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Desejo e Poder, O Império de Han

Há um rumor em toda a Capital do Reino de Han de que não há nenhum descendente da família real que seja capaz de superar a Primeira Princesa. Entre todos os príncipes, isso é um grande problema. Li Hua, a primeira filha da Rainha do Reino de Han, tem todo o direito de lutar pelo trono. Pelo seu trono. E seus apoiadores são aqueles que ela menos espera, seus maridos.

MyraNLacerda · Lịch sử
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Portas Abertas

Reino de Han, Palácio das Mil Flores

Li Hua enxugava as lágrimas que ainda escorriam por suas bochechas, percorrendo seu pescoço e abaixo. A princesa desceu as escadarias do Palácio da Justiça, o tapete vermelho reluzia sob o feixe de luz do sol, guardas em suas armaduras douradas e com a mão na bainha da espada protegiam — enfileirados — a entrada da Cidade Proibida em torno do longo tapete. Ela desviou o seu caminho para a entrada do Palácio interno, mas não antes de parar e olhar para trás encontrando as expressões carregadas de diversas perguntas de seu irmão e de seu príncipe.

— Eu realmente tenho muitas perguntas — começou o Quarto Irmão — como você sabia…

Ela negou com a cabeça o calando.

— Eu não sabia, — mentiu, ela sabia muito bem que o povo do sul possuía características únicas — a acusação seria problemática demais, então desviei o foco.

Seu irmão assentiu.

— E o que foi isso? — Apontou para ela, para o rastro de lágrimas — Eu não estava preparado para isso… para o que planejou — voltou a suspirar — eu lhe avisei, Li Hua, se não começar a incluir a mim em seus planos, não irei apoiá-la.

Ela revirou os olhos.

— Se eu o avisasse, não teria desempenhado o seu papel tão bem — ajeitou o seu vestido que começou a amassar — alguém está querendo nos prejudicar, e tenho certeza que é da família real.

Seu irmão riu com escárnio, não acreditava no rumo daquela conversa, ela nunca contava nada para ele.

— Tenho quase certeza que sei quem está por trás da baboseira de hoje, mas vou verificar com o Terceiro Irmão antes — pousou a mão no cabo de sua espada embainhada.

— Certo — ela o olhou nos olhos — tenho alguns planos para as situações que virão por conta do Primeiro Irmão — Guo Wei semicerrou os olhos, compartilhavam as mesmas suposições, mas ela sequer dissera alguma coisa antes, era como se deixasse escapar — irei lhe passar desta vez, está bem?

O rapaz revirou os olhos, o maxilar travado mostrava sua indignação, e o sorriso que dera não disfarçava sua revolta e irritação.

— É bom que seu plano seja bom.

— Será, não se preocupe, — sua mão capturou uma mecha de seu cabelo e o enrolou no dedo enquanto falava — mas antes de colocá-lo em prática, preciso encontrar a Avó Real.

— Certo.

A princesa se virou para o Príncipe de Yuan, ele a encarava com aquele sorriso preguiçoso e os olhos tão apertados em divertimento que o coração da mulher descompassou. Entre eles havia uma camada espessa de amor e desejo, que precisavam urgentemente retirar e utilizar.

Li Hua deu dois passos em direção ao Príncipe de Yuan, o rapaz ousadamente completou a distância que restava e, com as pontas dos dedos, disfarçadamente tocou a mão da princesa.

— Não iremos nos ver por uns dias — anunciou ela com pesar, os olhos pequenos e murchos, quase sem vida e repletos de tristeza, seu suspiro triste dilacerou o coração do príncipe que precisou resistir ao impulso de tocá-la e consolá-la na frente de tantos guardas fofoqueiros — quando tudo se resolver, quando eu conseguir a aprovação da Avó Real, tudo ficará mais simples entre nós, e prometo que o trarei para o meu palácio.

Seu irmão arregalou os olhos em incredulidade, aquilo significava muitas coisas, mas muitas coisas mesmo. Não apenas um casamento, mas o que seria o início de uma revolução entre os poderes consolidados do reino.

— Li Hua… — começou o seu irmão, mas ela estendeu a mão esquerda o calando, seus olhos ainda fixos em seu amado, o movimento silencioso de suas mãos imploraram para que seu irmão não atrapalhasse a despedida deles.

O Príncipe de Yuan se fixou em seus olhos, ele acreditava nela e iria pacientemente lhe esperar.

— Você sabe o que fazer se precisar de mim.

— Sim, Xiao Bai o encontrará — e ela piscou para ele e se virou para partir em direção ao Palácio Interno, uma das entradas da Cidade Proibida.

