Camila Oleja dormiu no meio de 'Coyote Ugly', no sofá mesmo. Agnes assistiu ao filme todo, mesmo que precisasse acordar cedo não muito tempo depois. Ainda achava o filme idiota, mas se divertia vendo Camila feliz, pelo menos antes dela dormir.
Agnes estava se sentindo nostálgica por estar sentindo o seu coração disparado ou suas mãos suando, só de estar perto de Camila. E quando ela pensava no que fizeram na escola ou no banheiro, só fazia com que seu coração acelerasse de tal forma que quase saía pela boca. Se achava uma tola, depois de quase 17 anos ainda ficava mexida com uma mulher que mal conhecia agora.
Ela nunca soube que Camila estava na cidade e sendo uma família conhecida como a dos Oleja, ainda mais numa cidade com a população de mais ou menos 16 mil pessoas, ela pelo menos ficaria sabendo de alguma coisa. Mas pelo que entendeu também, Camila não parecia muito animada para voltar, pela forma que falava de Tifton.
Agnes estava entre querer que Camila ficasse mais tempo na cidade e saber que ela não ficaria.
*****
Camila acordou ao escutar a campainha tocando, Agnes se esticou toda, ainda sonolenta. O sono da Velazco logo deu lugar à agitação, ela balançou Camila e sussurrou:
— Vai para o meu quarto e fica lá até que eu fale para sair. — Camila levanta meio cambaleando por conta do sono e vai para o quarto de Agnes, sabendo onde era graças ao banho que tomou na noite anterior.
Agnes Velazco corre até a porta e se depara com sua mãe e seu pequeno monstrinho. Se Clara Velazco pegasse Camila Oleja ali àquela hora da manhã, Agnes sabia que sua reconheceria uma Oleja de longe e seria o show da semana naquela cidade.
— Mamãe! — Agnes recebeu a criança de 4 anos nos braços e abraçou ela apertado, deixando um beijo rápido no rosto.
— Senti sua falta, pestinha.
— Ainda não desceu hoje? — Clara pergunta, quase como uma crítica.
— Não, deixei tudo preparado ontem, Sigrid e Frigg ficaram responsáveis em abrir. — Agnes explica, dando espaço para que sua mãe entrasse em sua casa, mesmo que não quisesse isso.
— Já tomou café? — Clara perguntou, indo para a cozinha e fazendo o coração disparar em ansiedade, esperava que Camila lhe obedecesse. — Posso preparar se...
— Ainda não, vá em frente. — Agnes rapidamente despacha sua mãe para fazer algo, só assim ela consegue um pouco de paz. — Hoje é dia de alguém ir para a escolinha, estou certa?
Agnes pergunta para a criança, que fica animada com a informação recebida da mãe.
— Sim! Sim!
— Certo, então vamos trocar de roupa... — Agnes leva a filha para o quarto, ficando ali por algum tempo com a garotinha. Assim que Agnes termina de preparar sua filha para escola, ela leva a menina para a mesa de café, mesmo que saiba que Clara provavelmente já lhe alimentou antes.
A campainha toca e por algum motivo Agnes se apressa em atender, por sorte. Ela abre a porta e se depara com Camila em suas roupas de pijama.
— Como?
— Sou uma ninja. — Camila brinca e estende o próprio celular para Agnes. — Me dê seu número, Velazco.
Agnes rapidamente digita seu número, com medo que sua curiosa mãe viesse ver quem estava na porta. Camila está escorada na parede de forma casual, ela nem se importa em estar de pijama, que por acaso nem seu era.
— Pronto, — Agnes entrega o celular de volta, puxando Camila pela blusa larga e selando seus lábios em um beijo rápido — até mais, Oleja.
Camila sai do apartamento de Agnes até meio tonta, ela nem ao menos nota o estabelecimento que fica por baixo do apartamento da Velazco.
*****
Camila chega na casa dos pais e tenta entrar de fininho, sendo pega de cara por seu pai.
— Você não dormiu com a Bridget, não é, Karla Camila? — Alejandro Oleja pergunta com um sorrisinho esperto, sem julgar a filha.
— Como adivinhou: foi minha cara de fugitiva? — Camila aponta para rosto sorrindo debochada e depois apontando para a roupa larga de Agnes que usava. — Ou meu look?
— Sua cara, óbvio. — O pai de Camila brinca. — Estou indo trabalhar, dê uma passada lá.
— Pode deixar.
Camila entra em casa, desviando da cozinha onde sua mãe provavelmente estava fazendo alguma de suas invenções de tortas, como abominava aquilo, só de pensar sentia seu estômago revirar. A filha do meio do Oleja foi para seu antigo quarto, nem desconfiando que ali seria o seu atual quarto em breve.
*****
Bridget Alanis Hanse apareceu na casa dos Oleja pela tarde, consigo ela trazia boa parte das roupas de Camila no carro da mesma. A Soto ligou para amiga e pediu que saísse de dentro da casa de seus pais para ver o que tinha ali, Camila foi animada como um cachorrinho que ganha um brinquedinho novo.
— O que é isso? — Camila questiona assustada, todas suas roupas estavam ali e pelo que percebeu provavelmente todas suas coisas estavam em algumas caixas de papelão à parte. — Bridget, por que minhas coisas...
— Estou oficialmente trazendo você para morar com sua família novamente, desculpa... — Bridget encara Camila e por mais que ache errado o que está fazendo, no momento ela acha que é o melhor para Camila. — Chancho, você sabe... Estou namora há tempos e quero meu apartamento só para meu futuro marido e eu. Além disso você não está em condições financeiras de continuar em Miami, desculpa, Mila, mas eu não sabia como fazer você sair...
— Ok, Bridget. — Camila apenas aceita sem questionar, ela está totalmente irritada por dentro, mesmo que só pareça condescendente com a ideia de sua amiga. — Mas quem trouxe meu carro aqui?
— Meu irmão, lembra que ele estava lá quando saímos?
— Ele mexeu nas minhas coisas, Bridget Alanis? — Camila questiona, mostrando sua raiva, por mais que ela tenha ficado vermelha em vergonha também.
— Eu coloquei suas coisas vergonhosas nas caixas e o resto foi meu irmão... — Bridget tenta se aproximar de Camila, ela sabe que é uma má ideia, porém ainda tenta. — Mas você sabe, ele é de boa com as coisas e tratou seu carro muito bem, ele até lavou.
— Ok, obrigada. — Camila se esquiva do toque de Bridget e entra na casa dos pais, deixando a amiga para trás. Ela está furiosa e frustrada por não ter um emprego ou dinheiro para continuar morando em Miami, não queria de forma alguma ter que ficar na Geórgia.
Camila entra na cozinha para pegar um copo de água, na bancada ela se depara com várias tortas, o cheiro chega até ela e seu estômago se revira. Ficando mais irritada, Camila esbarra em uma das tortas e joga pelo chão, saindo do cômodo de forma apressada.
Ela logo dá de cara com sua mãe na porta do quarto.
— Escutou um barulho? — Consuelo questiona, encarando sua filha.
— Sim, mãe... — Camila responde, pensando que não adianta mentir.
— Ai, meu Deus! — Consuelo parece em desespero e Camila instantaneamente fica nervosa. — Foi o gato do vizinho de novo!
Camila suspira em alívio assim que sua mãe sai de perto de si para ir ver as tortas dela.
— Essas tortas... Como as odeio!