Ouvir frequentemente as palavras "trabalhe corretamente" faz parte do meu dia a dia. Quantos dias já se passaram sem que eu retornasse para casa? Há quanto tempo que não me alimento de forma adequada? São questionamentos que faço a mim mesma enquanto estou trabalhando. Meus dedos estão exaustos de tanto digitar e meus olhos tremem com a intensa luz do computador. Concluí o ensino médio e sempre desejei encontrar um emprego para sustentar a mim mesma. A motivação desse desejo era simplesmente poder morar sozinha. Meus pais nunca foram atenciosos comigo, e pouco se importam com o que passo ou deixo de passar.
Existem casos na empresa em que as funcionárias estão sendo alvo de assédio por parte do chefe do departamento.
"Meus olhos estão ardendo..." Já faz três dias que estou sentada nessa cadeira digitando incessantemente, consumindo apenas energéticos. Se eu contar quantas latas de energético tenho debaixo da mesa, são 17.
Sinto que estou prestes a vomitar...
"Rika! Trabalhe! Não pare!" Ordenou o chefe batendo na mesa.
Não tenho opção a não ser continuar digitando incansavelmente. Mas... Por que ainda estou aqui?
Enquanto acariciava meus ombros, o chefe começou a murmurar em meu ouvido, oferecendo: "Se quiser descansar um pouco, posso te conceder. Entre todas as colaboradoras que possuo neste setor administrativo, és a mais bela. Um corpo sinuoso, seios proporcionais, uma pele impecável... É perfeito, concorda?"
Devido ao meu trabalho alienante, tive dificuldade em ouvir o que ele dizia. Parecia que minha mente estava entrando em um estado de curto-circuito.
Após três dias de trabalho contínuo, finalmente retornei para casa na madrugada.
"Em breve, terei que trabalhar novamente... Se eu chegar em casa logo, ainda poderei dormir duas horas... Isso deve ser o bastante." Minha visão está embaçada, tenho a sensação de que o chão está ganhando vida e movendo-se em espiral.
Meus olhos identificam a faixa de pedestres e vou titubeando até ela. De repente, uma luz intensa cega meus olhos. Pensei ser mais uma das minhas alucinações, mas logo percebo um carro se aproximando em alta velocidade, sem forças para reagir, apenas solto a bolsa.
Os faróis tingem o meu mundo de branco, o som dos freios ecoa na minha mente e, em seguida, só há escuridão.
Desde os anos iniciais até o ensino médio, tive uma vida cotidiana como qualquer outra estudante. Apaixonar-me foi apenas uma das experiências vividas nessa trajetória.
Na minha sala, sempre havia um garoto presente desde os anos finais do ensino fundamental, o que eu considerava uma mera coincidência. Embora tenhamos compartilhado todos esses anos escolares juntos, eu nunca cheguei a conversar com ele.
A minha timidez me impedia de falar com ele, pois estava, de fato, apaixonada por aquele garoto. Na despedida do terceiro ano, era minha última e única chance de me aproximar, mas quando reuni coragem para conversar com ele, ele já não estava mais presente.
Depois disso, ingressei na mesma gerência que anteriormente, na verdade, foi a decisão mais desfavorável a ser tomada.
Cheguei a ser vítima de assédio inúmeras vezes por aquele superior, sem ter a oportunidade de sequer pronunciar uma palavra, uma vez que minha subsistência dependia do salário que recebia através do emprego. Não permiti que a situação evoluísse para um envolvimento íntimo com o chefe, eu diria que isso foi uma questão de sorte. Nunca desejei perder minha virgindade dessa maneira.
Eu sempre tive o sonho de concluir o ensino médio ao lado do meu grande amor, mas infelizmente não foi o que aconteceu. Depois, ansiava por morar sozinha, longe dos meus pais, mas também não pude realizar esse desejo. Em seguida, consegui um emprego que poderia finalmente me permitir alcançar o meu objetivo anterior, mas também não deu certo.
