"Você está livre para andar pelos jardins como quiser, entrar em todos os cômodos que não estiverem trancados e comportar-se como achar conveniente, desde que não cause destruição por onde passar."
Elias olhou para baixo, em particular, para o pulso que continuava a resistir-lhe. "Embora, eu duvide que você possua a habilidade de ao menos derrubar um vaso."
O olhar dela se estreitou. Ela parecia querer dar-lhe um tapa, mas violência não era o seu forte. Ou era o que ele se lembrava. O Príncipe Herdeiro Kaline havia treinado sua filha como um filho, mas a jovem criança chorava sempre que via algo lastimável ou ferido, mesmo que fosse um inseto.
"E as punições?" ela perguntou.
"Apenas na cama."
"Elias," ela rosnou.
Mais um sorriso provocante repousava em seus lábios. Vê-la tentando agir durona era hilário. Quando ela o encarava daquela forma, peito enchendo-se de irritação, ele não queria fazer nada mais do que empurrá-la contra a parede.
"Sim, querida?"
"Você vai me machucar?"
"Apenas se você quiser."
"Elias!"
"Quantas vezes você precisa gritar meu nome fora da cama?" Elias soltou o pulso dela e deu um passo para o lado, sabendo que ela iria se rebelar.
Surpreendentemente, ela não o fez.
Adeline agarrou o próprio pulso, acariciando-o enquanto o encarava com raiva. Não havia nem um único arranhão nele. Ela estava fingindo dor? Ele tinha certeza de que a pegada não era insuportável, e que ela não estava sofrendo.
"Isso é uma mentira, não é?" Adeline disse. "Soa bom demais para ser verdade. T-tem que haver algo por trás."
Elias levantou uma sobrancelha. Ele havia amolecido apenas por ela? Nah. Ele apenas planejava tirar proveito da situação mais tarde, e prendê-la numa posição da qual ela não poderia escapar. Seus lábios se curvaram num sorriso sinistro. Sim. Essa seria a única maneira de mantê-la aqui, em sua pequena gaiola para o seu prazer pessoal. Ninguém mais.
Especialmente não o rato irritante de negro que estava sempre pairando sobre ela.
"Bem?" ela perguntou com a voz baixa, sua confiança subitamente oscilante.
Ele se perdeu em pensamentos por apenas um segundo e ela já estava hesitando. Precisava capturá-la antes que ela desistisse.
"O problema?" Elias repetiu. "O que eu poderia querer de algo tão pequenino como você?"
Adeline nem mesmo se ofendeu. Ela abriu e fechou a boca, finalmente sem palavras enquanto buscava por uma resposta. Ele estava certo. O que ela poderia oferecer?
"Eu… bem…" Uma ideia surgiu em sua mente, mas era absurda.
"Bem?"
"O baile não é organizado para buscar uma Rainha?" ela soltou.
Os lábios de Elias tremeram. Ela mesma disse isso. Ele não insinuou. "Eu suponho."
"Você supõe?"
"Continue," Elias disse enquanto ignorava a resposta anterior dela.
"Eu… Eu posso tirar esse peso de suas mãos e você não terá que continuar a procura", Adeline declarou.
As mãos dela agarravam firmemente os lados de seu vestido, amassando o fino tecido. Era um pedido absurdo da parte dela. Mas não era esse o propósito exato do baile? Mesmo que ele não tivesse feito o anúncio, todos pensavam o mesmo. Por que mais tantas filhas distinguidas seriam convidadas?
"Você não precisa se preocupar com minha legitimidade, eu sou uma Princesa de… de…" Adeline sentiu-se patética. Ela não conseguia pronunciar o nome do seu próprio reino, pois havia perdido os direitos sobre ele quando fugiu de sua terra.
"Eu sei quem e o que você é, querida Adeline."
Adeline não ia perguntar como. Ele já havia insinuado uma vez que sabia sobre seus pais. Isso não o tornaria… velho demais para ela? Ela o olhou com cautela. Vampiros vivem muito mais do que os humanos, com alguns possuindo o dobro ou o triplo do tempo de vida esperado.
Puros-Sangues como ele eram supostamente imortais, embora, definitivamente, existam formas de matá-los.
"Então, o que você acha?" Adeline conseguiu dizer sem gaguejar. Ela temia que o tecido pobre do seu vestido fosse permanentemente amassado, mas era algo para distrair seus nervos.
