Enquanto Julie estava deitada em sua cama à noite, ela olhava o céu pela janela ao lado de sua cama.
Quando ela se inscreveu nesta universidade de renome, ela não esperava ser notada pelas pessoas. Afinal, ela não era rica, nem tinha influência familiar como muitos alunos. Mas, por algum motivo, parecia que ela havia pisado em uma sorte estranha, não boa sorte, mas estranha porque desde que chegou aqui, ela se viu em situações estranhas.
Talvez fosse a vida média de uma pessoa que era frequentemente intimidada, pensou Julie consigo mesma.
Nem ela esperava ver o que viu hoje na biblioteca. Ela ainda podia ver o aborrecimento nos olhos dele enquanto a questionava. Com a maneira como ele olhava, o garoto cheirava a problema. Brigar. Matar aulas. Se agarrar nos fundos da biblioteca, para não esquecer que ele havia tentado intimidá-la.
Julie rezou, esperando não cruzar com ele novamente, pelo menos até que ele se esquecesse dela. Mas suas preces não foram atendidas, pois sua carta havia terminado nas mãos do mesmo garoto, do qual ela não tinha conhecimento.
No dia seguinte, após o almoço, quando Julie retornou ao seu dormitório, ela viu uma carta esperando por ela perto da janela. Com cuidado, ela caminhou em direção à janela e a pegou.
Ao abrir a carta, ela a leu,
"Eu tenho um trabalho para você. Vá até o fundo do bloco branco e me encontre lá." Ela notou que havia algo rabiscado no fundo, "O tempo está correndo."
A carta era obviamente da mesma pessoa que tinha a carta dela. Ela imaginou o que seria esse 'trabalho'. Sabendo que não valia a pena evitar e decidiu conversar pessoalmente com essa pessoa. Mas quando Julie chegou ao fundo do bloco branco, não encontrou ninguém lá.
Ela olhou para os lados, notando que havia um envelope no chão esperando por ela. Caminhando em direção a ele, ela o pegou e leu o bilhete,
"Vá ao campo de jogo perto do gol."
E essa não foi a última, ela foi enviada para mais três locais, e Julie franziu os lábios, imaginando se eles estavam brincando de caça ao tesouro. O próximo lugar para onde ela deveria ir era o Bloco Azul. Ela entrou pelos portões, caminhando em direção à grama ao lado do prédio e, como antes, não havia ninguém lá. Em vez disso, ela encontrou outro bilhete que dizia,
"Bom trabalho olhando o campus. Você pode voltar para o seu dormitório agora."
Essa pessoa a fez andar de um lugar para outro sem motivo!
Quando ela começou a se dirigir ao portão para voltar ao seu dormitório, alguém gritou lá de fora,
"Ela está lá! A garota dos quatro olhos!"
Quatro olhos? Os olhos de Julie se moveram e encontraram o porco-espinho e seus dois capangas. Seus olhos se arregalaram, e ela segurou os papéis em sua mão. Ela correu para dentro do prédio enquanto os três garotos começavam a se mover em sua direção.
"Peguem ela!"
"Peguem ela rápido!" ordenou o porco-espinho, e Julie correu como se um touro furioso a perseguisse. "Você vai morrer hoje!"
"Eu não fiz nada! Deixa pra lá!" Julie gritou de volta para ele. "Você caiu sozinho!"
"Eu vou te matar!" o porco-espinho rosnou como se as palavras de Julie tivessem colocado mais lenha na fogueira. "Pare aí mesmo!"
Todos esses dias, ela tinha se saído bem ficando longe do porco-espinho, mas ele parecia furioso e com a intenção de querer transformá-la em polpa.
Julie correu e subiu as escadas, esperando encontrar uma maneira de sair do prédio sem encontrar os três garotos que estavam ansiosos para pegá-la e provavelmente arrastá-la para um canto para cometer um assassinato. Todas as aulas haviam terminado, e não havia aluno ou professor no prédio. Enquanto caçava o tesouro, ela se tornou a caça.
"Ela desapareceu para a direita!" Ela ouviu um dos meninos gritar.
Julie podia até se defender, mas não era superman para enfrentar três garotos crescidos.
Não eram apenas os passos deles, mas também os dela que ecoavam nos corredores, facilitando para que eles a localizassem. Ela teria se escondido em algum lugar, mas eles a perseguiam tão de perto que tornava impossível para ela encontrar um esconderijo. Correndo por mais um minuto, ela finalmente entrou em uma sala de aula e se escondeu embaixo da carteira.
