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Capítulo 1

Capítulo 1

Alex :

Vocês são pessoas impulsivas? Bem, eu sou. E por conta desse pequeno defeito, acabo de me colocar na pior situação possível. Droga.

Era constrangedor saber que por conta de uma impulsividade besta eu me encontrava querendo enfiar minha cabeça debaixo da terra e não sair nunca mais de lá.

Estávamos em um bar movimentado no centro da cidade. Éramos cinco ali, bebendo e rindo sem nenhuma preocupação aparente. Max, Renan, Vinícius, ele e eu. O motivo de meu coração viver disparado e minhas mãos suarem por conta do meu nervosismo sempre que ele estava presente. Gabriel Bianchi.

Ele estava sentado à minha frente no momento em que percebi o papel roxo em sua mão. Quando me dei conta do que estava acontecendo, pensei em simular um desmaio ou quem sabe gritar a plenos pulmões que eu havia sido abduzido por alienígenas que tomaram meu corpo por um curto espaço de tempo. É isso... Acho que se pensarem que sou louco, esquecerão o conteúdo daquele maldito papel roxo.

Meus olhos estão arregalados de pavor neste momento. E quando o Gabriel me olha de volta parecendo tão chocado quanto eu, ficamos nos encarando.

Ele provavelmente ficou surpreso com o que estava escrito ali e eu querendo morrer ou simplesmente sumir.

A música e o falatório dentro do bar era um pouco estrondosa, mas mesmo assim, por causa do zumbido em meus ouvidos eu não conseguia escutar mais nada que não fosse o martelar desenfreado do meu coração.

Mas pra você que está lendo, entender melhor sobre este momento, eu terei que compartilhar com vocês o começo de tudo isso. Você quer saber como me enfiei nessa enrascada?

Então vem comigo...

Segunda 30/10/21

Meu celular desperta às oito da manhã. Desligo automaticamente, sem nem abrir os olhos.

Ainda estou sonolento por ter dormido tão tarde ontem a noite. Passei a madrugada jogando com meu melhor amigo, Gabriel Bianchi.

Éramos amigos desde que entrei na faculdade. E tínhamos uma amizade muito legal, já que pelo que sei, éramos os únicos gays do nosso convívio. Bom, pelo menos assumidos.

Gabriel é bissexual, e várias e várias vezes já o ouvi dizendo que levava alguma garota para sua casa quando seus pais viajavam e o deixavam sozinho. Mas também, assim como eu, ele mantinha alguns encontros casuais com caras que conhecia no famoso bar Red Moon.

O interessante desse bar, era que podíamos ser nós mesmos sem correr o risco de sermos condenados por pessoas que nos achavam algum tipo de aberração.

Mas voltando pro início do meu dia, tudo estava correndo absolutamente normal, como outro dia qualquer. Tomei meu banho, visto meu uniforme do trabalho, (caso você esteja curioso: eu sou atendente de balcão em uma doceria perto da universidade em que estudo) fico meio período lá, o que não atrapalha em nada meus estudos.

Ligo a tv, por que não gosto de ficar em silêncio completo na hora do café da manhã. Faço um sanduíche simples de frios e um copo de suco de laranja, como rapidamente, e antes de sair verifico se fechei todas as janelas do apartamento dessa vez.

Semana passada esqueci a janela da cozinha aberta e quando cheguei em casa, tinha cocô de passarinho até em cima da mesa. Fiquei puto da vida, mas esse é o preço que se paga por morar em um edifício, onde o dono tinha um viveiro de pássaros silvestres, que ele treinava dia e noite, sabe-se lá para que.

Mas enfim, era o que eu podia pagar. Um pequeno apartamento, com um quarto, banheiro, uma pequena cozinha em estilo americano e uma sala que era até espaçosa. Eu adorava aquele lugar. Já que tudo era aconchegante e eu tinha me empenhado em decorar do meu jeito. Deixando tudo bem no meu estilo.

Eu era um cara fissurado por limpeza, então era uma rotina bem específica minha, chegar do trabalho cerca de uma hora da tarde, fazer a limpeza do apartamento metodicamente e estudar com afinco até o horário de ir para a faculdade. Meus únicos momentos de lazer, eram aos fins de semana quando eu me permitia ir ao Red Moon com os meninos e Gabriel.

Meus pais moravam no interior, e se não fosse pelos esforços deles em trabalharem de sol a sol para me darem a chance de ter direito a um bom estudo eu jamais estaria aqui. Por isso, eu faria tudo para deixá-los orgulhosos das minhas conquistas.

Depois de verificar todas as janelas, saio e tranco a porta.

A doceria onde eu trabalhava, era sem dúvida nenhuma a melhor da cidade. E vendia uma variedade gigantesca de doces, bolos e tortas. Era uma infinidade de sabores que fazia qualquer um ficar maluco na hora de escolher.

