- Eu já posso rastrear ele, fica tranquila. – Mike diz para Alex, mostrando sua mão, onde, na palma, abre-se uma projeção holográfica. – Consegui me ligar com aquele Ghoul espiritualmente.
- Mas então vamos logo atrás deles se sabemos onde estão. – Alex dizia ainda tentando correr.
- Se conseguiram escapar de você, mesmo com essa super velocidade, imagine o que um grupo deles pode fazer. – Mary dizia enquanto abaixava as mãos dos dois.
- Vamos relatar para o Bruno, ele certamente escutou os tiros. – Mike diz, em seguida ele solta Alex e os dois vão à frente, na direção da casa do líder.
Mary também começava a andar, porém, ao ver Ethan encarando por onde os Ghouls fugiram, ela para.
- O que foi, Ethan? – Ela questiona enquanto os ventos balançavam seus cabelos, e aquele olhar, selvagem à poucos instantes, agora era calmo, e alguns diriam até gentil.
- ... A voz daquela Ghoul, eu acho que... – Ethan então chacoalha a cabeça antes de dar meia volta e seguir junto de Mary, que o olha, confusa. – N-não é nada.
Os quatro se encontram na casa de Bruno, junto de David e Lucy e relatam o que ocorreu.
- Então eles realmente invadiram... É isso, vamos ter que bolar um plano de contra-ataque. – Bruno dizia. Sua casa não era tão grande, até bem simples na verdade, como todas na cidade. Eles estavam em volta de uma mesa circular de metal, bem no centro da casa.
- Certo, eu já tenho a localização deles. – Mike dizia enquanto estendia sua mão na direção da mesa. Uma energia azulada começa a sair da sua mão e, ao chegar no centro do objeto, vai formando uma espécie de mapa holográfico, e nele podia-se ver um ponto mais escuro que o resto da projeção.
- Não estão muito longe, e dá para ver que não estão com poucos ao lado deles. – David diz. – Mas e se estiverem espalhados e esse for apenas um dos locais deles?
- Por isso mesmo mandaremos essa equipe de reconhecimento pequena, enquanto o restante ficará responsável pela segurança da cidade. – Bruno diz enquanto respirava fundo e olhava para o grupo. – Alex, avise os outros para ficarem alertas, Mike, prepare os veículos e os armamentos.
- Você também vai lutar? – Mary questiona enquanto a velocista sai correndo e Mike sai da casa.
- Sim, essa é minha cidade e meu povo. – Bruno diz, mostrando seus olhos amarelados brilhando. Ele olha para Ethan, que estava assustado ainda, meio encolhido. – Ele vai também?
- Vai, nesse ponto eu não irei o abandonar. – Mary diz, retirando o capuz de Ethan, deixando o garoto envergonhado.
- Hmm... Eu não tenho tanta certeza sobre levar um garotinho, mas também não posso te impedir, Mary, fica à sua escolha. David, Lucy, Mary e Ethan, vocês e mais dois Cicatrizes vão fazer o reconhecimento do território dos Ghouls. Se for necessário o uso de força, então que assim seja. Pela manhã vocês partirão, descansem bem.
- Entendido. – Os três respondem. David ainda olha meio torto para Mary, porém dessa vez apenas aceita o fato que ela também vai e que era totalmente capacitada.
Após todos saírem da casa de Bruno, o líder suspira e reflete consigo mesmo.
- Por que, querida? Por que é praticamente impossível viver em paz num mundo de singulares? – Ele fala sozinho enquanto olhava para uma aliança em seu dedo. Bruno suspira novamente e beija o anel, em seguida ele é surpreendido por alguém pequeno o abraçando nas pernas. Era uma menina usando roupas casuais e com uma mochila nas costas, os cabelos escuros e lisos na altura do rosto e um olhar um pouco preocupada. Os olhos amarelados como os do líder eram inconfundíveis.
- Papai, o que aconteceu? – A menina diz, olhando para seu pai, talvez questionando o que houve na cidade para ela sair da escola mais cedo. Bruno se ajoelha e acaricia os cabelos da filha, sorrindo.
- Não foi nada de mais, Karen, como foi na escola hoje? – Bruno responde gentilmente.
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Lá fora, David questionava junto de Lucy enquanto andavam em direção às suas casas.
- Já não bastava o Heróis tentando nos localizar para dominar a região, agora temos um grupo singular de predadores de olho nos Cicatrizes. – O singular gélido arrumava o cabelo para desestressar.
- Será que os Ghouls têm alguma relação com os Heróis? – Lucy pensava.
- Ei, Mary, você descobriu algo importante sobre eles? – David pergunta para a albina que estava andando ao lado deles.
- Não – Ela nem muda de expressão ao falar, o que deixa o rapaz indignado.
