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Capítulo 22 - Inimigos piores que os demônios?

Localização; Arcádia - Cidade.

Maeve encontrou com os soldados que o seu pai designou para acompanhá-la e se dirigiu com eles para inspecionar a Cidade na sua carruagem.

Ela havia deixado a residência dos Likalv antes da primeira luz do sol raiar, sem se despedir dos irmãos. Esse foi o combinado com Guia e Hiro que estavam montados nos seus cavalos guiando os cavaleiros a frente até uma ameaça de demônios ao leste.

Ela dormiu pouco à noite, sentindo pontadas de dor na sua cabeça, e se culpava mentalmente por se deixar levar pela Lady Raquel, que deixou a jarra de vinho de propósito no seu quarto, não a levando consigo quando saiu.

O vinho foi divino demais para ela resistir, então bebeu um gole, que levou ao outro e outro, até que a jarra secou. O que fez ela esquecer os seus problemas de forma rápida, uma combinação perfeita e desastrosa.

A princesa não se orgulhava, já bem arrependida pelo seu desconforto e prometeu a si mesma não triscar em nenhuma bebida nos seus lábios novamente, estando mais que disposta a cumprir sua promessa.

Desde que acordou, se lembrava das palavras de Raquel sobre se casar com Ruan, e se fosse verdade o que a Lady Raquel disse na noite do dia anterior, ela tinha que pensar num bom argumento para Drazhan não permitir que ela se casasse. Maeve também não deixou de se sentir ameaçada por Raquel, quando a mesma contou que sabia que a princesa sentia ciúmes da relação de mãe e filha que tinha com Hadrya.

Maeve nem havia negado. Como ela poderia quando era a verdade?

Deixando os seus pensamentos dispersarem, a princesa teve a sua atenção para uma mulher já de muita idade que tossia sem parar. Ela apenas observou da janela sem poder fazer nada e notou que a mulher estava contaminada pelo vômito escuro que soltou no chão quando conseguiu. Alguns soldados aproximaram-se para verificar e falaram palavras que Maeve não pode ouvir pela distância.

A serpente então foi agarrada por eles braços e direcionada a direção oposta que caminhava.

A princesa a princípio ficou boquiaberta, depois desceu em disparada da carruagem sendo barrada por Hiro que estava a esperando por perto.

— Para onde está indo princesa?

— Para onde estão a levando? — Ela perguntou por cima, tentando ignorá-lo que ele estava na sua frente.

— Parece que vão isolá-la.

Ela olhou-o nos olhos observando a sua carranca — Onde?

O humano suspirou desviando o olhar, pensando um pouco em como respondê-la. — Para um local seguro, penso que temos que tentar salvar os que ainda não estão em perigo.

— E esquecer os que estão?

— Até não termos soluções, ficar longe pode servir de mais ajuda.

Maeve fechou os olhos sabendo no seu íntimo que ele tinha razão, porém, doía lidar com as adversidades dessa forma. A princesa arrumaria um jeito de ajudar o seu povo quando retornasse. Uma cura, ela encontraria nem que morresse tentando.

Hiro anunciou. — Estamos mais perto de onde eles estão atacando.

Ela acenou sabendo exatamente onde os demônios estavam, era tão fácil encontrá-los agora.

— Ótimo não se distraía. — Ele virou-se e foi até o seu cavalo.

Eles não pareciam bem e a princesa não pensava nisso como prioridade no momento. Hiro teria que entendê-la.

Eles continuaram, Maeve agora num cavalo observando frequentemente doentes no caminho. O seu coração apertou-se por sua impotência. A doença era silenciosa e quando descoberta já estava tarde para os infectados, o que restava era apenas morrer a aceitar. Embora a princesa não aceitasse tão bem esse final.

A Cidade era um pouco ampla e fez com que eles tivessem trabalho para encontrar o que caçavam e dessem voltas e voltas patrulhando a procura dos demônios.

Eles encontraram alguns deles isolados tentando atacar moradores nas ruas, mas Maeve com sua agilidade matou toda a ameaça quando a viu e assim foi toda a sua caminhada pelas redondezas. Suando e abatendo os inimigos.

Mais tarde, cansados do dia que tiveram, eles chegaram ao Porto da Cidade.

