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CAPÍTULO 3 - EU TE VEJO

Correndo pela cidade, Mizu se surpreendia com toda a extensão do país que tinha invadido a pouco. Os prédios e ruas totalmente movimentados deixavam o ar urbano bem mais aceso. Ele não estava acostumado a ver tantas pessoas em um curto espaço físico daquela forma. 

Os prédios eram diversos, tanto em tamanho, quanto em sua forma. Eram vários prédios e grandes casas na extensão de apenas uma rua. Aquilo impressionava cada vez mais o garoto, que corria pelas ruas sem um rumo certo. 

Rapidamente, foi possível ouvir os guardas que também corriam pela cidade atrás do jovem invasor. A quantidade de guardas era grande e Mizu não teria chance de fugir tendo em vista a desvantagem numérica que teria que enfrentar. 

— "Que droga, eu não acho nenhuma hospedagem vazia."

Parando por alguns segundos, Mizu olhou ao redor de forma calma enquanto tentava achar qualquer casa que não estivesse aparentemente ocupada naquele momento, porém, sua busca parecia não ter nenhum resultado até aquele momento. Todas as casas ao redor tinham pessoas naquele momento. 

Percebendo que não teria uma saída diferente disso, o garoto retomou sua corrida pela cidade. Ele tentava pensar em um novo plano enquanto corria, mas mesmo para um jovem como ele, era difícil pensar e agir ao mesmo momento. Seu primeiro plano de invasão tinha tido um considerável sucesso, porém, ele não podia ter previsto o que aconteceria dentro de um novo país. 

Seu ritmo naturalmente estava diminuindo por sua parada a pouco. Apesar disso, ele não demorava a recuperar sua intensidade e voltava a correr de forma rápida a cada segundo passado. 

Enquanto corria em grande ritmo, se assombrava cada vez mais com a extensão praticamente infinita que estava à sua frente. As ruas eram muito maiores do que em sua imaginação. O país era pelo menos quatro vezes maior do que ele tinha imaginado em sua cabeça. Para uma pessoa que viveu 15 anos sem sair de uma pequena vila, imaginar uma cidade não seria uma tarefa facilmente assertiva. 

— "Esse lugar é muito grande, mas mesmo assim parece ter pessoas demais."

O garoto reclamou enquanto desviava de uma grande multidão que estava no centro da cidade. O lugar onde ele tinha chegado era como uma praça, um grande aglomerado de pessoas e lojas, separadas apenas por uma fonte rodeada de bancos que ficava exatamente no centro do lugar.

— "Pare agora!" — Disse uma voz forte que vinha das costas do garoto. 

Mizu sentiu seu corpo se arrepiar e ao olhar rapidamente para trás, viu uma mão quase encostar em suas costas enquanto tentava o alcançar correndo. O dono daquela voz era um guarda de cabelos grisalhos e aparência mais velha. Junto dele estavam mais alguns poucos guardas que tentavam correr em meio a multidão. 

Tornando a olhar para a frente, o garoto avistou um lugar totalmente diferente do que tinha visto antes. Era como um anúncio fixo, um prédio com uma grande placa anunciando "hotel".

— "É lá."

O garoto aumentou seu esforço em correr no meio da multidão, que atrapalhava todos os guardas de o alcançarem. Ele era evidentemente quem tinha maior velocidade dentre todos os que corriam. Talvez sua vantagem fosse exatamente a falta da vestimenta adequada de luta. 

Pouco a pouco, os guardas foram ficando pelo caminho enquanto esbarravam nos pedestres da rua. Apenas dois deles conseguiram avançar junto do chefe da operação. 

Mizu, que tinha tido uma clara vantagem em desviar das pessoas, correu passando reto pelo hotel, fazendo com que todos os guardas fossem na mesma direção em busca dele.

— "Ele é esperto." — Disse um dos guardas. 

— "Também é rápido." — O guarda que estava ao lado de seu colega, complementou sua fala. 

"Nós o subestimamos chefe." — Novamente comentou o primeiro guarda, porém, dessa vez disse sua fala com destino ao guarda mais velho. 

