Redy:
Sabe quando você sente a necessidade de procurar ocupar seu tempo com alguma coisa?
"Quantos anos se passaram desde que me vi na situação em que vivo hoje em dia?"
É aquele remoto sentimento de que pelo menos, você devesse deixar registrado alguma coisa em qualquer pedaço de papel perdido por aí... Acho que foi por esse motivo que decidi iniciar esse diário...
Creio eu, que devo iniciar apresentando minha pessoa, então... Vamos lá. Vou começar pela origem de tudo, e acredito que minha história começaria há alguns anos atrás, nos meus 15 anos de idade pra ser mais exato. Ah claro como eu poderia me esquecer? Perdoe-me, não disse o mais importante, e como você já deve estar curioso, o meu nome é Redy, e sou um anjo vermelho, tendo atualmente 24 anos. Meus cabelos são castanhos, e meus olhos avermelhados, assemelhando-se bastante a cor de minhas asas. Tenho 1,80 de altura, além de ser um exímio arqueiro! Até porquê minha profissão exige que eu tenha essa habilidade um tanto quanto incomum entre as demais pessoas pelos reinos e afins. São anos de treinamento, estudo, prática no ofício... E no meu caso, eu fui treinado pelo meu pai desde pequeno. Já que tocamos no assunto, meu pai, era o antigo Líder da Ordem dos Arqueiros Vermelhos, basicamente os arqueiros de elite do Reino Celestial. Um cargo até que um tanto alto, já que trabalhava especificamente para a coroa real do reino dos céus. Era um homem respeitado, cheio de condecorações e honrarias de batalha, pois havia participado de inúmeras guerras e conflitos pelo estandarte de seu reino, ao qual, era fiel e se dedicava com muito afinco pela honra do rei, e de seu próprio nome como um líder militar. Mas por algum motivo que nunca descobri até hoje, mesmo depois de adulto, meu pai acabou por cometer um crime de nível marcial, e isso foi o suficiente para destruir nossa família.
A sentença do rei era clara "matar ele e sua família". Em um ato de desespero, minha mãe me deu um arco de madeira, bem resistente e flexível, feito das árvores que ela mesma cultivava em seu enorme jardim. No dia em que me entregou o arco ela disse: "cuide desse arco, aprenda a usá-lo e sobreviva filho". Toda aquela situação foi extremamente confusa em minha cabeça, eu queria saber mais, eu queria ajudá-los, porém, tudo aconteceu de forma tão rápida, que não consegui nem mesmo salvar meus pais quando a casa foi invadida pelos carrascos reais. Minha última recordação de minha mãe, foi ela correndo para se juntar a meu pai, deixando para mim apenas o arco, e o tempo para que conseguisse escapar. Os seus grunhidos de dor intensa, causados pelas lâminas que os assassinaram, ainda atormentam minha mente e meus sonhos em algumas várias noites. Uma culpa que recaí sobre mim e meu peito, ao qual, provavelmente nunca vou superar. Eu não pude nem mesmo enterra-los depois disso, nem mesmo pude me despedir ou dizer o quanto eram especiais para mim. E foi dessa forma que meu destino, preparou para mim uma fuga, ao qual passei por três meses sobrevivendo na floresta, após correr com toda minha força de vontade para longe daquele reino. Lutando contra a fome, acabei por encontrar uma vila um tanto quanto antiga e tradicional. Quando cheguei lá, fiquei mais 2 meses vivendo nas ruas, sobrevivendo apenas do que me ofereciam para comer, ou até mesmo executando pequenos furtos para sobreviver. Um dia, a sorte resolveu bater na minha porta, e um torneio de tiro com arco foi anunciado por aquela vila, e dessa vez eu teria uma chance de mudar as coisas por ali. Me inscrevi no torneio, e assim tive minha chance de provar o meu próprio valor perante a todos. Não foi uma tarefa fácil, todos os meus oponentes eram exímios arqueiros, mas decidi manter o foco, e colocar em prática tudo o que meu pai havia me ensinado enquanto ainda estava comigo. Com muita determinação e concentração, eu consegui fazer tiros precisos o suficiente, não só para acertar o alvo de forma certeira, mas também fazer tiros de longa distância, e cravar uma flecha perfurante dentro da que o meu oponente já havia atirado.
