Agnes e Angela estão no terraço da Velazco, parece mais um jardim de tantas flores no lugar. Ariel está com o pai dela, que tinha a buscado pela tarde.
— Tamara foi até o hospital da sua mãe para conhecer as crianças que vocês tratam, Anna ainda deve estar dormindo, pois, liguei e ela não atendeu.
— Não, ela foi caminhar... Sabe como ela é toda fitness. — Agnes comenta com um sorrisinho, tomando vinho de sua taça em seguida. Angela nega com a cabeça.
— Tenho preguiça só de ver a animação dela. — A Iglesias brinca. Agnes ri, mas nem de longe parece muito animada. — Você sabe se a Ravena vai querer sair hoje à noite?
— Você não ia embora hoje à tarde?
— Eu ia, mas não tenho o que fazer em Miami esses dias mesmo. — Angela fala com desdém, Agnes revira os olhos e caçoa:
— Burguesa.
— Não nego. — Angela balança os ombros desdenhosa. — Meu pai não me deixa trabalhar naquela merda de empresa, provavelmente só vou trabalhar quando ele se aposentar ou morrer. Eu não para ficar sem fazer nada, sinceramente.
— Se fosse pelo meu pai eu estaria trabalhando na madeireira dele e se fosse pela mamãe eu trabalharia no hospital de forma remunerada e não voluntária, apesar de ela gostar de tortas também e me apoiar nesse negócio.
— Você faz um serviço muito bonito, tenho orgulho de ser amiga da melhor confeiteira do mundo e do ser humano mais solidário que eu conheço...
— Melhor confeiteira do mundo? — Agnes questiona achando graça de Angela lhe puxando o saco. — O que você está querendo por me elogiar?
— Hmm... Sair com a Ravena?
— Desculpa, mas acho que não rola. — Velazco responde com pesar. — Se fosse para acontecer Ravena já teria chegado em você, mas você ainda pode tentar se quiser.
— Tentar? — Angela questiona desacreditada.
— Sim.
— Depois dessa desanimada que você me deu, está doida? Esse mico eu não quero passar.
Agnes ri e então balança a cabeça em negação.
— Não seja boba, vai que... — A Velazco insiste, mesmo sabendo que não vai adiantar nada.
— Já pago mico o suficiente na vida, ainda mais para levar mais um em grande escala. — Angela brinca. — Aquela mulher é tão linda que eu choraria depois de levar um fora.
— Angie, você desiste muito fácil... Além de ser dramática demais.
*****
Camila saiu da delicatéssen com Bridget, que lhe deixou em casa. A latina se arrumou para ir falar com Agnes Velazco, ela não sabia o que iria rolar, mas em seu interior desconfiava que não seria nada bom.
— Vai dormir fora novamente, Karla? — Consuelo questiona desconfiada, ainda assim com um sorrisinho para a filha.
Camila para na entrada da sala para olhar sua mãe no sofá, com o celular em mãos.
— Acredito que não, mamá. — Camila responde sem muita animação.
— Certo, mas você não vai contar com quem tanto sai? Você tem dormido fora...
— Mamá... Esse não é o momento. — Camila tenta conseguir uma desculpa para falar para a mãe, mas no final acaba sendo apenas honesta. — Fiz algo errado e ela provavelmente vai me dar um pé na bunda, nem vale a pena que a senhora saiba quem é.
— O que você fez? — Consuelo cruza as pernas, deixando o celular de lado. — Você a traiu, Karla Camila? Eu não te criei para tratar assim as pessoas com que se relaciona.
— Eu menti para ela. — Camila fala com pesar.
— De certa forma é uma traição. — A mãe fala normalmente, sem querer parecer acusadora porque sabe como Camila pode ficar irritada se contrariada, ainda mais por ela. Karla Camila tem uma implicância com a própria mãe, que Consuelo nunca foi capaz de descobrir o motivo.
— Sim, eu sei... Vou resolver tudo agora, dependendo de como seguir em um momento ou outro vou ter que contar quem é. — Camila responde, Consuelo concorda um pouquinho animada e esperançosa por sua filha, Camila só conseguia pensar em como sua mãe ficaria irritada quando soubesse quem é a tal mulher. — Agora tenho que ir.
— Boa sorte, filha.
Camila sai de casa em seu carro, passando pelo caminho mais longo para demorar um pouco mais para chegar. A latina está nervosa, Angela tendo falado ou não sobre não gostar de tortas ela resolveu que vai contar a verdade para Agnes. Ela não merece receber menos que a verdade.