Mas para minha sorte, os funcionários podiam escolher um doce no horário de almoço, então, como sou viciado nessas guloseimas, eu não passava vontade.

Tudo bem, tudo bem... É melhor eu acelerar a história né? Me desculpem, já me disseram que eu falo demais quando estou empolgado ou nervoso.

E agora, eu estou realmente nervoso.

Pois bem, pra início de conversa vocês precisam saber o tipo de amizade que eu tenho com Gabriel.

Ele e eu somos polos completamente opostos. Ele gosta de esportes, eu de música. Ele gosta de comida salgada, e você já deve ter percebido que eu amo doces. Eu amo livros e ele adora vídeo game.

Ele me vê apenas como um bom amigo... Enquanto eu... Bom, eu o amo.

Daí você me pergunta: Alex como sabe que o que você sente é realmente amor, se vocês são tão diferentes?

Eu já me fiz essa pergunta inúmeras vezes. Por isso, te respondo com toda certeza possível: Sim. Eu o amo.

Sabe aquele frio na barriga, as mãos suadas, nervosismo, vontade louca de estar com a pessoa a toda hora? Pois é… Além do fato de eu dormir e acordar pensando nele.

Ele é aquele tipo de cara que todo mundo ama. Todo mundo quer estar por perto. O mais popular da faculdade, além de uma bela conta bancária. Eu te falei que ele é modelo nas horas vagas? Não? Pois é... Ele é.

Além de ser filho de uma família podre de rica, ele ainda ganha dinheiro com aquele rostinho perfeito dele.

Ele não sabe, mas eu tenho todas as revistas em que ele apareceu. E vira e mexe me pego olhando para elas quando estou com saudades dele. Sim, sou um idiota estranho.

Desculpa!

Estou falando demais de novo, não é? É que eu me empolgo quando o assunto é Gabriel Bianchi.

Quando chego na faculdade, vou direto para a biblioteca, pois precisava pegar um livro que me ajudaria bastante na matéria de história, mas ao chegar lá há uma aglomeração de meninas com vozes histéricas e risinhos agudos aglomeradas bem no corredor onde o livro que eu preciso está.

- Com licença! - vou tentando passar por elas, não poderia demorar muito para não me atrasar para a aula.

- Hei? - alguém reclama quando sem querer piso no pé de quem quer que seja.

- Me desculpe. Eu só preciso pegar um livro.

- Espere um pouco. Só temos hoje para fazer isso. - a garota diz, com uma voz imperiosa.

As outras meninas me olham aparentemente irritadas com a minha interrupção.

- Só tem hoje para fazer o que? - pergunto, olhando curioso vários e vários papéis roxos que são passados de mão em mão e distribuídos para todas ali, inclusive um desses papéis terminou em uma de minhas mãos.

Era um pedaço de papel retangular, num tom de roxo mais forte. Bem chamativo na minha opinião.

Uma das moças que estavam no centro começa a ler algo e reparo que ela estava com um livro bem velho e gasto na mão.

- Você deve escrever o seu desejo mais profundo em um papel roxo. E no primeiro minuto do Dia das Bruxas deve-se soltar o papel ao vento. Em um lugar alto. Onde o vento levará seu desejo mais secreto para o destino. E se você for escolhido, seu desejo se realizará.

- Ooooo... - os murmúrios de espanto são gerais. Quanta babaquice. Penso comigo mesmo, enquanto vejo todas numa animação alucinante começaram a escrever no pequeno papel.

Um bando de idiotas.

Pego meu livro na prateleira e me viro tentando sair do meio delas. Quando consigo finalmente me afastar, a voz da garota que estava lendo o antigo livro me chama.

- Cooper? Você não irá se arrepender. - o sorriso dela era estranho e sinto um pequeno frio na barriga.

Não digo nada e apenas me viro e continuo indo embora. Coloco o papel roxo no meio do livro que está em minha mão e me dirijo para a sala de aula.

Ao virar o corredor me deparo com uma cena que faz meu estômago despencar. Era sempre assim quando eu o via com outra pessoa.

Meu humor mudava e eu me sentia imensamente triste. Pior era saber que eu não tinha nenhum direito de querer arrancar aquela menina dos braços do Gabriel... E quando ele se inclina e a beija, um jorro de raiva e impotência me toma. Fazendo eu querer fugir dali o mais rápido possível.

Eu não teria cabeça para ficar na aula. Meu coração estava apertado em meu peito como se estivesse sendo comprimido, esmagado...

Você já se sentiu assim?