Maeve desceu da carruagem e aproximou-se de um Guia em pé, que segurava firmemente um anel no seu dedo, o mesmo que ele disse uma vez para a princesa que guardava poder dentro. Ela analisou com curiosidade, embora não tenha comentado, movendo sua atenção para a vista que o mago compartilhava.

Eles vislumbraram um mar extenso que dividia Arcádia de Wizard, e um sol se pondo no horizonte. Em poucas horas estaria escurecendo. Guia com a sua visão humana não enxergava o mesmo que Maeve, um monte de terra amontoado, provavelmente com um Reino e um castelo pequenino ao longe, embora ela tinha certeza que o mago sabia que muito, muito a sua frente estava o que um dia ele chamou de lar.

— Saudade de casa? — Ela ouviu-se questionar.

Guia não a respondeu a princípio e ela não se importou, deixando a sua concentração e os seus instintos dominarem os seus sentidos. Os demônios não estavam distantes deles e a quantidade era menor que a que encontraram desde então, não contavam quinze e seriam facilmente abatidos, Maeve pensou com um suspiro de alívio.

Guia depois de um momento, finalmente a respondeu. — É, sinto uma falta dos que deixei para trás…

Maeve analisou o semblante triste e a voz profunda. Segurando o seu ombro firmemente sem saber o que fazer ou falar e entrando em frustração ao tentar encontrar as palavras certas para ele.

Guia não estava bem, ele perdeu tudo e ela não conseguia adivinhar sua dor, apenas senti-la de vez em quando ao escapar dele, o que não era agradável. Era angustiante, e Maeve não compreendia como ainda assim ele aguentava aquele rasgar no peito, a sensação de não ter ninguém mais para ele na vida, as perdas e traições.

Ela queria dizer que ficaria tudo bem. Mas quem era ela para afirmar isso quando não sabia nem do seu futuro.

Decidida ela apenas confessou a verdade — Não sei bem o que dizer para confortá-lo hoje, talvez um dia eu saiba e apenas diga o que você precisa ouvir. Agora precisamos matar mais alguns demônios. Pode descontar a sua tristeza neles, se quiser.

Quando o mago retribuiu o seu pequeno sorriso, foi muito triste, Guia parecia tão desolado que seu silêncio era incômodo, mas ele não deixou de segui-la até onde os outros homens estavam amontoados.

Com o número de soldados reduzidos, porque alguns vieram a falecer, grande parte dos que restaram tinham as suas próprias montarias e Maeve se dirigiu a sua para seguir o seu próprio caminho. As serpentes decidiram que os presentes deviam se separar e procurar a ameaça pela cidade.

Hiro e Guia a acompanhavam por horas, e ambos pareciam paredes que se movimentavam enquanto ela tagarelava, porque o silêncio que se estendia entre os dois fazia Maeve querer quebrá-lo de alguma forma por ser torturante demais.

Ela então falava até das aves voando para ter uma reação deles, no entanto chegou um momento que ela ficou irritada, Guia tinha explicação, ele estava preocupado com seus problemas, com seu futuro, mas Hiro não. Ele estava com raiva dela e Maeve queria saber o porquê.

— Ainda está chateado comigo? — Perguntou olhando para alguns edifícios já fechados ao anoitecer.

Hiro demorou para dar uma resposta, percebendo tarde que ela falava com ele. — Não, apenas procurando demônios, princesa.

Maeve observou as suas costas com uma careta. Ela conhecia-o muito bem para acreditar na sua mentira.

— Diga o que pensa de uma vez Hiro, eu permito.

Hiro parou o seu cavalo com o seu pedido. Ele estava tenso e pensou um pouco antes de falar, mas antes que pudesse soltar um a, um cavaleiro surgiu do nada em disparada, fazendo o animal levantar as patas dianteiras quando parou próximo a eles e relinchar. O homem serpente estava com uma expressão assustada.

— Vossa alteza, trago péssimas notícias!

Maeve rapidamente franziu a testa preocupada. — Fale!

Ele parecia horrorizado e tenso.

— Tem que se retirar da cidade o mais rápido possível!

— Acalme-se, e diga-me o porque terei que fazer isso?

— Inimigos iminentes, as fênix e os magos. — O cavaleiro encarou Guia desconfiado, depois olhou para ela novamente enquanto contava. — Estão invadindo Arcádia.