Acabei por vencer o torneio, e assim adquiri dinheiro suficiente para comprar uma casa, e ter um teto para se esconder das chuvas. Algum tempo depois vivendo naquele vilarejo, comecei a trabalhar como mercenário pelo local, e isso acabou me deixando mais famoso e reconhecido no local, se referiam a mim como "O Pena Vermelha". O tempo me trouxe experiência, e assim aperfeiçoei minhas habilidades com arco, conseguindo entender as runas talhadas na arma que minha mãe havia me dado. Se tratava de uma linguagem mágica antiga, usada por gerações das linhagens angelicais. Runas que se ativadas, causariam grandes danos aos inimigos mais comuns dos anjos... Os impiedosos e insandecidos demônios. Ou pelo menos, eram assim que eram descritos a mim e pelas pessoas que viviam no reino celestial.
Uma vez estava caçando junto a um amigo que tinha conhecido na vila, ele se chamava Aurélio. Era um humano comum e trabalhava como caçador nas redondezas da vila. Neste dia em especial, resolvi que iria acompanhá-lo a fim de ajuda-lo em seu serviço. Aurélio era um homem bom, não deveria ter mais que 35 anos, era casado e tinha uma filha de mesma idade que eu. Durante o nosso trabalho, Aurélio acabou por atacado por um urso pardo que vivia naquela região. De fato havia histórias e várias reclamações de ataques de urso, e até mesmo relatos de pessoas que fugiram ao ver um enorme urso andando pelas redondezas da vila. Aquilo estava causando medo e insegurança naqueles que viviam ali, e até mesmo, um grupo de homens havia sido enviado pelo líder da vila para que encontrassem e abatessem o urso, mas infelizmente, eles voltaram de mãos vazias. Diferente desse homens, eu e Aurélio tivemos a falta de sorte de encontrar o furioso animal, que não hesitou em nos atacar, e em um momento de impulso, ergui meu arco, puxando toda sua corda até o limite que poderia ser esticado, ativando as runas, que começaram a emanar uma grande quantidade de luz ardente. Após segura-lo por algum tempo na tensão máxima de sua corda, a ponta da flecha havia se incendiado, fazendo com que o urso caísse duro ao chão, após acertar sua cabeça com o disparo da seta, que acabou cravada entre seus olhos. Salvei a vida de Aurélio naquele dia, e consequentemente, aprendi como utilizar a magia daquelas runas talhadas, que com certeza, foram a melhor herança que meus pais poderiam ter me deixado.
Hoje? Bem, eu estou contando minha história no meio do trabalho, escrevendo esse diário para que as páginas possam de alguma forma inspirar alguém no futuro a não desistir de seus próprios objetivos, caso algum dia se sintam abandonados ou sozinhos de alguma forma.
– Redy! — Ouço um dos lenhadores que estava escoltando me chamar – Venha, estamos de partida!
– Ah! Certo! – Digo fechando o diário que estou escrevendo e então desço da árvore – Estou me juntando a vocês!
Esse é o meu trabalho, e dessa vez, fui contratado para escoltar lenhadores por três dias em suas obrigações. Hoje é o dia em que recebo e volto para casa, o trabalho já estava completo e pronto, tanto para mim quanto para eles, e sinceramente, eu já estava cansado de tanto tédio, nada de emocionante por aqui... Se é que me entende.
– Muito bem homens, erguer acampamento! – O líder do grupo ordena para os trabalhadores, e logo em seguida vem em minha direção – Muito obrigado Redy, depois que você chegou na vila, nossas vidas mudaram bastante, o seu serviço tende a ser promissor!
Eles pareciam realmente satisfeitos com o grande progresso em apenas três dias, pois os protegia de monstros, lobos, e entre outras criaturas que provavelmente os iriam atrasar, ou até mesmo levaria alguns ali a morte.
– Eu é que agradeço por me contratarem, se eu pude me estabelecer, e conseguir algum dinheiro foi graças a esse trabalho que pude assumir na vila – lanço-lhes um sorriso sincero, seguido de uns tapinhas no ombro direito do líder deles – Espero que me chamem mais algumas vezes.
– Com certeza! – Ele retribui meu sorriso com animação – Voltaremos a chamá-lo assim que precisarmos!
Assenti a ele com a cabeça, e em alguns instantes depois, ouvimos um grito vindo de dentro da floresta. Rapidamente me virei em direção ao pedido de socorro, e alcei vôo em direção ao grito com o arco preparado para ser disparado. Havia um grupo de goblins portando tacapes de madeira e facas mal feitas, cercando um dos lenhadores que voltava de onde estava.
