No templo, o imperador se levantou de seu trono e atraiu a atenção de toda a corte para ele. Sua aura imponente era sentida até o último convidado da última fileira de assentos de tão grande que era. Ele passou os olhos por todo o lugar, vendo os rostos de companheiros e de nobres gananciosos, uma visão que há muito se acostumou.
"Todos aqui sabem para que é a cerimônia de hoje e o objetivo dela."
Os nobres levantaram-se e abaixaram a cabeça em respeito ao rei, atentos às próximas palavras de cumprimento antes de iniciar o evento.
"Hoje é um dia de comemoração. Um dia de honra e respeito. Um dia para recompensar aqueles que conquistaram feitos incríveis para o império. Seus feitos trouxeram benefícios a todos e trarão um futuro brilhante para nós. Glória ao império!" O imperador exclamou no final.
"Glória ao império!" E os nobres gritaram em uníssono.
Félix sorriu para a visão à sua frente. "Que comece a premiação!"
Um som soou dos músicos tocando seus instrumentos e o imperador voltou ao seu trono, com os nobres sentando-se novamente. A cerimônia estava começando e os sussurros eram inaudíveis pela música que tocava. O sol entrava pelas lindas janelas e iluminava todo o lugar, principalmente o caminho que os premiados passariam, ressaltando toda a decoração. Todo o ambiente estava incrivelmente belo e digno de uma cerimônia de prêmios.
Um homem caminhou para a frente do imperador, estando abaixo de seu trono e no fim da passarela que eles caminhariam. Ele era o cerimonialista, aquele que apresentaria os convidados. Ele era gordo e tinha um bigode bem cheio, além de cabelos lustrosos negros. Seu rosto era simpático e parecia ser gentil. O homem sorriu para todos e começou a apresentar.
"O estrategista que guiou a todos para a vitória da guerra. Aquele que com sua mente brilhante e astúcia perspicaz criou planos surpreendentes. Filho de Sua Majestade, Sua Alteza Imperial, Príncipe Aiden Valkirien Yulard!"
O anúncio reverberou em todo o recinto e com ele a porta do salão principal se abriu.
Na entrada, o segundo príncipe estava em pé, vestindo roupas luxuosas e, ao mesmo tempo, discretas, que combinavam com sua aparência elegante e refinada, tornando-o um pouco mais ensolarado e alegre do que realmente era. Claro, o sorriso em seu rosto não era inteiramente pela ocasião e nem falso, porque de relance ele via os rostos com um ódio disfarçado nos nobres idiotas das outras facções. Se ele pudesse, com certeza riria alto das expressões distorcidas.
Seus pés deram os primeiros passos e ele caminhou pelo caminho até o palco que o imperador estava, com seus irmãos e irmãs do lado dele. Por todo o caminho, sua arrogância natural estava expressa, com as costas eretas e a cabeça levantada, mostrando a todos que ele conseguiu chegar ali com sucesso, irritando alguns nobres que não podiam expressar sua frustração. O canto levantado de sua boca nunca se abaixou desde que apareceu, debochando de todos eles.
O imperador olhava para seu filho, o qual caminhava imponente, e não pôde deixar de querer dar um suspiro. Ele tinha ciência do que estava rondando na cabeça dele ao pensar em alguns nobres que vinham em sua mente, mas ele não podia fazer nada. Também não estava preocupado, por mais que seu filho seja um pouco voluntarioso e travesso, não é imprudente. Ele sentia orgulho por ele também, pois vendo ele, lembrava de si mesmo há anos atrás, no mesmo lugar que ele diante de seu pai.
Aiden chegou ao final e, em frente ao imperador, ajoelhou-se com a mão no peito, esperando pela fala do rei para premiá-lo.
Félix se levantou e caminhou até estar na ponta do palco e estendeu a mão para o cerimonialista, o qual entregou-lhe um edital real escrito os prêmios do príncipe. Os olhos castanhos desceram para a cabeleira loira de seu filho e o analisaram mais um pouco antes de abrir seu pergaminho. O ambiente todo estava em silêncio, com a atenção de todos eles nas duas figuras centrais.
"Aiden Valkirien Yulard, por suas conquistas e seus esforços na guerra contra Torzik, será dado a você cem mil ouros, o título de comandante imperial, uma medalha por sua bravura e a 'Espada da Alvorada'."
Com a fala do imperador, um crescente burburinho crescente entre os nobres surgiu. Muitos ficaram em surpresos pelo segundo príncipe ter sido recompensado com tal espada, pois essa era um tesouro da família imperial e de muito renome e famosa por todo o império, por ter sido forjada por um esplêndido ferreiro e usada pelo terceiro imperador, o qual aumentou os limites da atual Yulard.
