Uma construção emergia do chão até uma altura tão alta quanto a Torre Mágica. Ela era próxima do Norte da cidade, mas um pouco para o centro. Tão importante quanto, era o coração da capital, pois o edifício nada mais era que o Palácio Imperial. Com decorações em seus muros e padrões simples, mas elegantes, o terreno reservado para a família imperial era maior que o terreno destinado à torre.
James olhava para para o castelo que poderia ser dito como incrível, enquanto Brandon estava comprando a pipoca caramelizada que ele queria.
Era apenas uma visita temporária, simplesmente para ver, igual a torre. James queria entrar na torre, assistir os magos estudando, ler pesquisas e sentir todo o ambiente, mas não era o mesmo para o palácio. O Palácio Imperial possuía duas entradas principais, uma usada pela família imperial quando saíssem e nobres entrarem em eventos oficiais e a outra destinada à entrada de nobres em áreas permitidas a eles, como a biblioteca pública ou um salão para uma festa do chá, e à trabalho.
Ou seja, nada muito atraente para um garoto de doze anos que é apaixonado por magia. Somente livros e conversas sobre assunto de adultos.
Já fazia algum tempo que eles tinham andado pelo Bairro dos Encantos e não achavam mais algo que pudesse lhes chamar a atenção. Com exceção de James ter comprado alguns biscoitos surpresa a mais e uns presentes que gostou para os outros, não haviam feito muito por ali; Brandon não escolheu nada e Nott somente os acompanhou. Então, eles foram para o segundo maior ponto turístico de Asther, o palácio.
No entanto, diferente do que ele imaginou, não havia nada muito bom para se ver, além da magnífica beleza da arquitetura e design.
O sol aproximava-se do pico, quando Brandon aproximou-se de James com a pipoca, notando-o a olhar para o edifício em frente. Ele fitou o rosto infantil de seu jovem mestre e depois pro palácio, pensando se havia algo de tão especial. Nem na Torre Mágica ele tinha ficado assim.
"Quer entrar, James?" Indagou ele, entregando o saquinho de pipoca para o garoto. Obviamente, ele não concordava com o garoto comendo aquilo agora, era quase hora do almoço, mas eles simplesmente podiam comer um pouco mais tarde, para que ele tivesse apetite.
"Huh? Não." Rapidamente negou, balançando os fios roxos. "Só não sei o que fazer agora." Usou uma desculpa, mas era meio-verdade. O garoto não queria entrar, mas estava pensando no que o grupo poderia ir para se divertir.
"Por que não vamos para a praça ver o grupo de marionetistas Maquiattes? Me lembro de você citá-lo uma vez dizendo que poderíamos ver seu show. E a praça não é longe do palácio. Ainda é melhor, depois de assistir podemos ir almoçar em algum restaurante, como é um local onde muitas pessoas se reúnem e com certeza tem um com habilidades boas." Sugeriu.
James inclinou um pouco a cabeça, como se pensasse. Era um bom plano e ele também estava curioso pelo grupo. Nunca havia visto um show de marionetes e gostaria de ver um. Ele se virou para Nott e perguntou-lhe se havia algum problema em seguir tal proposta.
"Nenhum problema, Terceiro Jovem Mestre."
"Bom, então vamos." Assentiu e liderou o caminho.
Por estarem andando e conversando, às vezes distraídos com os pequenos vendedores que vendiam algo, sem notar toda a multidão se dividindo como o mar vermelho para duas pessoas. Um homem de roupa totalmente preta, com cabelo tão negro quanto suas roupas, rosto feroz, de queixo quadrado e olhos afiados, toda sua figura atraia a atenção, seja homem ou mulher, mas era pela forte aura de pressão que os faziam se sentir com medo e com respeito. O outro era um pouco mais baixo, de óculos e um pouco gordinho, suas roupas eram de marrom com azul escuro; ele era o assistente do homem magnético.
A multidão de pessoas se afastou conforme eles andavam, todas querendo ficar longe da sensação fria e opressiva que sentiam quando estavam próximos a eles. Era como se, em pleno sol do meio-dia, a temperatura baixasse e todo o corpo se arrepiasse, um medo surgindo no fundo do coração. Todos comentavam sobre a sensação que sentiram e o desejo de recuar e se afastar que tiveram, ainda mais sobre a identidade da outra parte. Não havia ninguém na capital que não ouviu sobre a fama do homem que caminhava na rua em passos rítmicos e era extremamente belo, como o auge da beleza masculina.
"É ele. Eu pensei que ainda demoraria para ele vir." Um homem falou para seu colega.
"Quem?" O colega indagou, curioso sobre o homem.
"Você não sabe quem ele é? É o Duque das Sombras!" Ele disse, exasperado, mas ainda sussurrante.
"O Duque das Sombras!" Uma terceira pessoa repetiu o nome com voz baixa também, mas não impediu que outras ouvissem o famoso nome.
