Uma semana havia se passado desde o ocorrido. Logo as férias de inverno se encerrariam o casal precisando se preparar para os próximos três meses até a chegada do bebê.
Gabriel e seu pai pararam de se falar, tendo o alfa praticamente morando com a família Moss. Apesar de toda confusão armada, a Senhora Jones conhecera Aline e ambas se mostraram avós babonas que gostam de comprar roupas de bebê. Longe do marido Miriam, a mãe de Gabriel, se soltava passando a sorrir mais. Não que não o fizesse perto do marido, mas dificilmente poderia encher Gabriel de perguntas sobre o estado de Theodore e do neto na presença do esposo.
Naquele último final de semana das férias, Miriam convidara Theodore e Gabriel para um pequeno passeio. Não contara a eles para onde iriam, apenas pedira que levantassem cedo, pois, visitariam alguém.
Theodore já havia caído no sono no banco de trás depois de vinte minutos de viagem. Gabriel o olhava do banco da frente sem tirar o sorriso do rosto.
— Tá dormindo ainda? — Quis saber a mãe, sem tirar os olhos da estrada.
— Ultimamente ele tem estado bem sonolento. Mas dizem que é normal.
— É claro que é! Tem que aproveitar agora que estão livres da escola. Depois ele vai ficar ainda mais cansado.
— Theo está decidido a estudar de noite apesar de continuar ajudando o time de tarde. Vai ser cansativo pra ele.
— Vai ficar tudo bem. Ele é um menino forte.
— Pra onde a gente tá indo?
— Visitar uma pessoa. — Sorria ela um tanto quanto nostálgica — Desde que nos mudamos tenho tentado ir, mas nunca dá certo. Agora que consegui um tempo vou aproveitar.
Ela não dera muitos detalhes sobre quem iriam visitar, e Gabriel nem tentara descobrir já que desconhecia aquele caminho. Uma hora depois e o carro entrava em um sítio. O alfa inclinou-se na janela ao enxergar uma casa de tijolinhos à vista bem cuidada, no entanto o que realmente o surpreendera fora reconhecer um velho senhor de cabelos brancos que estava sentado na varanda.
— Vô?
Assim que o carro estacionara e fora desligado, mãe e filho deixaram o veículo para serem recebidos por dois homens. Um mais velho de cabelos grisalhos e outro mais novo com cabelos escuros arrepiados, tendo ambos os mesmos traços que sua mãe.
Era a família dela.
— Ooh, que é vivo sempre aparece! — Dizia o mais velho dando um abraço apertado na filha. Então, olhara para Gabriel sendo possível perceber ele ficar emocionado — Veja só como esse rapaz cresceu, tá mais alto do que eu!
Abraçando seu avô, Gabriel sentira o cheiro adocicado típico de ômega. Não imaginava que eles estariam morando por perto da cidade. Talvez se soubesse antes arranjaria um jeito de visitá-los. Também abraçando ao seu tio, o alfa suspirava em saudades daquela família. Dez anos teriam se passado desde que os vira?
Aparentemente sua mãe mantinha contato com eles, percebera isso quando seu tio comentara.
— Estou surpreso de vê-los por aqui. Na última vez que ligou disse que as coisas estavam tensas em casa. — Lembrava o mais jovem, abraçando a irmã mais velha pelo ombro. — O que trazem vocês por aqui?
Miriam virou-se para Gabriel, que por sua vez olhava em direção do carro. Outras pessoas diriam que a brisa seria responsável por sussurrar para aquele alfa o despertar de seu ômega. Outros diriam que seria graças a mordida. A questão era que Gabriel sabia. Era uma cena um tanto quanto curiosa para quem desconhecesse a sua história.
— Ele acordou.
— Quem acordou? — Quis saber o avô curioso esticando o pescoço olhando para além do carro.
— Vai saber logo! — Ria Miriam.
