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Desejo e Poder, O Império de Han

Há um rumor em toda a Capital do Reino de Han de que não há nenhum descendente da família real que seja capaz de superar a Primeira Princesa. Entre todos os príncipes, isso é um grande problema. Li Hua, a primeira filha da Rainha do Reino de Han, tem todo o direito de lutar pelo trono. Pelo seu trono. E seus apoiadores são aqueles que ela menos espera, seus maridos.

MyraNLacerda · Lịch sử
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O Rei de Han

Reino de Han, Palácio da Justiça

A estrutura do palácio onde reside o Rei era disposta de forma diferente, ali ele possuía um quarto para descansar ou até mesmo dormir, localizado atrás do trono, mas na verdade ele nunca dormia nele, todas as noites era sorteado com quem ele se deitaria, e consequentemente em qual palácio dentro da imensa cidade da família real, a Cidade das Mil Flores — Cidade Proibida como muitos conheciam e sequer sonhavam em se aventurar — ele estaria.

O Palácio da Justiça era o palácio externo cuja escadaria de diversos degraus o levava em direção a sala do trono, onde banquetes eram dados, festas realizadas e a corte matinal acontecia com os 36 ministros. Todos em suas vestes formais vermelhas e chapéus que tapavam seus cabelos.

Um longo tapete vermelho — cor festiva para o povo de Han — era estendido da entrada do palácio à escadaria que levava a uma plataforma de pedra e subia para a escadaria que se estendia até o trono, onde apenas o Rei e o Eunuco-Chefe eram permitidos. E na plataforma abaixo do Rei, apenas os príncipes podiam permanecer ali.

O trono de ouro era de longe o mais imponente entre os reinos do continente, as pernas do assento eram esculpidas no formato das garras de dragão, o assento escamoso de ouro possuía uma cobertura suave e macia, enquanto os braços do trono eram escamosos e afiados como as garras do animal, e o encosto como o corpo do grande dragão protetor divino, acima de quem se assentava, estava a cabeça do grandioso dragão de ouro. O Rei estava assentado em seu trono e o Eunuco-Chefe ao seu lado, e abaixo dele três de seus filhos em seus trajes reais e não de ministros, pois não possuíam cargos tão baixos e medíocres.

— A corte começa agora! — Gritou o Eunuco-Chefe a plenos pulmões, ele era o responsável por cada pronunciamento do Rei, inclusive os decretos reais.

Os ministros enfileirados mantendo o meio, o tapete vermelho, livre, posicionados à esquerda e à direita do Rei se curvaram em uma reverência habitual. As mãos estendidas à frente do corpo e o tronco inclinado em uma reverência demorada, cinco segundos e então se levantavam e se posicionavam.

O Rei respirou fundo antes de fazer a primeira pergunta:

— O que devemos discutir primeiro?

Um homem baixo e rechonchudo saiu de sua posição — embora os ministros se enfileirassem não era uma desordem, sua posição na fila era de acordo com o seu nível de importância no reino, o seu rank — e caminhou pelo tapete vermelho, ainda na linha de sua posição, se curvou rapidamente e então falou:

— Vossa Majestade, temos escutado boatos desagradáveis sobre a família real.

O Rei se ajeitou em seu trono e o olhou curioso, os príncipes abaixo do Rei se voltaram para o homem, seus rostos expressavam diferentes emoções, a maioria, negativas.

— Um livro recentemente foi distribuído à população e ele diz coisas detestáveis sobre os príncipes…

— Diga, o que você considera detestável? — O Terceiro príncipe questionou o homem, os olhos do rapaz semicerraram para o ministro que ele sequer quis lembrar o nome, Han Lian sabia exatamente o que o ministro diria. O Primeiro Príncipe olhou para o Terceiro Príncipe e seu rosto era indecifrável, mas Han Lian sabia que ele odiara a intervenção.

O homem engoliu em seco.

— Vossa Alteza, detestável seria…

— Poupe suas palavras — interferiu o Primeiro Príncipe, aquele que acreditava em seu direito ao trono por ser o primeiro — desembuche quanto ao problema.

O homem novamente engoliu em seco, os príncipes trocavam olhares afiados, não havia nada entre eles, apenas o laço de sangue que afirmava sua família, de resto, apenas lutas constantes.

— Certo, — continuou o homem, o Rei ignorava seus filhos, ele permitia que lutassem — um livro recentemente foi entregue ao povo, os escritos do Erudito Xi Fu tem provocado algumas reclamações e revoltas entre os homens e até mesmo entre as mulheres.

