O sol nem pensou em nascer quando acordei, a neve podia até estar caindo e o vento dando seu melhor, mas estava bem protegido pela grossa camada de folhas da árvore. Espreguicei até me sentir 100% acordado e pulei dos bons 5 metros de altura que estava, minhas patas eram fortes e faziam um ótimo trabalho junto com os músculos, parecia um pequeno pulinho pra mim. Encontrar o caminho da copa seria bem fácil, meu faro funcionava como um radar natural, mas precisava encontrar algo para comer, o problema era que todos os animais estavam em suas tocas dormindo por estar tão cedo e com isso em mente logo desisti de procurar algo naquele momento, o jeito era esperar e torcer para que tivesse algo na dungeon para caçar.
Depois que cheguei a clareira que era o ponto de encontro não demorou muito para que sentisse o cheiro de três elfos, era fácil distinguir cada um deles, como se cada um possuísse uma essência, meio difícil de explicar, mas era o que eu conseguia sentir. Logo o som dos passos e depois as silhuetas foram visíveis. Eu estava escondido no meio da mata e ocultei ao máximo a minha presença, mesmo que a garota Aylah passasse um ar bem confiável não podia ficar entregando meu pescoço assim tão facilmente. Mas o que me deixou encucado foi que havia uma quarta pessoa, uma velha senhora os acompanhava tranquilamente, mas o que eu achei estranho foi que ela não possuía um cheiro, uma essência.
- Vocês acham mesmo que o lobo vem? - Falou o guerreiro que carregava uma claymore, se não me engano era Sven que se chamava. Estava vestindo uma cota de couro com pedaços de aço, em suas juntas um tecido grosso o cobria e nas suas costas estava sua arma.
- Se foi estranho a gente conversar com uma criatura mágica, vai ser mais ainda ele aparecer para cumprir o tratado. - dessa vez era Patish, suas vestes não possuíam metal, era tudo trabalhado em couro e tecido, já que era o responsável pelos ataques rápidos seria estranho o ver todo pesado com armadura.
- Eu tenho certeza que ele virá. Deve estar só um pouco atrasado por conta da falta que o sol faz, talvez ele não seja dessas terras. - Aylah estava um manto verde, roupas leves marcavam seu corpo, em suas mãos um cajado feito de madeira com uma joia verde na ponta, dava pra sentir uma leve energia vindo do item e claro em sua cintura estava sua fiel adaga, talvez não precisasse usar com frequência mas algo me dizia que em uma emergência ela daria conta do recado.
- Eu acho que ele já está aqui e ouviu tudinho que vocês falaram. Pobres almas, vão deixar esse plano tão cedo. - já gostei dessa velha. O medo que colocou nos guerreiros foi instantâneo e os dois já estavam com suas mãos nas armas protetoramente. Mesmo que eu farejasse o ar com o máximo de força possível só conseguia sentir o cheiro dos três elfos mas o dela não aparecia é isso estava mexendo comigo, a ponto dos meus instintos tomarem conta total do meu corpo, eu mesmo não sei como tudo aconteceu, mas em menos de um segundo já estava a centímetros da velha, cheirando, farejando, procurando o que eu tanto queria encontrar.
- VELHA! - o dois guerreiros estavam prontos para me atacarem, seus semblantes assustados mostravam quão rápido tudo aconteceu. Mas Aylah os impediu, também dava pra sentir que estava assustada, mas percebeu que eu não faria nada com a velha e os impediu de fazer algo inoportuno, já que eu não estava com controle total do meu corpo. Já a vítima estava paradinha, não mexeu um músculo sequer, um sorriso de lábios bem gentil estava em seus lábios e seus olhos violeta acompanhavam meus movimentos com muita curiosidade.
"Por que eu não estou encontrando? O que é você?" Falei com minha voz grave e bem próxima da elfa, eu estava indignado e ainda a farejava impaciente.
- Oh, mas que lobo rápido você é. Quase me deu um susto. - ela brincou com minha paciência que já não estava nos seus melhores momentos.
"Me diz, por que não consigo sentir?!" Falei mais diretamente sobre o que eu estava querendo.
- Ah, você diz o meu cheiro? Desculpa, fiquei tanto tempo com isso bloqueado por conta dos animais perigosos que me esqueci dele. Veja se não está melhor agora. - e num passe de mágica lá estava ele, fechando os olhos podia ver claramente um enorme pasto de plantas cheirosas, num verão bem refrescante, me sentia seguro ali, mal dava vontade de me afastar, era claramente viciante. Quando abri meus olhos de novo estava sentado bem à frente da senhora, suas mãos afagavam meus pelos e ela sabia muito bem onde fazer isso, um toque gentil que trazia calafrios por todo o corpo, claro que minha cauda estava deixando bem explícito tudo que estava sentindo e graças ao Deus desse mundo que estava coberto de pelos onde não era possível ver que eu estava ruborizado. Meus olhos se encontraram com os seus, era uma visão de cima já que eu era bem mais alto mesmo sentado que ela, e decidi naquele momento que aquela velha era a personificação da paz e do conforto.