Parece que a minha vida não seguiu o rumo que eu desejava, como se o mundo estivesse constantemente me colocando limitações, como se a minha força não fosse suficiente para enfrentar os desafios que surgiam diante de mim. E devido a isso, não alcancei nenhum anseio que desejava, permanecendo em silêncio diante do que ocorria ao meu redor e simplesmente aceitando.
Caso tivesse a oportunidade de retornar à existência e jogar mais uma vez o jogo que conhecemos como vida real, sem dúvida eu recusaria e suplicaria para ser transportada a um universo onde pudesse sonhar e alcançar meus desejos.
Quando os meus olhos voltaram a se abrir, a escuridão deu lugar a uma vegetação surpreendente. É uma floresta que parece envolver-me como um berço de bebê.
"Onde estou?" Pisquei repetidamente os olhos e tentei erguer os meus braços.
"O quê?!" Os meus braços estão tão pequenos quanto os de um bebê. De repente, as memórias surgiram em minha mente.
Lembro-me de ter lido um livro quando estava no ensino médio. Era um livro ilustrado que abordava o tema da reencarnação em um mundo alternativo. A protagonista reencarnou em outro mundo após ser envenenada pelos seus amigos e também se deparou com esses braços minúsculos.
Portanto, suponho que a mesma coisa tenha acontecido comigo. "Eu reencarnei."
Com as minhas mãos abertas e fechadas diante da luz do sol, tenho a certeza de que aquele cansaço nos ombros e no corpo desapareceu completamente, sem nem mesmo eu perceber.
Estou totalmente convicta de que incontáveis indivíduos experimentariam uma sensação de temor diante da perspectiva de serem transportados para um universo inexplorado. No entanto, esse não é o caso para mim. Sinto-me extremamente jubilosa por ter renascido em um outro mundo. É quase como se minhas preces tivessem finalmente reverberado aos ouvidos divinos.
Oh, a ironia! Mesmo sendo incapaz de articular qualquer palavra, limito-me a movimentar meu corpo.
De repente, percebo o som de passos vindos da floresta. Devido à minha incapacidade como um bebê, não consigo me levantar para ver, apenas ouvir.
"Querido, será que é impressão minha ou estou com problemas na visão? Há um bebê ali?!" é o som de uma mulher falando. Desconheço sua aparência, mas pelo tom de voz, parece ser uma mulher com mais de trinta anos.
"Sim, querida. Estamos, de fato, contemplando a presença de um bebê!" Agora é a voz de um homem que soa, com tom mais grave. Parece ser um homem de grande virilidade.
Então, esses dois indivíduos surgiram em meu campo de visão e, pelo som de suas vozes, deduzi corretamente. Trata-se de uma mulher jovem, mas sua aparência já denota trinta anos, e o homem é claramente musculoso...
Sequer posso mover a cabeça, deve ser por que os músculos do pescoço de um bebê, encarregados de sustentar a cabeça, são frágeis e suas capacidades motoras ainda não estão completamente desenvolvidas.
O homem estende o braço e me agarra, colocando-me em sua mão enquanto diz: "Oh, é uma menina!"
"A como é linda!" Os olhos da mulher brilham.
"Quem teria sido tão cruel a ponto de abandonar uma menina tão encantadora no meio da floresta?", perguntou a mulher, preocupada.
"Não faço ideia. Se eu descobrir quem é o responsável, farei com que ele seja duramente punido!", declarou o homem com olhos chamejantes. Pelas características dele, é um homem forte, vestindo uma armadura e com imensas espadas nas costas. Será um guerreiro?
"Agora, me diz, querido, o que haveremos de fazer?"
"Não é claro, meu bem? Nós a acolheremos e zelaremos por ela, sendo os melhores pais que podemos ser."
No início, eu estava aflita por ter sido deixada na floresta. Mas agora vejo que tenho uma mãe e um pai. Uma preocupação a menos.
