Um lagarto extraterrestre no banheiro.
Uma "Bruxa" glacial na rua.
E uma entidade intimidadora no sótão.
Tudo isso era demais pra ele conceber.
Kieta Meguro já estava no seu limite.
— Isso é um sonho... Não é a realidade... Não pode ser a realidade...
Deprimido a mais de 10 horas, ele se manteve recluso enrolado na sua própria carapaça.
Parecia um jovem sem vida. Alguém que perdeu toda a perspectiva de vida.
Tudo o que ele sibilava da boca seca era a vontade de escapar da realidade desmistificando tudo isso com...
— Eu só posso estar sonhando...
Era a única forma de tentar se convencer de que nada daquilo era real.
Parecia só um tipo de ação inútil, ficar no canto do quarto repetindo as mesmas coisas em lamentação.
Porém, foi dessa lamentação irrelevante, que ele se lembrou de algo.
"Sim. Você está sonhando..."
— ....Espera um segundo.
Quando lembrou-se da vez em que acordou nesta casa e encontrou aquela donzela de cabelos azuis, ele percebeu que ela falava coisas sem sentido.
Uma delas era essa: Kieta Meguro — assim nomeado, estava sonhando.
— ...Ué?? É algum tipo de sonho lúcido super bizarro? Essa merda não faz sentido algum para mim.
Ele reclamou.
Mas havia lógica a ser entendida nisso tudo?
Ele adoraria pensar que não estava começando a traçar a linha tênue entre a sã consciência e a insanidade.
— Mas isso é loucura demais. Eu só posso estar ficando louco...
Dizendo isso, seu olhar foi direcionado para a janela aberta e dali via-se os raios de luz matutinos.
Já era de dia.
— Eu não dormi nada a noite toda...
Não conseguiu dormir. Ficou em estado de alerta a noite inteira.
Ele não podia continuar assim...
— Quero voltar pra minha casa...!
Resoluto, Kieta Meguro se ergueu do chão jogando o lençol em cima da cama e se retirou do quarto a passos largos.
— Vai se ferrar mundo de merda. Se isso for um sonho então eu quero acordar logo de uma vez!
Se dirigindo até a cozinha, ele não vê Walther. Foi então até a sala de estar.
— Ei, quero a sua ajuda. — disse ao ver o homem sentado no sofá pintando em uma mini tela em branco.
O pincel deslizava pela tela formando formas.
Kieta não reconhecia. Mas ele também não estava interessado.
— Ah, você acordou, Carinha. Está com fome? Você não jantou ainda. — dizia ao jovem otaku.
— Eu não quero comer seu feijão, tá legal? Quero voltar para casa! Me ajuda a chegar até ela?
— Hum....
Com esse pedido despretensioso de Kieta, o homem parou de pintar e o olhou nos olhos.
O menino ficou um pouco receoso pelo teor do pedido. Mas ele estava resoluto em prosseguir com esse pedido.
— Por favor... Eu não vou conseguir sozinho...
Apelou pela súplica.
De fato ele não conseguiria durar nem um dia ou uma noite lá fora. Foi um grande milagre ele ter chegado são e salvo quando aquela mulher estranha disparou pingentes de gelo em sua direção.
Na verdade, poderia se considerar que este rapaz, Kieta Meguro, era um jovem de muita sorte.
Não que estar nessa situação difícil seja motivo de "sorte".
Mesmo assim...
— Tá bom.
— Quê?
— Eu disse: "Tá bom".
— Ah... Então...?
— Te ajudo a voltar para a sua casa.
— Oh... Uhhh... Valeu.
Ele piscou os olhos algumas vezes meio sem jeito, aceitando a breve resposta de Walther. Nesse quesito ele foi muito generoso e Kieta ficou feliz.
— Onde cê mora, garoto? — Walther pergunta.
— A algumas ruas daqui. Acha que da pra chegar lá?
— Claro. De dia é menos arriscado. Consigo até fazer compras. Mas precisamos de um cara.
— Que cara?
— Eu te mostro.
Walther se ergue do sofá deixando seus utensílios de artes no canto e segue rumo para o lado de fora.
Kieta seguiu ele sem ter outras alternativas.
Na rua, o menino olhou para a descida que levava para a tal muralha de gelo sólido e sentiu um frio na espinha.
— Espero que não temos que descer.
— Relaxa, é logo ali em cima.
Sendo direcionado pelo Walther, Kieta Meguro subiu a rua um pouco e assim eles se deram de cara com uma casa com o portão do pátio aberto.
— O cara que você falou... Ele está em casa? Certeza?
— Relaxa, carinha. Você verá.
— Porque você fala como se fosse um mestre dos magos?
— É uma boa comparação.
— ?
Kieta entortou a sobrancelha quando viu o homem rir do que falou e continuou até a porta de entrada da casa.
Parando de pé, ali em frente, ele bateu na porta e esperou.
Ambos parados esperando alguma reação.
E então...
— .....
Um homem de sobretudo (mesmo no verão) e cabelo comprido até o ombro com cara de paisagem apareceu abrindo a porta.
— Olha só... Walther resolveu me fazer uma visitinha?
Ele disse assim.