Ela arregalou os olhos em choque e descrente. Como um ataque repentino acontecia e eles não souberam antes? Não os viram chegando? Não podia ser verdade e se fosse os magos deveriam estar furiosos por ela ter aceitado Guia, seriam essas as consequências das suas escolhas? Maeve não se arrependeu, mas estava com um sentimento de culpa.

Ela disse incrédula apertando as rédeas. — Impossível.

— Leve-a de volta ao Palácio, não podemos protegê-la com poucos homens. — O cavaleiro falava com Hiro.

Que a princípio estava paralisado com a notícia, mas recuperou-se rapidamente se lembrando que era o guarda-costas da princesa e que estava responsável pela sua segurança pessoal.

O soldado ainda falava com ele quando Maeve se intrometeu na conversa deles. — Não quero soar ingrata, mas também não sou um ser indefeso, mostrei diversas vezes que sei me virar sozinha. — Ela discutiu, o que fez o homem tremer sem palavras, a temendo claramente.

Maeve não gostava do medo que alguns tinham dela e percebeu que o seu início foi quando descobriram que ela recebeu os seus poderes e atacou Andreas por pura defesa, o que eles não sabiam graças a Hadrya. Alguns pensavam que ela perderia a cabeça facilmente e queimaria vivo qualquer um. Mesmo que não dissessem na sua frente, ela notou o julgamento pelos olhares e com o tempo conseguiu distinguir os que a respeitavam e os que a temiam. Não eram todos, mas vinha em demasiada de soldados.

O soldado suplicou. — Princesa, não podemos arriscar, peço que coopere.

— Vamos para o Palácio imediatamente. — Hiro decidiu antes de Maeve pensar um pouco sobre o pedido, o que fez ela ser ainda mais contra.

— Não Hiro! Se eles estão aqui, estou mais que disposta a lutar. Comigo, temos mais chances. — Ela disse não tão convicta, mas disposta a lutar.

Os magos seriam um grande problema com as fênix, e seu pouco conhecimento sobre eles piorava a situação. Se seus inimigos realmente fossem imortais já seria difícil demais para combater, porém, sabia que não havia escolha a não ser lutar. Apesar da dúvida do novo e dos inimigos, quando se via em situações que deveria agir, ela agia. Porque criava uma coragem que fazia qualquer amedrontamento desaparecer, era sempre o impulso que ela precisava. Talvez fosse seu instinto.

— Não, alteza! — Ele negou num tom ríspido e falou com Guia. — Você irá nos teletransportar para o Palácio, sem discussão.

Guia já parecia preparado para obedecer quando Maeve então cerrou os seus punhos.

— Estou no comando aqui e mais ninguém! — Ela exclamou estridente — se digo que irei, irei. Quer queira ou não.

Hiro não pareceu ceder e a observava com a testa franzida, expressão que ele fazia muito ultimamente e se Maeve fosse sincera ela a desagradava.

Ele perguntou de repente. — A princesa usará os seus poderes?

— Você já sabe a resposta! — Ela respondeu rudemente.

Estando ciente que na cidade era impossível usar qualquer resquício do seu poder, ela mataria todos os moradores queimados. Hiro sabia disso, mas ainda assim perguntava toda a vez por que queria que ela soubesse usá-los.

— Porque é tão teimosa? — Ele olhava-a chateado, depois falou com o mago. — Por favor! Se está realmente do nosso lado, leve a princesa.

Ele apelou para Guia antes dela ter alguma voz na discussão.

Maeve então se virou para o mago. — Não se atrev... Ela nem terminou de falar antes que ele a teletransportasse para longe com sua magia. Foi num piscar de olhos.

Não demorou para ela se sentir mal, a mágica estava mais insuportável e fazia ela tossir incontrolavelmente no caminho, por sorte ele não os levou para longe, parando numa floresta qualquer.

Maeve caiu no chão, sentindo falta de sua montaria no mesmo instante. Guia não havia transportado os animais. Recobrando aos poucos sua visão que estava escura, ela reconheceu o local apenas pelos pinheiros únicos na área, eles estavam ali dias atrás, quando ainda não haviam chegado na Cidade.

Furiosa ela gritou. — Guia! Eu vou… — Tendo a sua atenção para ele percebeu quão ele estava fraco pela maneira que pegava e se apoiava nos seus joelhos, quase agachando. — O que foi? Você está bem?

Ela se levantou apressada e ele respirou com dificuldade tentando se acalmar. — Penso que usei muito poder nos últimos dias…

— Espero que tenha o suficiente para nos fazer retornar.

