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CAPÍTULO 8

Durante a tarde Bia mal conseguia se conter de tanta felicidade. Mas teria que disfarçar. Afinal, o doutor Celso certamente ficaria confuso com tão repentina mudança de humor.

Feliz como uma criança, aliás ela nem ao menos sabia se poderia pensar por esses termos, pois na infância não conhecera a felicidade, Bia gostaria de gritar para todos que havia realizado o seu sonho.

Mas sabia que como em todas as fases da sua vida e agora mais que nunca, seria recriminada.

À noite ao chegar em casa, a dura volta para a vida real.

Mais uma vez, por medo da reação da filha na última vez que tentara conversar, Bia tinha saído para o trabalho sem se certificar porque Maira não tinha descido.

Allan também só chegava em casa à noite e nem tinha tempo de ver quando ela saia para a faculdade.

Não via sua filha desde o dia em que ela ordenara que saísse do quarto.

Allan pareceu preocupado também e foi com certo alívio que Bia observou que ele tomou um calmante e dormiu rapidamente.

Apoiada em um dos cotovelos, Bia ficou a observa-lo docemente.

Desde que tinha onze anos, Allan fora para ela muito mais parecido com um irmão mais velho que com um marido.

Daí a sua surpresa quando foi pedida em casamento. Pelas terríveis experiências que tivera com o sexo oposto, nunca imaginara ter um contato físico com Allan.

Por vezes, ao fazer sexo com ele, pensara que havia sido abusada pelo pai e praticava sexo com um irmão.

Casara por gratidão, pelo amparo que um poderia prestar ao outro, mas jamais deixara que Allan percebesse isso.

Hoje, vendo a rebeldia na qual Maira se encontrava, via que o maior pecado dos dois tinha sido trabalhar demais para dar às filhas tudo o que elas queriam.

Agora, pelo menos a mais velha tomara as rédeas da vida, apesar de ainda depender exclusivamente deles.

Pela manhã, voltaria a tentar falar com a filha.

Pensando assim, depois de muitas noites, conseguiu dormir.

E sonhou com Maira. Sua filha estava próxima a ela, porém com os braços estendidos Bia não conseguia alcança-la.

Então caminhava a esmo e ao chegar mais perto de Maira, quando pensou em alcançar a filha, viu que estava frente a um espelho e sua imagem era a que se refletia nele.

Por trás da imagem do espelho, a sombra de sua filha se perdia em meio a uma nuvem de fumaça negra.

Allan acordou com os gritos de Bia, tão assustador fora o seu pesadelo.

Abraçou uma mulher assustada, trêmula, bem diferente da Bia que ela conhecia há tanto tempo.

Desvencilhando-se dos braços de Allan, Bia correu para o quarto das filhas.

A cama de Maira estava arrumada. Chorando sem se conter, sacudiu Cris, sua segunda filha, que acordou parecendo não entender o que estava acontecendo.

Então, quando Cris soube do que se tratava, contou que há dois dias sua irmã não vinha para casa. Porém, consciente da aparente preocupação da mãe nos últimos dias, combinara com a irmã caçula em esconder o fato.

Allan e Bia voltaram para o quarto e ela chorou sem consolo abrigada em seu peito.

No fundo, se sentia culpada por toda a situação. Enquanto passara os últimos dias e noites ocupada com sonhos adolescentes, parecia ter esquecido das responsabilidades para com a família.

Sua vida estava em cacos e ela dormira feliz, por um relacionamento que certamente acabaria de arruinar tudo.

Então, pensaram na solução mais apropriada:

Ligar para os colegas de Maira. Bia possuía os números de alguns e através desses, mobilizaria os outros.

Pelo sétimo telefonema, conseguiu localizar a filha. Maira estava no apartamento de uma colega.

Pedira para passar uns dias lá porque estava com problemas familiares.

Allan vestiu-se imediatamente e foi a procura de Maira. Sabia que seria mais fácil ele estando sozinho. Aconselhou Bia a falar com ela somente na manhã seguinte.

Estava amanhecendo quando regressaram e Allan deixou a filha no quarto.

Bia se sentia um trapo. Sabia que descontrolada como estava não conseguiria falar com Maira.

– No trabalho, conversarei com Nika, perguntarei como seria a reação dela em uma conversa desse tipo com a mãe. – Pensou, dando uma desculpa a si mesma para justificar a falta que já estava sentindo de Nika.