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Capítulo 7 - Novos visitantes

Localização; Arcádia - Palácio Escarlate.

Mesmo após se passar duas semanas desde a invasão dos demônios na floresta. A barreira ainda estava ativa, e nenhuma criatura foi vista pelas redondezas até então, acalmando assim os moradores amedrontados.

Drazhan se mantinha ocupado demais no seu escritório real, sendo acompanhado por Hadrya, a sua nova conselheira, e Maeve não teve tempo de conversar ou vê-los.

Não que fizesse bastante com a sua mãe, mas ela ainda a repreendia quando a princesa faltava às aulas de bordado, o que não aconteceu nos últimos dias.

A princesa então usou o tempo das aulas chatas e cansativas, que não compreendia a serventia em sua vida, para se especializar na sua pontaria, considerada mediana pelas serpentes, porém, ainda melhor que a de Hiro.

— É o nono que erra. — Maeve falou ao vê-lo atirar a flecha e errar miseravelmente o alvo, acertando o chão.

Eles treinavam desde a primeira luz do sol, e haviam passado a manhã toda corrigindo os erros um do outro, só parando quando ela cansou os seus dedos com o arco áspero, decidindo descansar enquanto ficava sentada observando Hiro errar miseravelmente.

— Isso é porque estou longe e a minha vista fica arruinada, princesa.

Maeve não conteve a risada alta com a mentira deslavada que ele inventou.

— Então você deve desistir de ser arqueiro, porque se chegar mais perto do alvo, é melhor você usar uma espada ou um machado. — Ela sugeriu com um sorriso bobo.

Hiro não a levou a sério, acostumado com sua alma espirituosa e animada, e continuou dedicado na sua pontaria.

Ele realmente não levava jeito, suas mãos tremiam junto com suas pernas, e o suor escorria de sua têmpora, como se ele fosse uma água que fervia no fogo sobre uma bacia.

Mira não era o seu forte, nunca foi, mas ele ainda se mostrava obstinado, desejando que fosse como era em batalhas corpo a corpo. Onde se sobressaía, e sabia o que fazer, e não quando até segurar o arco era estranho, por causa do seu mal costume com a arma.

Enquanto Maeve acreditava que com o tempo Hiro certamente se aperfeiçoaria, ele almejava que sim, por isso ainda tentava.

A princesa, em meio ao silêncio habitual de Hiro, começou a olhar para um ponto específico que a fez se perder em seus pensamentos, a luta ainda era vivida em sua memória, e os últimos acontecimentos retornavam com força centenas de vezes na sua mente.

Maeve ainda se lembrava dos demônios, e do quão sangrenta as mortes que eles causaram foram, não conseguindo esquecer por completo e tendo pesadelos durante quase todas as noites.

O rei, em condolências às serpentes mortas, tinha organizado uma cerimônia fúnebre dois dias depois da batalha. Assim os corpos foram cremados, e os familiares desolados, despediram-se brevemente dos soldados atingidos.

Mais tarde, desse mesmo dia, Drazhan também havia orientando Sor Ichirro a substituir os mesmos com pressa, pois Arcádia necessitava de outros guerreiros no lugar.

Fazendo o pátio ter dezenas de novos rostos que foram vistos pela princesa desde então.

Por isso, Maeve decidiu perguntar ao se lembrar dele.

— Sor Ichirro te ofendeu nesses últimos dias?

Conhecendo quem era o comandante, sabia o quanto ele soava arrogante em relação a Hiro. Pois não conseguia disfarçar os seus descontentamentos com alguns assuntos ou pessoas, e dada as situações antigas, Maeve pensou que talvez Hiro poderia ainda ser atormentado por ele.

— Não, não o vi muito, e quando fiz ele pareceu feliz demais com a saída de Sor Dragomir para se preocupar comigo.

Maeve suspirou ao ser lembrada sobre, mas ficou contente em saber que Hiro não foi humilhado enquanto estava ausente.

— Não concordo com o que o meu pai fez, julgo que ele foi precipitado. — Maeve disse se referindo ao ancião.

O homem havia deixado o Palácio a uns dias atrás, e ela não soube o que ocorreu com ele, já que não teve tempo de se despedir do velho barbudo. Notícias de seu paradeiro também eram raras, e Maeve não se permitia perguntar ao seu pai.

Ela não teve mais tempo com o rei para fazer.

— A princesa está no conselho. — Hiro a lembrou, como se ela estivesse esquecido. — Disse o que pensa ao rei?