O Rei novamente se ajeitou na cadeira, estava começando a ficar intrigado, mas ainda assim mais curioso do que qualquer outra coisa, estava ansioso para saber o que possuía dentro daquele livro que ouvira entre os servos do palácio. O Rei não era tolo, muitas vezes se escondia para ouvir o que os criados comentavam, apenas desta forma poderia saber o que era, de fato, comentado do lado de fora dos muros vermelhos que cercavam o terreno da família real, uma muralha dentro da outra, a capital também era cercada por altas muralhas de pedra, mas as que protegiam a família real eram vermelhas.

O homem continuou, as mãos buscavam dentro de sua roupa um livro, o livro que mencionara.

— Xi Fu trouxe grandes críticas aos ministros de Vossa Majestade, mas pior do que nos criticar, Majestade, foi incapacitar os seus filhos.

As mãos do Rei bateram contra os braços escamados em ouro do trono, o anel em sua mão tilintou contra o material.

— O quê? — Sua voz soou indignada, a expressão em seu rosto estava carregada de ódio, o Primeiro Príncipe conteve um sorriso, mas o Terceiro Príncipe notou sua expressão de prazer e satisfação pelo rumo que a conversa seguia.

Ele estava planejando alguma coisa.

— O livro contém alegações severas contra o Primeiro Príncipe, por ser filho da Nobre Consorte ele não pode sequer disputar pela posição de Príncipe Herdeiro, assim como os respectivos príncipes.

O Rei franziu a testa, as sobrancelhas pontudas para baixo em total desaprovação.

— Quem é esse tal Xi Fu?

— Majestade, o erudito Xi Fu é um homem que sequer quis comparecer à sua corte quando o convocou anos atrás.

— Absurdo! Procurem por esse homem. Ele deve responder pelo crime de ofender a família real — decretou o Rei.

Os ministros se curvaram ao ouvir a ordem real.

— Agora que já terminou, pode se retirar — disse o Terceiro Príncipe ao ministro que o olhou com o cenho franzido, ele queria dizer mais, condenar mais alguém.

O Primeiro Príncipe olhou para o Terceiro e era sólido o ódio que sentiam um pelo outro. Han Lian esperava que o Quarto Príncipe chegasse depressa e fizesse o relatório o quanto antes.

— Deixe-o terminar, Terceiro Irmão — o tom suave do Primeiro Príncipe disfarçava o fogo que queimava em seu olhar e o quanto tentava destruir o seu irmão mais novo. O Segundo Príncipe apenas observava os dois se atracarem como rivais e oponentes em um campo de batalha.

As mãos do Rei ergueram em um sinal para que o ministro continuasse a falar caso tivesse algo a mais para relatar.

— Nesse mesmo livro, Majestade, ele diz que a Princesa Li Hua é a única capaz de governar o Reino de Han.

Murmúrios preencheram o salão do trono e o Primeiro Príncipe sorria tão amplamente que no mesmo segundo, o Terceiro soube que seu irmão provocara aquela situação. O Segundo Príncipe se encolheu, ele não sabia o que dizer e como aliviar aquela situação tão catastrófica. Ah, se ele pudesse culpar alguém, culparia a Rainha por não ter concebido um príncipe, mas duas princesas.

As discussões começaram e o caos havia se instalado na corte, tudo o que o Primeiro Príncipe, Han Ming, queria. Era parte do seu plano, e sorte a dele que alguns ministros o apoiavam.

— Silêncio na corte — exigiu o Eunuco-Chefe.

O Rei suspirou.

— E o que sugere para resolver a situação, Ministro?

O homem parrudo engoliu em seco, ergueu a cabeça o suficiente para parecer justo e corajoso, só precisava rezar para que não fosse punido por isso mais tarde. Não, não iria, o Príncipe garantiu que nada aconteceria com ele.

— Para que os rumores não se espalhem por todo o continente, Vossa Majestade deve casar a princesa mais velha o mais rápido possível.

Mais murmúrios.

— Pai Real — começou o Segundo Príncipe, o rapaz de longos cabelos pretos, de sorriso gentil e coração bondoso deu um passo para o lado, centralizando-se com o Rei e se curvou antes de continuar sua linha de pensamento — os murmúrios começaram apenas porque a Primeira Irmã ousou doar suas joias e suas roupas para aqueles que estavam em necessidade. Se… — respirou fundo, iria causar sérios problemas agora — se os ministros estivessem cuidando dos desabrigados que chegaram desde a última inundação do extremo norte e usado os recursos do governo para oferecer comida e abrigo, essa situação ridícula com o escritor Xi Fu não teria acontecido.

— O Segundo Irmão está certo, Pai Real, — concordou o Terceiro Príncipe aproveitando a oportunidade, ele andou para o lado em direção ao tapete vermelho, deu uma rápida reverência e continuou — temos negligenciado o povo enquanto Li Hua tem feito um excelente trabalho doando suas coisas e enviando seus servos a fazerem o serviço, afinal, a princesa não sai do Palácio.

