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Capítulo 17 - Apostas

Localização; Arcádia - Palácio Escarlate

Vinte anos atrás…

Ainda eram as primeiras horas do dia quando Maeve percorria os corredores do Palácio iluminados pelos raios de sol.

Ela acabara de ser acordada pela serva e se espreguiçava e bocejava enquanto os passos de ambas ecoavam pelas paredes de pedra.

A ama de Hadrya levava a princesa sem querer para tomar café no andar de baixo.

— Vossa alteza deveria ter se arrumado primeiro. — a serva disse-lhe. — vestido sua armadura para ir lutar mais tarde. Era muito mais fácil.

— Mas estou faminta, se esperar demais, morrerei de fome.

Maeve olhou para a mulher mais velha com um sorriso, que foi retribuído com uma careta.

— Porque é tão teimosa, alteza?

— Gosto de dar trabalho. — ela brincou, e recebeu um bufo em resposta. Então perguntou com seriedade, depois de um momento. — Meu pai está lá embaixo?

Drazhan voltava ocasionalmente de suas viagens até as vilas proximas, recentemente ele havia chegado no Palácio Escarlate, não com boa notícias sobre as enfermidades ou sobre os demônios, mas pelo menos ele estava bem.

— Graças aos deuses não! — a serva juntou as mãos parecendo orar e continuou. — Se a rainha a visse assim teria um treco e eu seria punida.

Maeve olhou confusa para sua camisola longa e folgada. Não era nada comprometedor para sua mãe não gostar, Hadrya nem tomava café com ela e seu pai. A rainha muitas vezes esperava ambos terminarem suas refeições, para ir com Andreas logo depois ou simplesmente fazia o inverso. As únicas exceções de encontros em família eram o jantar.

Mesmo assim, Hadrya ainda gostava de vestir a princesa elegantemente e a corrigir. Maeve detestava, porque ou era usar armadura ou vestidos, onde um era pesado e o outro apertado, mas ainda assim ela trajava o que era necessário sem reclamar.

Embora hoje ela estivesse com preguiça de se vestir adequadamente, seu estômago roncava demais. Quando se alimentasse, faria o que tivesse que fazer.

A serva então murmurava baixinho e Maeve abaixou o ouvido para escutar. — Ele está no escritório com sua mãe e aqueles magos do outro reino. Eles marcaram uma reunião de última hora.

Maeve piscou os olhos parando de andar. — Sério?

Ela recebeu um aceno.

Drazhan e Hadrya não deixaram que fossem revelados seus planos aos criados, soldados ou qualquer outra serpente. Assim, a grande maioria do povo de Arcádia desconhecia que Maeve treinava com os gêmeos o controle de seus poderes todos os fins de tarde. O rei não queria essa atenção.

Isso não chateava Maeve, mas a sua ocultação de informações a ela sim. Pois havia se tornado contínua, como se eles não confiassem na própria herdeira.

Ela suspirou, fechando os olhos em descrença, totalmente desanimada.

— O que foi alteza? — A serva questionou alisando seu ombro levemente.

— Nada. — ela respondeu quando encarou a mulher mais velha e depois disse uma mentira que pensou de última hora. — Me esqueci que hoje o treino é mais cedo. Terei que me trocar.

— Como assim? Vossa alteza não disse que estava com fome?

— E e-estou! — Maeve gaguejava. — Mas irei me trocar rápido, assim p-pego uma fruta! E vou…

— Alteza!

Maeve foi repreendida, mas pegou as mãos da serva e as apertou. — Está tudo bem! Você pode descer primeiro e… e ajudar as outras a prepararem as refeições na cozinha. Eu me vestirei só, e desço logo atrás.

— Meu trabalho é ajudá-la, princesa.

— Seu trabalho também é me obedecer, e estou te deixando livre de me vestir hoje. — Maeve brincou com um sorriso falso.

A serva suspirou pesadamente e olhou para Maeve com carinho. Apesar de ter sido ama de Hadrya, conseguia ser amável e paciente, muito diferente de sua mãe.

— Certo, princesa. — a mulher disse com um sorriso e elogiou. — Tão adorável.

Maeve voltou alguns passos se desvencilhando da serva. — Agora voltarei correndo para o quarto…

— Sim, não demore! — a serva disse seguindo o mesmo caminho de antes.