— Sim, mas foi breve a conversa. Ele não me escutou.

Maeve fez uma careta ao se lembrar do seu pai afirmado a ela que confiança é algo que nem todos merecem, e que a princesa por sua ingenuidade tinha de sobra, principalmente em relação ao ancião.

E como não teria? Desde quando o conheceu experimentou sua bondade e lealdade, Sor Dragomir sendo praticamente de um caráter invejável e bastante paciente.

Maeve nunca esqueceria que ele a apoiou na vinda de Hiro para o Palácio, se não fosse o ancião, o humano ainda estaria sendo chicoteando sabe se lá onde, por isso gostava dele e insistia em desacreditar nas acusações feitas.

Hiro pareceu pensar um pouco, talvez o mesmo que a princesa, então desviou o olhar para o chão, e pegou outra flecha em meio a tantas, essa com a ponta afiada, como se fizesse alguma diferença na precisão da mira.

Ele a direcionou no alvo, puxou o arco com bastante força, e deixou a flecha pegar pressão em seus dedos, quando soltou o tiro súbito, conseguiu errar novamente.

Os seus ombros caíram de cansaço.

Ele meditou, — Pensei que o juramento do cavaleiro só acabava com a morte do mesmo.

— É assim! — Maeve concordou a contra-gosto. — Mas Sor Dragomir foi uma exceção.

Hiro sentou-se ao lado da princesa, e ela ofereceu-lhe o odre que estava às escondidas em suas costas, notando os olhos do humano procurando o mesmo.

Ele gentilmente agradeceu e tomou alguns goles de água.

— Pergunto-me como os demônios mataram todas as serpentes facilmente, — Maeve perguntava. — Nós não somos o povo mais forte dos quatro reinos?

Hiro pensou numa resposta, ele sempre pensava antes de agir ou falar.

— Julgo que os cavaleiros não tinham defesa suficiente, só armas! Eles também estavam bêbados e dispersos pela floresta. Acreditaram que os magos pudessem protegê-los completamente com a barreira, mas eles só a fizeram para eles mesmos, o resto das serpentes tiveram que se virar. Isso resultou nas mortes dos soldados.

— Não penso assim. — Maeve discordou o lembrando. — Alguns magos ajudaram.

— Poucos, outros apenas olharam e queriam fugir.

Maeve refletiu ainda em discordância, negando com a cabeça mas não insistiu em debater. Hiro não seria convencido facilmente quando já houvesse formado uma opinião.

Ao terminar o seu breve descanso, ele se levantou e se afastou, pegando o seu arco para continuar a treinar.

Maeve não o atrapalhou e nem comentou, apenas deixou os seus pensamentos se perderem.

***

Na tarde daquele mesmo dia, Maeve foi até Drazhan na sua sala, e na entrada da porta, avistou o seu pai cabisbaixo, concentrado em escrever num livro enorme.

Ele não pareceu notar a sua presença, e se mantinha alheio aos rabiscos que fazia, sereno como uma brisa.

Maeve então decidiu não atrapalhá-lo, e quando se virou para ir ao seu quarto, convicta que ela não a viu de relance.

Drazhan chamou, sua voz retumbante. — Maeve.

A princesa lançou um olhar assustado, percebendo que as feições de seu pai suavizaram ao encará-la, e seu leve sorriso a convidava para entrar.

Tranquilizada, Maeve girou os tornozelos e foi até ele com as mãos entrelaçadas em suas costas e um lamento em suas palavras.

— Papai, desculpa por desviar a sua atenção, não queria interrompê-lo.

Serpentes tinham o instinto tão aguçado que mera presenças eram sentidas de longe. Com Drazhan não era diferente, e por conhecer muito bem sua filha, já sabia que era ela. Maeve adora perambular pelo Palácio, à procura de algum passatempo.

— Você nunca faz querida. Sente-se.

Ele convidou, e Maeve imediatamente fez, morrendo de saudades de estar no mesmo ambiente que o seu pai.

Enquanto se sentava reparou em como a mesa do rei estava bagunçada e desorganizada. Deveria ter passado uma ventania forte ali.

— Como está? — O seu pai perguntou enquanto juntava alguns papeis e os alinhava, guardando logo depois na sua gaveta ao notar o olhar demorado que Maeve deu a sua desordem.

A princesa se cheirou por costume, levantando seu braço, e sentindo o odor que o seu suvaco exalava.

