Sophie e Adam explicaram para Lily e Ben-Hur como eles deveriam proceder para entregar algumas preces.
Primeiramente eles deveriam andar até o altar de cabeça baixa, em respeito a todos os deuses, mesmo os menores.
E quando chegassem diante da estátua do Deus Supremo era preciso se ajoelhar e tocar a testa uma vez ao solo e depois fazer a prece, ainda de joelhos no chão, mas com a cabeça erguida olhando para a estátua.
Ben-Hur assim o fez.
Contudo, conforme ele andava pelo corredor central, ele sentia como se as estátuas estivessem observando cada passo que ele dava.
A cada passo, era como se uma presença divina estivesse se acumulando dentro daquela imensa catedral.
O padre, que estava organizando algumas coisas no altar, olhou para trás e viu um casal e duas crianças andando nos corredores.
Ele levou seus olhos para as estátuas e a sua face demonstrava um desentendimento.
Sendo um Padre, ele tinha uma ligação próxima com o Divino.
Todos os Padres, bem como o Papa da Igreja Divina, deveriam ter a Benção de um Deus de Alto Nível, bem como deveriam seguir um estrito código de conduta.
Era de tal forma que nunca, desde a criação da Igreja Divina, nunca houve um Padre ou Papa com fartas riquezas, sendo todos obrigados a viver uma vida de humildade e santificação.
Sendo assim, poucas pessoas podiam sentir as variações do poder divino dentro de uma catedral como os padres que ali trabalhavam.
O Padre olhou para as pessoas que andavam e fixou seu olhar em Ben-Hur, ele podia sentir que aquele garoto tinha algo diferente.
Ele não conseguia dizer o que, mas algo único estava ali.
De qualquer forma, o Padre Pedro, nada falou e apenas foi para o lado, deixando que a família continuasse com o rito das preces.
No canto, ele ficou parado, observando os movimentos de Ben-Hur.
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"Bem-vindo..."
Ben-Hur olhou para todos os lados com uma expressão surpresa e um tanto quanto assustada.
Ele se viu em um lugar totalmente branco, no qual não parecia ter chão, teto ou paredes, apenas um infinito branco, como uma folha esperando ser escrita.
No entanto, não tardou para que algumas figuras surgissem.
Milhares, talvez milhões, de seres angelicais se materializaram à sua frente, flutuando algumas dezenas de metros acima dele.
Contudo, eles não eram o foco e sim as dez figuras humanóides que estavam à frente daquele colossal exército de anjos.
Eram cinco figuras femininas e cinco figuras masculinas.
Ben-Hur nunca os havia encontrado, mas podia dizer facilmente que eles eram Deuses de Alto Nível, aqueles abaixo apenas do Deus Supremo.
"Olá, garoto..." Uma das figuras masculinas disse olhando para ele.
Nenhum deles era possível ver suas faces, já que era tanta glória que Ben-Hur sentia que caso fosse capaz de ver seus rostos ele morreria.
Ben-Hur ficou em silêncio, ele não sabia muito o que dizer e isso era raro.
"O Deus Supremo o trouxe para cá e nos incumbiu a tarefa de lhe auxiliar em sua jornada..." Disse uma das Deusas.
Os deuses e as deusas falavam um pouco cada um, como se soubessem exatamente o que o outro falaria, completando as frases um do outro.
"O Deus Supremo, ao criar tudo e todos, lhes deu o maior dos presentes, o livre-arbítrio.."
"E isso foi dado a todos, Deuses, Mortais e também aos Anjos..."
"No entanto, um dos anjos, o mais poderoso entre eles, ao qual foi dado porção dobrada de poder, achou que poderia assumir o lugar do Deus Supremo..."
"E com ele, levou uma terça parte das Forças Angelicais, bem como dos Deuses..."
"No entanto, ele se equivocou, o Deus Supremo não é possível ser enfrentado, ele criou e também pode desfazer, ele deu a vida e também a pode tirar..."
"Sendo assim, aquele que um dia foi chamado de O Maior Arcanjo, o Líder dos Exércitos Celestiais, o Santo Arcanjo, se transformou no Caído..."