Ela ainda podia ouvir a confusão que o porco-espinho e seus capangas estavam fazendo do lado de fora.
"Onde ela foi?! Ela estava bem aqui há um momento," disse um deles.
"Ela deve estar se escondendo em algum lugar aqui. Saia de onde você está! Você não pode se esconder de um leão," Julie ouviu a ameaça, que provavelmente não estava muito longe dos outros. Leão? Parecia que alguém se achava demais, pensou Julie. "Você acha que eu não sei em qual dormitório você está ou qual é a sua aula? Saia em vez de arrastar o tempo inevitável do seu sofrimento. Verifiquem todos os banheiros e trancem!"
O quê?! Não!
"Espero que você aproveite a sua noite aqui. Dizem os rumores que há um fantasma que assombra esses corredores e salas de aula," Julie ouviu as palavras do porco-espinho.
E ela ouviu a porta da sala de aula clicar. Os passos na frente da porta se foram.
"Você deve estar brincando comigo," sussurrou Julie.
Ela mordeu o interior da bochecha. Se não era a porta, então seria a janela! Ela se inclinou de onde estava, certificando-se de que os meninos haviam partido e correu para o outro lado da sala. Ela empurrou a janela para cima e olhou para a altura que precisaria pular.
Não! Era muita altura, e se pulasse, ela quebraria as pernas ou as mãos.
Ela esperou pelo menos uma hora antes de tentar repetidamente puxar e empurrar a porta na esperança de que ela se destrancasse, mas ainda estava presa na sala.
"Veja agora, é aqui que os telefones vêm a calhar," disse Julie em tom de quem diz um fato.
O sol começou a se pôr lentamente.
Sem outras opções, Julie decidiu que era hora de pular da janela. Ela podia sentir seu coração batendo rapidamente contra o peito enquanto se sentava na beirada da janela antes de saltar e cair na grama.
"AH!" ela fez uma careta de dor, e por dois minutos, ela ficou ali.
O céu parecia como se uma gota de tinta azul tivesse sido derramada nele, e o azul escuro começou a se espalhar. Levantando-se enquanto sentia seu braço doer, Julie começou a andar de volta ao seu dormitório. Por mais emocionante que fosse pular de uma janela, ela não era um gato e não queria fazer isso novamente.
Ela esperava que, depois disso, o porco-espinho se sentisse satisfeito e a retirasse de sua lista. Mas como muitos valentões, uma vez que o nome de uma pessoa entra na lista de alvos, ele fica lá para sempre.
No caminho, Julie não pôde deixar de notar algumas pessoas parando o que estavam fazendo para olhar em sua direção. Isso a fez se sentir mais desajeitada, e seus pés tentavam se mover o mais rápido possível. Ela viu alguns sussurrando, e isso a fez se perguntar se seu cabelo estava uma bagunça. Ela tentou alisar seu cabelo com a mão.
Chegando perto do prédio do dormitório, ela viu Olivia do lado de fora do próximo dormitório, sentada e conversando com outra garota. Mas suas cabeças foram rápidas ao virar na direção dela, e Julie acenou com a mão.
Olivia se levantou, caminhando até onde Julie estava, enquanto inspecionava-a discretamente, "Parece que há um rasgo em uma de suas mangas. Você está bem?" seus olhos azuis olharam para Julie.
Julie estava sentindo a queimação em seu braço, e ela notou um pedaço de sangue.
"Eu acho. Eu caí," Julie sorriu enquanto minimizava o que aconteceu mais cedo.
Olivia ofereceu-lhe um pequeno sorriso, "Você deveria tratar isso para não pegar nenhuma infecção. Você precisa de ajuda? Eu tenho uma caixa de primeiros socorros no meu dormitório," disse Olivia.
Embora Julie quisesse recusar, ela poderia usar alguma ajuda, pois só tinha bandagens pequenas. "Sim. Isso seria muito gentil da sua parte," respondeu Julie.
"Venha comigo," Olivia a convidou para o seu dormitório. Entrando no quarto de Oliva, Julie sentou-se na cadeira e a veterana aplicou antisséptico em sua pele. Seus olhos observavam o espaço do quarto e as coisas que havia lá. O quarto era espaçoso, assim como o dela.
"Você sabe que, de acordo com as regras, você deveria ir para a enfermaria," disse Olivia, o que Julie havia esquecido. "Mas não precisa se preocupar com isso, pois eu trabalho como assistente de meio período na enfermaria."
"Oh, eu não sabia disso," murmurou Julie e disse, "Parece que a administração cuida bem de seus alunos," comentou Julie.