Ela torceu o nariz, ao mesmo tempo que sua barriga roncava. — Ugh! Estou suada, fedida e faminta.

Drazhan abriu ainda mais seu sorriso, e parou para olhá-la — Você pode pedir às criadas qualquer coisa que quiser.

— Eu sei papai, mas queria vê-lo antes. — Maeve disse-lhe gentilmente. — Como o senhor está?

— Estou bem, só um pouco ocupado.

Maeve assentiu, curiosa para saber o que ele tanto escrevia no livro, então especulou. — O que é isso que o senhor tanto rabisca?

Drazhan continuou a assinar palavras em uma folha do grande livro a sua frente, e usava uma pena para isso, como se estivesse pintando um desenho.

— Minhas últimas batalhas.

A resposta não era clara o suficiente para Maeve não franzir a testa, por isso piscava.

O seu pai, percebendo sua confusão, esclareceu logo em seguida.

— As serpentes têm uma tradição querida, seguida há séculos. Toda vez que lutamos numa batalha relatamos em um livro escrito por nós mesmos. Neles contamos tudo que ocorreu com os mínimos detalhes. Começou com o seu avô Drazhan I.

A boca de Maeve formava um grande o quando compreendeu seu pai, e imaginou que esse era o porquê do mesmo estar ausente nas últimas semanas.

Das outras vezes que veio vê-lo, ele fazia o mesmo que hoje, apenas escrevia determinado, por horas, então Maeve o interrompeu para contar.

— Li o livro antes do ataque… o meu avô quem escreveu então?

Ela se recordou das palavras sangrentas que a pouco tempo leu, nunca imaginando que fora seu avô que as tinha escrito para se lembrar das guerras, também como poderia quando não havia só batalhas no mesmo?

Tanto a história dele como as lutas eram narradas nas folhas sujas e velhas.

— Sim, filha. Todos os Escarlates fazem… — Drazhan revelou, sua voz mais baixa e doída, e a princesa ficou sem palavras ao perceber que só ela não tinha o seu. — Escrevemos para nos lembrar do que passamos é como uma memória das nossas vitórias ou derrotas.

— Porque não escrevo o meu?

Maeve até então não sabia sobre a tradição. O seu pai não havia contado. Ela também nunca havia percebido que ele fazia, então se chateou um pouco por só descobrir mais tarde.

— Porque você ainda não teve as suas próprias batalhas.

— Mas, já tive a minha primeira luta. — Maeve retrucou.

— Verdade, talvez você devesse quando tiver tempo, mas se começar cedo demais pode ter que escrever três deste ao longo da sua vida. — Drazhan apontou para o livro que estava estirado na mesa.

— Eu não me importo, farei mesmo assim.

O rei não comentou, apenas olhou sorridente para a sua determinação em fazer parte dos legados Escarlates.

— Papai eu não li o livro todo… mas como o meu avô morreu?

O sorriso do rei sumiu, e tornou-se uma expressão séria rapidamente, com pingos de tristeza. Ao se ajeitar na sua cadeira, cruzou os seus dedos uns nos outros, doendo muito falar daquele assunto.

Ele já não fazia, e quando era perguntado, apenas respondia ligeiramente, evitando rodeios e o desnecessário.

— O meu pai morreu num incêndio na Vila das Lamentações querida. Desde a sua morte a Vila ficou do jeito que está.

Desolada, acabada, infestada de demônios. A princesa pensou, mas não disse.

— O incêndio que matou milhares de serpentes?

Ele assentiu, e ela ficou pensativa sobre como seu reino só vivia desgraças desde muito tempo. Talvez fosse esse o motivo do porque as outras espécies consideravam Arcádia um reino de desgraças.

— No livro relata sobre a sua morte?

— Sim. Terminei o livro do meu pai depois da sua morte. É a tradição, você termina os dos seus antecessores e assim segue.

— Entendi. Então o senhor o leu todo? — Era uma pergunta boba, mas ainda assim a princesa fez.

— Leio todos os anos, querida.

— Desde quando?

— Desde a sua morte.

Maeve imaginou o quão doloroso deveria ser ao seu pai reler as tragédias que ocorreram em Arcádia, séculos atrás. Quando ela estava lendo quase pulou a maioria das páginas, não suportando ver o sofrimento da sua família, descrito.

Ela queria perguntá-lo se ele não se sentia devastado com as mortes e o sofrimento que o seu pai, a sua mãe e os seus irmãos viveram ao ler os livros antigos, mas apenas se limitou a dizer.