Na entrada da Cidade Proibida há três caminhos. O do centro, Palácio da Justiça, e dele não tem para onde ir, além da passagem nada secreta do Rei para o seu próprio aposento nada particular, ele mesmo não conseguia utilizar o espaço.

O caminho da esquerda leva a imensos jardins, esses abertos ao público nobre, aqueles que frequentavam o palácio para encontrar alguém específico, seja um outro nobre, ou até mesmo a família real.

E à direita da entrada da Cidade Proibida, grandes arcos de pedra e tecidos coloridos anunciavam a entrada do Palácio Interno, o Palácio das Mil Flores, onde de fato mulheres de belezas imensuráveis e inimagináveis moravam, existindo para agradar o Rei e conceber príncipes, não princesas. E logo naquela entrada, nos primeiros corredores de muro alto e vermelho moravam os príncipes, e quando atingissem a maioridade ou conseguissem algum título, eram transferidos para a capital em alguma mansão. O corredor seguinte é destinado às princesas, e em toda a extensão posterior há, precisamente, mais de 8 mil aposentos, quartos e jardins.

A Primeira Princesa andava sozinha, pelos corredores do Palácio Interno, sua serva, Xiao Bai, havia sido dispensada antes de ela se trocar para entrar no Palácio da Justiça. Naqueles imensos corredores silenciosos havia apenas uma pessoa que a acompanhava, que a seguia.

— Vai ficar quanto tempo espreitando? — Seu tom parecia severo, mas o sorriso em seus lábios diziam outra coisa. Uma mistura de diversão e inconsequência.

O som de passos se tornou mais presente e o barulho da armadura fez com que a princesa parasse de andar e se virasse na direção do rapaz que agora estava parado em sua frente.

— Alteza — o capitão se curvou, os cabelos negros estavam presos em um coque alto, a princesa encarou com desgosto.

— Seu cabelo fica horroroso assim — Li Hua se aproximou do capitão rapidamente, e desajeitadamente se colocou a poucos centímetros dele, com as mãos apressadas ela as estendeu em direção aos cabelos de Fu Heng, e então os puxou, soltando-os — bem melhor.

Fu Heng bufou uma risada, eram poucas as vezes que o via sorrir, e sempre a deixava agitada quando o via.

— Vossa Alteza, sua mania ainda será um problema.

Ela riu ao revirar os olhos e voltou a andar, o capitão apressou os passos para caminhar ao seu lado.

— Por que estava me seguindo? — Os olhos da princesa percorriam os corredores e as entradas dos palácios apenas para ter certeza de que ninguém os escutava.

— Porque eu tenho algumas perguntas.

— Sobre como eu sabia da Floresta dos Perdidos? — Ela o olhou rapidamente, e então voltou a observar o corredor.

Havia uma confusão no olhar do capitão, ele percebeu então que sua princesa era muito mais do que um rosto bonito e uma boca esperta. Ele nunca reparou, ou pelo menos tentou não reparar, em suas ações.

— Não apenas a Floresta dos Perdidos, mas como… — ele respirou fundo — eu não consigo nem formular uma pergunta.

— Mesmo que consiga formular — ela parou de andar e o olhou nos olhos com um sorriso encantador — eu não vou contar. Se até hoje não conseguiu descobrir, então consegui me disfarçar muito bem — voltou a andar e ele a seguiu.

Mais uma vez parou e ele, pego de surpresa, esbarrou na princesa.

— Por mais que eu ame ser perseguida por você, Capitão Fu, — o olhou nos olhos com determinação, sua voz escorria irritação — tenho um compromisso com a minha Avó Real, e não gostaria de tê-lo grudado nas minhas pernas — seu olhar desceu pelo corpo do capitão e um sorriso brincou em seus lábios — apesar de que seria muito tentador tê-lo ao redor de mim, — ela aproximou o seu rosto do dele e sussurrou — não apenas agarrado em minhas pernas, mas em outras áreas — se afastou e piscou.

O Capitão abriu e fechou a boca, não conseguiu pronunciar nenhuma palavra, estava tão chocado com o que ouvira que sua pele apenas queimava e seu rosto ruborizava. Ele nem sequer conseguia encarar a princesa, que agora andava e o deixara paralizado.

***

O Palácio da Juventude possuía uma vibração diferente do restante da Cidade Proibida. Além das cores extravagantes espalhadas pelas pilastras de madeira, as servas pessoais da Rainha Viúva utilizavam cores únicas em todo o palácio, enquanto a maioria utilizava um azul claro, as servas da Rainha Viúva usavam rosa claro.