"Como se chama?" Perguntei sem mais delongas.
- Me chamo Heklebe, sou a avó de Aylah, uma druida que já encerrou seus serviços. Mas sempre muito curiosa pra algo novo, e você é um achado e tanto. - riu coçando minhas orelhas, ver seus braços estendidos me fez imaginar que ela ficaria cansada ou com dores e logo me deitei para ficar em uma altura mais confortável, não me pergunte por que já estava de quatro pra ela, só sei que era o meu lado irracional mostrando respeito. - Oh que educado. Aqui pra você. - estendeu seu braço na direção de Sven, acompanhei o espadachim se aproximando com os olhos, e sem que percebesse rosnei ao ver que se aproximou da minha velha. Ela trouxe dois coelhos pra mim e logo meu estômago roncou por lembrar que não comi nada naquela manhã.
Claro que cai firme naquele café da manhã, Heklebe sabia de tudo que eu queria ou estava precisando, fez ótimas massagens nas minhas patas e conversamos um pouco, tudo aconteceu em menos de uma hora, já que já haviam planos pra quela manhã e eu tive que ser lembrado do principal objetivo daquele encontro. Os garotos estavam ansiosos e mesmo que tenham entrado na conversa dava pra sentir no ar sua ansiedade, literalmente. Só então que fui me lembrar do status, queria ver o que ele dizia sobre Heklebe.
Nome: Heklebe
Raça: Dark elf
Classe: Druida (heróico) cuidado!
O lvl do alvo é alto demais para mais informações.
E foi só isso que consegui, tá escrito heroico bem ao lado da sua classe, ela deve ser uma das melhores que existem e no que faz.
- Espero te ver novamente Chris, o lobo. - brincou com as palavras novamente. - Cuide dessas crianças, e vocês cuidem dele. - alertou.
"Será uma honra te encontrar novamente velha. Se cuide."
Mesmo que eu soubesse que mais tarde me encontraria de novo com Heklebe, algo em mim lamentava pelo nosso encontro curto e breve. O grupo conversava entre si e tentavam ao máximo me enturmar no assunto, mas meu humor não estava no seu melhor pra isso, e tudo era culpa da velha com cheiro de paz que foi embora, maldita.
- Eu sei que você não está muito afim de conversar, mas queria saber o que você pode fazer, pra gente se emparelhar melhor dentro da dungeon, conhecendo suas habilidades podemos nos adaptar com mais facilidade. - Aylah começou com um assunto deveras interessante. Mas ter que explicar todas as minhas habilidades seria mais cansativo ainda e eu continuava sem cabeça pra isso.
" Eu sou rápido e forte, confio nos meus instintos, vai ser mais fácil vocês verem do que explicar algo." Expliquei brevemente o que ela precisava saber, pareceu ficar um pouco triste por ter sido ríspido, e isso incomodava meu lado racional, então tentei amenizar um pouco. "É só é meio difícil de explicar, e não estou com um bom humor hoje." Juro que tentei meu melhor, e pelo visto funcionou já que seu semblante mudou para um mais iluminado e feliz.
- Sr. lobo, já lutou em grupo alguma vez? Sei lá, na sua matilha ou algo do tipo? - Patish quebrou o delicioso silêncio da caminhada, as árvores estava começando a ficar mais verdes e a neve já havia parado de cair, talvez estivéssemos andando por algumas horas. Voltei minha atenção para o espadachim e tentei me manter bem sociável, ninguém está percebendo meu mau humor? Poxa, deixei a velha que faz ótimas massagens lá atrás e eu queria mais.
"Infelizmente eu não possuo uma matilha, quando nasci havia apenas minha mãe por perto e ela morreu algumas semanas depois de me dar a luz." Respondi, e era verdade, mamãe morreu de algo que não sei o que é, mas pelo status dela devia ser uma doença sem cura.
- Quantos anos você tem? - a pronto, momento entreviste o lobo. Mas essa pergunta chamou a atenção dos 3, tanto que todos olhavam pra mim atentos, era tão importante assim a idade?
" Se não me engano, vou fechar meu primeiro ano daqui a uns 3 meses."
- Oque?! Como assim você só tem 9 meses de idade? É um recém nascido super dotado. - Sven exclamou surpreso, confesso que sua reação foi engraçada.