— Lamento pelas suas perdas, pai. Não consigo imaginar a dor que o senhor sentiu.

— Não se preocupe, querida. Com o tempo nos acostumamos a perder coisas e pessoas, não é fácil, mas precisamos seguir em frente.

Maeve era jovem demais para entender as palavras de Drazhan, mas assentiu para não contrariá-lo.

— Então você sabe o que ele disse sobre os demônios que caminhavam junto aos homens e os seus dentes se assemelhavam aos de leões?

Drazhan pareceu não entendê-la, e a encarou esperando um esclarecimento.

— Em uma das páginas, papai. Tinha uma única frase escrita onde dizia isso.

Ele simplesmente respondeu. — Não me recordo do seu avô fazer tal descrição nos seus livros, filha. Ele raramente escrevia sobre a aparência das criaturas, apenas citava elas quando apareciam, e não é como se não soubéssemos como os demônios são.

— Mas li sobre, tenho certeza.

— Você se enganou ou leu o livro errado.

— Não, papai. — A princesa insistiu.

— Bom, terei tempo para você me mostrar a página quando quiser, querida.

Drazhan disse, e inclinou-se para continuar rabiscando com a sua pena a folha branca. Ele não pareceu se importar com o que ela falou, e fez com que Maeve se sentisse irritada com ele.

A princesa sabia que aquela frase queria dizer algo, Maeve sentia, do mesmo jeito que foi quando viu os demônios na floresta e foi avisada sobre eles, entretanto, deixou o sentimento passar e observou Drazhan por um longo tempo terminar uma folha e começar outra, ele estava bastante alheio ao mundo.

Até alguém aparecer sem aviso na sala.

Maeve virou-se da cadeira para olhar para a porta entre-aberta e deparou-se com Hadrya. A rainha franziu a testa quando a viu, ela obviamente a julgava mentalmente por estar onde não devia, mas Hadrya felizmente não disse uma palavra a Maeve e dirigiu-se ao rei.

— Andreas retornou com os Livalk. Vim chamá-lo.

— Certo. — Drazhan se levantou rapidamente, como se já esperasse a visita, e guardou o resto dos papeis que escreveu na gaveta do lado. — Terminarei isso mais tarde.

A princesa assentiu, e os seguiu para fora da sala, ficando um pouco atrás deles, com a boca como um túmulo para ouvi-los falar sobre os visitantes.

Eles se chamavam Likalv, eram de uma família nobre, que morava na cidade, e que recentemente o lorde e a lady, seus pais, haviam falecido, e agora os filhos gêmeos do casal assumiram o controle das suas terras e riquezas ao oeste.

Procurando manter sólidas as alianças que existiam há muito tempo entre o rei e eles.

Maeve não teve tempo de conhecê-los, ela nunca os tinha visto, entretanto, o seu tio Andreas e a sua mãe, pareciam incrivelmente familiarizados com a nova família. Pois falavam deles com bastante propriedade, adicionando detalhes cada vez mais, sobre seus gostos e preferências.

Quando Maeve avistou uma carruagem luxuosa e grandiosa, soube rápido que eram eles.

Os rostos joviais estavam parados em pé, à espera do rei, e sorriam largamente quando olharam para Hadrya, que rapidamente se aproximou deles.

O homem de rosto pálido e cabelos ruivos na altura dos ombros, sorriu para a rainha, e curvou-se em reverência com a sua irmã.

Hadrya não foi nada sutil ao abraçá-lo quando ele se levantou, e o rapaz retribuiu o gesto como se fossem amigos de anos.

O mesmo ocorreu com a moça que o acompanhava, ela murmurou algo no ouvido da rainha enquanto a trazia para perto, que fez Hadrya dar uma leve risada.

Andreas que acompanhava tudo, acenou para a irmã, como sempre observador.

Maeve ainda perdida, olhou de soslaio para o seu pai em busca de alguma explicação.

— Sua mãe e o seu tio os conhecem desde antes do seu nascimento, então é natural a reação. — seu pai respondeu em um sussurro, a empurrando sutilmente com uma mão em suas costas para frente. — Vamos.

Quando eles se aproximaram, a princesa notou quão educada e atenciosa sua mãe era com os gêmeos, tocando nas mãos da moça com tanta delicadeza que a mesma parecia que ia quebrar na frente deles.

A princesa analisava com intriga, se perguntando o porquê.