— Maeve! É perigoso, eles querem te matar. — Ele falou um pouco alto, se corrigindo logo depois em quase um sussurro. — Querem nos matar.

A princesa o via claramente na escuridão, a sua expressão assustada e o medo aparente. Se os magos estavam em Arcádia eles estavam em busca de alguém, Guia. Eles iriam querer a sua cabeça e matar seria o seu fim se o pegassem, então não era de se espantar que o seu primeiro instinto fosse fugir.

— Guia, eles vão matar inocentes, não posso permitir! São meu povo. — Maeve tentava soar calma, porém, estava querendo correr contra o tempo.

Ele ficou pensativo. — O certo é voltarmos para o Palácio e pedir ajuda.

— Ajuda a quem? Eu sou a escolhida! Eu e você que somos a melhor ajuda!

Ele se firmou e depois ficou inquieto andando de um lado para o outro. — Digo porque temos que ter um plano. Não podemos nos jogar assim no meio da guerra. — sua voz era trêmula pelo nervosismo, mesmo ele tentando ocultar. — quando são demônios é fácil matar, eles não são humanos, são o oposto da vida, mas eles são pessoas…

Maeve ouvia ele atentamente sabendo que o mago tinha razão em algumas partes. Eles tinham que ter um plano antes de entrarem na briga. Era uma batalha significativa, não igual a dos demônios que andavam isolados sem objetivos aparentes e eram fáceis de encontrá-los. Era uma briga que eles tinham que ganhar dos bandos que vinham, não deixar um vivo para contar história. Maeve e Guia tinham que trabalhar juntos para defender Arcádia.

O mago parou de frente a ela e ponderou. — Não sabemos matar as fênix e talvez precisaremos de um exército.

— Talvez eles morram com meu poder.

Guia a encarou ainda descrente e disse. — Você quer usar o seu poder agora? Fazer isso na Cidade onde tem muitas serpentes que podem se machucar no processo?

Ela refletiu um pouco tensa, a situação era perigosa demais, mas tinha que tentar o que estava pensando. — Não exatamente, eu tenho um plano, só que eu preciso saber se você está comigo realmente.

Ele engoliu em seco parecendo ser esfaqueado pelas suas palavras.

— Maeve. — Guia falou o seu nome quase num tom acusativo. — Estou ao seu lado! Ainda duvida?

Ela cerrou os punhos frustrada. — Só pergunto porque você terá que fazer escolhas hoje que serão definitivas para a sua permanência aqui… em Arcádia!

Eles trocaram um longo olhar, que dizia muito mais que palavras. Maeve sabia das suas dúvidas, medos e receios. Era ele lutando contra seu próprio povo. Contra tudo que acreditava. E decidindo escolher um lado, quando havia sido recente o seu exílio. Então ela compreendia se ele não quisesse lutar com as serpentes, mas Guia sabia que se fizesse essa escolha, Maeve não aceitaria sua morada, não o permitiria ali.

Então, Guia tinha que tomar uma decisão.

Quando finalmente pareceu se acalmar ele disse-lhe pegando em suas mãos. — Farei o que você me pedir, alteza. Lutarei ao seu lado! Porque não foi você que virou as costas para mim, não foi você que me julgou ou tentou me matar…. Foi muito pelo contrário.

Ele prometeu a princesa, e ela sentiu a sinceridade de cada uma das suas palavras. Maeve sorriu determinada para Guia e apertou suas mãos quando disse.

— Ótimo, então quero que você faça o impossível para me ajudar Guia… precisamos de mais da sua mágica, muito mais! — ela perguntou — Você consegue?

O mago parou para pensar e se endireitou ao pedir. — Me dê a sua espada.

Maeve ergueu uma sobrancelha quando a pegou de sua bainha, porque era onde ela estava o caminho todo e a entregou sem protestar, mas aparentava confusão em seu rosto.

Percebendo o seu olhar ele contou. — Minha magia está aí, então posso pegar dela.

— Não vai faltar para mim?

— A magia se acumula quando a colocamos num objeto e de alguma forma ele torna-se uma fonte do próprio mago. — ele disse-lhe. — Quando usamos a secamos, mas nunca tudo, assim sempre tem uma reserva, se por um acaso a magia se esgotar.

Ele pegou o cabo da arma e canalizou o poder em silêncio e com os olhos fechados. A luz púrpura iluminava o rosto dele e um pouco da escuridão da floresta.

