— Mike!!!
Em um momento, Jin Yang corria com David sobre seus ombros. No segundo seguinte, Azhar, o parasita em formato de corvo grudou no rosto de Mike, o impulso o derrubou, mas Jin o segurou.
Consequentemente, as crianças foram para o chão, mas Angel foi passada para o colo de Jin. Caso tivessem que fugir novamente, era a única que ele iria salvar.
David analisou Mike Mai's que depressa.
— Como isso aconteceu?
— Estou bem, filho.
David encarou Jin com um olhar afiado, as mãos se movendo freneticamente em volta do corte profundo, tentando utilizar a cura dos O'Niells em Mike, mas sem machuca-lo, o que era impossível.
— Deveria ter protegido ele! Não sabe fazer seu trabalho direito?
— A culpa não foi minha! — Rebateu Jin, um pouco ofendido. — Foi disso!
Ele apontou para um objeto coberto com sua escuridão, que carregava por aí como se não fosse nada. As sombras saíram da pedra rochosa, mostrando uma espada presa a ela, as crianças ficaram boquiabertas.
— A Espada de Rhion?
— Meu Deus! É a Excalibur!! — Gritou Simon, empolgado.
Os três se reuniram em volta, com gritinhos animados enquanto cada um tentava tirar a espada da pedra. David se concentrou no ferimento de Mike, quando ele acenou para o príncipe, David finalmente colocou um dedo dentro da ferida aberta.
Os O'Niells não tinham o dom de curar outros além de si, mas encontraram um método que podia ser utilizado, se o paciente conseguisse suportar a dor, é claro.
Com um dedo dentro do ferimento aberto, os O'Niells podiam regenerar alguém de dentro para fora, fazendo até os ossos nascerem novamente, se possível.
Mike deu um tapinha amigável do ombro de David quando o tratamento acabou, o ferimento dando lugar a uma cicatriz profunda em seu abdômen.
— Posso ficar, por favor? — Angel implorou, entre os três, a única que teve força o suficiente para tirar a espada da rocha.
— Toda sua, Stella. — Jin brincou, pegando ela no colo novamente. Como esperado, Angel ficou emburrada.
— Já disse que eu sou a Bloom.
— Quer a espada?
— Tudo bem, eu sou a Stella então.
— Não é justo, Angel só venceu porque é a mais forte! — Resmungou Simon.
— Exatamente pivete, a vida não é justa.
Jin deu um peteleco na cabeça de Simon, o que só o fez ficou ainda mais carrancudo. David olhou para os lados, não encontrando o Rei, nem Aled e muito menos, os guardas.
— E então, vai me contar o que aconteceu? — Disse Mike gentilmente.
— Aled derrubou uma bomba porque se assustou com as crianças gritando, não foi nada demais.
— Nada demais? — Mike cruzou os braços, irritado. — Vocês quase morreram, como não foi nada demais?
David se encolheu de leve, sabia que por algum motivo, Mike não conseguia gostar de Aled, ainda assim, se esforçava para conviver com ele.
Mike era o tipo de pessoa que, nas raras ocasiões que realmente ficava bravo, você sentia até mesmo o ar em sua volta mudar.
— Foi só um acidente…
— Acidente? — Mike queria falar mais, porém, como sempre, suspirou e cedeu. — E porque as crianças ficaram tão assustadas? Dava pra ouvir os gritos a dois corredores de distância.
David hesitou, sabendo que o deixaria preocupado. Para Mike, que estava exausto, aquilo foi a gota d'água para puxar o príncipe para um canto, aproveitando a distração das crianças.
O príncipe não reclamou em momento nenhum, andando como se estivesse pisando em ovos. Longe o suficiente de ouvidos curiosos, David se sentiu tímido, pequeno.
— Mike, eu…
— Fale comigo… — Mike pediu, a voz gentil e firme.
David arqueou uma sobrancelha.
— Mas eu tô falando com você agora.
— Não desse jeito. Por favor, realmente fale comigo.
Mike passou a mão pelo cabelo, um gesto frustado que se tornou a mania de David, sem ele sequer perceber.