— Majestade, alteza é uma honra finalmente conhecê-los. — O rapaz disse, mudando o seu olhar para o rei e logo depois para Maeve, se curvando em reverência logo em seguida.

A sua irmã repetiu o gesto e os cumprimentou.

Ambos eram altos, esguios e se vestiam elegantemente, o rapaz usava um gibão de veludo carmesim que combinava com os seus olhos verdes cor de grama, e a sua irmã de cabelos curtos, iguais aos dele, trajava um vestido azul de seda que contrastava com as suas madeixas ruivas com leves ondulações.

Os dois eram definitivamente belos e encantadores, e suas lindas sardas só realçavam ainda mais a beleza que tinham.

Drazhan sorriu gentilmente ao vê-los, e os saudou formalmente.

A princesa não disse muito, porém, recebia olhares dos convidados a todo momento, mesmo que não participasse das conversas.

Hadrya mostrava satisfação com a interação do rei com o casal de gêmeos, como se não fosse a rainha fria que Maeve convivia diariamente.

Após as apresentações, o rapaz chamado Sor Ruan dirigiu-se com o rei, a rainha e Sor Andreas até a sala privada para discutir assuntos que a princesa foi impedida de participar, mesmo ao insistir ao seu pai ele negou facilmente os seus pedidos, o que fez Maeve ter que dar a sua total atenção a Lady Raquel.

— Nunca havia vindo ao Palácio Escarlate, é muito magnífico.

Maeve lançou um breve olhar para a Lady Raquel sobre a xícara de chá que bebia.

Elas estavam sentadas caladas frente a frente, admirando por um tempo a paisagem de Arcádia, e se fartando de guloseimas.

Até a moça quebrar o silêncio com a sua voz doce.

— É realmente um lugar agradável, princesa…

— Sim. — Maeve concordou com um sorriso, sem saber o que acrescentar.

— A rainha sempre comentou o quão enorme tudo era. — os olhos de Lady rodaram pelo telhado real. — Percebo que ela não exagerou.

— Lady e a minha mãe são muito próximas.

Não parecia uma pergunta quando saiu dos lábios de Maeve, e sim uma observação, que fez ambas se encararem.

A Lady sorriu, parecendo feliz quando falava. — É claro, a rainha e a minha falecida mãe, eram como irmãs. O mesmo valia para o seu tio com o meu pai… que os deuses o tenham.

A tristeza começou a transparecer nas feições da moça, que havia perdido os pais, não tinha um mês, e que ainda não aceitava bem o luto recente.

Tentando compreendê-la, lamentou. — Sinto muito, lady.

Raquel assentiu, enquanto a princesa não disse mais nada, deixando a breve conversa entre elas morrer.

Maeve não conseguia evitar o desconforto em estar ao lado da moça, ela era muito mais velha, ainda jovem, mas ainda assim tinha outro assuntos que a jovem princesa não queria acompanhar, por não serem do seu interesse.

Então tentou disfarçar o clima tenso pegando um pedaço de queijo que estava sobre a mesa, o degustando com satisfação ao sentir o sabor em sua língua, era suave, adocicado e divino e ela não se limitou em experimentar o restante das guloseimas que a criada havia colocado logo quando se sentaram.

— Trouxemos o queijo da Cidade princesa. — Ela finalmente voltou a tagarelar quando viu o sorriso sutil da princesa com a comida.

— É maravilhoso, o melhor que comi!

— Sim, realmente é, — Lady Raquel pareceu satisfeita, contente por a cena já ter sido esquecida, então disse. — Princesa?

— Sim!

— Sua alteza não é como dizem. É sim, bonita e atenciosa… Quando falavam da sua pessoa me assustava um pouco, mas a vendo mudei rapidamente de opinião.

Maeve a olhou curiosa, suas pernas batendo debaixo da mesa, enquanto se perguntava quem disse que ela era ao contrário.

— O que diziam sobre mim?

— Muitas coisas que são mentiras inclusive, mas a algo que eles falaram que é verdade.

— O que seria?

— Que nunca viram nenhuma serpente igual à princesa, que o seu crescimento era rápido e intrigava a todos. Isso é definitivamente inegável.

Maeve não soube o que dizer, então agradeceu sem jeito. — É obrigada.

Lady Raquel soltou uma leve risada, em seguida continuou.

— Porém, dizem muitas coisas sobre a herdeira. A rainha não me contou muito então esperei o momento certo para conhecê-la, enfim… os seus olhos são diferentes, eles são iguais aos dos humanos. Algum motivo? — Lady Raquel observou e bebeu o seu chá que até então estava intocado.