A princesa foi disfarçadamente para a direção oposta, ainda olhando para trás para ver se a serva seguia para às escadas abaixo. Ela esperou um pouco, parando no final do corredor ansiosamente, até que, no momento que não ouviu mais barulho algum de pisadas, foi em disparada ao andar de cima como se sua vida dependesse disso.

Após andar um pouco até o escritório de Drazhan, ela espiou a movimentação e encontrou a porta da sala fechada e a barra limpa. Sem nenhum soldado à vista. Eles deveriam ter saído por um curto período, mas certamente deveriam voltar logo.

Nenhum local do Palácio ficava sem vigia por muito tempo.

Maeve então foi até a porta com passos de gato, apoiou levemente as mãos e ouvindo na madeira.

O som de risadas dos seus pais e provavelmente dos irmãos eram altos lá dentro, mas ela não sabia a origem daquela distração na conversa.

Alguém raspou a garganta, era Novak pela forma séria que disse — Vossa majestade quer que nós protegemos o Reino com nossa magia novamente? Querem dizer, somente o Palácio e algumas outras regiões próximas?

A conversa se iniciava e a princesa se segurou para entrar, quase não se contendo. Porém, fechou os punhos e franziu a testa se permitindo ouvir a resposta.

— Sabe que sim! — era a voz da rainha, fria e baixa. No entanto, decisiva.

— Ficaríamos gratos se fizessem, rapazes. — Drazhan argumentou, como se caminhasse pela sala enquanto falava. — Os reinos de Arcádia e Wizard não tem mais uma aliança, embora sei que vocês também não estão mais com eles…

A pausa indicava tensão nas falas e Maeve absorvia tudo indignada. Cada palavra que saia da boca de seu pai.

— E como também não temos alguém para isso, resolvi pensar em vocês... O Conselho pensou!

A princesa rangeu os dentes, se perguntando mentalmente em que momento pensou nesses malditos para cuidarem de seu reino, para o seu rei estar a incluindo em uma reunião que ela mal sabia ou participava.

Maeve estava vermelha de raiva enquanto ouvia o silêncio, e o infeliz do mago que a machucou anos atrás o quebrou para variar.

— Teve um preço da última vez, e agora terá outro!

— Claro, estamos de acordo. — sua mãe disse a Naim com facilidade. — Qual é o preço?

A princesa se aproximou mais da porta, quase querendo fazer parte da madeira para ouvir as vozes baixas que se estendiam do outro lado da parede. Os magos demoraram para responder pelo que notou. Deveriam estar pensando na moeda de troca. Seria algo muito valioso se Maeve fosse imaginar, mas ela não precisou mais quando a resposta veio.

— Mais poder é claro. — Novak disse lá dentro. — Como é com a ajuda que vocês fornecem a Maeve…

Ajuda? A princesa queria rir ao mesmo tempo que engolia em seco.

O que eles estavam querendo dizer?

Antes de Maeve saber o restante da conversa, ela ouviu o barulho da armadura dos soldados vindo e correu por instinto para o caminho que veio deixando o escritório e a reunião para trás. Ela não fez tanto barulho quanto pensava que tinha feito, mas seu coração palpitava tanto quanto se tivesse. A princesa segurou a mão em seu peito enquanto respirava rapidamente e descia as calçadas para ir tomar café.

As palavras dos gêmeos e o do seu pai ecoando em sua cabeça e fazendo sua têmpora doer.

Eles faziam um outro acordo e pelo que Maeve entendeu os gêmeos, se não concordaram, iriam fazer. Os magos estavam por um triz de aceitar e seus pais também.

Ela só não compreendeu porque mais poder? O que Hadrya queria dizer? Como os gêmeos teriam e como sua mãe iria fornecer? Passou pela sua cabeça que o poder de seu tio Andreas… Como ele conseguiu?

Antes que pudesse ter seus pensamentos claros, sentiu repentinamente uma mão tocando seu braço fortemente, a assustando logo em seguida com um pulo para trás.

Maeve se virou para a serva com os olhos arregalados jurando que seria um dos soldados.

A mulher à sua frente tinha uma carranca e cruzava os braços.

— A princesa não falou que ia se arrumar?

Maeve abriu a boca e fechou com surpresa e passou a mão pelo rosto tentando raciocinar.

Após um momento respondeu com um sorriso fraco. — Eu não consegui vestir a armadura… Tem razão quando diz que não consigo só.

A serva a olhou incrédula deixando os seus braços caírem. — Venha alteza!

