— Assim que eu der o sinal o combate começa — diz o Juiz.
A plateia continua dirigindo diversos xingamentos em minha direção. Depois de alguns passos para trás do juiz um som alto pode ser ouvido, parecia com o gongo usado em lutas de boxe.
Assim que ouço o som corro em direção ao meu adversário.
~Pov Alícia~
Ioan e Sally estavam frente a frente, o juiz diz alguma coisa para eles e se afasta um pouco. Ao meu lado estava uma garota que não parava de tremer, esta era Bianca, estava dessa forma desde que viemos para a arena, o que é fácil de se entender, vendo que grande da hostilidade do lugar estava sendo dirigida à ela.
— Apenas confie em Ioan. Alícia tem certeza que tudo dará certo.
Alícia fala segurando a mão direita, que estava ao seu lado, de Bianca.
— Sei que não preciso me preocupar, afinal, treinei com vocês esses últimos dias e conheço a força dele, mas no final não consigo, acabo sempre pensando o que irá ocorrer caso o pior aconteça. — Suas voz estava um pouco fraca.
— Não precisa se preocupar. — Alícia aperta sua mão mais forte.
O sinal pode ser ouvido junto aos gritos na arquibancada. Os dois competidores na arena se movem assim que conseguem escutar o som, Ioan corre em linha reta enquanto Sally puxa sua espada e grita.
— Agora eu irei... — Suas palavras começam a sair, mas sua frase é impedida de ser terminada.
Uma adaga, arremessada por seu inimigo, acerta sua coxa esquerda, fazendo-o soltar um grande grito de dor. Sua concentração acaba sendo dispersa graças a essa ação, Ioan aproveita a chance e começa a acertar diversos golpes. Socos e chutes atingiam seu alvo, que não tinha reação alguma.
— Seu... Seu maldito! — Sally grita tentando revidar.
Sua mão esquerda é jogada em direção ao rosto de Ioan, mas não atingem nada, seu alvo já havia se abaixado, já fazia seu próximo movimento, pegando a adaga e puxando para baixo ele pula para trás.
— O que foi? Você não disse que não havia forma de que eu vencesse este combate? — pergunta aproximando a adaga de seus lábios.
Nesse momento Alícia se lembra de algo e levanta.
— O que foi? — Bianca pergunta assustada.
— Ele não vai fazer isso... — Alícia aponta para Ioan na arena. — Alícia o deixou beber seu sangue, mas ele não quis.
— Vou te mostrar agora, está muito convencido. — Sally diz.
Alícia pode sentir um estranho sentimento, não sabia dizer ao certo, mas olhando ao redor apenas duas pessoas pareciam ter sentido a mesma coisa. Um homem com uma roupa chique e o homem-besta ao seu lado. Voltando seu olhar para arena Ioan estava calmo, mas ela tinha certeza que ele poderia sentir aquilo.
— Interessante, é a primeira vez que vejo esta habilidade sendo utilizada. — Ioan parecia calmo com a situação. — Parece com uma habilidade dos vampiros, pelo menos quando penso no que Lucio me explicou.
O juiz ainda estava na arena, em seu rosto se abre um sorriso assim que vê a habilidade de Sally sendo utilizada, antes disso sua expressão era quase de desespero.
— Não ficaria tão calmo se fosse você.
Não consigo ver o que aconteceu, mas assim que termina de falar o corpo de Sally simplesmente desaparece por poucos instantes. Ele estava a poucos centímetros de Ioan logo em seguida, não sei o porque, porém ambos estavam parados olhando um para o outro.
— Você disse que iria me mostrar algo? Estou esperando — diz Ioan com um sorriso no rosto.
A espada de Sally estava quase encostando em seu alvo, mas não chegou nem mesmo a tocar o corpo de Ioan. Olhando mais para baixo poderia ser vista a causa, o joelho dele estava na barriga de seu adversário.
Mesmo não podendo ver o golpe Alícia sabe o que aconteceu. Ioan já mostrou diversas técnicas de luta para Alícia, afinal, ela não tem força física o suficiente para lutar com alguém, por isso ele a ensinou sobre como usar a força do inimigo contra ele mesmo.
Mas, aquilo que mais chamou atenção de Alícia foi os olhos de Ioan. Estavam vermelhos escarlate. Ele havia lambido a adaga. Mesmo com a longa distância entre os dois ela conseguia ver o brilho que emanava de suas pupilas.
— Que... Como... — Bianca começa a falar, mas Alícia lhe pede silêncio por um instante.