— Eu não sei o que você quer fazer com a Armadura de Aled para estar tão desesperada por ela. Não sei o porque não quer voltar para casa, e também não sei porque tem tanto medo de Caron se todo feérico que conheço o venera. Mas se não me disser o porque, nunca vou descobrir.
Mike suspirou, deixando David absorver suas palavras antes de continuar.
— Sei que prometi esperar até estar pronto para me contar tudo. Mas quero que meu filho saiba que eu estou aqui… e sempre vou estar.
David engoliu em seco, tentado não chorar como uma criança.
— Mas não consigo te alcançar se continuar construindo barreiras para afastar todo mundo a sua volta. — Mike segurou os ombros de David, tentando se aproximar ao menos fisicamente. — E definitivamente, não vou conseguir te ajudar se você estiver a dois continentes e um mundo de distância, enquanto continua me colocando para fora da sua vida.
Milagres acontecem com aqueles que aprendem a esperar. Mike lhe dissera uma vez, e David se via pensando nisso desde então. Talvez… só talvez, fosse exatamente o que o príncipe buscava. Um milagre que o deixasse junto com sua família, ao mesmo tempo que possibilitasse a segurança deles. Angel, Ethan, Simon, Mike… sua família.
— Ninguém vence uma guerra sozinho, David… por favor, me deixe lutar ao seu lado.
— Eu tenho medo… — Confessou o príncipe, em um sussurro. — Tenho medo de deixar você… todos vocês em perigo. Tenho medo de meu egoísmo matar todos que são importantes pra mim.
Mike riu. Aquele sorriso gentil que deixava suas covinhas a mostra.
— Não é engraçado.
— Sinto muito. É só… não é egoísmo querer estar perto de sua família. — Mike jogou uma capa sobre os ombros de David, a ajustando com um broche dourado. — Eu deu risada porque… eu também tenho medo. De perder você, as crianças… e por isso, eu quero proteger minha família. Você vai me deixar proteger você também, David?
— Como vou deixar meu pai se machucar para poder me proteger?
Mike sentiu seu coração bater mais forte, se segurando para não chorar de alegria. Afinal, era a primeira vez que David o chamava de pai.
— Talvez… só devêssemos ficar juntos… — Comentou Mike, a voz rouca de emoção. — Desse jeito, um pode proteger o outro e dois protegem as crianças. Desse jeito, vamos aprender a não deixar o medo nos controlar. Todo mundo tem medo, David…
— Sobre proteger as crianças, as vezes… na maioria delas, vamos precisar salvar elas de si mesmas…
Mike gargalhou.
— O que me diz, então? Negócio fechado?
David não pode responder já que Simon correu na direção de ambos, completamente desesperado. Jin carregando Angel estava logo atrás, e Ethan era seguido pelo Rei.
— Graças a Deus, achamos vocês! Ele está aqui! — Gritou Simon, praticamente escalando o colo de Mike. — E tá totalmente fora de controle.
★☆★☆
— Caron está a três corredores de distância. — A voz de Jin soou pela caverna. — Talvez acompanhado, mas definitivamente fraco. Quer acabar com isso?
— Acho que eu já avisei ele antes. — Michael Allans murmurou, fazendo um espinho percorrer a espinha de Caron. — Salmos 94, versículo 1. Minha vingança pertence a Deus. Tinham me dito que ele sabia ler mentes.
— E ele sabe… — A voz de Jin ficou tensa de uma hora para outra. — Acho melhor iniciarmos o plano. Ele não está sozinho.
O Feiticeiro Negro se voltou para Caron, os dentes em um sorriso diabólico.
— Vamos fazer um acordo? — Mais um? Pensou Caron. — Posso te libertar agora mesmo, e se implorar o suficiente, talvez receberá o perdão de seu amado sobrinho.
— Mas? — Sempre tinha um mas.
— Voltará a ser aquele homem sem talento ou magia que um dia já foi. E, é claro, a Malícia cobrará seu devido preço por seu uso. — Malícia, a fonte de toda Magia Negra. — Ou então… arranque a cabeça de Michael Allans, e me traga seu pingente.
Caron piscou, as lembranças se retirando de sua cabeça lentamente. Ele não estava mais em um canto qualquer da Caverna Sagrada, e sim cara a cara com Sir Aled.