– Vamos matá-lo e pegar seus pertences! – Aquele que parecia ser o líder do grupo, deu a ordem aos outros, avançando violentamente em direção ao lenhador que acabou por cair no chão após esquivar do ataque.
– P-pare! Por favor! Meu filho precisa de mim! – O desespero já havia tomado conta de seu corpo – Não me mate! Tenha piedade!
Os goblins não recuaram, e o líder deles decidiu atacar novamente, mas foi arremessado para o lado, após minha flecha atingir sua cabeça com tamanha força de impacto. Pouso entre eles e o lenhador, preparando mais uma flecha no arco já brilhava suas runas mais uma vez.
– Corra! Agora! – Ordenei ao lenhador, que se levantou um tanto quanto atrapalhado, começando a correr para longe dali. Enquanto isso, encarei fixamente meus inimigos, os observando e estudando um a um.
Me preparo, e mantenho-me esperto, pois goblins podem ser pequenos e as vezes nada inteligentes, mas sabem muito bem trabalhar instintivamente em equipe. Acerto um deles com uma flechada no seu peito desprotegido, mantendo uma vantagem psicológica sobre eles, criando medo em seus olhares. E ainda sim, restavam quatro de seis a minha frente, eu precisava finalizar rapidamente o serviço, para poder escoltar a volta deles a vila. Goblins tendem a ter uma natureza de caça, se dividem em grupos menores para emboscar suas vítimas, e muito provavelmente, poderiam haver mais grupos espalhados por ali.
– Seu miserável! Pare de estragar nossa diversão! – Sua voz era estridente e fazia com que meus ouvidos doessem.
– Ah! Cala a porra da boca! Seu vermezinho insuportável! – Digo acertando-lhe uma flechada na cabeça logo em seguida.
Percebendo a intenção de me cercarem, voei para trás daquele estava em minhas costas pronto para dar seu ataque, e o chutei fazendo com que ele caísse de cara no chão. Pisei em seu corpo sem dar qualquer chance para que se levantasse, acertando-lhe uma flechada por de trás de sua cabeça.
"Ponto pra mim, agora só faltam apenas dois..."
Correndo em minha direção um atrás do outro, acabaram por cometer um erro fatal em combate contra um arqueiro como eu. Puxei meu arco em sua tensão máxima, e o mesmo começou a brilhar, intensificando cada vez mais a luz carmesim de suas runas, incendiando a ponta da flecha que já estava mirada pronta para ser disparada contra meus inimigos. Assim que soltei a corda, o projétil vôo com velocidade contra meus inimigos, atravessando a cabeça do primeiro, e perfurando a testa do segundo que estava logo atrás.
– Missão... Cumprida – Soltei um suspiro aliviado e entendiado ao mesmo tempo – Talvez eu devesse tirar uma sérias férias...
Vasculho seus corpos, e pego algumas moedas de ouro, seguindo meu caminho para encontrar com os lenhadores mais uma vez. Por algum motivo sinto que alguém estava me observando, mas apenas ignoro a sensação deixando quem quer seja, ou apenas minha superstição para trás. Levo a vida dessa forma, e como pode ver, eu faço bicos, ganho dinheiro, sou contratado, ganho mais dinheiro, salvo pessoas de ataques de animais selvagens, ganho dinheiro de novo, tudo normal na vida desse mercenário bom de mira aqui. E assim que chego em casa minha única vontade é pegar uma boa garrafa de vinho e beber sentado na poltrona da minha sala, enquanto tento esquecer do meu obscuro passado sem respostas.
– Ao meus pais! – Ergo a garrafa de vinho tinto, virando em minha boca em seguida.
Um bêbado que ganha dinheiro como pode, pode não ser a escolha mais atraente, mas eu faço meu trabalho. Eu não tinha motivos exatos, não tinha o que proteger de verdade, eu moro, vivo e luto sozinho desde que virei órfão, e sendo sincero... Eu já nem ligo mais. Eu só queria saber o que aqueles dois fizeram pra que merecessem a morte, até hoje eu busco respostas, mas eu não posso retornar ao Reino Celestial, não sei como seria recebido lá, mas se eu tomasse uma flechada no momento em que chegasse perto dos portões, não seria surpresa alguma.
Porque eu tô escrevendo isso mesmo?