"A saúde dos alunos vem primeiro e depois o resto," respondeu Olivia concordando.
Julie então perguntou, "Você estuda aqui há muito tempo. Não sente falta da sua família?"
"Você se acostuma. Acaba se tornando normal e eu me acostumei aqui," respondeu Olivia, que havia terminado de aplicar o algodão na pele de Julie. "Você deve estar assustada com a quantidade de regras implementadas neste lugar."
"Eu fiquei surpresa," o que era um eufemismo, pensou Julie.
"A universidade foi construída há quase um século. A família ou os administradores continuaram a seguir métodos tradicionais de ensino, é por isso que os novos alunos acham algumas regras bizarras," explicou Olivia, "Este lugar foi iniciado por uma família antiga. Eles começaram um sistema de educação em um desses prédios, abrigando vinte alunos no início. Ao longo dos anos, expandiu-se para ter mais alunos. Sra. Eloise Dante, esposa de Walter Veteris, foi a primeira diretora, o que depois foi passado para o próximo na linha da família."
"Entendo," murmurou Julie.
Isso significava que sua diretora atual vinha de uma família de antiga linhagem, pensou Julie consigo mesma. Como era fascinante pensar que ela estava vivendo em uma mansão que tinha sido transformada em um dormitório.
"Isso deve ficar bom," disse Olivia, colocando um band-aid sobre o ferimento.
"Obrigada por me ajudar," agradeceu Julie.
"Não precisa agradecer. É o que eu normalmente faço," respondeu Olivia e se levantou com Julie. "Nós temos uma fogueira neste sábado. Você vai?"
"Sim," assentiu Julie, "Melanie mencionou ontem. Minha colega de quarto ao lado."
"Eu a conheço. Te vejo lá," respondeu Olivia, e Julie saiu do quarto e viu algumas das meninas lá dentro olhando para ela silenciosamente. Ela sabia que era a garota que tinha acabado no meio da briga, mas o olhar delas não estava durando um pouco tempo demais?
Quando a noite de sábado chegou, Julie podia sentir o entusiasmo dos alunos no ambiente por causa da fogueira.
Julie estava em frente ao espelho, penteando seu cabelo castanho antes de amarrá-lo em um rabo de cavalo. Aplicando cor em seus lábios, ela olhou para seu reflexo. Ela vestia uma blusa pêssego que subia até o pescoço e a combinava com uma saia florida que chegava aos seus joelhos. E junto com isso, ela usava seus tênis confortáveis.
A temperatura parecia ter caído em comparação com os últimos dias, e nem sequer era inverno.
Antes de se mudar para Woodward, Julie passava a maior parte do tempo em sua casa e dentro do seu quarto. Ela era aquela flor de parede que tinha crescido em um lugar escuro e protegido, e agora que estava na luz, ela não conseguia deixar de querer abrir suas asas curiosas.
"Isso deve estar bom, né," ela se perguntou, olhando seu reflexo por tempo demais e o batom vermelho em seus lábios. Pegando um lenço, ela o pressionou contra os lábios para reduzir a intensidade do batom ao ponto em que eles quase voltaram ao normal.
Ouvindo uma batida na porta, Julie abriu a porta e viu Melanie, que usava uma blusa solta e jeans com o cabelo solto.
"Você está pronta?" perguntou Melanie animada para participar da fogueira.
"Mm," respondeu Julie, um sorriso discreto nos lábios, e ela saiu do quarto. Ela deu uma olhada na cama e na janela antes de trancar a porta.
Julie caminhou com Melanie e Conner em direção à fogueira, que todos pareciam empolgados para fazer parte. Como era sua primeira vez passando tempo assim, ela não podia deixar de esperar por isso, enquanto não sabia o que a esperava. Ela sentiu os perfumes e colônias usados pelos estudantes, que flutuavam no ar e que haviam caminhado à frente deles.
Enquanto Conner e Melanie discutiam a partida de futebol na universidade deles, os olhos de Julie percorriam ao redor da floresta por onde caminhavam. As árvores aqui eram mais densas comparadas às árvores perto dos dormitórios e dos outros prédios. Algumas raízes das árvores haviam surgido no chão como se ele próprio não pudesse contê-las.
"Você tinha alguma fogueira no seu lugar antes de se mudar para Woodward, Julie?" perguntou Melanie e Julie, que havia estado ouvindo a conversa deles enquanto olhava para a floresta, balançou a cabeça.
