Capítulo 2 – O Brilho do Caos
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Aníbal estava no topo de uma colina, de onde observava o sul com um olhar frio e calculista. A cidade de Astapor ardia ao longe, sua silhueta sendo consumida por uma luz vermelha intensa que rasgava a escuridão da noite. Era o prenúncio do caos, marcado pelo nome Targaryen. Ele cruzou os braços, sua expressão endurecida pelo brilho vermelho que iluminava seu rosto, enquanto sentia o ar quente da noite trazer um leve cheiro de fumaça e destruição.
Por mais que soubesse o que a queda de Astapor significava, não havia pena em seu peito. Crescera como um homem livre, alguém que jamais se curvaria a correntes ou aceitaria a escravidão em sua vida. Esse desprezo profundo era tanto herança de sua vida anterior na Terra quanto de sua vida entre o Povo Livre. Mesmo com a brutalidade da cultura do norte da Muralha, os selvagens entendiam o valor da liberdade.
Aníbal dirigiu seu olhar para o acampamento abaixo, onde as fogueiras de sua Guarda Varegue brilhavam, em contraste com as chamas distantes de Astapor. Enquanto Essos sobrevivia do comércio de vidas humanas, ele mantinha a honra de sua companhia ao proibir o uso de escravos. Essos poderia manter suas tradições, mas ele faria as coisas do seu jeito.
Seus pensamentos foram interrompidos por passos atrás de si. Ele se virou para ver três homens se aproximando, cada um carregando o peso da experiência de anos de batalha. Hakon, Teron, e Dragas — seus três tenentes mais confiáveis. Hakon, com o semblante endurecido e a cicatriz atravessando o rosto, era o responsável pela infantaria. Teron, o bastardo de um nobre de Norvos, exalava uma determinação silenciosa que raramente fraquejava. E Dragas, um homem magro e de olhos afiados de Myr, comandava os arqueiros.
Aníbal assentiu para os três, indicando que se aproximassem. Eles se postaram em torno dele, todos com os olhos focados nas chamas distantes de Astapor, em um silêncio solene que apenas guerreiros conhecem.
— O destino é curioso, — murmurou Aníbal, rompendo o silêncio, sua voz baixa e profunda. — A cidade queimar era inevitável. Mas há algo mais aqui, algo que podemos aproveitar.
— Comandar dragões e um exército de escravos libertos não é pouco, — comentou Teron, seu tom quase casual, mas os olhos atentos.
— É exatamente isso que a torna diferente, — respondeu Aníbal. — Ela é mais do que apenas uma Targaryen tentando retomar o trono. Ela carrega consigo uma promessa de mudança.
Ele olhou para os três tenentes, medindo suas reações, antes de continuar.
— Conheço o que vem a seguir. Ela não parará em Astapor. A Mãe dos Dragões seguirá conquistando, libertando escravos, criando inimigos e aliados em Essos. Eventualmente, ela chegará a Westeros para reivindicar o que acredita ser dela por direito.
Dragas franziu a testa, seus olhos se estreitando enquanto considerava as palavras de Aníbal.
— E o que a Guarda Varegue tem a ganhar com isso? — perguntou, sua voz carregada de ceticismo.
Aníbal permitiu-se um leve sorriso.
— Uma aliança com Daenerys pode significar um futuro onde nós, homens e mulheres do Povo Livre, possamos cruzar a Muralha e descer até as terras que sempre sonhamos. Imagine o que poderíamos fazer com os dragões de nosso lado, enfrentando o sul.
Os olhos de Hakon brilharam com um fogo que Aníbal conhecia bem. Para ele e muitos do Povo Livre, o sonho de descer até as terras verdes era mais do que uma ambição, era uma questão de honra e sobrevivência. Durante toda a sua vida, as terras abaixo da Muralha haviam sido o lugar onde seus antepassados jamais puderam pisar sem serem caçados.
— E como poderíamos conseguir isso? — indagou Hakon, sua voz grave e profunda. — Ela não nos conhece, e já mostrou que não confia em mercenários que lutam apenas por ouro.
Aníbal assentiu, contemplando a questão. Sabia que uma aliança com Daenerys exigiria mais do que apenas palavras.
— Ela está criando um exército para enfrentar Westeros, para libertar o povo das correntes dos usurpadores. E nós somos os guerreiros que já conhecem a liberdade como ninguém. — Ele fez uma pausa, olhando para cada um dos homens. — Quando ela entender isso, talvez veja valor em nos ter ao seu lado.
Dragas riu suavemente, cruzando os braços enquanto observava Aníbal com um olhar inquisitivo.
— Acha que o ouro dela comprará o espírito de guerreiros que sempre lutaram por si mesmos?
Aníbal encontrou os olhos de Dragas, seu olhar intenso e fixo.
— Não se trata apenas de ouro. Trata-se de algo muito maior. — Ele respirou fundo, pensando nas terras ao sul da Muralha, nas cidades livres e no próprio Westeros. — E se a promessa dela for cumprida, se ela se tornar a rainha que pretende ser, podemos ganhar muito mais do que ouro. Podemos ganhar um lar, um lugar onde o Povo Livre não precisará mais se esconder.
Hakon assentiu lentamente, o brilho de excitação em seus olhos. Ele, mais do que ninguém, entendia a força de um sonho como esse. Seria uma oportunidade única, algo que nenhum deles poderia ter imaginado nos longos invernos do Norte.
— E se ela falhar? — perguntou Teron, pragmático. — Não sabemos o que ela encontrará em Westeros, e o trono pode não ser tão fácil de conquistar.
Aníbal olhou para o horizonte escuro, onde as chamas de Astapor começavam a enfraquecer. Ele não ignorava os riscos, sabia que uma guerra em Westeros traria perigos e incertezas. Mas também sabia que não poderia recuar diante da oportunidade.
— Se ela falhar, continuaremos a lutar, como sempre fizemos. — Ele ergueu o queixo, sua voz carregada de determinação. — Mas nunca saberemos o resultado até que tentemos. Ela é nossa chance de finalmente alcançar o que sempre desejamos.
Dragas e Teron se entreolharam, assimilando as palavras de Aníbal. O silêncio que se seguiu não foi de hesitação, mas de uma compreensão mútua que transcende palavras. Finalmente, Dragas assentiu, e Teron deu de ombros, com um sorriso leve no rosto.
— Então, — Hakon começou, com um leve brilho de satisfação nos olhos. — Qual é o plano?
Aníbal respirou fundo, formulando as ideias que já começavam a se solidificar em sua mente.
— Amanhã ao amanhecer, vamos nos mover para o leste, contornando a cidade, — explicou ele, com o tom de voz firme e claro. — Precisamos ficar longe do caos, mas suficientemente próximos para observar o que ela fará com os escravos libertos e como reagirá ao poder que agora possui.
Ele voltou o olhar para Astapor, agora apenas uma sombra no horizonte, embora ainda envolta em resquícios de fumaça.
— E, quando a hora certa chegar, ofereceremos nossos serviços a ela. Daenerys pode ser diferente, mas ainda não tem o suficiente para vencer a guerra que a espera. Somos a chance que ela precisa... e ela é a nossa.
Os três homens assentiram, e Aníbal pôde ver a faísca de determinação em cada um deles. Ele sabia que não seria fácil, que haveria sangue e sacrifício. Mas também sabia que, ao lado de Daenerys, eles poderiam finalmente ter o poder para mudar o curso de suas próprias histórias.
A guarda varegue continuaria sua jornada ao lado de uma Targaryen, não apenas como mercenários, mas como guerreiro
s que sonhavam com uma liberdade que transcendia fronteiras e crenças.