— Não faz muito sentido. Você não tem o anel… Porque não pega dele? — Maeve questionou, enquanto olhava boquiaberta.

Guia tirou o que precisava e a entregou novamente, parecendo revigorado. — O do anel eu já usei, e por ser uma mistura de magia é mais fraco. Diferente da que eu coloquei na espada, que é somente minha.

Maeve o encarou por um momento piscando os olhos e ficou menos frustrada quando ele perguntou.

— Me conte o seu plano!

***

Maeve permanecia à espreita num beco as escondidas, esperando só o momento certo. O local fedia a mijo e podre, e ela tinha uma leve sensação de estar com companhia, mas ao olhar os lados notou o quanto a rua em que se encontrava aparentava ser deserta, deveria ser apenas seu nervosismo.

Guia e ela combinaram o plano rapidamente e ele deixou-a ali, para ir olhar o outro lado da cidade contando tudo o que via para ela sempre que voltava. De acordo com o que ele falou, não demoraria para as fênix saquearem aquela área já que as mesmas estavam lutando com os soldados por perto. Ele revelou também que restaram poucos soldados e que alguns morreram em combate, outros tentavam salvar os moradores, mas estava difícil com a magia dos magos. A espécie também destruía qualquer edifício que vissem e matavam qualquer serpente que cruzassem o caminho deles. Eles tinham armas com mágica nas suas mãos, o que dificultava a defesa das serpentes.

Maeve sentia as suas mãos coçarem, o seu poder querendo ser liberto e ela tinha o desejo de estar com os seus, lutando assim para proteger o seu povo, mas teve que ser astuta e perspicaz e esperar para conseguir executar o seu plano da forma correta com Guia, que estava procurando saber em que pontos as fênix e os magos estavam atacando e quantos eram, para assim eles assumirem o controle.

Os magos haviam feito barreiras em toda a Cidade, cobrindo o local com as suas magias fedidas e impedindo que qualquer um saísse de lá vivo, eles estavam contribuindo com uma carnificina, Maeve pensou. Guia felizmente conseguiu passar pelos seus feitiços quando os trouxe de volta para a Cidade, e assim foi comprovado o que ela já suspeitava, que ele era um dos magos mais poderosos já vistos, quando foi capaz de cobrir a barreira que os inimigos fizeram em conjunto, sozinho.

Maeve ainda absorta em seus pensamentos ouviu repentinamente um barulho ao longe que chamou sua atenção. Mais de meia dúzia de pessoas caminhavam e discutiam entre si, alguns estavam rindo e outros lutavam, dizendo palavras confusas enquanto choravam, ela não soube distinguir o significado.

Ela espiou, sentindo o peso da sua armadura que havia colocado mais cedo e o do seu elmo que estava sobre a sua cabeça por precaução, ela não podia facilitar de nenhuma maneira.

Um grupo de cinco homens enormes e robustos, claramente não humanos ou serpentes entraram em seu campo de visão e arrastaram com eles duas moças jovens que deveriam ser mais novas que a princesa de aparência, no entanto, mais velhas de idade por serem serpentes.

Elas gritavam em agonia, lutando para soltar.

— Eu não sou a princesa, sou apenas uma plebeia! Por favor, não me machuquem! — Uma delas suplicou aos prantos e recebeu bruscamente um soco no seu rosto.

A sua cabeça balançou para frente e para trás e ela pareceu desmaiar com o impacto.

Maeve cerrou os seus punhos, com ódio nos olhos e no sangue, se segurando para não matá-los, ali e agora.

— Essas vadias, não calam a boca!

— Ela diz a verdade por favor. — A outra pediu chorosa sendo levantada pelo pescoço como resposta.

— Fique quieta vagabunda! — O que a suspendia no ar gritou no seu rosto, ele era muito alto.

Ela lutava para respirar tentando chutá-lo no estômago, mas falhava miseravelmente.

Ele então a jogou no chão.

Um dos outros cinco disse mais autoritário. — Vamos apenas estuprá-las, matá-las e jogá-las por aí. Qualquer uma que seja descrita com a idade da escolhida.

Os homens concordaram, dois deles se ajoelhando no chão e levantaram os vestidos das jovens fazendo uma delas gritar de medo.