Camila estranha as luzes da confeitaria ainda estarem acesas, passa das sete da noite e o lugar fecha um pouco antes. As portas não estão trancadas, mesmo receosa Camila entra no estabelecimento. Sigrid tinha a intenção de ir embora, mas ao ver a latina entrando na confeitaria ela resolve voltar para os fundos do local e avisar para Agnes que a namorada dela está ali.
— Avisei para a Chefinha que está aqui... — Sigrid sorri animada para Camila, a latina admira a animação da mesma após um dia de trabalho. — Agora tenho que ir, até mais!
— Obrigada por avisar. — Camila fala quando Sigrid passa por si perto da porta. — Até mais e boa noite.
— Boa noite, Namorada-da-Chefinha. — Sigrid acena, segurando uma sacola nas mãos, antes de trancar Camila dentro da confeitaria.
A latina senta em uma das cadeiras perto do expositor das tortas, não havia nenhuma ali. Agnes logo abre a porta da cozinha, ela tira o uniforme branco, incluindo a touca. Ela tem dois pratos em mãos e quando se aproxima Camila sente seu estômago embrulhando. Ok, ela já estava fazendo muito sentindo todo aquele cheiro doce na confeitaria e não passando mal, ter uma torta perto de si comprometeria bastante sua resistência.
— Boa noite, Camila. — Agnes está séria, não fez uma brincadeira ou deu um beijo no rosto de Camila, ou o que fosse. Era um péssimo sinal apitando na cabeça de Camila, ela está fodida.
Duas fatias de torta em cada prato são colocadas na mesa em frente a latina, ao todo quatro fatias. Camila sente que está em uma sala de tortura. Ela olha Agnes, que senta em sua frente.
— Ok... — Camila murmura, olhando para baixo ao falar e logo voltando a atenção para Agnes. — Você soube, não é?
— Sim.
— Eu não queria ter mentido. Desculpa...
— Mas mentiu.
— Sim, eu sei. — Camila está agoniada, nem olha para aquelas tortas na mesa. — Você ama tudo que isso envolve e eu não queria te decepcionar.
— Mas decepcionou ao mentir, Camila, não faz sentido algum, pois não adiantou de nada!
— Eu sei! Peço desculpas ao inventar uma coisa tão séria como o diabetes, não queria que ficasse insistindo para que eu comesse! Eu odeio tortas, ainda mais as tortas doces! Meu estômago embrulha, fico com náusea de pensar nisso. — Camila fala a última frase sentindo o próprio estômago vibrando de uma forma nada agradável. — Desde aquela competição de tortas que a gente foi junto, eu não consigo... — Ela gesticula apontando para as tortas e balançando a cabeça de forma negativa. — Não consigo olhar para essas coisas e não imaginar que nós poderíamos ter sido felizes juntas, que poderíamos ter tido um relacionamento, ou que poderíamos ter uma família... Eu culpo minha mãe e as tortas por aquela confusão por aquele concurso bobo de tortas. — Ela engole em seco, começando até a suar sob o olhar de Agnes, não sabe nem o que Agnes está transmitindo com o olhar, lhe parece indecifrável no momento. — Mas pior culpa que eu carrego, é a minha culpa! — É a primeira vez que Camila Oleja admite aquilo, ela não impede de algumas lágrimas descerem por seu rosto. — Sabia que minha mãe viraria inimiga da sua mãe, e elas ainda são, mas não foram elas que se afastaram da pessoa por qual ainda sentem amor, fui eu! Essas merdas de tortas me lembram que eu fui covarde, que eu fugi de você...
Camila para de falar, juntando a sensação de sufocamento mesmo depois de falar tudo que sempre se impediu de colocar para fora e a náusea crescente.
— Eu entendo o seu lado, mas você não acha que poderia ter sido sincera antes? — Agnes não fala de forma acusatória, ela sente empatia por Camila, mas ainda assim não muda que ela mentiu. — Eu odeio mentiras Camila, você deveria ter sido apenas sincera comigo desde o começo.
— Ok, desculpa. Eu não queria ter feito na...
Camila não consegue completar a frase, ela apenas sai correndo para o banheiro. Agnes fica um pouco desnorteada, mas logo vai atrás da latina, encontrando-a perto do sanitário após vomitar.
Agnes se abaixa ao lado de Camila depois de pegar papel para que limpasse a boca. A respiração da latina está acelerada e ela se sente um lixo, além de estar com tanta vergonha que só quer ser capaz de correr novamente e dessa vez para casa.
— Eu fui covarde... — Camila murmura em meio ao choro, ela abraça as pernas e Agnes continua ali, amparando-a, após limpar a boca de Camila mais uma vez.
— Camila, se acalma... — Agnes pede, apoiando o queixo na cabeça de Camila e envolvendo os braços pelo corpo dela.
— Eu sou uma grande covarde!