Gabriel retornara para o carro, abrindo a porta traseira podendo assistir Theodore abrir os olhos ainda sonolento. Parecia um filhote de cachorro todo encolhido e com preguiça de levantar. Abrindo um sorriso amável, o alfa estendia a mão para o ômega que a segurou prontamente.
Saindo do carro, Theodore olhava em volta tentando se situar onde estavam. Reparando as pessoas estranhas que fitavam sua barriga, o ômega ajeitara sua blusa um tanto quanto incomodado.
— Venha conhecer mais da minha família. — Sussurrava Gabriel, puxando Theodore até o lado de sua mãe. — Theo, esses são meu avô Napo e meu tio Rafael, são família por parte da minha mãe.
— É um prazer conhecê-los.
— Oh, que garoto educado — Sorria o tio abrindo ainda mais o sorriso.
— E quem é ele, meu filho?
— Theodore. — Respondera Gabriel segurando a mão de Theodore para entrelaçar os dedos o olhando só pra constatar o rubor surgindo em suas bochechas. — Meu ômega.
O avô e o tio entreolhavam-se e então sorriam.
— Seu ômega? Teu pai sabe disso? — Quis saber o tio.
— Ah, nem me fale. Isso rendeu numa confusão. — Choramingava Miriam.
— Hahahaha, mas eu queria tá lá pra ver isso. — Ria o avô cruzando os braços satisfeito em saber daquilo. — Vou te apoiar se quiser largar aquele estrupício.
— Papai...
— Mas esse cheiro, não é só de um ômega. — Interrompia o tio, espreitando os olhos para Theodore.
Os dois rapazes trocavam olhares. Apesar do ômega parecer receoso em revelar seu estado para uma pessoa estranha, Gabriel não parecia pensar o mesmo.
— Estamos na espera de um filhote. Theo está de dois meses.
— Hahahahaha eu queria mesmo ter visto a cara do teu pai ao saber disso. Entrem entrem, logo temos que dar comida pras crianças, então se juntem a nós.
Enquanto os mais velhos entravam na casa de tijolinho à vista, Theodore segurara a mão de Gabriel ainda receoso por estar naquele lugar. O alfa percebera, fosse graças a mordida ou por conhecer o jeito do namorado agir, tratando de abrir seu cavaleiro sorriso para acalmá-lo.
— Vai ficar tudo bem, eles não vão te fazer mal.
— Só não quero que arranje mais confusão com sua família.
— Theo, eles são ômegas assim como você.
Um brilho no olhar do ômega surgira rapidamente, tendo Gabriel soltando um riso baixo.
Diferente do que esperava, o avô de Gabriel era um falador nato. Contara a história de como Miriam conhecera o esposo e que fora contra o casamento. Parecia ter tanto orgulho em dizer aquilo, que Theodore só conseguia ficar admirado. Pai e filha conversavam saudosistas gerando uma atmosfera calorosa e familiar.
Na hora do almoço a cozinha recebera duas crianças gêmeas, primos de Gabriel. Saber que o tio dele era um ômega que também engravidara já o tornara alvo de olhares ansiosos de Theodore. Parecia uma pipoquinha que pulava querendo enchê-lo de perguntas. Porém o avô de Gabriel continuava a contar histórias, dando risada e relembrando os velhos tempos ao lado da filha.
Depois do almoço, o avô fora caminhar com Miriam e Gabriel para mostrar o sitio. Theodore permanecera na cozinha observando Rafael cuidar das crianças com esmero. Parecia ser alguém carinhoso e paciente, sem ter vergonha de falar todo dengoso com os filhos. Era a visão mais bonita e inspiradora que Theodore tinha.
Afinal, era a primeira vez que via um homem agir daquele jeito com crianças sem ter vergonha de ser visto.
Será que ele mesmo seria capaz de agir daquela maneira com sua criança? Olhando de fora as outras pessoas agirem daquele jeito, era como ele se sentisse capaz em fazer a mesma coisa. Mas a realidade nem sempre seria assim.
— Então a família vai ter mais um ômega — Comentava o tio estendendo um copo de suco de laranja natural à Theodore. Agradecendo baixinho, o ômega bebericava. — Você tem quantos anos?
