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Capítulo 1 - Entre Conhecidos

Seu rosto queimava como fogo em formato de cauda, e se espremia pelo todo, fazendo reluzir um tom alaranjado por todo o quarto. Seus olhos amarronzados demonstravam tristeza e frustração, mas logo se abriam com sutileza deslumbrando um ar de um novo começo. Um grunhido silencioso com rancor escapou de seus lábios carnudos, deixando soar uma expressão irritada — ele mal conseguia encontrar palavras para expressar sua irritação.

— Não quero ir — expressou o aparente homem contido em seus lençóis, suas intenções suavam como a de um animal sem dono. Parecia muito perdido em seus pensamentos.

Seu olhar vagueava pelo teto sem muito sentimento — parecia algo que comumente fazia, nada interessante. O homem queria não ter de deslumbrar este piso, estas paredes ou este estreito quarto, era tudo muito repetitivo, mas palavras (ou pensamentos) nunca poderiam mudar o seu estado atual.

Chamado de Gabriel, ele havia estampado em seu rosto uma idade de 22 anos — devido ao cansaço da vida diária, era comumente vê-lo com olheiras escuras da qual deixavam seus conhecidos preocupados.

Cabelos tingidos com tons escuros de marrom por seu bagunçado penteado, desalinhados como uma juba. Estava com uma barba por fazer pelo rosto que retratava seu estado desalento.

Ele parecia decidido a não sair de seu refúgio naquele dia, se ergueu e fechou as cortinas convicto de sua decisão. Puxou seu lençol e cobriu a si, deixando seus olhos cansados sentirem um alívio.

Porém, antes que pudesse relaxar, um barulho de passos violentos apareceram para o incomodar, eles então paravam em frente a porta de seu quarto. Gabriel já sabia quem o que havia chegado. Uma batida brusca na porta ecoou pelo quarto, quebrando o silêncio vagaroso.

— Levanta! Já passou das oito horas, você vai se atrasar. — Uma voz feminina abafada exclamou com grosseria.

Era de se esperar já que a pessoa que se encontrava atrás da porta era ela, uma senhora de cabelos grisalhos com uma toalha de mesa na cabeça, usava um vestido florido de tons avermelhados, o rosto dela revelava ter uma idade mais velha. Seu nome era Tânia, a mãe de Gabriel.

— O que você...? — indagou Gabriel ainda sonolento, ele parecia confuso com a entrada repentina de Tânia em seu quarto.

— Shiu! Calado, eu não quero ouvir um piu seu. — gritou a senhora, se direcionando para o guarda-roupa ao lado da cama de Gabriel.

Ela carregava de ombro uma cesta de roupas.

O homem não era mais um garotinho, uma mulher assim quebrar sua privacidade deixava suas bochechas inchadas de desgosto. Ele abaixou seu lençol e olhou fixamente para o problema principal — a cesta de roupas.

— Mãe...Pode colocar essas roupas aí no chão, eu arrumo depois tá — propôs Gabriel, ainda coberto em seu lençol.

— Não vai colocar depois nada, deixa que eu ajeito. Vai lá tomar teu café enquanto teu pai ainda não devorou tudo. — Retrucou a mãe, encarando Gabriel com desconfiança de suas palavras.

— Café...Então hoje também tem aula? — disse Gabriel em um tom triste, fechando sua cara inexpressiva.

Da forma que olhava para sua mãe ele provavelmente não detinha uma visão boa da escola.

— Hoje é o último dia de aula meu filho, vai lá embaixo come alguma coisa e toma um banho vai, que amanhã vamos viajar — explicou Tânia com nenhuma sutileza em suas palavras.

— Ah sim, viajar...Pera...Viajar? — expressou Gabriel surpreso.

— Sim, teu pai não te contou? Amanhã a gente vai voltar para a nossa antiga cidade. Isso não é legal? Tem tantas coisas que eu quero ver de novo, vai ser uma baita nostalgia. Para você também, e para mim não é filho? Não ficou animado?! — dizia Tânia empolgada, ela parecia muito coagida com a viajem e mal podia esperar.

Seu filho por outro lado a encarava com muita surpresa, acho que ele não esperava haver uma viagem repentina desta forma. De algum jeito, ele suspirava aliviado dizendo.

— Viagem...Talvez isso não seja tão ruim.

Em outro ambiente, uma multidão se espremia apressadamente dentro de um vagão de trem lotado. Sentada em um canto próximo à saída, uma mulher observava seu celular com uma expressão triste. O dispositivo exibia balões de mensagens dentro de um aplicativo chamado Catchat, muito popular entre os adolescentes. A mensagem escrita dizia: Me perdoem. Eu sei muito bem que isso não tem nada a ver com vocês, mas...É muito difícil enfrentar isso sozinho.