Félix fechou o edital e olhou para seu filho, com tamanha seriedade que os sentidos de Aiden sentiam a queimação em sua cabeça.
"Além disso, eu, Félix Varkin Yulard, o imperador de Yulard, nomeio-o meu príncipe herdeiro e sucessor de Soleil."
A declaração foi feita, não apenas chocando os nobres que estavam pasmos em seus assentos, como também o príncipe que estava ajoelhado, além dos outros membros da realeza. Se a 'Espada da Alvorada' criou conversas por parte dos nobres, com alguns sendo contra, tal anúncio fez com que ela se tornasse irrelevante. A decisão do príncipe herdeiro é algo a ser levado sério que impactaria toda a corte e levaria a uma mudança de poder.
Aiden levantou a cabeça para encarar seu pai e olhou em seus olhos, confuso pelo movimento que tal imperador fez, sendo que isso não é de seu feitio, apenas para ver que ele estava resoluto e firme, tão sério que o lembrava do dia que ele decidiu se entrava em guerra contra Torzik ou não. Isso foi surpreendente para ele que, embora não fosse oficial, era um fato indiscutível que ele seria o herdeiro, mas não pensava que o anúncio seria feito neste momento. O mesmo pode dizer por parte de sua família, que, com certeza, vendo suas reações também não foi avisada.
"O príncipe Aiden é o príncipe herdeiro? Como? Não ouvi nada disso!"
"Você não me disse que o príncipe Daniel tinha chance de vencer?"
"Hahaha! Eu sempre soube que nós seríamos os ganhadores!"
Enquanto Aiden pensava nisso, os nobres criavam conversas, discussões para todos os lados. A facção do primeiro príncipe estava de cabelos em pé pelo choque do imperador ter decidido seu príncipe herdeiro sem nenhum aviso ou rumor, sequer havendo uma cerimônia de nomeação, apenas uma declaração unilateral na premiação. A facção do segundo príncipe estava em folia, regozijando-se pelo infortúnio de seus velhos inimigos da facção ao lado e por terem apoiado o príncipe certo; até o Conde Miller estava quase rindo de alegria ao lado de sua esposa. E a facção do terceiro príncipe não estava muito abalada, muitos esperavam tal resultado e até pensavam em ir para as outras, até voltarem para a facção neutra que estava indiferente.
O mais frustrado de tudo isso é Dominique Oliveira Santos, o Duque Santos, por ter ficado do lado errado. Ele não conseguia acreditar que o pirralho arrogante do segundo príncipe havia conseguido a posição que ele tanto almejava para o primeiro príncipe que ele apoiava. Nem que o imperador fez tal declaração; toda vez que ele citava ou mencionava algo do tipo para o sol do império era como se estivesse falando com a parede ou era olhado com aqueles olhos frios e avisado para não se meter nos assuntos do trono. Mesmo se não tivesse no lado do primeiro, ele não conseguia ficar do lado do segundo, por odiar aquela personalidade detestável.
E a frustração vira raiva, a qual se incendeia ainda mais ao se lembrar que desde que a guerra acabou, o Duque Noir começou a estragar seus planos e nenhuma contramedida aos avanços da outra parte foram efetivas. Essa dupla de cães malditos sempre se meteram em seu caminho. O pior é que ele não podia expressar, sequer quebrar algo, por estar na frente da multidão e ainda em um evento público. Tudo que lhe restou foi respirar com dificuldade e se acalmar, além de ter que criar paciência para lidar com os nobres de sua facção que criavam pressão sobre ele com seus olhos.
Se o príncipe Aiden soubesse a situação do Duque Santos, ele riria bem alto e soltaria um comentário sarcástico, divertindo-se em ver essa cobra velha morrer de raiva. Bem, não é como se ele não pudesse imaginar tal momento depois do evento.
A família Miller estava surpreendida com tal visão, principalmente Ivan que parecia sério por fora, mas estava rindo por dentro. Até Claire, a condessa, o observou e sabia o que se passava pela mente de seu marido, mas ela não era muito diferente, ela nunca gostou do líder da facção do primeiro príncipe e alguns outros, embora haja muitos bons nobres, a liderança era só péssima. E para Phillip, desde o que presenciou no exército, não tem boa impressão de alguns nobres, sendo um deles o Duque Santos, por isso achou bem feito, pois sabia que ele era rival da facção do segundo príncipe.
