Levantei e tirei a poeira das minhas roupas. Aliás, esse lugar lembrava um deserto; no entanto, a areia era preta e parecia carvão. Sem falar que o ar era bem rarefeito, o que tornava difícil respirar.
"Caralho, caí em um cinzeiro."
Tentei entender mais sobre aquele lugar, mas estava além da minha compreensão.
Ao longe, avistei uma silhueta grande que, a princípio, causou estranheza por eu não conseguir identificar o que era.
"Nem fodendo que vou naquela direção."
Comecei a andar para o outro lado em busca de alguma alma viva. Bom, nem tão viva assim, para que pudesse dizer mais sobre esse cinzeiro.
De parque de diversão, tinha apenas o escorregador; do resto, não parecia em nada.
Tinha 24 horas para achar algo que vi uma vez em um local praticamente deserto.
Impossível. Não vai ser algo fácil. Coloquei a mão em meus bolsos para ver se achava alguma pista, mas não encontrei nada.
"Caramba, como vou sair daqui?"
A princípio, fiz o que qualquer pessoa normal faria em uma situação totalmente fora do comum...
Andei até minhas pernas serem vencidas pelo cansaço.
Talvez precisasse me exercitar mais vezes.
Sentei e peguei o celular para passar o tempo, mas não conseguia destravar a porra do aparelho.
"Vai tomar no cu! Preciso sair daqui."
"Caso eu não ache essa porra, o que vai acontecer comigo?", cocei a cabeça angustiado. "Espera, já estou morto... então foda-se."
"Errado!"
Uma voz sussurrou em meus ouvidos. Não era algo assustador; diria que talvez até um pouco sexy. Era levemente suave, mas, para aquele momento e lugar, tornou as coisas um pouco estranhas.
Olhei para trás e era...
Bom, não sabia ao certo se era um garoto ou uma garota, o que me deixou meia bomba. Poderia ser uma tomboy ou um femboy; no entanto, não quis ser mal-educado, então preferi não perguntar.
"Cacete, quem é você?"
"Você disse que está morto, não é?"
Seja lá quem for esse mano ou mina, chega do nada sussurrando na orelha de um desconhecido; coisa de maluco.
Espero que seja uma garota.
Não respondeu à minha pergunta e ainda me respondeu com uma pergunta.
"Sim, já estou morto, então não estou preocupado com o tempo."
Levou a mão à boca, olhou para o lado e inspirou.
Só pode ser uma garota; tem todos os jeitos de uma. Ou é um viado.
"Você deve ter comido os lábios da minha rainha."
"Tomar no cu, de novo isso!", soquei a areia.
Já estava ficando irritado com essa parada do lanche. Parece que quem escolhe os lábios está selecionando o modo hard de escravidão.
Espera... então é uma garota? Ou melhor, isso ainda não diz muita coisa.
Olhando melhor, do pé à cabeça tudo indicava ser uma, mas ainda assim estava confuso.
Tinha cabelo curto, metade de cada cor, o que lembrava uma zebra, e alargadores enormes e pretos em suas orelhas. Tentei reparar na região do tórax, mas não ajudou em nada.
Pobre coitada, era desprovida de tudo se fosse uma garota. Foquei na parte de baixo, mas seria muito indelicado fazer isso com uma garota e, ao mesmo tempo, muito gay se fosse um homem.
"Você é novo no Hell's Burger?"
"Caralho!"
Só naquele momento me toquei que usava a mesma camiseta do Hell's Burger. Vai ver o Azzy havia mandado ela ou ele para cá bem antes de mim.
"Tem muito tempo que está aqui?"
Olhou para os lados e deu um sorriso de canto, coçando a cabeça...
"Três dias... acho", disse enquanto fazia uma cara boba.
"Cacete!!"
Realmente devo ter escolhido o modo hard; não faz o menor sentido eu ter apenas 24 horas e ela... ou ele já estar aqui há três dias.
"Você disse três dias?", perguntei espantado com aquilo.
"Sim, sim", disse com um olhar envergonhado e cabisbaixa.
"Qual é o seu nome?", perguntei para a zebra de alargadores.
"Sam, e o seu?"
"Carlos."
Puts. Agora não sei se esse Sam é de Samantha, Samara ou de Samuel, ou qualquer outro nome masculino, mas já é um começo. Tinha coisas mais importantes para me preocupar.
"Mas diz aí, Sam, você deve conhecer melhor essa caixa de areia."
"Sim, e já adianto: evite dar de cara com ELE."
"ELE?", perguntei curioso enquanto olhava fixamente para a sua orelha.
Como assim "ele"? Não sabia de quem estava falando; talvez seria aquela silhueta estranha que tinha visto mais cedo.
Sam parecia saber algumas coisas sobre aquele lugar, o que me deixava um pouco curioso e calmo com aquela situação.
"Sim, ELE", disse enquanto sentava ao meu lado. "Não sei ao certo, mas o Azzy me falou o que ELE faz."
Parecia que a ausência de informações se baseava na escolha do lanche da pessoa. Naquele momento, entendi o porquê do Azzy ter dito que isso determinaria o quão fudido estaria.
"O que mais aquele cabeludo lhe disse?"
"Não vai adiantar muito lhe falar, porque você está com um bloqueio."
"Que?", estava confuso com aquilo que Sam disse.
Não fazia a menor ideia. Bloqueio? Seria algo semelhante ao que a Alice fez comigo no Hell's Burger quando lacrou a minha boca?
"Sim. Não adianta dizer para você, sendo que a Rainha lhe colocou um bloqueio", levantando o rosto e olhando para aquelas nuvens negras naquele céu vermelho. "É o jeito dela de foder com a cabeça dos seus escravos; foi o que o Azzy me falou."
"Tomar no cu!... Beleza, gosto de desafio."
Resolvi encarar aquilo como se fosse o meu jogo favorito: Anki Solus.
"Além de tomar cuidado com ELE, você tem alguma outra informação?"
Sam balançava a cabeça de um lado para o outro, de uma maneira que só reforçava a ideia de que era uma garota... despeitada, mas era uma garota.
"Ah, sim! Essa informação acho que posso compartilhar", disse ela, entusiasmada.
"Uma vez que acharmos a corrente, nossos sentidos vão ficar mais apurados."
"Corrente?"
Mas o que ela quis dizer com corrente?
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Continua no próximo capítulo.