"Não houve batalha, apenas uma ordem e imediatamente os Anjos, Deuses e o Caído foram lançados da Cidade Celestial e por causa disso foram deformados, seus poderes puros se transformaram em afrontas..."
"Eles hoje são chamados de Demônios, Deuses Malignos e o Rei da Maldade..."
"O Caído planeja destruir tudo e todos, tragar a criação perfeita do Deus Supremo..."
"Atualmente, ele está acorrentado...."
"Quando o Primeiro Herói foi chamado, a ele foi dada a tarefa de lidar com O Caído e seus Exércitos, no entanto, o poder dos seus oponentes eram grandes demais e não apenas isso, o Primeiro Herói não precisou enfrentar apenas Demônios, mas também as criações malignas do Rei da Maldade..."
"E também enfrentou o perigo que reside na fragilidade do coração de todos os demais seres vivos, a avareza e inveja dos aliados..."
"Sendo assim, incapaz de destruir o Caído, também conhecido como Arcanjo da Destruição, ele deu sua vida para o selar e assim foi, por mais de dez mil anos..."
"No entanto, o Selo está se desfazendo, o surgimento da Igreja da Destruição, a qual adora o Rei da Maldade, está fazendo de tudo para acelerar o processo de deterioração do Selo e eles estão tendo sucesso..."
"Então, o Deus Supremo escolheu você…"
"Alguém que, mesmo tendo um poder surpreendente em mãos, escolheu, não ganho próprio, mas o bem geral..."
"Aquele que mostrou apreço pelo caráter acima da beleza..."
"Amor acima da luxúria..."
"Compreensão acima da rejeição..."
"Sabedoria acima da ganância..."
Ben-Hur nada falava, apenas olhava para os seres a sua frente e respirava pesadamente.
Ele podia sentir que tudo o que lhe foi dito agora não eram meramente ilusões em sua mente, mas sua Alma havia sido levada até outro lugar, onde a lógica não parecia fazer grande sentido.
"Sendo assim, aos poucos, conforme você crescer, iremos lhe conceder parte dos nossos poderes..."
"Não podemos lhe entregar tudo de uma vez ou seu corpo se desfaria devido a quantidade de poder..."
"Contudo, temos certeza de que você em breve crescerá e chegará onde jamais sonhou..."
"Agora volte, sua família o aguarda..."
Ben-Hur até tentou falar algo, mas ele sentiu uma imensa dor de cabeça e sua consciência se esvaiu.
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"Ugh.... On... Onde eu estou?..." Murmurou ele abrindo os olhos com alguma dificuldade e com uma leve dor de cabeça.
Olhando ao derredor ele se viu dentro de um pequeno quarto, extremamente simples, parecido com o que ele tinha em sua casa.
"Oh... Você acordou..." Exclamou uma voz masculina do outro lado do quarto, onde ele molhava um pano dentro de uma bacia de água.
"Q... Quem é você?..." – Ben-Hur.
"Padre Pedro... É minha tarefa cuidar da Catedral da Cidade Lion Storm..."
"Minha família... Onde estão?..." Ben-Hur aos poucos recuperava-se de uma leve tontura.
O Padre Pedro não chegou a falar, já que a porta do quarto se abriu abruptamente.
Era Sophie, que andou rapidamente até o seu filho e o abraçou.
"Eu fiquei tão preocupada!" Disse ela abraçando ele bem forte.
"Eu estou bem mãe..." Disse Ben-Hur, meio corado, mas feliz.
Lily estava ao lado de Adam, segurando na mão de seu pai e ela tinha um olhar preocupado.
Ben-Hur sorriu para sua irmãzinha que foi até ele e o abraçou também.
Padre Pedro saiu de mansinho, ele sabia que era um momento de família.
Ben-Hur não sabia, mas enquanto falava com os deuses, ele desmaiou e seu corpo foi coberto por chamas brancas que não queimavam, mas enviavam uma Aura assustadora.
E seu corpo tremia e ele parecia estar sofrendo uma dor colossal.