"Como não vi outros da minha espécie, não sei dizer se isso é normal ou não. Mas estou aqui como prova." Pensando bem um lobo com 1,70m de altura, quase 5m de comprimento, com apenas menos de um ano de vida, realmente era de se questionar, mas era um fato, não havia necessidade de mentir. "Mas mudando de assunto, estamos nos aproximando? Tem um grupo de 5 indivíduos nos seguindo a um tempo, são todos humanos." Mais uma notícia que chamou a atenção do grupo. Um dos meus clones está parado bem próximo nas sombras desse grupo, pareciam apenas bandidos de quinta, com facas e espadas, fedendo a álcool. Nos seus status nem aparecia ameaça por isso não me importei muito com a presença deles.
- Devem ser saqueadores, o que faremos Aylah? - Patish e Sven olharam para a garota e cheguei a conclusão de que ela realmente era a líder do grupo.
- Eles podem nos atrapalhar quando estivermos dentro da dungeon, ataques pelas costas podem ser preocupantes. Mas fazer uma parada agora nos atrasaria para a chegada ao objetivo, ficaríamos cansados e teríamos que levantar acampamento. - apresentou os pontos, ela estava certa e só de imaginar mais um dia de demora para o meu objetivo já me estressava.
"Eu posso cuidar disso."
- Mas aí você se cansaria e teremos que parar a a viagem de qualquer forma. - Patish disse.
"Tem problema matar eles? Ou são apenas fora da lei?" Como era um pensamento antigo meu, não queria confusão com os humanos, custa nada perguntar.
- São apenas uns cuzões que matam e estupram por dinheiro. Matar eles é uma ajuda pra sociedade. - essa foi a palavra de gatilho pra mim vinda de Sven.
Claro que não iria me sujar com sangue imundo desses lixos, minha sombra era mais que suficiente para fazer o trabalho, os elfos apenas ouviram os gritos e sons de espadas. O barulho durou por uns 3 minutos até que o silêncio se voltou pra floresta. Infelizmente não subi nenhum nível, eram tão fracos que nem experiência deram.
"Esperava mais…" pensei alto voltando a andar.
- E-espera, o que aconteceu com os bandidos? - a druida parecia surpresa com o que tinha acontecido, mas estava desacreditada.
"O que, não podia matar eles? Pensei que por serem apenas lixo não havia problema e minha sombra eliminou eles." Eles precisam se decidir, mata ou não mata?
- Sombra? Como assim sombra? É uma das suas habilidades? - agora foi Patish perguntando. - Cadê, mostra pra mim! - parecia uma criança animada com brinquedo novo.
"Ele está bem atrás de você." Atrás dele uma versão minha um pouco menor estava parado o encarando. O susto que o espadachim levou foi ótimo, com direito a pulo e gritinho. " Ele está nos acompanhando a viagem toda, gosto de saber o que acontece a minha volta, evitar surpresas sabe?"
- Que magnífico. Ele está totalmente sob seu controle? - Aylah se aproximou do clone surpresa enquanto tocava o que devia ser o pelo de seu peito, mas possuía apenas sombras. - Urgh. É gelado.
" Ele é uma sombra, não possui calor próprio como a gente. E sim, ele faz as coisas que eu mando." Expliquei.
Depois de mais algumas perguntas sobre o lobo das sombras seguimos viagem, os animais estavam evitando se aproximar, talvez eu devesse ser perigoso o suficiente para não se aproximarem, nunca se sabe como funciona o instinto desses animais e monstros. O grupo conversava bastante entre si, assuntos sobre seu dia a dia ou como o treinamento foi difícil, até mesmo relacionamentos que pretendiam ter, era divertido ouvir, ao ponto de conseguirem melhorar bastante meu humor, depois que conheci a velha Heklebe meu foco mudou um pouco, ser mimado por ela parecia mais interessante do que desbravar uma dungeon, não sei direito o que ela tem, deve ser alguma magia de druida que a velha usa para se tornar tão "atraente" aos meus olhos, não do lado sexual, é só que todas as sensações boas que ela passa fazem eu querer isso, como disse antes, é difícil de explicar.
"Ei, Aylah, como funciona uma dungeon?" Perguntei querendo participar do assunto deles, estavam ansiosos se iriam conseguir ir mais distante ou quebrar algum recorde pessoal é isso me interessou.
- Então, as dungeons são lugares puramente mágicos, existem lendas sobre um mal que reside bem no fundo da terra, sua energia é tão forte e maligna que consegue criar essas dungeons. - seria o capeta? Só ele me vem em mente. - As dungeons possuem vários andares e dificuldades, essa que estamos indo foi descoberta a pouco tempo, não tem mais de um mês. São ótimas fontes de renda oras cidades por que atraem aventureiros de todos os lugares do reino, essa aqui foi reivindicada pela nossa tribo, já que surgiu no nosso território.
