."

A desconfiança de Sunny só aumentou. Ele refletiu, mais uma vez, sobre como pessoas tão perfeitas poderiam ser de apenas dois tipos: ingênuas ou monstruosas. Tentou encaixar o quebra-cabeça. "Se fosse ingênuo e só quisesse atenção, bastaria parar de se esconder. Com aquela aparência e jeito de agir, poderia ser tão popular quanto Caster."

Mas não. Ele estava na companhia das parias da academia. Todos ao redor pareciam incomodá-lo, exceto ele e a cega. Isso não fazia sentido. Talvez fosse algo mais...

Os Sonhadores na cafeteria estavam em polvorosa com a revelação de dois Nomes Verdadeiros entre eles. Olhavam para a tela com espanto, medo e até uma admiração quase reverente. Ouvindo os sussurros animados, Sunny teve a súbita vontade de gritar: "Somos três! Eu também tenho um!"

Mas, claro, ele permaneceu em silêncio.

De olhos atentos, ele notou que Caster estava fixo na tela. Sua expressão, normalmente leve e descontraída, estava agora sombria e estranha. O curioso, no entanto, era que, pelo que Sunny podia perceber, Caster não olhava para o primeiro colocado ou para a linha de texto que exibia o Nome Verdadeiro.

Em vez disso, seu olhar estava fixo na linha que dizia "Nephis", como se o nome da garota tivesse mais peso para ele do que o dado pelo Feitiço.

'Interessante. Eles se conhecem?'

Por que uma Loja Nobre teria interesse em alguém que chegou à Academia vestindo um agasalho da polícia? E, por falar em Nephis… onde ela estava?

Sunny observou a cafeteria e logo avistou a garota de cabelos prateados, sentada em um canto, segurando uma xícara de café com as mãos. Ela parecia alheia ao alvoroço ao seu redor, imersa em seus próprios pensamentos. Seus olhos cinzentos estavam distantes e profundos, como se não estivessem ali.

"Dois Sonhadores com um Nome Verdadeiro? Um já é impossível!"

"É tecnicamente possível. Smile of Heaven recebeu seu Nome Verdadeiro no Primeiro Pesadelo, eu acho. Mas sim, tenho minhas dúvidas…"

"Talvez tenham mentido na entrevista?"

"Você é estúpido? Se fosse tão fácil enganar os administradores, o pervertido louco de ontem teria ficado em primeiro lugar!"

Sunny sentiu um arrepio. Pervertido louco, hein...

"Bem, um deles está ali, por que não perguntamos para ela?"

De repente, um silêncio profundo tomou conta da cafeteria. Seguindo a sugestão, os Sonhadores pararam de falar e se viraram, encarando Nephis 'Changing Star'. No entanto, ninguém parecia disposto a se aproximar primeiro.

Ariandel, recostado na mesa, observava com brilho divertido nos olhos e um sorriso tímido nos lábios, saboreando sua xícara de café.

A garota cega, Cássia, parecia perplexa ao perceber que o primeiro colocado estava ali, sentado ao seu lado, despercebido pela multidão. Talvez ela tivesse ouvido os sussurros: 'Primeiro colocado, Ariandel 'String of Faith'?' e 'Alguém já viu esse Adormecido?'"

Nephis, então, finalmente levantou os olhos e encarou os outros com uma expressão de surpresa.

"Hmm. O que foi?"

Após alguns momentos, Caster se levantou e caminhou até ela, fazendo uma pequena reverência.

"Senhora Nephis, sou Caster, do clã Han Li. Vejo que o seu julgamento correu bem?"

Senhora? Por que ele a tratava assim? E ele teve que se apresentar... Então, eles não se conheciam? Interessante.

Nephis parecia um pouco perplexa com a pergunta. Depois de refletir por um instante, deu de ombros, como se não se importasse muito com a formalidade.

"É o que é."

Caster, constrangido, devolveu um sorriso sem jeito.

"Eu vejo. Fico feliz que tenha retornado ilesa. Uh... não que eu duvidasse de suas habilidades."

Nephis assentiu, em resposta breve.

"Obrigada."

Com isso, ela voltou ao seu café, claramente indicando que a conversa havia terminado, ou talvez estivesse apenas ignorando a atenção que atraía.

Sunny suspirou.

'Que misterioso.'

Com tantos pensamentos agitando sua cabeça, o cheiro do café da manha fresquinho foi o que finalmente o trouxe de volta ao presente. Esqueceu-se completamente de Ariandel, Nephis, do ranking... e até da estranha tensão que pairava no ar. O café era sua única preocupação agora.