Li Hua, ainda em seu vestido de luto, entrou pelo portal do Palácio da Juventude e foi cumprimentada pelas servas que cuidavam do jardim na entrada do aposento, flores de todos os tipos e cores eram podadas e aguadas diariamente.

A estrutura principal lembrava os religiosos templos pagode, telhados curvos dourados, o simbolismo do ouro, e grandes vigas de madeira vermelha. Li Hua entrou no aposento da Rainha Viúva e pelas vozes animadas soube que sua avó não estava sozinha.

— É verdade, vovó! — ria a garota de voz fina e levemente anasalada, se a princesa fosse um gato teria se arrepiado apenas de ouvir aquela voz estridente.

— Certo, certo. Eu acredito em você — a voz de sua avó ressoou pelo palácio, firme e envelhecida, mas contendo ainda muito poder em cada palavra.

A serva ao seu lado a cumprimentou lentamente, e então entrou na sala onde sua avó estava e anunciou sua chegada. Com passos leves, a princesa entrou na sala.

Um tapete colorido e com bordados sofisticados — feito apenas por uma talentosa mulher que reside na Cidade Proibida — estava esticado no centro do cômodo, assentos de madeira de cerejeira acolchoados foram colocados em volta do tapete e na ponta dele, na parte superior do piso de madeira, em um assento esculpido na madeira de cerejeira com flores de ameixa sua avó estava sentada, sorrindo.

Li Hua caminhou até o centro do tapete colorido e se curvou respeitosamente.

— Saudações, Avó Real — se manteve curvada.

A mulher, em vestes brilhosas em tons de preto e roxo, se levantou, sua serva estendeu o braço para que a velha se escorasse e tivesse apoio para descer o degrau. A Rainha Viúva se apressou nos pequenos passos, estava feliz por ver sua neta predileta.

As mãos enrugadas encontraram os braços da princesa ainda em arco, a mulher ajudou a princesa a retornar a posição comum, e então a abraçou fervorosamente, beijos foram distribuídos ao longo da face da princesa ruborizada e sorridente.

— Ah, minha netinha finalmente está de volta! — Gargalhava a velha, a voz falhando pela emoção — Eu senti tanto a sua falta, menina.

A menina a abraçou de volta e a apertou em seus braços finos.

— Eu também senti a sua falta, vovó — chorou a menina, e agora ambas derramaram suas lágrimas uma sobre a outra, e então riram do desastre que se encontravam.

A Rainha Viúva a arrastou para o assento que estava, ele era amplo e cabia muito bem ambas. Sentando-se ao lado de sua avó, as mãos enrugadas da mulher cercavam as suas e as mantinham juntas e aquecidas.

— Ah, — sua avó chamou sua atenção, o rosto da mulher de repente mudou, a expressão tranquila e feliz se tornou rígida e autoritária. Com o queixo arredondado, a velha apontou para o centro do cômodo, onde duas mulheres estavam quietas e sentadas, os olhos levemente arregalados em choque — sua irmã estava aguardando sua chegada, com a amiga dela.

A Primeira Princesa seguiu o olhar da avó e então, finalmente, reparou na menina que não conhecia, mas por se tratar da Segunda Princesa, provavelmente teria uma personalidade tão ruim quanto a Segunda Irmã.

As duas se levantaram do assento de madeira, e cumprimentaram a Primeira Princesa em uma reverência formal e curta, a Primeira Princesa apenas as cumprimentou com um aceno breve de cabeça, por ser a irmã mais velha, as formalidades da parte dela eram mais curtas e menos respeitáveis, quanto mais encurvado a sua reverência, maior o respeito.

— Bem-vinda de volta, Primeira Princesa — disseram em conjunto, e se curvaram na espera de serem aceitas as reverências.

— Obrigada, podem se levantar — disse a princesa com uma voz suave. Elas agradeceram e se sentaram novamente.

A menina que ela não conhecia pigarreou, a atenção indo em sua direção, e então sorrindo disse de forma encantadora:

— Primeira Princesa, soube que estava em viagem e escoltou pessoalmente o Príncipe de Yuan, como ele é? — Os olhos da garota brilhavam em curiosidade, a princesa nem sequer conseguia sorrir, aquela pergunta a incomodou.

— Sim, estava morrendo de curiosidade para saber! — Disse a Segunda Princesa, os olhos piscando em ansiedade e as mãos segurando um leque redondo abanando-a.