Maeve foi pega pelo antebraço como uma criança birrenta e foi levada para o seu quarto de onde havia vindo. A serva falava o quanto ela era teimosa e desajeitada e Maeve apenas ouvia perdendo qualquer vontade de treinar e de ir comer. Mas sabia que perguntaria aos gêmeos que acordo eles fizeram quando se encontrassem com eles mais tarde.

***

Era mais de meio-dia quando Maeve descansava nos bancos de pedra construídos no pátio. Sua cabeça girava à medida que as horas passavam e ela tentava descobrir o que a reunião significava? Chegou um momento que ela desistiu de descobrir, pensando que não encontraria as respostas se enchendo de perguntas. Eles iriam dizer o que ela pedisse, e se não fizessem, Maeve estava disposta a obrigá-los a falar.

Sua carranca crescia e o seu suor caía de sua têmpora enquanto ela dispensava os pensamentos analisando com interesse as lutas que se desdobravam entre os soldados serpentes.

O barulho da espada tinia no pátio, sendo o som ouvido junto com o dos homens gritando uns com os outros nos duelos. A princesa observava o mal desempenho de alguns com tristeza, e sentia pena deles quando o comandante quase os crucificava por errarem.

Desviando a atenção de Sor Ichirro. Ela olhou para Hiro, que também descansava ao seu lado, o brilho de adira estava entre eles e refletia nos olhos do humano que parecia bem concentrado ao apreciar alguns rapazes serpentes, um em específico.

Era uma serpente jovem como eles, talvez com mais de cem anos. Que se desviava bem dos golpes e abaixava a cabeça para não ter o pescoço cortado. Seu desempenho interessava Hiro de alguma forma, e Maeve ergueu sua sobrancelha um pouco, tentando desvendar aquilo. Principalmente quando a luta terminou e a serpente devolveu o olhar para o humano com um sorriso.

Maeve piscou, percebendo logo depois o nervosismo de Hiro ao engolir em seco e disfarçar alongando suas pernas, quando ainda estava sentado.

Ele não pareceu prestar atenção em Maeve ali do seu lado o observando, e ficou mais evidente quando ela perguntou. — O que foi isso?

— O que? — Hiro se virou com os olhos arregalados.

Parecendo compreender depois de um instante, o que ela perguntava. Sua pele bronzeada, ficou levemente rosada, algo incomum de se ver quando se tratava dele.

Maeve sorriu dando uma cotovelada de leve em seu braço. — Você está admirando os rapazes, Hiro?

— Não fale bobagens, princesa.

Ele ficou sério, a vergonha se dissipando de sua face subitamente. Hiro voltou seu olhar para as lutas em silêncio.

Maeve observou-o com a testa franzida e refletiu.

— Hiro sabe que as serpentes não condenam o interesse de um homem pelo outro…. — Ela explicou. — Não é comum, mas… é permitido.

Ele se virou para ela, quase ofendido.

— E é por isso que os outros reinos também têm um olho ruim sobre as serpentes. Eles condenam brutalmente esses atos indecentes.

Maeve o avaliou com a boca aberta.

Infelizmente era verdade, os outros três reinos eram muitos mais brutais em quaisquer condenações e estavam dispostos a punir os que infringiram as regras com ira nunca vistas, e como variava muito de lugar para lugar, as serpentes eram um dos povos mais brandos. Onde ninguém que habitava em Arcádia era castigado por pequenos atos como esse, enquanto nas outras terras como Zamoria poderia ser condenado até a morte.

Maeve agradecia sempre por ser de sua espécie. E imaginou se fosse uma bruxa e morasse em Calisto, certamente, já teriam a matado afogada ou queimada em uma fogueira, como já havia ouvido alguns contarem.

Após franzir a testa com o pensamento assustador, ela disse-lhe finalmente com calma. — Não penso que o amor deve ser limitado assim… e você não está em Calisto ou em qualquer outro reino para viver se escondendo.

Hiro não tinha coragem de olhá-la nos olhos, mas ainda assim tentava esconder suas emoções em uma expressão de seriedade que não convencia Maeve em nada.

— Eu nunca te julgaria, Hiro!

— Porquê a princesa não vai gostar de algumas mulheres então?

Maeve gargalhou para a impaciência dele ao perguntar, sua risada chamando a atenção dos outros soldados, incluindo o que ele encarava com interesse. A curiosidade despertava no pátio mas logo se dissipou com os homens indo seguir suas vidas e a risada de Maeve morrendo.

Seus olhos estavam cheios de lágrimas quando respondia com dificuldade.

