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Humanos (parte 2)

O javali sanguinário era muito grande, comer ele todo seria bem dizer impossível, farejei o ar novamente e percebi que os humanos não estavam muito longe, o cheiro de chuva estava se aproximando e o céu já começou a escurecer com as nuvens cinzas e pesadas. Separei um pedaço grande da coxa da criatura usando meus dentes e garras e comecei a caminhar na direção deles. Meus status estavam progredindo lentamente, acredito que se fosse em alguma nível o Mc já estaria perto do nível 50 com uns poderes bem over power, mas não tenho pressa quanto a isso, é o meu segundo mês de vida nesse lugar, talvez eu seja mais novo do que aquela criança no colo da mulher. Uma informação interessante apareceu ao lado da minha raça de status.

Raça: lobo negro (raro) evolução disponível no lvl 10***

Então seria possível evoluir, talvez eu ganhe alguma habilidade nova, apesar de que já havia ganhado outra hoje por tanto usar caminho das sombras.

Habilidade aprendida

Marionete das sombras (lvl 01): cria uma cópia do usuário puramente de sombras, permitindo lutar ao seu lado, sua força é equivalente a metade da força do lançador. 40 mana

Seria muito útil no futuro e talvez ficasse melhor conforme subia de nível, é sempre assim na verdade, minhas outras skills subiram de nível também e senti a diferença gritante que isso fazia, caminho das sombras estava cada vez mais intensa, já não era possível ouvir meus passos quando estava correndo e o melhor de tudo é que não preciso de mana para usá-la. Precisava fazer minha meditação também, garantes meu 1 ponto de atributo diário, pode parecer pouco mas em alguns anos o montante seria esmagador.

Enquanto caminhava a primeira gota de chuva tocou o meu corpo, logo depois a segunda e a terceira, em instantes já estava todo encharcado, minha pelagem continuava quente me protegendo do frio e caso quisesse me secar ainda havia a respiração de fogo pra fazer esse trabalho. O rastro do cheiro dos humanos começou a se dispersar mas por sorte já estava perto suficiente para saber onde eles pararam, uma caverna se mostrou segura e foi ali que resolveram descansar enquanto a chuva caia. Parei no alto de uma árvore próxima e consegui ouvir a conversa deles.

- Ele está gelado papai, precisamos conseguir acender uma fogueira. Vou começar uma magia de cura. - pelo visto o guerreiro imprudente estava passando por maus bocados.

- Tentarei encontrar alguns galhos, mas a chuva deve ter molhado tudo já.

Infelizmente eles não conseguiriam acender uma fogueira, isso era óbvio, a não ser que possuíssem uma boa fonte de fogo, e se for pra depender do mago eles iriam congelar de frio. O som das pedras se chocando a falha tentativa de gerar uma faísca me irritaram, pulei da árvore no instante seguinte e me sentei na entrada da caverna ainda usando o caminho das sombras onde névoas negras cobriam todo o meu corpo e só meus olhos eram visíveis. Ok, talvez eu seja assustador sim.

A mulher foi a primeira a me notar cutucando o braço do guerreiro chamando sua atenção, este que assim que me viu sacou sua espada e ficou em posição de ataque entre eu e sua família. Me senti mal por ele, o cara está ligado no 220 a não sei quantos dias, lutou contra um javali sanguinário, tentou fazer fogo com materiais úmidos e ainda tem que lidar com um lobo negro gigante.

Dei um passo à frente ainda com a peça de carne na minha boca e todos deram um pra trás, o movimento se repetiu até que eu pudesse alcançar o amontoado de galhos que ele juntou, deixei a carne ao lado e parei em cima do projeto de fogueira sem quebrar o contato de olhar que estava tendo, ele estava assustado, poderia me atacar a qualquer momento e talvez eu não seja tão resistente quanto o javali. Minha respiração foi se aquecendo e num instante estava despejando fogo sobre a fogueira, não tinha como não queimar as minhas chamas eram diferentes, desta vez não estavam vermelhas como as chamas infernais da bola de fogo, mas o seu calor era incontestável para a água que deixava aqueles galhos úmidos, só parei quando vi que ela poderia se manter. Empurrei a carne na direção deles e comecei a me afastar até estar na entrada da caverna novamente. Todos me olhavam assustados e claramente com dúvidas do por que eu estava fazendo aquilo por eles, mas ainda sou um lobo não posso me comunicar então apenas me sentei na entrada e esperei seus próximos movimentos.

- O lobo acabou de ajudar a gente ou eu já morri e estou vendo coisas? - o projeto de mago foi o primeiro a se pronunciar.