Li Hua sorriu, não estava gostando nem um pouco daquelas perguntas. Ela nunca foi possessiva sobre suas coisas, mas nunca houve uma situação em que presenciasse alguém interessado em suas pessoas.

— Um rapaz bem alto e forte — colocou a mão no queixo pensando nas características do rapaz das neves — o cabelo é bonito e tem olhos encantadores — seus olhos observaram as meninas que agora pareciam se abanar com maior rapidez.

A velha riu.

— Me parece um homem muito interessante, Li Hua — disse sua avó, a voz acentuando seu nome e lhe passando uma informação: uma delas possuía interesse em seu homem, e não gostaram que a Rainha Viúva direcionasse a conversa para a Primeira Princesa.

— Mas com certeza não faz o tipo da Primeira Princesa — disse a Segunda Princesa com um sorriso gentil, que disfarçava o veneno que continha nas palavras que foram lançadas.

Li Hua riu com as mãos sobre a boca, uma etiqueta da nobreza.

— E qual seria o meu tipo, Segunda Princesa?

A Avó Real sorriu para a Primeira Princesa, apesar da avançada idade, a mulher adorava intrigas, quando ainda era Rainha Real precisava frequentemente separar brigas de concubinas e consortes, além de puni-las, ela não se importava nem um pouco em observar a nova geração discutir e se acertar. Um pouco de sangue faz com que amadureçam.

— Ah, o Jovem Mestre Li! — Apontou a menina que ainda não sabia o nome.

— Perdão, eu ainda não sei o seu nome — olhou para a garota que sorria e se abanava com orgulho, a princesa a percorreu com os olhos, notando a semelhança entre suas vestes rosadas com as das servas do palácio, e então sorriu arrogantemente — Com suas vestes na mesma cor e modelo das servas, até pensei que fosse uma serva sem modos sentada entre a realeza — a mão sobre os lábios cobriu o sorriso ardiloso que dera.

A menina se levantou abruptamente, e a Segunda Princesa estendeu as mãos para que a menina não avançasse ou ousasse fazer algo estúpido. Os olhos da garota estavam arregalados em choque, mas a expressão que se seguiu por seu rosto era puramente de ódio e orgulho ferido. Se sentiu humilhada, com certeza.

— Sou a filha do Primeiro Ministro, Alteza — sua voz soou desrespeitosa.

— Oh, é mesmo? — A Primeira Princesa se levantou, suas vestes finas e simples deslizaram pelo seu corpo e degrau de forma graciosa, como se ela fosse uma deusa encarnada — E isso muda o quê?

Li Hua caminhou até a garota que se mordia para falar qualquer coisa ofensiva, mas a Segunda Princesa a censurava e a mantinha calada, para a segurança dela.

— E-em nada — a filha do Primeiro Ministro se sentou, o leque em mãos voltou a abanar — Em nada, Alteza — repetiu, esperando que a princesa aceitasse a rendição.

— Avó Real, — se virou a Primeira Princesa para a Rainha Viúva que apenas sorria feliz — nessa viagem conheci um belo — olhou rapidamente para as garotas sentadas — rapaz, e como prometera para mim, vim reivindicar os meus direitos — A Primeira Princesa se colocou de joelhos — Permita que eu busque pelo meu próprio marido, assim como Vossa Majestade, a Rainha Viúva, fez uma vez.

A mulher se ergueu graciosamente, e sem ajuda de sua serva, desceu o degrau e caminhou, como uma verdadeira rainha, até a sua neta predileta. A velha se agachou e ajudou a princesa a se levantar. Ambas frente a frente, e então a mulher decreta:

— Eu, a Rainha Viúva, dou permissão e o meu selo — arrancou de sua veste uma insígnia esculpida de jade o símbolo da Rainha Viúva — para que tenha liberdade de ir e vir em busca de seu futuro marido.

A Primeira Princesa curvou, tão baixo quanto sua coluna permitiu, e então com as mãos estendidas sua avó lhe entregou o selo mais importante do Reino de Han, o selo que permitiria abrir as portas fechadas, e que lhe autorizaria a entrar nas portas que foram abertas apenas para os homens.

— Eu, a Primeira Princesa de Han, Li Hua, obedeço ao seu decreto.

Antes de pedir permissão para se retirar, a sua avó sorriu e lhe confidenciou em sussurros, que nem mesmo aquelas mulheres tão próximas escutaram.

— Você não vai precisar viajar para longe, o Rei organizou um banquete para receber príncipes e lordes de todo o continente.

Li Hua sorriu, e disse:

— Que oportuno, não é mesmo?