— Por quê? Buaaa! — A mulher chamava-se Isabela, conhecida por ser carinhosa e um tanto sentimental.

Lágrimas escorriam enquanto ela lia as mensagens no Catchat. Seus cabelos alaranjados e volumosos caíam sobre os ombros até as costas. Estava vestida casualmente e carregava uma bolsa de grife, sugerindo que fosse uma mulher de posses, conforme seu porte indicava.

— Eu não vou desistir de você... E vou fazer todos irem junto! — Disse Isabela, assoando o nariz com um lenço.

Seu olhar era determinado enquanto seus dedos se moviam rapidamente pela tela do telefone.

Agora no salão de um bar não existia nenhum sequer cliente aqui, talvez um presságio da falência fosse o que estávamos a ver. Mas atrás do balcão existia alguém, um homem de regata azul, calça marrom, cabelo curto avermelhado e brincos de ouro espalhados pelas suas orelhas.

Ele cativava a atenção neste bar, já que arcava com uma dama de cabelos elásticos que se embaralhavam entre os dois, formando essa cena romântica em uma cena um tanto quente quanto romântica.

— A-Acho que não deveríamos fazer isso, desculpa! Eu vou pegar meu celular — disse a mulher, jogando o homem para trás. Indo para o canto do bar onde estava seu telefone.

— O que você quer dizer com isso Priscilla? É por causa do Jack de novo? Ah~ meu Deus...Não se preocupa toda hora com aquele boiola, aquele merda nunca conseguiria encostar um dedo sequer em mim, haha, é só olhar o tamanho dele — retratou o homem, ele parecia ser alguém arrogante que olhava e acreditava apenas no obvio, realmente nunca existiu ninguém que pudesse pensar assim se não o grande Fernandes Barbas.

— Olha, se eu visse esse desgraçado agora, com certeza eu o faria nunca mais conseguir andar de novo. Assim~... Ele nunca mais ia te preocupar, docinho. — continuou Fernandes que explicava seu plano desordenado, colocando sua mão sobre o queixo da donzela medrosa tentando deixar que sua afirmação fosse mais intimidante para ela.

— Mas não é tão simples assim e... Olha, eu tenho que te contar! O meu ex, na verdade ele é.

A porta do salão se abriu com um estrondo. Eles se viraram para ver quem era. Era ele...A figura silhueta chamou atenção com um grande chamativo na entrada que fez com que todos segurassem a respiração. Era ele, o homem que estava sendo citado a este momento, ele mudou todo o clima deste lugar. Seu incrível terno preto caía perfeitamente sobre seu corpo, mesmo que os dois botões do seu blazer lutassem para segurar seu bucho com dificuldade, não havia sequer um único amarrotado em sua roupa. A sua cara estava em frenesi, recheado de veias que transbordavam em um ódio puro.

— Porquê...Por que ele? — gritou Jack por todo o salão, ele avançava na direção da dupla.

— Amor! Não é nada disso, isso só foi um lance — disse a mulher, ela estava tentando acalmar o homem que chegou, mas suas palavras já não o alcançavam.

— Que merda é essa?! Não o chame de amor, você tá comigo docinh- — Fernandes mal teve tempo de terminar sua frase quando um estalo ainda mais agressivo ressoou pelo salão, seu rosto ardeu onde o tapa havia aterrissado.

Atordoado, ele piscou algumas vezes, tentando entender o que tinha acontecido ou por que isso aconteceu, a mulher estava recuando e visando o homem que se aproximava deles, mas ele não podia deixar ela sair desse jeito. A mulher estava com os olhos marejados, havia um misto de dor e raiva estampados em seu rosto. Nem mesmo o homem que havia chegado não tinha entendido as intenções da mulher, porém, diferente de Fernandes, ele entendia melhor que ninguém que está situação estava favorecida a ele.

Entretanto, determinado a não perdê-la, Fernandes ignorou o olhar vitorioso do homem de terno e se aproximou dela novamente, segurando-a suavemente pelo braço. Ele podia sentir a tensão no ar, sua própria voz desesperada ao:

— Se você se aproximar mais um tiquinho, está mulher será apenas um cadáver sexy no chão! — Declarou Fernandes, colocando uma lamina afiada sobre o pescoço da mulher.

— De onde você...Fernandes! Não faz isso... — dizia a mulher em pânico, ela estava tremendo de medo.

— Nem pense nisso seu salafrário. Não sei o quanto você ama ela, mas se tem amor a sua própria vida, lhe proponho que não faça sequer um movimento descuidado. — Jack estava tentando manter a compostura e a calma, mas mesmo ele estava suando frio com está situação.