— Dezesseis.
— Que novinho. Deve ter sido assustador descobrir estar grávido, não?
Theodore sorria baixando a cabeça.
— Bastante. — Admitira passando a ponta do indicador pelo copo. — Ainda tenho dificuldade em aceitar. Quer dizer, eu sei que sou novo então me pergunto se sou capaz.
— Ah, mas isso não tem nada a ver com idade. Por mais que você deseje e planeje ser pai, a experiência é completamente diferente. — O homem se sentara ao lado de Theodore também bebendo um gole do suco. — Pode ter quantos anos for, isso não muda. Por que está sendo responsável por uma pessoa incapaz de falar o que a incomoda e você tem que interpretar cada comportamento... É claro que é assustador.
— O senhor também se sentiu assim?
— É claro! Tenho três filhos já, e todos eles foram tão assustadores quanto se imagina. Quer dizer, tem um ser estranho e desconhecido fazendo parte da nossa vida. — Ria ele balançando a cabeça.
Theodore arregalava os olhos na surpresa de ter em palavras sentimentos tão conflitantes que tivera ao longo daqueles dois meses. Afinal, como não poderia ficar assustado em pensar que desconhecia o rosto daquela criança, sua personalidade, sua visão e objetivo de vida? A maioria daquelas traços iriam depender da maneira como Theodore o criaria, o que pesava ainda mais em seus ombros.
— Isso! Isso, pensei que fosse ruim pensar desse jeito...
— Não me admira que tenha pensado hahaha. É como se apaixonar por uma pessoa. Você convive com ela e o laço vai sendo construído lentamente.
Ah, se existia algo que Theodore entendia era sobre apaixonar por alguém. Um garoto que assistia filmes de romances, lia histórias e livros de amor sonhando acordado certamente tinha noção do que era estar apaixonado por uma pessoa.
Além disso, ele vivenciara aquele sentimento.
O primeiro olhar.
A troca de bilhetes.
A amizade que fora construída.
Os momentos doces que tiveram.
Theodore havia vivido o apaixonamento por Gabriel mesmo ele sendo uma pessoa desconhecida na cidade. Mas na medida que se tornara constante em sua vida, não seria capaz de tirá-lo dela.
Isso queria dizer que o mesmo aconteceria com o seu filho?
— Fico aliviado em saber disso. — Sussurrava o ômega. — Já estava me sentindo horrível por ficar com medo do que viria quando essa criança nascesse.
— Mas você não está sozinho, não é?
Soltando um riso baixo, Theodore concordara com a cabeça.
Continuara a conversar com o tio de Gabriel, descobrindo mais sobre os cuidados de um ômega quando grávido. Descobrira com ele que diversos sentimentos que tivera ao longo dos dois meses eram até esperados, e que não deveria se sentir mal por estranhar tanto a chegada de uma criança em sua vida. Conhecer a experiência de Rafael fora a última gota d'água que Theodore precisava para se libertar das correntes do medo.
Enquanto o avô e suas duas geração ainda não retornavam do passeio, Rafael mostrara um pouco do seu trabalho como educador infantil da zona rural. Seu escritório no segundo andar era cheio de brinquedos e livros infantis que Theodore se encantara imediatamente.
Passara a tarde toda naquele escritório, enchendo Rafael de perguntas sobre sua profissão e a forma de cuidar dos filhos. Recebera diversas dicas para uma gestação saudável e até ganhara alguns livros para ler.
Depois de terem trocados número ao se despedirem no por do sol, Theodore não conseguia tirar o sorriso do rosto. No carro retornando para casa, o ômega repousara a mão no ombro de Miriam para ter sua atenção por um instante.
— Obrigado por ter me convidado pra vir.
— Vejo que fiz bem em te trazer. Aprendeu algo interessante sobre ser ômega?
— Muito mais que isso. — Sorria Theodore se encostando no banco. — Acho que encontrei o meu futuro.