- Não tem nem vergonha de admitir. O que fez nesses dois anos procurando por eles afinal?
- Eu encontrei ele. – Mary se refere à Ethan, o que faz David parar de andar e novamente questionar.
- Pode falar a verdade, só está com ele porque o poder do Ethan é útil, né? A assassina de Heróis de repente está cuidando de um garoto, que rapidez para mudar de personalidade, né? – David tenta tirar sarro da situação, enquanto Ethan se esconde atrás de sua mestra.
- É um motivo a mais. – Mary para e enfrenta o rapaz.
- Fala sério... Quem é você, Mary? – David continua.
- David. – Lucy tenta fazê-lo parar, mas não consegue.
- O que você já fez? Não é possível que essa seja a Assassina de Heróis que tanto falam. – O singular gélido nem bravo estava mais, e sim indignado.
A albina leva um tempo até responder, pois ela para, pensa um pouco, suspira e olha em outra direção enquanto aproveitava os ventos da noite em seus cabelos.
- Conhecem o "Jardim de sangue"? – Mary questiona os dois.
- O campo florido que foi local de um massacre dos "Garras de aço"? – Lucy devolve a pergunta.
- Não seria surpresa para mim se tivesse sido você quem os retalhou. – David diz para Mary, que levanta a cabeça e responde.
- É... Eu era uma Garra de aço e eu os massacrei. – Ela diz e, na hora, o casal fica extremamente chocado.
- C-como assim? – O singular gélido pergunta, gaguejando. – A-aquele grupo de assassinos profissionais? Dito como alguns dos singulares mais letais dos Heróis?
- Eu tinha a intenção de os usar para chegar nos Heróis, pois somente os líderes desses grupos relacionados a eles sabem a localização da cidade deles. Nada ficaria em meu caminho, custasse o que fosse necessário. Mas é claro que, por eu ser inexperiente e nova, me descobriram em menos de um ano que eu entrei pra equipe.
- E... D-daí você os massacrou? – Lucy pergunta. O casal só conseguia ficar de boca aberta, enquanto Ethan estava só escutando, confuso.
- Não foi por causa do Ethan que eu mudei, foi antes mesmo de eu conhecer e trabalhar com os Cicatrizes, na noite do massacre. – Mary começa a relembrar novamente do campo florido, uma chuva intensa e corpos ensanguentados pelo local, pintando o campo de vermelho, as expressões nos rostos dos membros dos Garras eram de medo e choque. Perfurados, retalhados, desfigurados de quase todas as maneiras que conseguia, Mary tinha causado um banho de sangue. – Foi ali que eu percebi que, além de não poder voltar atrás da minha escolha, ou todas aquelas mortes teriam sido em vão, eu também não poderia continuar do jeito que eu estava.
- Você... – David nem sabia como responder.
- Seja eu uma Assassina de Heróis ou não, o que importa é que eu vou derrubar os Heróis, mas não a qualquer custo. – Mary diz com um olhar determinado e vai se virando para ir em direção à casa, com a mão no ombro de Ethan.
Lucy e David ficam ali, parados, sem saber como responder, olham-se e tentam formular alguma frase, mas sem sucesso.
- Mary... – Ethan começa falando baixo.
- Hm? – A albina o olha.
- É... Outra história que você escondeu. Quando eu... Vou poder saber mais sobre você? – Ele pergunta meio relutante de levar um sermão.
- Quando for mais velho. – Ela só continua levando-o para dentro de casa. Mary não estava brava, parecia mais que queria preservar Ethan.
À noite, enquanto o menino tentava dormir na única cama do local, sua mestra dormia da mesma maneira que antes, encostada ao lado do móvel. Ethan não parecia com muito sono, estava encarando o teto e pensando sobre mais do passado de Mary, que, pelo que ela demonstrou, tem uma história muito grande antes dela o conhecer. O garoto vira de lado, observando sua mestra, que dormia abraçada à sua katana, como se aquilo fosse algo tão importante quanto a vida dela.
Reparando melhor, ele percebia que o braço que sempre ficava coberto pela ombreira e a braçadeira estava visível agora. Por ter uma luz, o garoto consegue notar que o membro dela era cheio de cicatrizes e parecia um pouco queimado em relação ao outro braço, algo que Mary nunca deu satisfação para Ethan, pois sempre desviava o assunto.
- Quer dizer algo, Ethan? – Mary pergunta, num tom calmo e um pouco assustador.
- N-não, desculpa. – E ele se vira para o outro lado, tentando dormir.
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Na casa de Lucy e David, o rapaz estava sentado na cama, já pronto para dormir, só esperando seu cônjuge. A ruiva aparece do banheiro de cabelo solto dessa vez, sendo possível ver que chegava até os ombros, com uma roupa mais solta e leve para dormir.