— Você acha que suas palavras me intimidam gordão? Eu vou sair daqui e fugir dessa merda AGORA neste momentinho, não me subestime — disse Fernandes dando passos para trás, ele estava muito nervoso com esta situação, seu coração estava a mil, a adrenalina o consumiu completamente.

— Por favor, não faz isso... — dizia a mulher tentando se desfazer do Fernandes. Sem sucesso.

Fernandes estava realmente determinado a colocar um fim na vida daquela mulher, já que a lâmina jazia sobre o pescoço dela de forma profunda, fazendo cair uma listra de sangue. Jack, o homem de paletó elegante jamais imaginava que está situação fosse acabar daquele jeito — tudo que ele queria era sua amada de volta. Jack se viu sem escolha, como em um encruzilhada arriscada, precisava reagir e, por sorte ele tinha uma carta na manga.

Cruzando seus braços, Jack soltou um sorriso vitorioso para Fernandes, como se tudo já estivesse acabado. Convencido, ele gritou em alto e bom som por todo o salão:

— Apareçam! Não deixarei que ninguém maltrate uma linda donzela na minha frente. — Com este levantamento na voz, das sombras surgiram formas humanoides que escutaram ao seu chamado.

Todos aqueles diversos homens mascarados usando trajes escuros, cobriram o salão. De onde eles vieram ou desde quando estavam aqui, era um grande mistério.

— Oque!? O que é tudo isso? — exclamou Fernandes preocupado, ele estava cercado por todos os cantos, não havia mais caminho de fuga a vista.

— Era disso que eu ia te falar...Haha...Meu amor não é uma pessoa qualquer! — dizia a mulher com uma fraqueza na sua voz, porém ainda exibindo um sorriso macabro.

— Então quem ele é? Me diga! — gritou Fernandes, ainda incrédulo com tudo.

— Haha...Por que eu diria para um cadáver? — respondeu a mulher tirando onda com Fernandes, que totalmente desaprovou sua brincadeira.

— É como ela disse seu Fê...Fernilson! — Jack reafirmou as palavras da mulher.

— Meu nome é Fernandes! Desgraçado — retrucou o Fernandes, trincando seus dentes em ódio.

— Tanto faz. Todos esses homens estão esperando as minhas ordens, então...Se eu pedir para que eles cortem sua cabeça, eles farão no mesmo instante. Entende? — explicou Jack para com Fernandes, colocando em check sua estratégia de fuga com vítima.

Tudo parecia contra Fernandes, ele tinha nenhuma rota de fuga ou uma estratégia em mente que pudesse passar por todos aqueles lacaios. Ele estava perto de ter um treco, vendo que Jack dava aquele sorriso convencido mais uma vez — era seu fim. Mas de maneira inusitada, um som metálico com guitarras e muita gritaria começou a soar ao canto daquele salão. Era o celular de Priscilla que estava recebendo uma chamada.

— Que barulheira, por favor partam esse celular ao meio! — disse Jack com seus leais capachos das sombras, que logo todos foram para cima do celular, o que deixou o mesmo preocupado em relação a sua amada.

— O que? Por que vocês foram juntos para o celular...É só um celular! — declarou Jack um tanto enfurecido.

E não deu outra, Fernandes viu que está seria sua única chance de fugir deste local. Então com rapidez, ele jogava a mulher ao chão e corria por sua vida para os fundos do bar.

— Não acredito, você está bem? — indagou Jack para com sua amada, que sangrava por pouco seu pescoço.

Ela não parecia responder, por ter batido a cabeça forte no chão ela acabou perdendo a consciência.

— Desgraçado, me ajudem a cuidar dela, depois nós resolvemos com aquele salafrário — continuou Jack, pondo um objetivo em mente.

Fora do bar, Fernandes corria o mais rápido que podia. Sem nenhuma hesitação. Até que estivesse sem fôlego. Ele se escondeu em um beco escuro, ciente de que não poderia voltar para casa; seria morto se o fizesse. Daqui para frente, tudo que fosse planejado, teria de ser com cuidado e paciência.

Quando pensou que tudo estava perdido, e que a partir dali nunca mais poderia viver igualmente. Seu celular começou a vibrar no bolso. Por um momento, pensou que fosse o maldito Jack atrás dele e considerou jogar o celular fora, mas ao olhar com mais atenção, viu que parecia ser de alguém familiar. Então, ele sorriu.

Todos esses acontecimentos, ocorreram em momentos diferentes, em lugares diferentes e em situações diferentes. Mas afinal, o final para todos era o mesmo. "A viagem", essa frase sufocava seus pensamentos e faziam ter esperança. Por motivos diferentes. Do principal, para todos eles talvez se juntassem para uma última vez.