— Não penso que seria bom para mim assumir esse gosto... — ela então falou com seriedade. — Eu quero focar exclusivamente no meu treinamento.

Ele acrescentou categoricamente. — Eu também.

Maeve acenou deixando a conversa com Hiro morrer e focando novamente nas lutas. Ela não perdeu o olhar contínuo entre o humano e a serpente que parecia bem atraída para ele, mas não insistiu, principalmente quando uma conversa se iniciou, chamando sua atenção.

— Sabe aqueles magos que foram expulsos de Wizard? — Um homem baixinho perguntou a dois outros soldados.

Eles estavam em trio, e conversavam bem próximo e ao mesmo tempo longe dela. O barulho das espadas se misturava com a voz deles, mas ainda assim Maeve ouviu.

— Esse exílio é uma especulação, não? — Um mais robusto e alto questionou, polindo sua espada em uma pedra feita exatamente para afiá-la.

— Não importa se é ou não… Eles parecem perigosos. — O que estava em pé descansando contra a parede dizia. — Aqueles senhores da cidade que volta e meia passeiam pelo Palácio parecem bem próximos a eles.

— A Lady bonita e o seu irmão gêmeo?

— Sim, grandão. — O baixinho respondeu. — Os quatro são quase sempre vistos juntos na cidade. O que fazem? Ninguém sabe, mas é inegável o quão próximos são uns dos outros e da nossa rainha.

— Cale a boca! A princesa está sentada próximo. — um sussurrou quase inaudível.

Antes deles finalizarem a conversa, Maeve já tinha virado o rosto novamente para Hiro e fingindo não escutar nada. Mas sua tensão e franzir de testa dizia o contrário. Ainda assim os homens não conseguiram ver suas reações ou sua atenção até alguns momentos atrás.

O seu coração palpitou, competindo com o barulho das espadas que logo voltaram a encher seus ouvidos novamente. A conversa dos homens se dissipou e depois o trio estava passando em sua frente para ir lutar.

Ela apenas observou quieta e acenou de volta quando eles fizeram como se nada tivesse acontecido.

Com um suspiro ela perguntou ao humano baixinho. — A Lady e o Lorde Ruan são próximos dos magos Naim e Novak?

Hiro se virou para ela com uma sobrancelha erguida quando respondeu. — Parece que sim… quando fui à cidade algumas vezes notei eles juntos muitas vezes. Porque?

— Nada… curiosidade apenas! — ela disse rígida, depois se levantou. — Irei pro meu treinamento.

Hiro a seguiu. — Ainda tá cedo.

— Eu sei, mas quero treinar meu poder.

— Eu irei também, princesa.

Maeve segurou sua mão e o pôs para sentar novamente. — Não precisa! Vai no horário marcado. Até lá irei usar meus poderes sozinha.

Hiro acenou em desistência e Maeve se afastou rapidamente do pátio, se desviando do comandante e das serpentes selvagens. Ela não queria dar satisfação de sua saída, apenas pensava em ir para a floresta e refletir sobre o que ouviu nas últimas horas sobre os gêmeos.

Sua cabeça estava confusa quando ela pegou sua égua do estábulo e seguiu em disparada pelas árvores altas e pelo caminho que a levava até o campo que treinava todo dia com os irmãos magos. Eles ainda viriam mais tarde, mas ela queria ir mais cedo para pensar e descontar sua raiva. Pelos menos tentado sozinha conseguiria fazer algo. Quando eles não a ensinaram nada sobre suas chamas, apenas mandavam ela queimar árvores e só.

Maeve ia até as profundezas da floresta que estava familiarizada, e cerrava os punhos nas rédeas, notando algumas queimaduras no solo que havia feito por ali sem querer. Às vezes suas chamas seguiam caminhos que ela não tinha controle e assim eram deixados rastros como os que ela via agora em mais de trinta árvores a frente.

Por sorte os animais haviam deixado essa área, não todos, mas grande parte sim quando notava a bagunça que Maeve fazia, e as serpentes eram proibidas de irem espiar para não se machucarem, sendo só permitido a princesa, Hiro e os gêmeos.

Em pouco tempo, Maeve chegou no local e desceu do cavalo o amarrando em um pinheiro. Quando terminou, se afastou e olhou para o céu ensolarado enquanto caminhava. As sombras impediam sua visão completa e seus olhos perdiam-se no verde e no som dos pássaros.

