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Chegada a hora

Se para o ômega a ansiedade era grandiosa, para um certo alfa ela era atordoante no dia seguinte. Para o desagrado de Gabriel o dia se passara tão lentamente que desistira de prestar atenção na aula. Principalmente quando a cada cinco minutos olhava para a carteira vazia ao lado da sua, sinalizando a ausência de Theodore.

Será que ele também estava ansioso?

Após a aula terminar e Gabriel já estar se trocando no vestiário para o treino, não pode deixar de suspirar pela milésima vez. Agora, havia um outro alfa o encarando curioso, cruzando os braços ao se recostar no armário com um sorriso ladino.

— Qual foi? Parece que nem queria estar aqui.

— Não foge muito da realidade.

— Onde mais queria estar?

— Na minha casa.

Rindo, Gabriel fechara a porta do armário e se sentara no banco para calçar os tênis. Sendo os únicos ali, Milles não perdera a oportunidade em azucrinar o próprio melhor amigo.

— Ouvi o professor falando que o nosso assistente não virá nos próximos dias. Tá sabendo de alguma coisa não é?

Gabriel terminava de calçar um dos pares, e quando ajeitava o próximo tênis sussurrara para Milles.

— Nada que te interesse.

— Guardando segredos de mim, que mancada Biel.

— Conto depois. Além disso, você pretende vir para os próximos treinos, não?

— Mas é claro! Nesse final de semana temos mais uma partida. Por quê?

Batucando os dedos no banco, Gabriel concordara com a cabeça. O cio de Theodore provavelmente terminaria no domingo à noite, perdendo uma partida das eliminatórias.

— Vou precisar de cobertura. — Antes que Milles o questionasse, Gabriel logo se levantou do banco — Preciso faltar alguns dias. É por um bem maior.

Um sorriso malicioso surgira nos lábios de Milles, que não tardara em abraçar seus ombros e começar a brincar consigo. Mesmo que tentasse deixá-lo envergonhado, Milles falhara miseravelmente em sua missão. Gabriel estava ansioso demais para permitir ser alvo de suas brincadeiras.

Tentara arrancar mais detalhes do motivo de seu grande desejo em ir para casa, mas Gabriel desconversava habilmente. O treino, então, se tornara um ótimo ponto de desvio de assunto, tanto para fugir das perguntas curiosas de Milles quanto do próprio nervosismo.

Entretanto, no instante em que pisara fora da escola mais tarde, já era um caminho sem volta.

A partir do momento que desse cada passo pela rua aproximando da casa de Theodore, o alfa estaria se aproximando do momento mais aguardado daquela semana. O ômega estaria no cio, com seu cheiro delicioso e desejos transbordando. Passariam as noites juntos pela primeira vez, onde poderia tocá-lo intimamente.

E então, Theodore seria completamente seu.

— Ei, Biel, vamos sair pra comer!

— Não, valeu! — Desconversara abrindo um largo sorriso ansioso, passando a correr pela rua.

Não queria simplesmente caminhar até Theodore. Não quando o imaginava esperando na frente de sua casa com aqueles cabelos loiros encaracolados e sorriso angelical. Provavelmente estaria tão nervoso quanto ele mesmo, resultando em suas bochechas avermelhadas.

Ah... Queria vê-lo.

O mais depressa possível. Só precisava ver Theodore.

Apertando a alça de sua mochila, o alfa corria subindo a rua até reconhecer o salgueiro-chorão que escondia parte da fachada da casa branca. Parado ali na frente, olhando para o céu enquanto escutava alguma coisa em seus fones, estava Theodore. Sem uniforme da escola, apenas uma conjunto de moletom folgado que ficava bonito nele.

O coração acelerava só de vê-lo de longe.

Engolindo em seco, o alfa respirara fundo acalmando-se. Até dera uma ligeira ajeitada em seus cabelos escuros antes de se aproximar fingindo calmaria. E quando seus olhos encontraram as pérolas azuladas, o nervosismo só crescera.

— Demorei muito?

Tirando os fones, Theodore negara com a cabeça.

— Saiu mais cedo do que eu imaginava, na verdade. O treino foi curto?

Gabriel negou com a cabeça imediatamente.

— Eu que saí mais cedo. Vamos?

Silenciosamente Theodore concordara com a cabeça ficando ao seu lado para continuarem a subir a rua. Sem dizerem uma única palavra devido ao nervosismo, Gabriel se pegava vez em quando olhando o ômega pelo canto dos olhos. Conseguia sentir de longe o cheiro do sabonete mesclado ao seu cheiro intenso, e até via alguns fios dos seus cabelos ainda úmidos.

Teria ele tomado banho antes de se encontrarem? Bem... Ele também tomara uma ducha depois do treino, já que suara demais naquela tarde. Mas o cuidado de Theodore era impecável se comparado ao seu. Por ser simplesmente Theodore.

Respirando fundo para aspirar aquele perfume adorável, Gabriel já conseguia sentir os próprios desejos crescendo. Queria segurar a sua mão para entrelaçarem os dedos. Queria beijá-lo ali mesmo, tamanha a saudade que sentia de seus lábios. Queria tocá-lo da mesma forma que o tocara naquela noite.