— Bom, não sei muito bem. Dizem que é por eu ser a escolhida, mas não pude perguntar a mensageira.

Maeve se lembrou da velha, e isso fez os seus pelos ficarem arrepiados, o espírito não era uma lembrança constante na vida da princesa, já que ela passou os últimos anos ocupada demais com o seu treinamento, porém, às vezes, quando estava sozinha, ela ainda ouvia o que a mulher havia falado na Vila das Lamentações.

— O ser que o rei julga ser um Deus?

— Ela não era um, pelo menos foi o que ela nos disse.

— A princesa se lembra de tudo que ela lhe falou?

— Não! Eu era muito nova.

Ladya Raquel a olhou por um tempo calada, e após perceber que Maeve não iria acrescentar mais nada novamente sobre a conversa e sobre a mensageira, ela começou a comer um doce que estava na mesa.

Maeve sentiu-se levemente mal ao mentir.

Ela se lembrava perfeitamente de tudo que ocorreu naquele templo, porém, pensou. Se a sua mãe não falava sobre ela para a moça, então porque Maeve teria que falar?

Refletindo a princesa preferiu a discrição, já que não sabia em que terras estava pisando ao se aproximar de um dos gêmeos e falar de assuntos que nem os mais próximos haviam perguntado.

Nas horas seguintes, Raquel comentou sobre a cidade e falou de assuntos que Maeve tinha pouco conhecimento, então a princesa não teve vontade de estender as conversas e seguia com respostas de não, sim ou não sei, o que fazia com que a lady simplesmente se calasse em algum momento.

Maeve soava insensível e arrogante, mas ela não conseguiu evitar.

Após horas a sós com Raquel, os outros resolveram finalmente voltar.

Drazhan retornou com um sorriso de orelha a orelha, o gêmeo estava ao seu lado também sorrindo e Andreas e Hadrya chegaram atrás aparentemente contentes.

— Vejo que a conversa foi divertida. — Raquel disse com a sua voz doce.

— Sempre é quando se trata de interesses que ambos os lados estão de acordo. — O rapaz concordou enquanto olhava para a princesa e depois para sua irmã.

— É uma pena eu e a lady não termos participado…

Maeve realmente queria saber o que eles haviam conversado por horas em sua ausência, porém, deduziu que não seria relatado nada a ela como já estava acontecendo nos últimos dias.

Após Andreas e Hadrya iniciarem no Conselho, Maeve foi disfarçadamente afastada de todas as reuniões, e só notou as mudanças naquele momento, quando não estava mais envolvida em nada do que ocorria.

Ela se enfureceu com seu pai por causa disso, cerrando seus punhos, e teve que beber o seu chá em busca de alguma calma para não soar exagerada.

Ruan então a respondeu. — Vossa alteza não perdeu muito, e ficou com a parte mais tranquila dos problemas.

Maeve não disse nada, mas Raquel fez.

— Verdade, nós passamos a tarde conversando. Nem te conto o quanto a princesa é adorável.

Ruan concordou com um sorriso felino enquanto Drazhan esfregava as madeixas de sua filha.

— Fico feliz que se deram bem, lady. Sor Ruan, vocês ficarão até o jantar, não é mesmo?

— Será um prazer, majestade.

Não foi, pelo menos não para a princesa.

Maeve os suportou a noite toda depois do chá da tarde e não conseguiu interagir em nenhuma das conversas que eles tiveram.

Eles continuaram falando de assuntos que a princesa não se interessava e isso a entediou mais do que havia sido mais cedo.

Para o desagrado dela, os gêmeos dormiram no Palácio Escarlate, e ficaram por uns dias se reunindo com o rei, a rainha e Andreas, que estava mais presente do que nunca esteve.

Isso por algum motivo incomodou Maeve, que não pode comentar muito, e nem dizer o que realmente pensava sobre eles.

Quando foram embora, a princesa se aliviou porque pode finalmente retornar ao seu treinamento, que havia sido interrompido por sua mãe. Ela não queria que Maeve treinasse quando tinha que acompanhar Lady Raquel para todos os lugares e horários que queria.

Drazhan não se opôs à decisão da rainha, então Maeve teve que aceitar fazer o que eles desejavam, e foi assim todas as vezes que eles visitaram o Palácio.

Durante esse tempo o rei permaneceu ocupado e Maeve teve que se acostumar com isso, porque também ficaria com o tempo

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