Um soco acerta Sally, que estava quase se recuperando, no maxilar, o arremessando perto do juiz boquiaberto.
— Bom, não achei que seria necessário algo assim... — Ioan começa a falar. — De acordo com as regras você deve desistir ou o juiz deve intervir para que o combate acabe, certo?
Sally tenta se recuperar rapidamente após entender o que estava acontecendo, mas um chute o acerta, no mesmo local onde levou o soco que havia o arremessado. O chute o joga em cima do juiz.
— |Bola de fogo| — diz apontando sua adaga para frente.
Uma bola de fogo normal tem no máximo o tamanho de um punho, no entanto, aquela que foi formada era quase setenta por cento maior que essa. Não era o suficiente para matar alguém, mas caso fosse acertada em um membro poderia o arrancar dependendo da pessoa.
Um grito pode ser ouvido na plateia. A bola de fogo é lançada, porém não chega ao seu destino. Não se sabe quando ele foi parar lá, mas em frente a Ioan estava aquele homem-besta que Alícia havia visto antes, a magia parecia ter sido bloqueada por ele.
— A luta está finalizada — fala segurando a mão de Ioan.
~Pov Ioan~
Assim que minha mão é segura percebo algo, estava soltando uma grande quantidade de intenção assassina. A magia não era o suficiente para matá-los, mas acho que me pararam graças a essa intenção. Preciso me controlar melhor.
Em minha frente estava o homem-besta que havia chamado minha atenção antes, que só soltou minha mão quando eu finalmente larguei a adaga, deixando-a cair no chão.
— É o Seth. — Ouço alguém gritar na arquibancada.
Pelo jeito este cara realmente é um figurão por aqui. Tenho certeza que ele fez questão de nos mostrar um pouco de seu poder mágico antes da luta.
— Sinto muito interromper sua luta desta forma — diz andando. — Mas essa foi uma ordem do líder da guilda. Sabe como é, certo? Não posso recusar.
— Entendo... — respondo olhando para minha mão. Ela estava dolorida após ele segurá-la, esse cara não era normal.
Ele vai ver como estão os dois homens no chão, enquanto isso três pessoas entram na arena, duas garotas que eu já conhecia e aquele idoso que estava junto à Seth durante a batalha.
Alícia e Bianca se aproximam alegres, enquanto o líder da guilda tinha uma expressão mais séria, embora não houvesse qualquer tipo de hostilidade dirigida a nós.
— O senhor seria... — falo quando ele se aproxima mais.
— O líder desta guilda — fala olhando para Seth, que levantava Sally. — E pensar que uma bagunça dessa aconteceria logo quando não estava na guilda. Pelo menos ainda pude chegar para ver a luta e impedir que ruim acontecesse no fim.
Apesar de parecer alguém importante, pensei que ele seria apenas um nobre ou coisa parecida. Quando os vi pensei que Seth poderia ser o líder da guilda, parece que conhecer o líder da cidade portuária acabou me fazendo formar alguns pré-conceitos sobre como os outros seriam.
— Não acho que esteja entendendo o problema — diz agora com um tom mais forte. — Se não houvesse parado a luta seu adversário provavelmente estaria morto.
— Acho que vocês que não entendendo a verdadeira gravidade da situação — falo agora igualando seu tom de voz. — Um de seus funcionários tentou colocar uma de minhas companheiras como prêmio de um combate, além disso, estamos em um combate, minha magia não tinha força para matá-los, se me recordo o que disseram foi "magias não letais", não infrigi nem uma única regra aqui.
Bianca parecia um pouco assustada com o rumo que a conversa tomou.
— Da mesma forma, não acha que foi longe demais? — Agora ele parecia mais acuado.
Olho para Sally caído, seu maxilar estava quebrado graças ao chute que recebeu.
— Não. Estou bem com o que fiz. — Começo a andar em direção a saída. — A batalha foi interrompida, mas claramente fui o vencedor. Espero que a guilda cumpra com o acordo e retire o título de aventureiro dele. — Olho para o juiz que está de pé. — Quanto a ele... não me importo com o que façam, isso é problema de vocês.
Seth tenta andar em minha direção, mas o líder o impede.
— Não há o que se possa fazer. Ele está certo, a única forma de puni-lo seria se seu adversário acabasse falecendo ao final da luta.
A arena, diferente de antes, agora estava em completo silêncio. Meu objetivo havia sido completo, durante algum tempo não seremos mais incomodados.