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** Harper **
No final da noite, Harper pensou que poderia muito bem ter morrido de vergonha.
Na verdade, não havia tantas cenas de amor no filme, apenas três. Mas cada uma delas era diferente e transmitia uma gama inteira de sensações juntas. A primeira era selvagem e apaixonada. A segunda, que ela perdeu uma boa parte, mas de alguma forma ainda se lembrava claramente, era terna e cintilava com faíscas de emoções reais. E a terceira, perto do fim da história onde a espiã tinha que completar sua missão e matar o general, estava cheia de angústia não dita. Se Harper estivesse assistindo isso com algum coração e uma mente clara, ela provavelmente até concordaria com o Eli que essas cenas foram feitas superbamente, e que havia mesmo muito a aprender com elas.
Mas como ela poderia ter tanto o coração ou uma mente clara, sentada naquela cabine de teatro íntima com o Eli a noite toda?
Se não fosse pela conveniência do Eli em preparar seus drinques, se não fosse pelo fato de que ambas as cenas de amor mais tarde coincidiram com suas idas ao mini bar, Harper não tinha certeza se aguentaria. Ela também não tinha certeza se ele estava fazendo isso intencionalmente por causa dela... Ele teria notado seu rosto corado e olhares evasivos? Ele teria percebido que ela na verdade estava longe de ser experiente quando se tratava de filmes desse tipo?
Ela tentou não pensar muito nessas questões, caso as respostas exigissem cavar um buraco no chão e enterrar-se em vergonha. Mas elas a incomodavam durante toda a noite, no entanto. Continuaram a incomodá-la no caminho para casa e enquanto ela se revirava na cama. Quando o domingo chegou, os mesmos pensamentos ainda estavam presos em sua cabeça.
Com total frustração, ela pegou seu telefone e decidiu mandar uma mensagem para o primeiro contato que viu:
[ Ei Chelsea, estou precisando beber algo. Tem tempo hoje? ]
~ ~
"O quê? Você saiu com ele?" Os olhos da Chelsea se arregalaram como pires.
As duas estavam se encontrando para jantar no La Cantina, o pub de sempre delas. Chelsea acabara de começar a atacar um prato de nachos carregados quando Harper revelou a essência da história da noite passada, acompanhada de uma Guinness e alguma música genérica de fundo.
"N-Não!" Harper exclamou. "Nós fomos ver um filme no cinema. Isso não é um encontro."
"Você foi ver um filme, em um lounge privado só para vocês dois. Então sim, isso é um encontro." Chelsea sorriu. "Muito bem, garota! Acertou em cheio no primeiro dia! Ele é bonito?"
"Definitivamente não é um encontro! É— Espera, você não sabe como ele é?" Demorou um momento para Harper se dar conta do que a pergunta da Chelsea implicava. "Eu pensei que você o conhecesse."
Chelsea deu de ombros. "Eu ia originalmente te colocar em contato com uma das minhas amigas. Essa era uma mulher, aliás — eu não estava pensando em dar o seu livro para um cara editar de primeira — mas enfim, ela me retornou e disse que um dos outros editores da equipe dela estava interessado em te ajudar no lugar dela, e ela o recomendou porque a especialidade dele combina melhor com a sua história. Então eu pensei, por que não?"
Foi a vez de Harper ficar com os olhos arregalados como pires. Não é à toa que algo parecia estranho quando Chelsea lhe deu o nome do Eli! Será que era realmente destino que seu romance da web acabasse caindo no colo dele?
"Agora me conta," Chelsea insistiu, "como ele é? Alto? Bonito? Rico? Pegador? Sentiu alguma faísca?"
"Não! Quer dizer, sim. Não, eu quero dizer—" Harper gemeu impotentemente, cobrindo o rosto com a mão. "Eu quero dizer... Eu o conheço, na verdade. Ele é um amigo antigo de casa."
A mão da Chelsea parou no ar, o nacho em sua mão ainda preso ao prato por um fio de queijo esticado. "Oh," ela conseguiu dizer depois de alguns segundos processando.
"Pois é, exatamente." Harper sussurrou, vendo que Chelsea finalmente entendeu o ponto. "Constrangedor, né? Não o via há anos, e ele apareceu assim de repente e ... e leu esse romance indecente que eu escrevi! E aparentemente isso fez ele pensar que eu gostaria de assistir a um filme indecente! E—"
"Eu pensei que vocês assistiram Bala no Coração Dele."
"Bala no Coração Dele sem cortes. Tinha quase uma hora de cenas de sexo." Ou pelo menos foi o que pareceu para ela.
O olho da Chelsea de repente acendeu com uma luz peculiar. Ela levantou o resto da comida, mastigou e então deu a Harper um olhar significativo. "Então você nunca assistiu esse tipo de filme com ele antes?"
"O quê? Claro que não! Eu ainda estava no ensino médio quando o vi pela última vez!" Harper nem tentaria conjurar uma imagem deles fazendo o que Chelsea estava sugerindo. Honestamente, ela mal conseguia imaginar o Eli sendo o tipo de cara que gostaria desses filmes em primeiro lugar, dada a impressão correta que ele sempre causava na frente dela... Mas, pensando bem, o mesmo poderia ser dito sobre ela e romances picantes, então quem era ela para julgar?
Chelsea a observou com atenção intensa enquanto ela lutava com essa discrepância da realidade. "Hmm... e vocês foram amigos todo o tempo que se conhecem?"
Harper piscou. "Mais ou menos. Por quê?"
Os olhos de Chelsea brilharam ainda mais. "Quer ouvir minha opinião profissional sobre por que ele te convidou?"
Harper piscou novamente. Todos sabiam o que significava a opinião profissional da Chelsea — ela era a guru dos relacionamentos em seu círculo de amigos, o melhor canal de fofocas e uma surpreendentemente confiável fonte de conselhos. Seus olhos eram os mais afiados quando se tratava de interpretar sinais mistos, sinais de traição e prever futuros dramas. Ninguém jamais recusaria informações privilegiadas da Chelsea.
Mas o que tudo isso tinha a ver com a noite de filme?
"Ah, claro," Harper disse mesmo assim, com alguma curiosidade. "Embora eu tenha pensado que fazia sentido ele ter escolhido esse filme em particular para me ajudar com meu livro."
"Ah, qual é, garota!" Chelsea revirou os olhos dramaticamente. "Os homens não são tão inocentes! Você nunca suspeitou que ele está interessado em você?" Ela baixou a voz e se inclinou para frente sobre a mesa. "Aposto que ele estava usando o filme — caramba, talvez até esse negócio todo do seu livro — para testar o terreno e ver até onde ele pode chegar com você!"
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