Maeve olhou para as lágrimas da moça de uma distância que a escondia, e sentiu a bile em torno da sua garganta com o que via eles desejando fazer. Como havia seres tão cruéis como aqueles?

Não fazia parte do plano Maeve revelar ainda a sua imagem, no entanto, ela tinha que fazer disso uma opção quando não conseguia ver aquilo sem fazer nada, tinha que lutar e desejar sorte.

Os homens eram grandes, fortes e estavam em maioria, e ela não sabia como matá-los. O que era um problema. Ela daria conta com Adira? Ela perguntou-se.

Sabendo que independentemente da resposta, se não fizesse nada, eles iriam torturar cada mulher, crianças ou até os mais velhos. Poderia ser qualquer um que fosse indefeso. Eles não iriam se importar com os estragos.

Guia não poupou Maeve dos detalhes de que eles estavam matando rápido os homens serpentes. Todos eles sem nem hesitar, mas deixavam os outros para se divertirem como faziam agora com as mulheres. Quando ele contou ela sentiu vontade de segui-lo, mas ele não permitiu. Mandou a princesa se aclamar e esperar.

Entretanto, Maeve não permitiria que eles continuassem, ela não se segurou pegando Adira e saindo do beco. Os homens estavam por cima das moças enquanto uma ainda estava desacordada, nada ciente do que acontecia e a outra choramingava por ajuda.

Maeve pensava em pegá-los de surpresa por trás, pelo menos um deles, mas antes de dar cinco passos, ela chamou a atenção para si com o barulho das suas pisadas que ecoavam pelo chão. E uma duzia de rostos olhava para ela. Como havia sido tão imprudente?

Ela firmou Adira nas suas mãos e a apertou os olhando como se fossem sua caça que deveria correr, pegar e matar.

— Outra serpente para eliminar… peguem ela! — a fênix que estava em cima de uma das moças disse sorrindo continuando o que estava fazendo.

Os três que apenas olhavam, levantaram-se no mesmo instante vindo até Maeve. A princesa pensou com cautela não querendo subestimá-los, ela tinha que ser prática e certeira nos seus golpes onde teria que derrubá-los rápido já que estava em desvantagem numérica.

Um deles usava uma adaga, e o outro uma espada. Ela reconheceu as armas, foram as que o rei Zion quando vivo recebeu em troca pelas barreiras que fez. As fênix a usavam agora e pelo que Guia disse tinha magia forjada nos seus ferros. Seria um grande perigo para Maeve.

Ela sentiu um frio na espinha com o perigo avista e engoliu em seco, apertando ainda mais o cabo de adira.

A fênix maior direcionava uma alabarda para a sua direção e a princesa com o seu sentido muito aguçado e rapidez conseguiu desviar da arma que quase separava sua cabeça do corpo.

Maeve estreitou o seu olhar para o homem, ele seria o último que mataria.

— Foi por pouco. — Ele disse com um sorriso que fez Maeve querer arrancar os seus dentes.

Ela ainda ouvia a mulher gritar de longe e teve que se concentrar no homem que corria até ela com uma espada. Eles colidiram. O barulho de aço tinindo e ela defendendo dos seus golpes que vinham rapidamente em direção a sua cabeça, peito e pernas. A princesa teve que ficar em ação por um tempo sempre desviando da arma e da magia. Ao analisar o homem percebeu que a sua armadura era de couro o que poderia facilitar para ela, então Maeve só precisava retaliar.

Firmando adira, ela cortou abruptamente a pele do seu braço, o homem não esperava e rangeu os dentes investindo contra Maeve, que acertou-o de novo agora na sua cintura, o que fez ele pegar o lugar em resposta chiando com a magia. Foi a chance que ela precisava. O seu outro golpe foi tão certeiro quanto os outros, na sua perna, pegando-o em cheio ao se distrair. Ele era lento por ser grande e forte demais, e Maeve percebeu que esses seriam os padrões nas fênix.

Ela então cortou a perna boa do homem derrubando a espada dele com a sua, fazendo-o ficar ajoelhado a ela, totalmente indefeso.

— Filho da..

Antes que ele terminasse a ofensa a princesa partiu o seu corpo da sua cabeça deixando completamente em silêncio.

Isso chamou a atenção dos outros homens que abusavam das moças.

— Bastardos, o que estão esperando só mat...

Um deles gritava, mas antes de terminar uma lâmina atravessou o seu peito de repente e a moça substituiu os seus gritos, muito assustada.