Cédric Noir, ou mais conhecido como Duque das Sombras, é o único Grão-Duque do Império Yulard, governante do ducado de Linden à Sul da capital, Asther, que possui a principal rota de comércio do mar de Netuno para o continente Oriental. Além desses fatos, ele é famoso principalmente por seus rumores desde quando era apenas uma criança, um garoto abençoado por um Deus e se tornado um Celestia, mas, por seus atributos serem escuridão, foi chamado de demônio por sua mãe, levando-a à loucura. Também sobre suas excelentes habilidades em tudo. Claro, há esses antigos, mas os mais recentes eram sobre seus feitos durante a guerra e em batalha desde sua maioridade. Um Deus da Guerra que lutou contra um Celestia do reino Torzik e milhares de soldados, sendo uma peça-chave para a vitória do império na guerra.
Ele era um herói para o império e para o povo.
Por isso, todos o olhavam com respeito, mas profundo medo, porque, mesmo que houvesse os rumores sobre seus feitos e méritos do campo de batalha, havia também o outro lado da moeda, de como ele era implacável, matando inimigos sem hesitação e torturando-os em busca de informações. Ele fazia tudo o que pudesse para atingir seu objetivo. Ele era frio, calmo, calculista e racional. Um perfeito general de tropas para o império, mas o pior inimigo para aqueles que se opõem a ele.
Um herói, mas com incontáveis vidas em sua mão.
O homem que era tema de conversa daqueles em volta ignorou-os como se fossem ar e ele não fosse o assunto debatido. No entanto, Brandon, sem saber, esbarrou nele, ficando atordoado e voltando dois passos para trás, antes de olhar para cima e se esquecer do que dizer, diante daquele homem. Seu único pensamento no momento foi 'Acho que é assim que os Deuses se parecem.'
Cédric olhou para aquele que esbarrou nele, abaixando a cabeça e encarando o rosto masculino, bem como os olhos verdes que se encontram com suas obsidianas. Por um momento, seu ombro direito queimou como se fosse lava, antes de desaparecer no próximo segundo, como se não tivesse acontecido. Mas ele notou, somente não expressou. Ele estava apenas encarando o ruivo que não demonstrava nenhum medo em relação a ele, como se não fosse afetado por sua aura Celestia que irradiava de seu corpo.
Até mesmo seu próprio assistente estava encarando os dois com a respiração segurada, quem dirá James e Nott que estavam praticamente congelados do lado de Brandon, sentindo a baixa temperatura em seu corpo. Ambos não conseguiam se mover, a pressão não deixava, como se indicasse para não se mover, pois havia um abismo que engoliria eles a qualquer movimento.
Brandon acordou de seu transe e sentiu-se um pouco envergonhado por olhar fixamente para o outro homem, mas não demonstrou em seu rosto também. Diante de um público tão grande, ele naturalmente está habituado a controlar a expressão. Habilmente, ele esticou os lábios em meia-lua e sorriu para o Cédric. As pedras verdes em seus olhos brilharam como se houvesse mil estrelas e fossem dizer algo muito importante.
Mas a realidade foi um balde de água fria para a atmosfera que, talvez, apenas os dois sentiam.
"Sinto muito esbarrar no senhor, desculpe." Brandon disse, com uma voz calma e melodiosa aos ouvidos do público, mas Cédric apenas assentiu, murmurou um "hm" e saiu sem dizer mais nada, nem dando um segundo olhar para ele.
Parecia que seu ritmo não tinha parado e que Brandon nunca esbarrou com ele. O assistente logo o seguiu, preocupado que fosse abandonado por ele ali mesmo. Conhecendo o Grão-Duque como ele conhece, não duvidaria que se o mesmo quisesse iria simplesmente sumir de sua vista e deixá-lo ali, parado, sem saber o que fazer. Afinal, não seria a primeira e, com certeza, a última.
Brandon olhou para as costas largas cobertas por pano preto que se afastava cada vez mais e voltou sua atenção para os outros dois quando James puxou sua manga da blusa. O olhar assustado e com um leve pânico no rosto juvenil o fez se sentir impotente por um momento, antes de sorrir para o garoto.
"Está tudo bem." Ele esfregou o cabelo do menino, dando uma breve olhada para Nott que também estava encarando ele, mas de uma maneira mais séria. "O que foi?"
"Você não sentiu? A aura fria que ele emana?" Nott perguntou. Ele podia estar congelado e foi surpreendido por essa estranha sensação de frio e pressão, mas ainda notava cada movimento do homem de preto e de Brandon. Parecia que o ruivo não era afetado em nada por essa atmosfera.
"Eu? Não." Brandon negou. "Havia algo assim?"
"Uhum, sim. Parecia que estava era inverno perto dele." James afirmou e balançou a cabeça em concordância com Nott. O frio tinha arrepiado os pêlos de seus braços. "Repara só, eles estão em pé."