- Nunca vi a vila tão cheia, tem tendas em todos os lugares, mas várias humanas gatinhas. - Patish é o típico mulherengo, não pode ver um rabo de saia que já vai correndo atrás.
- Foco Patish, estou no meio de uma explicação… - um tapa bem dado na cabeça do espadachim ecoou no ar, eu e Sven rimos, na verdade eu ri da forma que pude, já que não possuía lábios humanoides. - Como estava dizendo, lá dentro tudo pode acontecer, mesmo que esteja nevando aqui, pode estar sol lá dentro e vice versa. Quanto mais fundo você vai na dungeon mais difícil ela fica, mas também temos mais chances de encontrar itens mágicos ou cristais de monstros. Que aliás são usados para fabricar itens.
" Quão fundo vocês já foram? " perguntei curioso, minhas orelhas estavam muito interessadas numa borboleta que batia as asas a nossa frente, esses movimentos instintivos me tiram do sério.
- Nossa última excursão foi até o quinto andar, precisamos aprimorar mais nossas habilidades para continuar em diante. Já que nossos níveis ainda são baixos.
"Baixos? Seu nível é 36 três vezes maior que o meu. Já acho isso muita coisa…" não sei o que eu disse, mas nesse instante os três pararam e me olharam com olhos arregalados mais uma vez. Eu falei algo errado?
- C-como que você sabe o meu nível? - Aylah estava claramente assustada, será que eles não conseguiam ver o nível das outras pessoas como eu? Se for isso acho que pisei na bola.
"Aparece junto com seu nome e sua classe com algumas informações." Expliquei.
- Sim, mas você viu em algum lugar? Você usou uma pedra da visão? - dessa vez foi Sven que entrou no assunto.
"Não, eu apenas vejo, tipo estou vendo agora mesmo o de vocês. Vocês não conseguem ver também?" Como sou ignorante, santa loba.
- Para ver os status de alguém você precisa pagar uma taxa de três moedas de ouro, no salão da guilda local, lá eles usam uma pedra que só é conseguida em dungeons nos andares 20 em diante. Aí você me diz que consegue pular todas essas etapas é apenas "ver"? - Patish esbravejou, este estava claramente eufórico.
"Sim, isso mesmo. Sven tem o nível mais alto de 46 e você está no 40." O queixo do espadachim estava quase no chão, mas logo se recuperou.
- Espera mas meu nível era 38 a dois meses. Isso significa que eu subi duas vezes! - com direito a pulinhos de alegria e giros felizes ele logo esqueceu de que estava surpreso sobre a minha habilidade.
- Você me surpreende mais a cada instante que passo por perto. Mantenha essa habilidade em segredo, nunca se sabe do que as pessoas são capazes se souberem disso, você pode fazer muito dinheiro fácil. - imagino o que os humanos são capazes, e vou levar essa dica da Aylah pra vida, quanto menos informações possuírem de mim melhor.
Depois de andarmos mais um pouco logo uma clareira se abriu a nossa frente, o som de conversas, música e companheiros bebendo tomaram conta do ambiente, não chegava a ser tão barulhento quanto a cidade do vale, então era suportável para meus ouvidos sensíveis, seria bom para já ir me acostumando.
"Vou permanecer em silêncio para não chamar mais atenção das pessoas, no mais sou seu companheiro, já que você é uma druida. Estou aos seus cuidados. " comuniquei baixinho para Aylah e me aproximei dela.
A elfa apenas concordou e seguiu o caminho junto dos dois guerreiros, eu estava observando todos a nossa volta, avaliando seus status e ficando nervoso pois todos mesmo que tivessem menos força e hp que eu apresentavam alto risco de perigo, não conseguia entender como eles podiam ser perigosos sendo que era só eu passar minhas garras em seus corpos para morrerem. Os níveis mais altos estavam em torno de 70 e 80, ninguém conseguiu passar disso, e os que eu vi eram de um grupo específico que estava descansando em um canto, possuíam quatro membros, estavam encapuzados então não conseguia ver seus rostos. Seus status estavam bloqueados como o da velha Heklebe, talvez pelo nível deles ser alto não conseguia ver nada além do nome, nível e raça.
Claro que um lobo gigante iria chamar atenção, todos estavam olhando para o nosso pequeno grupo, o sinal de perigo estava gritando na minha mente, junto com meus instintos, o cheiro da intensão assassina estava no ar, mas vinha de tantos lugares que me deixavam confuso. Eu nem cheguei e já queriam me matar? Que os Deuses me ajudem a passar por isso.