"Eu acho que não tinha nada assim. Não que eu saiba," respondeu Julie, suas mãos se movendo em volta dos braços para se abraçar. Ela estava curtindo a pequena emoção do clima frio que tocava sua pele. "A maioria de nós não fazia nada além de estudar, brincar de handebol enquanto alguns gostavam de intimidar os outros," encrespando os lábios em pensamento.
"Parece que todo lugar tem alguns deles," respondeu Conner. Ele caminhava à direita enquanto Julie estava andando à esquerda, com Melanie no meio.
Com esse pensamento, Julie perguntou: "Todos vão a essa fogueira?"
"Você está preocupada que Mateo Jackson apareça?" perguntou Melanie.
"Depois de ser perseguida e trancada no quarto, estou torcendo para não encontrá-lo novamente," confessou Julie. Seus olhos caíram sobre as duas meninas que passaram por eles conversando e rindo uma com a outra.
Não era só o Mat que a preocupava. Em algum lugar, ela sabia que a pessoa que tinha a sua carta estaria aqui e ela não sabia quem era! Ela havia decidido manter seus olhos bem abertos.
Conner a tranquilizou: "Você não deveria se preocupar com isso. A maioria dos intimidadores não tem tempo para peixinhos como nós durante as fogueiras. Especialmente quando muitos outros do mesmo tipo vêm a ela, eles têm os olhos voltados uns para os outros, a menos que você seja a pessoa favorita deles."
"Espero que não," murmurou Julie em voz baixa.
Quando se aproximaram de onde a maioria das pessoas estava espalhada, Julie e seus dois amigos foram cumprimentados por quatro meninas. Eram as mesmas meninas que ela havia encontrado no banheiro durante a sua primeira semana aqui.
"Julianne! Que bela surpresa vê-la aqui," disse a menina alta, de cabelos longos e pretos. "Eu queria convidá-la para a fogueira, mas depois percebi que você já deve ter sido convidada pelo grupo popular da nossa universidade. Não é mesmo?"
Julie encarou a menina, porque ela havia esquecido o nome dela e agora estava tentando se lembrar.
"Eleanor," a menina a lembrou com um sorriso pretensioso e Julie sorriu.
"Na verdade, fui convidada pela minha amiga Melanie aqui," disse Julie com um sorriso radiante.
"Eu não sabia que você era amiga de pessoas de classe baixa," comentou outra menina do grupo de quatro.
"Não sabia que estávamos vivendo na era vitoriana onde as pessoas são divididas com base em seu status," Julie respondeu com o mesmo tom, e Eleanor sorriu.
"Oh, é sim. Nós tentamos não nos associar com os indignos. Você deveria ser sábia para saber com quem estar," disse Eleanor, olhando Mel e Conner de cima a baixo.
"Já te disseram antes que está tudo bem se você se calar?" perguntou Conner.
"Olha só quem criou espinha. Mas acho que, com todos esses ossos de não comer o suficiente, você tem," Eleanor disse a Conner com um ar de atitude. Julie havia esquecido da possibilidade de encontrar outras pessoas enquanto esquecia que esses fantasmas existiam. Fantasmas porque usavam tanto corretivo ao redor dos olhos como se fossem vagar pela floresta e assombrar as pessoas mais tarde. "Jules-"
"É Julie," corrigiu Julie, não gostando do jeito que a menina falava com seus amigos. "Você não precisa se preocupar com quem eu me associo. Obrigada pela sua preocupação," ela continuou a segurar o sorriso no rosto.
Eleanor olhou para Julie por longos três segundos e mostrou os dentes perfeitos quando sorriu, "Claro, Julie. Por que você não vem e se senta com a gente? Nós fizemos questão de pegar um tronco só para nós sentarmos perto do centro. Será mais divertido e podemos conversar."
"Estou bem. Obrigada," respondeu Julie, encarando a menina.
"Nós poderíamos ser as próximas cinco maravilhas se você se juntar a nós," disse outra menina, que estava ao lado de Eleanor, avaliando as roupas de Julie.
"Parece que você não consegue pensar em um nome original," Melanie não se conteve, e Eleanor ergueu a mão. Pela maneira como estava vestida com seus saltos altos, Julie pôde dizer que Eleanor vinha de uma família rica, e ela era alguém que gostava de conseguir o que queria com as pessoas. Como ela sequer conseguiu caminhar até aqui com aqueles sapatos?
Eleanor disse, "Não há necessidade de ressentimento esta noite. Afinal, é noite de fogueira e eu esperava nos darmos bem com você. Mas parece que você escolheu ficar do outro lado do rio. Vamos meninas."