"Não senti nada." Brandon sorriu, dando de ombros. "Por que não vamos logo? Ainda temos que ver se o show está acontecendo."
James logo voltou sua atenção a seu objetivo original e caminhou em frente. Ele queria ver se ainda estava acontecendo o show de marionetes e, claro, esquecer aquele frio que o fez se assustar por conta de seu súbito surgimento. Nott o seguiu, com Brandon ao lado, não tocando no assunto. Ele pensou que Brandon poderia estar fingindo não sentir, mas não haveria motivo para tal feito. De qualquer forma, ele ignorou o acontecimento e, novamente, focou-se em proteger os arredores do jovem mestre.
*
Não muito longe dali, mas cada vez mais distante, o homem de roupas negras continuava seu caminho com seu ajudante que olhava para o mar de pessoas que haviam se dividido em duas na estrada igual a lenda do Mar Esmeralda, que foi aberto com a ajuda dos Deuses. O assistente empurrou os óculos, vendo todas aquelas pessoas praticamente estarem rígidas, com expressões anti-naturais e, podia-se até ver, suores descendo em sua testa. Eram todas muito diferentes do garoto que haviam acabado de passar, o qual havia esbarrado por acidente no Grão-Duque.
O assistente não tinha ideia de como aquele garoto conseguia agir de maneira tão normal quando estava na frente do Grão-Duque Noir, como se não fosse afetado de maneira nenhuma pela sensação de frio. É incrível, por si só.
No entanto, como um assistente capaz e digno, Zach Ferreira, além de ser um funcionário de um nobre e mão direita de Cédric Noir, ele não é sem ideias sobre como aquele garoto não foi afetado. Suas principais teorias eram que ele, o ruivo de olhos verdes, era um Celestia não identificado, mas isso era impossível. Não havia uma aura única em volta dele e, ainda, Cédric não prestou atenção nele, então era descartável. A outra era que o jovem rapaz era forte o suficiente para resistir, o que era aceitável e razoável, já que houve casos em que pessoas eram capazes de não sentir a influência da aura.
"Senhor, como você acha que aquele garoto conseguiu agir normalmente?" Ele indagou, curioso. Seus pensamentos eram questionáveis para conter e não perguntar a Cédric.
"Garoto?" Uma voz baixa perguntou, calma e sem perturbação, boa o suficiente para se ouvir e querer mais.
"O que esbarrou com você. O ruivo de olhos verdes." O Zach detalhou, olhando para o rosto lindo de Cédric de lado.
O nobre não parou nem por um segundo, no entanto, se Zach visse bem, ele teria visto que uma minúscula parte havia sido franzida.
"O que você acha?" Devolveu-lhe a pergunta, esperando a análise de Zach. O Noir sabia que seu assistente já havia criado uma ideia do que teria acontecido.
"Ele pode ser alguém com habilidades o suficiente para resistir, pois não pareceu afetado. Contudo, tal conjectura só faz sentido se ele for um gênio ou for um mestre. Ele é muito jovem." Respondeu prontamente.
"Há outra?"
"Uma mais improvável, que ele é um Celestia não identificado, só que não senti nada vindo dele."
Cédric ouviu as teorias e ponderou. Ele entendia porque Zach pensaria de tal maneira, só que havia muitos buracos. A impressão que tivera do garoto não era a de alguém que era forte, nem que era de um Celestia. Isso por si só o deixaria alerta. Mas era como se fosse alguém normal. Uma pessoa comum que resistiu ao frio. Podia acontecer, nada era impossível.
Porém, ao pensar nisso, a lembrança da queimação em seu ombro voltava em sua mente, fazendo suas sobrancelhas franzirem.
"Sua forma de andar não era a de alguém que segue o caminho da espada, muito menos magia. Talvez tenha algum treinamento, mas não como o cavaleiro que estava ao seu lado, pois o senso de gravidade era diferente." Cédric falou, pensando na terceira teoria. "Talvez ele seja um candidato."
"Se for assim, devo ficar de olho nele?" Zach perguntou, com um olhar sério sob os óculos. Seu rosto demonstrava a importância do assunto.
O Grão-Duque parou pela primeira vez, no momento que entravam no salão do palácio. Ele olhou em frente, depois virou-se para Zach. As obsidianas negras exalavam um frio cortante, mas não diminuía a beleza que era a harmonia com as sobrancelhas.
"Sim."
Por mais que ele achasse que fosse desnecessário estar de olho em um garoto que encontrou por acaso, se ele for um candidato, será importante saber com antecedência. Além disso, ele sentia de alguma forma que não poderia deixá-lo sem supervisão. Era mais como um instinto superficial.
E com essa resposta, ele fecha a porta e entra no cômodo, deixando Zach para fora e caminha até o sofá para se sentar, enquanto é recepcionado por um homem negra de cabelos loiros e olhos castanhos que sorri para ele.
"Olá, Sua Alteza, príncipe Aiden."