- Talvez ele seja o guardião da floresta? - o guerreiro apontou seu ponto, cauteloso se aproximou da fogueira e aqueceu suas mãos, logo todos também se aproximaram e fizeram o mesmo.

- Podemos pegar isso? - apontando para a carne Aghata questionou esperando que eu pudesse responder de alguma forma, mas apenas balancei o rabo e pelo visto ela entendeu meu recado. - Obrigada mais uma vez por nos ajudar.

A chuva seguiu caindo pela noite, eles estavam se alimentando e finalmente tiveram uma boa noite de descanso, o guerreiro fez de tudo para não dormir, mas a exaustão o pegou de jeito o levando para um descanso necessitado. Eu dormi um pouco, ainda alerta aos movimentos da floresta, mas antes que o sol pudesse nascer me escondi em meio as matas longe do grupo mas ainda os observando. Ainda haviam mais dois dias de viagem, claro que eu fui o assunto em todo o momento, não tem como evitar, sou charmoso.

Eles pararam poucas vezes para descansar e caminhavam por horas, o cheiro deles se tornou familiar pra mim, sinto que independente do dia que os encontrar saberei quem são. Alguns javalis apareceram no caminho, mas tudo correu bem com minha ajuda. Minha presença não os assustava mais, mesmo não caminhando lado a lado com eles, pois sabiam que eu estava por perto, eram minhas presas aliás. No final do último dia de viagem resolvi me atrever um pouco, o grupo estava sentado em volta de uma fogueira ao ar livre comendo um ensopado de carne de javali, me aproximei lentamente e me sentei no espaço vazio ao lado da mulher que tinha acabado de amamentar sua criança. Notando minha presença ela sorriu pra mim e eu apenas soltei uma lufada de ar do focinho.

- Algo me diz que ele nos entende perfeitamente. - o mago falou primeiro me encarando e puxando minha atenção pra ele. - Criaturas mágicas ainda são um pouco irracionais, ele deve ser uma criatura mística. Já li em alguns livros que eles nos entendem perfeitamente.

- Impossível ele nos entender. Apenas foi com a nossa cara e está nos acompanhando. - Ícaro era o típico "fala muito e pouco faz". Se Levantou de onde estava e veio na minha direção, ao se aproximar teve a audácia de dizer. - Vem totó, da a pata. - estendendo uma de suas mãos. Esse desgraçado tá achando que está falando com um cachorro? Eu vou comer o braço dele! Aproximei lentamente meu rosto da sua mão estendida e num movimento rápido coloquei toda a extensão do seu braço até o cotovelo dentro da minha boca, pressionei levemente meus dentes não chegando a machucar mas caso ele puxasse o braço iria ficar sem sua pele. - Ah! Ele vai comer meu braço! - ótimo, estava me divertindo com seu desespero, a ponto da minha cauda balançar divertidamente atrás de mim. - Alguém me ajuda!

- Você faltou com respeito, devia pedir desculpas. - Aghata se pronunciou tão calma que nem parecia que seu filho iria perder um braço no momento, mas ela sabia que eu não faria isso.

- Eu não vou pedir desculpas pra um cach… AIAIAIAI! - pressionei mais um pouco meus caninos em seu braço antes que ele me chamasse de cachorro. - Tá bom tá bom, Desculpa. Me perdoa! - já que ele disse as palavrinhas mágicas o soltei das minhas presas.

- Eu falei que ele nos entende. - Ravi confirmou sua teoria. Aghata apenas sorriu e eu pude olhar pra criança de mais perto, seus enormes olhos verdes me encaravam e seu cheiro era doce chamando minha atenção. Uma de suas mãozinhas se estendeu na minha direção e eu aproximei meu rosto dando lambidas na mesma, algo que tenho que afirmar é que humanos tem um sabor muito bom, claro que não iria comer eles, mas entendia o por que de monstros sempre os perseguirem. O bebê começou a sorrir brincando com meu focinho enquanto eu lambia seu rosto todo, pelo menos ele não tinha medo do grande lobo de olhos vermelhos ao seu lado.

A filha deles que estava sentada ao meu lado esquerdo se chama Alice, estava curiosa também querendo brincar, abaixei minha cabeça pra ela e sem pestanejar ela começou a passar as mãos no topo, o problema foi quando chegou atrás das minhas orelhas e eu senti uma moleza enorme no corpo deitando minha cabeça em seu colo, com isso só melhorou já que ela passou a usar as duas mãos para fazer o trabalho. "Isso humana, aí mesmo, faz carinho no Lobão."