- Lucy... Será mesmo que a Mary é outra pessoa há muito tempo? Digo... Parece que eu só não queria ver a verdade. – O singular gélido dizia enquanto olhava para suas mãos. A ruiva suspira, aproxima-se dele e segura suas mãos após sentar-se ao seu lado.
- Eu gosto de acreditar que as pessoas podem mudar... Quer dizer, hehe... Se até eu consegui mudar de vida, alguém como a Mary consegue fazer isso sozinha se ela quiser. – A moça fica um pouco envergonhada ao se relembrar de seu passado e de como conheceu David, que, ao notar isso, sorri também e arruma o cabelo de sua amada, em seguida colocando gentilmente a mão em seu rosto.
- Não compare ela com você, querida, ela não é tão fofa quanto você. – O rapaz diz. Lucy tenta esconder o rosto, que ficava mais avermelhado. – Olha aí... Tem como ser mais perfeita do que controlar sangue, mas não conseguir controlar a vergonha?
- Cala boca... – Lucy diz num tom de risada, colocando a mão agora no rosto do namorado. Os dois riem mais pouco, até que encostam as testas um no outro e dizem. – Juntos nas missões.
- Juntos na vida. – David complementa e os dois sorriem um para o outro antes de dormirem.
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Pela manhã, os quatro selecionados para a missão se juntaram na casa de Bruno, David e Lucy ainda estavam um pouco relutantes quanto à Mary, mas era melhor aceitar a ajuda dela. O líder apareceu junto de outro rapaz com roupas e trejeitos que lembravam um engenheiro armeiro, que trouxe alguns equipamentos na mesa de centro: cartuchos de pistola para Ethan, uma faca militar nova para Lucy, um conjunto de adagas para uma outra singular que estava ali junto deles e um rifle para o outro rapaz.
Os dois desconhecidos tinham trejeitos mais militares. A moça era morena, de estatura baixa e com um físico atlético, não era possível ver seu cabelo pois estava escondido por um gorro preto, enquanto o rapaz era branco e tinha uma estatura alta, porém era magro, tinha um cabelo escuro e liso com uma franja enorme cobrindo um dos olhos.
- Mary, vai ser um prazer defender a cidade com você. – A moça morena diz com um sorriso sutil para a albina, que olha e acena positivamente, sem responder de volta.
- David, Lucy, Mary, Ethan, Claire, Daniel. – Bruno fala o nome de todos ali. – Deixarei a estratégia com vocês. Se virem que são capazes de enfrentar esta ameaça, estão livres para usar seus poderes. Lembrem-se, é pela segurança do nosso povo, às vezes, para sobreviver, precisamos tomar algumas vidas.
Dito isso, o mecânico coloca na mesa alguns comunicadores para todos colocarem em seus ouvidos.
- Não sei como uma criança vai se sair numa missão que nem sabemos a dimensão do perigo, mas a decisão é de vocês. – Diz Pietro, o rapaz que proporcionou os armamentos.
- Cuidem uns dos outros. Se virem que não vão dar conta, recuem, não será vergonha fugir. Boa sorte. – Bruno termina a discussão e os seis acenam positivamente, pegando seus equipamentos, porém, antes de Mary sair, o líder a para perto da saída, entregando algo para ela. – Mary, você lembra disso?
- Você guardou? Eu não sei se quero usar... – Ela pensa bastante se deveria ficar com aquele item. Ethan estava ali perto, olhando confuso para a cena.
- Só uma garantia a mais, não precisa deixar os sentimentos entrarem na frente. Você sabe utilizar, não é? – Bruno entrega na mão de Mary uma pistola Thompson Contender, uma arma de tiro único, mas com uma potência maior em cada tiro. A antiga arma de Drake. Por fim, Bruno até oferece algumas balas para a albina, que, meio relutante, aceita, guardando-a num coldre embaixo da saia e as balas numa bolsinha logo ao lado da arma.
- Agradeço... – Mary diz com um pouco de peso na consciência, mas, enfim, os seis partem para os veículos já posicionados na frente da casa de Bruno.
David e Lucy sobem numa moto off-road vermelha, enquanto Mary e Ethan sobem em uma preta. Claire e Daniel entram num jipe esverdeado. O grupo se prepara e então partem, o veículo de 4 rodas indo à frente, liderando, enquanto as motos iam atrás. Nos automóveis haviam hologramas de um mapa da região, que era nada mais que a ligação espiritual de Mike.
- Fique a postos, Ethan. A partir de agora, só haverá a prática para você entender melhor. – Mary diz para ele.
- Entendido... – O menino diz com um pouco de medo, mas disposto a prosseguir.