Foi tão rápido que Maeve nem conseguiu raciocinar.

A vítima se tremia ao levantar, envergonhada enquanto ajeitava sem jeito as suas roupas e dando um último olhar para a outra que ainda estava desacordada e para a luta que se desenrolava. A moça limpou os seus olhos chorosos então correu para longe.

Maeve não a culpou.

O homem de capuz que veio ajudá-la lutava contra uma fênix. Ele, para sua surpresa, tinha duas espadas nas suas mãos. Que deveriam atrapalhá-lo, mas apenas o deixava muito mais ágil.

A princesa observou que ele era extremamente habilidoso.

Maeve não pôde apreciar por muito tempo por que teve a atenção das outras duas fênix que planejaram acertá-la, ela sentiu então o seu estômago queimar repentinamente com um golpe que não esperava. A alabarda estava um pouco abaixo da sua costela e foi tirada na mesma velocidade que entrou.

Mesmo com a armadura ela foi perfurada, não o bastante para derrubá-la, mas o suficiente para incapacitá-la com a magia. Os seus olhos arregalaram-se e ela pôs sua mão no local enquanto curvava seu corpo em resposta, se afastando ao mesmo tempo. Maeve rangeu os seus dentes com a dor agonizante em seu estômago. Sua pele parecia queimar igual uma brasa e ela tentou ignorar a barriga latejando.

Endireitando a sua espada novamente, observou ele se aproximar e usou toda a sua força para cortar a mão dele rapidamente, já que por ser tolo demais ficou muito perto dela e esse foi seu erro, assim a sua arma caiu com o seu membro com um golpe só. O homem grande urrou de dor se afastando caindo no chão e o outro se aproximou tentando desferir um golpe com a adaga nela, mas foi parado por um nas suas costas que atravessou seu peito e fez ele cuspir sangue antes de atingi-la.

Maeve então notou a fênix esvair com a espada ainda no seu corpo.

O homem de capuz sorriu para ela, enquanto lutava apenas com uma arma, a outra estava no corpo da fênix caida. Seu combate com a fenix não durou tanto porque logo ele conseguiu derrubar o seu adversário.

Quem diabos era ele? Maeve perguntou em meio a dor insuportável que fazia suas entranhas torcerem.

Ela então percebeu um vislumbre da última fênix vindo atacá-la em sua visão periférica e recuou em resposta.

Ele tinha apenas uma mão em combate e isso facilitou e muito sua vitória. Se em força ela já ganhava, o combate já estava ganho. Não demorou muito para ele tentar golpeá-la desajeitadamente de novo e ela cortar no último instante a cabeça do homem com sua rapidez. O seu corpo convulsionou sentindo falta dos outros membros.

O chão era uma poça de sangue.

Maeve engoliu em seco, muito cansada e com respiração ofegante.

Ela não conseguia ver o rosto sob o capuz. Ele tinha as suas duas espadas cheias de sangue e as limpava nos corpos das fênix enquanto estava agachado a olhando. O salvador devia ter pegado quando a princesa ainda lutava e ela pensou que talvez ele fosse um dos seus soldados para vir salvá-la. Mas não poderia ser. Ela nunca conheceu um que lutasse igual a ele, o homem também não estaria desarmado se fosse, ele teria que usar um brasão para anunciar aos moradores que era ajuda e não inimigo no combate. No entanto, não tinha.

Eles trocaram um olhar silencioso enquanto guardava as suas espadas atrás de suas costas e Maeve apertou o cabo da sua, que ainda pingava sangue. Ela sentia a queimação nos seus ossos por conta do seu ferimento que parecia estar longe de se curar.

O homem então se levantou e quebrou o silêncio. — Um soldado barulhento é um soldado morto, vossa alteza. Não se esqueça disso!

Ele se curvou não desviando o olhar. Maeve não o conhecia ou a sua voz, mas o homem sabia quem ela era.

Maeve estreitou os olhos. — Quem é você?

— Quem a princesa estava à procura. — A sua voz era grossa e rouca e ela não quis observar isso por muito tempo tentando raciocinar de quem deveria se tratar.

— Ren Fidalgo?

Ele sorriu quando afirmou.

— O próprio.

E aí, gostaram da aparição de Ren?

Curtam e adicionem o livro na biblioteca se quiserem acompanhar os lançamentos!

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