Eu espero que não... Por que sinceramente é uma sensação horrível de angústia e desespero. Além da impotência de saber que você não pode fazer nada. Éramos amigos há quase dois anos e ele nunca havia olhado para mim de um modo diferente... E eu convivi com isso desde o início. Eu o amei desde a primeira vez que nos vimos. Foi algo tão forte que não me apeguei a ninguém depois disso. Enquanto o Gabriel ficava com homens e mulheres a torto e a direito…

Com esses pensamentos dolorosos caminho até o meu edifício sem prestar realmente atenção nenhuma ao caminho que faço para chegar em casa e quando dou por mim estou no terraço. Em meio a viveiros de pássaros. Alguns estavam presos em enormes gaiolas, mas as aves em sua maioria estavam apenas empoleiradas em cima de vários fios grossos colocados estrategicamente ali.

Me sento em um pequeno banco e fecho meus olhos, recebendo o vento gelado direto em meu rosto. Jogo minha mochila no chão e coloco o livro no banco, ao meu lado.

Eu não sei quanto tempo fiquei ali, me remoendo em tristeza quando meu celular começa a vibrar em meu bolso.

Quando vejo de quem é a ligação, meu peito sofre mais uma vez com meu coração acelerado, descompassado com apenas a foto de nós dois que usei como identificador.

Uma foto tirada em uma festa de divulgação de uma das revistas que ele havia modelado. E foi o primeiro evento que ele me convidou para acompanhá-lo.

Atendo o telefone e sua voz me faz fechar os olhos.

- Alex ? Onde você está? - ele parece chateado. - Eu te vi indo para a biblioteca quando chegou e depois não te encontrei mais. Está tudo bem?

- Está.- Só tenho forças para dizer isso.

- Alex ? O que aconteceu? - ele parece realmente preocupado e isso me machuca ainda mais.

- Gabriel, tá tudo bem... Eu só... Queria ficar sozinho.

- Eu vou até o seu apartamento.

- Não. - me levanto do banco e começo a me sentir mais nervoso ainda. - Não precisa, ok?

- Então me diz o que está acontecendo...

- Não é nada. Eu tive um pequeno mal estar. Mas é sério... Agora eu estou bem.

- Você jura?

Cruzo meus dedos.

- Juro.

- Qualquer coisa me liga.

- Ligo sim. - Continuo com os dedos cruzados. Até que ele desliga. E uma lágrima começa a escapar dos meus olhos.

Eu fico ali olhando o céu escuro se tornar cada vez mais escuro, como se as luzes das estrelas fossem se apagando uma a uma... Tornando a noite escura como breu.

Acendo a lanterna do meu celular, ainda sem vontade nenhuma de entrar em meu apartamento.

Desbloqueio o aparelho e fico olhando para a nossa foto, me lembrando de ter que pedir um belo de um adiantamento para meu chefe pra que eu conseguisse comprar aquela roupa chique.

Na mesma hora vem a minha mente a garota que o Gabriel estava beijando no corredor. Ela era do mesmo nível social que ele. Tão bonita quanto. Eu nunca teria nenhuma chance.

Acho que fiquei ali por algumas horas, sentado, no frio.

Um vento forte começa a rondar o lugar, fazendo com que as páginas do livro que eu havia colocado no banco, ficassem se abrindo uma a uma até parar onde eu havia colocado o papal roxo.

O pego e a voz da moça na biblioteca me vem à mente.

- Você deve escrever o seu desejo mais profundo em um papel roxo. E no primeiro minuto do Dia das Bruxas deve-se soltar o papel ao vento. Em um lugar alto. Onde o vento levará seu desejo mais secreto para o destino. E se você for escolhido, seu desejo se realizará.

Olho para o meu celular e está marcando 23:58.

Hoje é dia 30/10… Faltam exatos dois minutos para o dia das Bruxas.

É loucura eu sei. Mas eu estava desesperado. E isso pedia medidas desesperadas.

Vou até minha mochila, pego uma caneta e escrevo meu desejo mais secreto naquele papel roxo.

EU DESEJO DEIXAR DE AMAR Gabriel Bianchi.

Espero pacientemente dar 12:01. Primeiro minuto do dia das Bruxas e levanto meu braço com o papel em minhas mãos. Quando outra forte rajada de vento passa por mim, eu solto o pequeno papel que é levado imediatamente pelo vento. E quase tenho um ataque cardíaco, por que no mesmo momento, todos os pássaros começam a voar a minha volta, me dando um tremendo susto.

Pego minha mochila e o livro e corro escada abaixo, me trancando em meu apartamento. Durmo pesado a noite toda. Sem sonhos nem pesadelos...

E agora estamos aqui... No Red Moon de frente um para o outro.

Minha alma querendo sair do corpo ao olhar nas mãos do Gabriel, aquele maldito papel roxo.