Maeve suspirou e retirou sua luva de couro, que usava para segurar a espada. Em seguida, observou a marca com atenção, concentrando-se apenas em seu poder e na ira que as mentiras lhe causavam. Seus dedos eram quase uma fornalha quando ela mirou sua palma para o terreno aberto à frente, que logo foi tomado pela intensidade do vermelho que se espalhava.

Palmas altas soaram então atrás dela, causando um choque em Maeve que a desconcentrou ao ponto de seu poder falhar aos poucos e cessar de vez. As chamas no campo ainda estavam lá quando ela encarou Naim com surpresa, que logo se tornou raiva ao franzir a testa.

Ele apenas sorriu. — Deveria ter cuidado ao brincar com fogo. Pode se queimar, princesa.

Maeve estreitou os olhos ao encará-lo com desprezo. — Eu lhe ofereço o mesmo aviso, mago.

Ele diminuía a distância de ambos e as folhas secas do chão se partiam com seu peso. Maeve apenas cerrava os punhos, sua fúria aumentando a cada segundo que se passava com a presença do mago.

O seu desdém por ele era tamanho. Desde o dia que ele a machucara, Maeve nunca se esqueceu. Apesar de ter passado por cima na época, ela apenas o tolerava por causa de Hiro, que poderia ser ferido caso brigassem novamente, pois ambos se viam apenas no treinamento e raramente estavam a sós como agora. E isso fez seu instinto ficar atento.

— Está sempre chateada, princesa. — ele disse. Seu manto escuro sobre seu corpo e um sorriso despreocupado no rosto. — Talvez porque ainda ressente dos meus atos ao detê-la quando estava descontrolada.

Maeve revirava os olhos para a provocação descarada e para a lembrança. Naim sabia dos seus sentimentos sobre a sua pessoa e ainda assim debochava das suas atitudes, por isso ela o considerava um homem detestável, não entendendo a real utilidade dele e do seu irmão para a sua mãe.

Ao ouvir suas palavras hostis ela o avisou. — O senhor deveria tomar cuidado com as suas palavras sobre a minha pessoa. — Sua carranca se estendeu. — Está evidente que o cavaleiro não sabe nada sobre mim ou sobre o seu lugar.

O olhar tenso entre os dois durou, Maeve se endireitando e levantando o queixo. Não era de seu costume abaixar a cabeça para ninguém. Nunca foi e não seria. Ela era determinada demais para se submeter, teimosa como uma mula seu pai brincava.

Naim apenas deu um sorriso e abriu sua mão levemente.

As pernas de Maeve andaram para trás bruscamente, um sinal claro de seu medo que Naim não perdeu.

O coração da princesa batia forte, enquanto esperava. O que? Não sabia, mas sentia seu instinto, seu pulso coçava e ela tinha vontade de usar mais o seu poder. De usar contra ele.

Querendo ou não, Naim era um homem. Um mago forte pelo que presenciou, que havia a machucado uma vez e que poderia fazer de novo se quisesse. E ela não duvidava que ele queria.

— Sei exatamente o meu lugar e o seu, vossa alteza! — Ele dizia, sua magia surgindo em sua palma. Eram apenas faíscas de seu poder que faziam estragos. — Você é a escolhida… E a diferença entre mim e você é que apesar da princesa ser mais forte, ainda assim precisa de alguém para auxiliá-la.

Maeve ouviu suas palavras duras enquanto observava a mágica com receio. Ela odiava tanto. Depois encarou o mago infeliz com fúria. — O senhor se esquece que apesar de saber usar o seus poderes ainda assim é o primeiro que almeja mais poder da minha mãe…

A princesa observou a testa à sua frente franzir e um sorriso de escárnio sumir. O que estava todo firme e concentrado parecia cair um pouco em confusão.

— Como sabe?

Ele nem ousou negar e antes de Maeve responder ele já tinha feito por cima.

— Espiou de trás da porta.

Ela engoliu em seco e perguntou sem rodeios. — Ela os protege tanto… porque? O que ela esconde com você e seu irmão e porque ela te ofereceu poder?

Ele olhou Maeve de baixo acima como se fosse um absurdo ela perguntar. — Tem que parar de fazer essas perguntas acreditando que eu irei responder facilmente.

— Talvez você vá! — Maeve desafiou.

Os dedos do Naim então se fecharam, sua mão caindo e a proximidade deles diminuindo enquanto ele sugeria. — Que tal fazermos uma aposta.

Ela engoliu em seco quando perguntou. — Do que se trata a aposta?

Ele a encarou. — Seu poder, contra o meu!