Johannes, Brandon e James não tinham uma opinião formada sobre o assunto. Johannes é uma estrangeira de uma nação derrotada, aquele que se torna o imperador e as batalhas da corte não são algo que ela leve em consideração no momento, principalmente por ser noiva do segundo filho de um conde. Brandon é um servo e não se envolve politicamente, muito embora soubesse que o segundo príncipe era o principal candidato ao trono. E James simplesmente não ligava.
No entanto, tanto Brandon quanto James tinham o pensamento de estarem presenciando a história; principalmente Brandon, por ser um servo, poder ver o imperador e o príncipe, ainda mais uma declaração de príncipe herdeiro, é algo inimaginável para alguém de sua classe.
"Brandon, isso é bom?" James sussurrou para Brandon ao inclinar-se um pouco para ele.
"Para nós sim." Brandon respondeu. "O senhor apoia o segundo príncipe, então sua nomeação como príncipe herdeiro beneficiará todos aqueles que o apoiam, inclusive o conde."
"Oh." Ele assentiu, não perguntando mais.
James ainda tinha algumas perguntas a fazer, mas sabia que não era o momento. Além de estarem na premiação, o ambiente era aberto e sempre havia aquele que escutava demais.
"Obrigado, Sua Majestade." Aiden levantou-se e curvou-se para o rei, indo para a lateral.
Ele sabia que o tempo de seu prêmio havia acabado e ainda tinha outros que ganhariam suas recompensas, bem como que não podia atrasar todo o evento pela surpresa repentina que o imperador fez.
A música soou novamente pelos músicos, uma diferente da anterior, mas ainda tão bela e melodiosa quanto a anterior. Com ela, os nobres agitados começaram a se aquietar, eles notaram que não era o momento. Muitos ainda querem falar, mas decidiram ficar quietos. O cerimonialista deu dois passos à frente de onde estava e, ainda nervoso pelo que acabou de acontecer, começou a apresentar o segundo premiado.
"O general que comandou os soldados para a guerra e que lutou bravamente na conquista da capital inimiga. O Celestia de nosso império, um homem com habilidades soberbas e uma fama de gênio espadachim. Nativo de Linden e chefe de família, o único Grão-Duque do império, Cédric Isis Noir!"
Assim como na primeira vez, a porta se abriu pela segunda, revelando um homem vestindo de preto da cabeça aos pés, parecendo mais um corvo do que homem em si, mas nada conseguia esconder aquela combinação de olhos negros e cabelos de cor azeviche, tão harmoniosos que parecia davam uma sensação etérea. Suas roupas eram todas de design simples, sem muitos enfeites, mas ainda tão de bom costume e de boa costura quanto o do segundo príncipe, ressaltando sua pele branca e figura máscula, além da impressão de ser mais alto, pois a calça em suas pernas cumpridas realizavam tal ato.
Algumas damas olharam para o homem e se encantaram, não se lembrando dos terríveis rumores que rondavam tal pessoa.
No entanto, mesmo que os nobres o encarasse e as damas não deixassem a visão de seu rosto um minuto sequer, ele os ignorou tão bem quanto fazia nas ruas da capital. Os passos não eram rápidos e nem devagar, estavam na medida certa para que demonstrasse seu temperamento frio para qualquer um que visse; ele nem estava escondendo sua aura, dando calafrios e pressionando a todos que estavam próximos dele. O queixo alto, o cabelo penteado para trás, os olhos tão frios quanto montanhas nevadas e a expressão neutra não demonstrando nada. Ele parecia um ascético de tão alienado à multidão parecia.
Contudo, no meio da multidão, sem sequer parar seu passo, ele sentiu a dor em seu ombro, o ardor surgindo, tão semelhante à primeira vez que sentiu que rapidamente associou tal acontecimento com o que passou a alguns dias na rua. Ele discretamente observou todo o lugar, vendo e analisando cada rosto que seus olhos chegavam até chegar ao que queria. Um ruivo de olhos verdes o encarava com fascínio e prestava toda sua atenção em si.
Ao tê-lo sobre os olhos e concentrar parte de sua mente nele, a marca em seu ombro ficou mais quente, como se estivesse pegando fogo sobre sua pele.
'De novo?'
Cédric não entendia o porquê de sentir isso. Parecia que seu ombro pegaria fogo a qualquer momento e somente quando aquele garoto estava próximo a si. No entanto, não tinha nada demais nele. Ele havia pedido a seu assistente para vigiá-lo e procurar suas informações, recebendo em pouco tempo um relatório completo sobre a pessoa, e a conclusão foi que era uma pessoa comum. O ruivo que fazia sua marca queimar era um empregado de um conde desde mais novo e era filho de uma antiga empregada pessoal da condessa, trabalhando até hoje e cuidando principalmente do filho mais novo, que ainda está no começo da adolescência.