— Que estupidez! — Exaltou o Primeiro Príncipe perdendo as estribeiras — É ridículo dizer que ela merece todas essas graças. As joias não são dela!

O Rei bateu as mãos contra o braço do assento de seu trono, o tilintar os calou.

— Já chega! — A voz do Rei foi forte e poderosa e os calou mais uma vez — Estou ouvindo tanta baboseira que não sei o porquê de tê-los aqui — ele suspirou, seus dedos percorreram sua testa tentando desfazer a pequena dor que começava a crescer e incomodar.

As portas do salão e de entrada para o Palácio da Justiça se abriram, um ranger das poderosas portas chamou a atenção de todos os presentes e o eunuco apresentou:

— O Quarto Príncipe aguarda do lado de fora na companhia do Príncipe de Yuan e da Princesa Li Hua.

E os murmúrios retornaram, o Rei pensou que era exaustivo ser líder daqueles ministros que não conseguiam sequer controlar a língua. Os príncipes, por outro lado, estavam quietos e atentos à entrada do palácio.

Com um sinal do Rei, ele os convocou para dentro. E pelo tapete vermelho, com graciosidade e beleza, caminhava a Princesa Li Hua. Príncipe de Yuan e o Quarto Príncipe a flanqueavam, protegendo-a.

Os longos cabelos da Primeira Princesa eram brilhantes e sedosos, um acessório de madeira prendia a parte superior de seu cabelo em um coque alto. Seu vestido branco — que representa o luto — sem brilhos, bordados ou qualquer outra coisa, deslizava delicadamente por seus braços e pernas. A simplicidade encarnada.

Seus olhos avermelhados, de quem havia chorado horas a fio, eram um destaque para os negros olhos profundos que possuía, como se houvesse um buraco em seus olhos que sugava qualquer um que olhasse para a imensidão da escuridão.

Pararam próximo a escadaria que levava a plataforma, estavam onde os súditos eram permitidos. A princesa se ajoelhou e curvou em uma reverência longa e demonstrativa de fidelidade.

— Saudações, Pai Real — disse a princesa ao encostar a testa no tapete vermelho.

O Quarto Príncipe imitou os movimentos e a saudação, o Príncipe de Yuan fez o mesmo, mas saudou de forma diferente:

— Saudações, Vossa Majestade do Reino de Han.

Sentado em seu trono com toda a sua glória e poder, ele disse:

— Levantem-se. Dispenso as formalidades.

E então se levantaram. A princesa estava calma e serena.

— Chegaram bem na hora — o Rei disse, mas antes que pudesse continuar com o que iria dizer notou algo de diferente na princesa, as vestes — O que houve?

Ela franziu a testa e ousou lançar um olhar para os ministros que se amontoavam a suas costas, seus olhos se encheram de lágrimas e sua visão vacilou.

— Majestade, não soube? — a voz da princesa tremeu.

O Rei apertou suas mãos contra as escamas de dragão nos braços do trono de ouro, que por diversas vezes tentaram roubar.

— Como ordenara a minha vó, fui ao encontro do Príncipe de Yuan que é um convidado de Vossa Majestade, e no caminho… — soluçou, a voz embargada e se embaralhando com sua respiração descompassada, as lágrimas escorreram e deslizaram por suas bochechas pálidas. Seus lábios tremeram antes de continuar — no caminho tentaram nos assassinar… — o Quarto Príncipe segurou o ombro da princesa, seu irmão a consolava enquanto o Príncipe de Yuan estava sério e irritado. Os príncipes na plataforma a olharam chocados e em seguida se viraram para o Rei que estava pálido — e então eu soube que só podia vir de alguém de dentro do nosso reino… Pai Real, seus ministros nos encontraram na entrada e… e pediram desculpas pela forma horrenda que a viagem foi conduzida… eu tive que pedir socorro ao Quarto Irmão porque eu ouvi… — voltou a chorar alto, seu irmão a abraçou apertado.

— Pai Real, a Primeira Irmã me informou das suspeitas e das coisas que escutava no Posto de Comando Sul, coisas horríveis a seu respeito — olhou para a irmã rapidamente e a apertou em seus braços enquanto a menina soluçava de tanto chorar — então em minha trajetória na Floresta dos Perdidos, encontrei homens armados prontos para assassinar a princesa.

Os murmúrios se intensificaram, o Rei se levantou e as petições dos ministros que estavam ao seu lado, em uma mesa discreta de madeira escura, foram lançadas ao chão e os ministros se colocaram de joelhos e se curvaram, com medo. Suas testas coladas no piso frio, o desespero percorrendo suas veias.