"Hmm…" ele murmurou, cruzando os braços.
Adeline ignorou o volume dos músculos dele e o olhar intimidador. Ele poderia esmagar pedras com uma mão e matá-la na hora. No entanto, ele não a machucou deliberadamente. Seus padrões estavam tão baixos, mas ela não tinha outra escolha.
"Prefiro considerar sua oferta anterior de torná-la uma amante."
Adeline rangeu os dentes. Ela apertou os lábios e olhou para cima. Ele retribuiu o olhar, desafiando-a a questioná-lo. E fosse por sua natureza tola ou pelo orgulho de uma Princesa, Adeline sacudiu a cabeça com firmeza.
"É muito tarde para considerar a oferta anterior depois de você ter me intimidado por ela," ela conseguiu dizer.
Adeline mastigou o interior de suas bochechas, irritada por ter gaguejado novamente. Seu coração batia com antecipação e medo. Era um blefe da parte dela.
Honestamente, Adeline estava disposta a rebaixar-se pela sua liberdade. A fortuna arduamente conquistada por seus pais estava em suas mãos. Mas e o contrato...? Como ela iria convencer o Visconde Marden agora?
O nome dela estava perfeitamente rabiscado sobre linhas sólidas pretas que a selaram para um destino infeliz. Ela fora tola por assiná-lo, mas naquela época, Adeline não tinha escolha. Ela estava disposta a aceitar qualquer oferta feita a ela, contanto que pudesse salvar a si mesma.
"E o que faz você pensar que está qualificada para se tornar minha esposa?" Elias provocou.
Adeline acabara de listar uma das qualidades. Em termos de linhagem e posição, as dela não eram tão ruins... mesmo que seu reino estivesse sendo governado por outra pessoa. Ela nunca perdoaria o usurpador. Não nesta vida ou nas que viriam depois. Afinal, ela havia confiado nele, e ele pisoteou nessa confiança.
"Minha querida corça, você gagueja ao falar com as pessoas, recua quando alguém a dirige a palavra, e tudo te assusta. Sua falta de confiança não conseguirá mover um inseto, muito menos, o enorme Império Luxton."
Adeline ergueu a cabeça. Ela lentamente soltou a pressão insuportável das laterais de seu vestido.
"Eu vou mudar," ela disse com determinação feroz. "Eu-eu vou melhorar."
Elias lançou-lhe um olhar duvidoso. "Tenho certeza que você vai."
"Um-um ano," ela sussurrou. "Um ano é tudo o que eu-eu preciso…"
Elias levantou uma sobrancelha. Um ano era tudo de que ela precisava para corrigir uma década de problemas? Ele a observou com apreensão. Essa pequenina coisa, com o físico de um cisne, coração frágil e olhos gentis que chorariam pela morte de uma mosca... Como ela poderia mudar em apenas um ano?
"E se você falhar em mudar?" ele provocou.
Adeline olhou-o cautelosamente. "Eu não tenho nada p-para lhe dar, Elias."
Não, ela tinha tudo para oferecer. Seu sorriso, sua risada, seu futuro, tudo isso. Ele queria possuir tudo dela — corpo, coração e alma.
"Você se tornará minha amante então," ele disse sério. "Pelo resto da eternidade."
Adeline deu uma pequena risada. Ela não acreditava que ele estaria interessado nela por tanto tempo. Quem ele estava enganando? Era um milagre que ele até mesmo falasse com ela. Mesmo assim, ela estendeu a mão trêmula.
"É um acordo…"
Elias olhou para a mão dela. Por um breve momento, ele quase sorriu só porque ela havia lhe mostrado um lampejo de riso raro, puro e inocente demais para o seu mundo cruel. Quando criança, ela nunca soube dos perigos que espreitavam nas sombras. Ela ainda não sabia.
Em vez de apertar a mão dela, ele a pegou e a puxou para si. Ela olhou para cima, com aqueles grandes olhos reflexivos que espelhavam um grande mar de grama.
"O-que você está fazendo…?" Adeline sussurrou, enquanto seus dedos se deslocavam para o pescoço dela. Ela estremeceu sentindo algo frio em sua pele, mas não eram as pontas dos dedos dele. Era o colar.
"É um acordo."