Suas informações incluíam seu passado, o fato de sua mãe ter morrido de uma doença aos seus dezesseis anos, ter praticado aulas com os jovens mestres da casa em que trabalha e ser um assistente do conde durante os últimos três anos. Até mesmo tinham o fato dele ter participado da descoberta de um caso de fraude e abuso infantil do orfanato. E isso só comprova que não havia nada suspeito sobre ele, pois seu passado era limpo, mas consistente, sem um único sinal de que foi modificado.
'Ele não tem nada fora do comum e parece ser uma boa pessoa. Mas minha marca fica assim nas duas vezes que vejo ele…'
Além disso, descarta a ideia quase improvável de que ele fosse um Celestia, pois nada à sua volta dizia algo do tipo, provando o que sentia dele na primeira vez que o viu. Só que isso não explica a mudança em sua marca. E nem outras ideias que ele tinha em mente, mas, por hora, deixaria de lado.
Cédric ajoelhou-se perante ao imperador, da mesma maneira que seu amigo, o príncipe Aiden fez antes dele. As damas sentiam-se triste por não poder mais vê-los, mas aqueles servos próximos do palco faltavam tremer do frio que sentiam.
O imperador encarava o homem ajoelhado à sua frente, lembrando-se da pobre criança que ele era quando mais jovem. Não havia muito o que fazer na época dos acontecimentos infelizes na vida dele. Ele era o imperador, mas não podia meter-se na vida familiar da alta nobreza. Um misto de culpa e arrependimento apareciam sobre os olhos castanhos e o que ele podia fazer agora é se conformar com tais sentimentos. E agora aquela criança que existia no passado havia crescido para um adulto taciturno que vive para seus deveres. O pior é que ele entendia o porquê de viver assim, mas queria aconselhá-lo a não ser isso.
Ele quase deu um novo suspiro, mas se controlou, abrindo o edital.
"Cédric Isis Noir, por sua ótima liderança do exército imperial, por proezas em frente ao exército inimigo e, principalmente, em sua luta contra os Celestias da outra parte, irei lhe recompensar com cem mil ouros, isenção de impostos por três anos e redução para o povo de seu território, além de conceder-lhe um desejo que seja dentro do possível da minha parte como imperador."
Félix fechou o edital e o público ficou ainda mais atento, esperando o próximo segundo para ver se havia mais um anúncio surpresa como da última vez, mas não houve mais nada.
"Obrigado, Sua Majestade, o imperador." Cédric disse, levantando-se e curvando-se, indo direto para a lateral.
"Isso quer dizer que o Grão-Duque não irá se casar com a princesa?"
"Não há rumores que seria para o mercenário?"
"Eu ouvi que o imperador fez a oferta, mas o mesmo recusou impiedosamente."
"Coitada da princesa, teve o coração partido por tal homem."
"Por isso que eu digo que ele não é uma coisa boa."
Isso foi completamente inesperado por muitos. Os nobres tinham certeza que o imperador proporia ao Grão-Duque a mão de sua primeira filha em casamento a ele como prêmio de suas conquistas na guerra, mas não houve isso. Pelo menos para apaziguar aqueles que tinham um pensamento de superioridade contra os plebeus, antes de ser feito para o novo Celestia do império, mas somente rumores foram feitos, sem nenhuma fonte confiável. Claro que todos eles tinham certeza que o Grão-Duque recusaria, mesmo que a oferta fosse feita. O mesmo não parece ser do tipo que se casaria em primeiro lugar.
Brandon olhou de longe para o homem que esbarrou na rua dias atrás, vestindo as mesmas cores como na primeira vez que o viu, mas incrivelmente mais bonito que naquela época. Ele parecia diferente pelo visual, mas ainda tinha toda a expressão indiferente que viu antes. Não tinha como não dizer que ele não era belo, para seu padrão, o homem era mais que perfeito dentre todos os que estavam neste recinto.
Para Brandon, os rumores de Cédric, o Duque das Sombras, eram apenas rumores e, mesmo que fosse verdadeiro, havia exageros e mentiras em meio à verdade para que não sejam tão confiáveis quanto realmente são. Tais rumores também não diziam nada sobre a personalidade da pessoa, ele é alguém que acredita no 'ver para crer' e teria que presenciar todas as coisas ruins, ou ao menos ver o Grão-Duque realizar alguma para que possa mudar sua opinião.
De qualquer forma, ele não tinha contato com o homem, mas isso não o impedia de sentir-se simpático com a luta do outro.