— Que absurdo! Quem ousaria fazer tal atrocidade?

O príncipe suspirou e balançou a cabeça enquanto dizia com pesar:

— Não conseguimos identificar ainda, mas os corpos de homens e mulheres que foram encontrados não eram de Han. Acredito que possam ser de Wei ou de Shendu.

Ah, os murmúrios foram mais intensos, a princesa que chorava quis socar o seu irmão com tanta força, mas não podia, ela só conseguiria reverter a situação se entregasse uma das pistas que recebera de Xiao Bai, sua serva. Seus planos cutucaram sua mente. Ela sabia, aparentemente a única que sabia, que o povo de Wei e de Shendu possuíam cabelos prateados e uma marca na testa. Os corpos que foram revistados não eram povos naturais de Shendu e Wei.

— Aquelas pessoas — soluçou a menina quando retornou a falar — que foram mortas pelos soldados do Quarto Irmão eram contratadas. Mercenários. Queriam nos matar. Se não fosse o Quarto Irmão, não teríamos sobrevivido.

O Rei fumegava, alguém queria machucar a sua filha, sua doce menininha. Tão gentil e sensível, que se incomodou até mesmo de utilizar roupas de luto, estava sensibilizada com as mortes, mesmo que tivessem tentando lhe tirar a vida.

— Precisamos descobrir, Pai Real, quem ousou fazer tal crueldade — implorou o Terceiro Príncipe.

— Nomeio o Quarto Príncipe investigador do caso de tentativa de assasinato. Descubra quem está por trás dos mercenários e quem era o alvo.

O Quarto Príncipe soltou rapidamente sua irmã e curvou-se com as mãos estendidas à frente do corpo como um arco e a cabeça abaixo dos braços e então disse:

— Farei como ordena, Majestade.

O Rei assentiu, seus olhos fixados nos de seu filho mais novo e que mais possuía responsabilidade no reino, como a guarda da capital. O homem suspirou e dispensou a princesa que tanto chorava.

— Seja bem-vindo, Príncipe de Yuan. É uma pena que tenha chegado em circunstâncias tão… problemáticas. O Emissário foi hospedado na capital, pedirei que alguém o acompanhe.

O Príncipe assentiu e se curvou respeitosamente ao Rei, e em seguida se retirou com o Quarto Príncipe em seu encalço. O homem sentou-se no trono, a respiração pesada e os dedos doloridos, estava tão irritado.

— Vocês querendo casar minha menina, e nem sequer me informaram das atrocidades que têm ocorrido em meu reino — disse baixo, mas sua voz era facilmente escutada por todos os ministros que permaneciam ajoelhados e com a testa grudada ao piso — Levantem-se, não irei puni-los. Não hoje. Minha filha está enlutada pelas mortes daqueles homens e mulheres, apesar de tentarem feri-la, ela é uma alma livre e boa que não se importa com os corações corruptos — suspirou, estava cansado.

Os ministros se levantaram e se posicionaram novamente em fileiras. O próximo tópico era a disputa pela coroa, seria ainda mais barulhento.

— Assunto resolvido, o Quarto Príncipe irá cuidar dos assassinos, e quanto ao tal Xi Fu, espero que o ministro — olhou para o homem que havia retornado a fileira, o que provocara aquela discussão — o encontre e o faça falar a respeito das críticas absurdas dos meus súditos leais.

— Como desejar, Vossa Majestade — se curvou e calou-se.

O homem em cima do trono apenas assentiu para o ministro que se encolheu, ele sentiu a corda agarrar seu pescoço, não deveria ter confiado no Primeiro Príncipe, ele iria se afundar. Havia percebido uma coisa: ir contra a princesa poderia lhe dar maiores problemas do que sua cabeça, talvez a cabeça de sua família inteira.

O Ministro dos Ritos caminhou até o tapete vermelho, se curvou respeitosamente e então abordou o assunto que todos queriam discutir.

— Majestade, estamos nos preparativos finais para a disputa pela coroa, conseguimos organizar todos os detalhes que foram pedidos nos últimos meses.

— Certo — o Rei voltou a sorrir, satisfeito que as coisas finalmente voltariam a andar — A data auspiciosa já foi marcada, e os convites para os representantes dos reinos em nosso continente foram enviados também, correto?

O ministro assentiu — Isso mesmo, Majestade. Todos os convites foram enviados dias atrás, muitos já devem estar recebendo e sendo despachados para vir ao nosso governo.

O Rei sorriu alegremente e até uma pequena risada pôde ser escutada.

— Que maravilha. Podemos enviar os convites aos nobres agora, para que se preparem. Música será tocada, banquetes serão dados e quem sabe… até casamentos serão propostos! — o homem gargalhou, mas ninguém sabia quem ele queria desposar.