Passaram-se cinco anos em um piscar de olhos, quando dei por mim, já tinha completado cinco anos de idade. Fui encontrada na floresta e acolhida por um homem chamado Codman e uma mulher chamada Emillia, que são meus pais adotivos. Embora não me importe em chamá-los sem usar a palavra "adotivos".
Eles vivem sozinhos em uma fazenda próxima ao local onde fui abandonada quando bebê. São trabalhadores rurais, mas meu pai é notavelmente forte. E a razão para sua força é o fato de que os lobos atacam as ovelhas durante a noite, não sempre, mas também não é algo incomum.
Atualmente, estou com um livro em mãos que encontrei na biblioteca da fazenda. É um livro sobre magia e como utilizá-la. Consigo ler o livro facilmente, pois ainda tenho lembranças da minha vida passada e acredito que isso seja mais do que suficiente para uma criança.
Diariamente, pratico diferentes tipos de magia: magia da água, magia do fogo, magia do vento e magia da terra. São magias básicas descritas no livro. No entanto, há algo incomum que deixou meus pais boquiabertos quando viram uma criança de três anos usando um tipo de magia incomum. A magia negra.
Percebi que o motivo para o espanto dos meus pais é que a magia negra é um nível avançado, e mesmo sendo uma criança, eu já a possuo como se fizesse parte de mim. Com o tempo, comecei a pensar se o meu poder tem alguma relação com o meu antigo pai, aquele que me abandonou. Mas e minha mãe?
No livro, está escrito que a magia negra pertence a um clã formado por homens. Com base nisso, tenho a convicção de que meu antigo pai é a razão pela qual eu possuo magia negra. Ou seja, eu pertenço a um clã de magia negra e, por isso, meus pais adotivos não me abandonaram, afinal, são muito amáveis e compreensivos com o fato de eu ser uma criança.
Além disso, cogito a possibilidade de ser filha de uma escrava... No entanto, não posso ter certeza disso sem alguma prova concreta.
Meu objetivo não é encontrar meu pai, nem mesmo tenho vontade disso. Apenas desejo viver com o que o mundo tem a oferecer. Soube que há uma capital próxima, onde existem diversas raças diferentes, como elfas e semi-humanos, e isso despertou meu interesse. Além disso, na capital, há uma escola de magia, mas não tenho nenhum interesse em retomar os estudos. Pretendo apenas viver como uma aventureira, explorando o mundo e descobrindo coisas novas. Essa é a verdadeira meta da minha nova vida.
Na floresta onde fui descoberta, é um lugar cheio de criaturas monstruosas de diversos tipos. Como previsto em um outro universo. Essas criaturas são divididas em diferentes categorias: desde monstros fracos até feras imponentes.
As feras são seres tidos como criaturas demoníacas ou lendárias. Já os monstros fracos são simplesmente aqueles que podem ser derrotados de forma comum, como qualquer outro, o que os distingue das feras.
Para vencer as feras, é necessário ter paciência e habilidade, pois são poderosas e capazes de causar grandes estragos, chegando até a devastar aldeias e, dependendo da fera, até mesmo uma capital.
Sigo lendo diversos tipos de livros que encontro na biblioteca, diria mesmo que meu cantinho preferido na fazenda é a biblioteca, onde adquiro conhecimento sobre esse mundo.
"Está lendo novamente, Laila?" Indagou minha mãe.
Havia esquecido, nesse mundo, meu nome é Laila, filha desses agricultores.
"Sim, mamãe."
"Que estudiosa, assim você conseguirá ingressar na renomada academia de magia da capital com facilidade, afinal, você é um prodígio." Minha mãe afagou minha cabeça.
Mal sabe ela que nem sequer cogito entrar na academia, como direi isso a ela?
Assim, dediquei o restante dos anos seguintes à prática constante e à ampliação do meu conhecimento sobre o mundo ao meu redor. E, por fim, atingi a marca dos doze anos.