Não...

Aquilo não seria o suficiente.

Precisava tocá-lo por inteiro.

Preso nos próprios desejos, o alfa parara de andar ao chegarem em frente de um sobrado novo e moderno. Tirando as chaves do bolso para abrir o portão, Gabriel conseguia notar que a realidade estava batendo em sua porta cada vez mais alto.

Estava chegando o momento.

Quando o passaram pela porta, ouvira Theodore respirar fundo atrás de si.

— Fique à vontade, pelos próximos dias esse será o seu refúgio.

Theodore abria um sorriso trêmulo ao concordar com a cabeça. Ele olhava em volta da casa em genuína curiosidade, não deixando de respirar fundo. Gabriel soltara um riso baixo. Provavelmente ele sentiria a mescla de aromas na casa.

— Sua mãe é ômega? — Questionava o loiro ao tirar a mochila das costas.

— É sim. Sente o cheiro dela?

— É gostoso.

Ele sorria tão angelicalmente, que Gabriel mal conseguia conter a euforia de tê-lo em sua casa. Segurando sua mão o puxando em direção das escadas, não escondera a ansiedade ao fitar o ômega diretamente nos olhos.

— Vamos pro meu quarto.

Tendo aquelas pérolas azuladas o fitando e sentindo as pontas dos dedos de Theodore gelarem, Gabriel tivera plena certeza de que ele também estava nervoso. Era óbvio, desde o momento que propusera passar o cio com ele notara o seu nervosismo. Mas suas reações eram simplesmente lindas e perfeitas.

Simplesmente por estar reagindo somente para ele.

Segurando firmemente seus dedos enquanto subiam as escadas, Gabriel guiara Theodore até seu quarto tomando a coragem para abrir a porta. Pisando dentro do cômodo, virou-se para Theodore que tornava a farejar o ar e abria um largo sorriso.

— Tem seu cheiro. — Murmurava o ômega, apressando-se logo em seguida. — Isso é óbvio, já que é seu quarto. Apenas quero dizer...

— Você gosta do meu cheiro. — Sorria Gabriel fechando a porta atrás de Theodore, não se esquecendo de trancá-la. — Como se sente em estar aqui?

O ômega mordera os lábios balançando a cabeça suavemente.

— Nervoso, tendo um ataque cardíaco. — Ria ele em seguida, cobrindo os lábios com o dorso da mão escondendo parte do rubor que surgia em seu rosto. — Mas incrivelmente bem.

— Precisa de alguma coisa? Não tenho muita ideia de como posso ajudar um outro cara no cio, ainda mais um ômega. — Admitia o alfa levemente encabulado.

Theodore deixara a mochila que carregava encostado na parede, abrindo a mesma para retirar uma pequena necessaire de couro marrom. Ele a segurava com tanta firmeza, que Gabriel espreitara os olhos da maldita bolsa se questionando o que poderia haver dentro.

— Preciso de um momento só, posso usar o seu banheiro?

Gabriel apontara para a porta ao lado do armário, onde era o seu banheiro. No instante em que a porta se encostou, Gabriel andara pelo quarto bagunçando o próprio cabelo.

O que deveria fazer?

O que havia lido naquelas histórias que o Theodore gostava no Orkut? Certo, lera elas atentamente buscando referências. Seria a primeira vez que transaria com outro cara e não fazia a menor ideia do que poderia fazer. Mesmo que tivesse a teoria, a prática já seria outra coisa. Apesar de que tinha noção de algumas coisas que tentara da última vez...

Certo, certo. Acalma-se.

Gabriel girara pelos calcanhares indo até a janela fechando as cortinas deixando o ambiente levemente escuro. Colocara mais uma coberta na cama a arrumando, tendo vez ou outra olhando em direção da porta do banheiro onde o ômega estava.

Será que deveria tirar suas roupas?

Não seria muito depravado? Era melhor tirar na medida em que o clima esquentava?

Sentando-se na beira da cama estando no precipício de um colapso, o alfa buscava se acalmar. Suas mãos tremiam e suavam em pura inquietação. Não fazia a menor ideia de como agir, temendo transformar aquela noite em um caos.

Theodore deveria deixar aquela casa com doces lembranças. As mais preciosas se possível. Essa era a sua missão naquele momento.

Sim.

Mostrar ao ômega pelo qual estava apaixonado o quanto o amava.

A porta do banheiro logo fora aberta e Theodore saíra de lá sem a blusa do moletom. Só de observá-lo daquela maneira, a pele do alfa se arrepiara por completo.

— Não sente frio? Minha mãe sempre reclama que a casa é gelada.

Theodore dobrara a blusa e a guardara na mochila junto de sua necessaire.

— Um pouco, mas acho que é mais nervosismo da minha parte. — Ria o ômega logo indo até a frente do alfa. — Desculpa a demora.

Gabriel balançou a cabeça, sem se importar muito com a suposta demora. Por ele esperaria o tempo que fosse.