O guarda de cabelo grisalho finalmente chegou ao local onde tinha visto o garoto correr. Os outros guardas tinham chegado antes, porém, já davam a notícia de ter pedido o garoto de vista. 

O garoto sumiu em meio a divisão de dois becos, um indo para a direita e outro para a esquerda. 

Respirando fundo, o chefe da operação sinalizou em silêncio para os guardas, que logo seguiram sua instrução, indo um para cada um dos becos. Ele por sua vez, voltou para ajudar os que tinham ficado para trás. 

Era uma incrível comunicação entre eles que se entendiam sem usar nenhuma palavra. 

Sem demora, Mizu apareceu vindo de trás de um pequeno vão entre a parte lateral da estrutura do hotel e o muro. A todo momento ele estava escondido ali, vendo de canto toda a comunicação dos guardas. 

Sem perder tempo, Mizu correu e entrou no hotel sem ser visto pelos guardas, que estavam se ajudando no centro da praça, ao lado da fonte. 

Já no hotel, o garoto pôde respirar enquanto voltava novamente seu semblante de calma, o que normalmente usava em toda situação. Sua expressão não era nada além de um sorriso carismático em um rosto extremamente limpo de imperfeições. Em sua vila de nascimento, era dito que ele nasceu com a sua beleza roubando seu intelecto. 

— "Com licença senhor." — Disse a voz da atendente, roubando o momento de respirar do garoto. 

Se aproximando da mesa de recepção, teve sua mais brilhante ideia até aquele momento. 

— "Você quer alugar um quarto?"

— "Quero sim, por favor."

— "Tudo bem, temos à disposição no momento apenas o número 7 que está no terceiro andar. Pode ser?"

— "Sem dúvidas."

— "São 3 moedas de rubi por noite."

Mizu pegou de dentro da sua mochila o dinheiro que tinha. Por mais de ter vindo de um vilarejo pequeno, sua condição financeira era melhor até mesmo do que a de alguns que moravam nos países-estado. 

De dentro da bolsa, tirou um saco que tinha 20 moedas de Rubi. 

— "Está aqui sua chave."

Os dois trocaram às três moedas pela chave, entregando um ao outro pela mesma mão, em simultâneo. 

Mizu não perdeu tempo e subiu as escadas, indo até seu quarto que era o último do corredor da esquerda do terceiro andar do grande hotel. 

Abrindo a porta, entrou no quarto e jogou suas coisas na cama. Logo ao entrar, ele focou sua atenção na janela que tinha uma vista perfeita de grande parte da cidade. 

Olhando pela janela, viu algo que o encantou. Um grande prédio com uma estrutura similar a uma igreja medieval. Aquele havia se tornado o próximo passo dele a partir daquele momento. 

— "Antes de tudo, acho melhor eu descansar um pouco."

Com a visão levemente embaçada, o garoto foi tomado totalmente por seu cansaço, que o fez dormir profundamente.

   • • • • • 

— "Mamãe?"

Um pequeno garoto de pouco mais de um ano corria para a porta de sua casa após ouviu alguém bater. Sua expectativa era a de quem esperava sua mãe voltar de intermináveis compras. Ansioso, finalmente abriu a porta para ver quem era. 

— "Me desculpe, garoto. Eu não sou sua mãe." 

Um senhor já de idade estava na porta, seus longos cabelos brancos tentavam esconder sua idade já avançada, provavelmente entrando nos 60 anos. O já velho senhor segurava algo em sua mão e logo estendeu para que o garoto pegasse.

— "Papai?" — Disse o garoto enquanto estava confuso com a situação. 

— "Não, eu também não sou seu pai. Nem mesmo sou parente de algum deles. Agora pegue." — Disse o senhor em tom sério. 

Novamente o senhor estendeu a vasilha que estava em sua mão. O garoto que estava ainda mais confuso relutou em pegar, porém, foi praticamente forçado pela insistência do velho senhor. 

A vasilha que tinha pego tinha pouco peso e ao abrir, viu ser de comida, o que o deixou aliviado e extremamente feliz em seu jeito de criança. 

Curiosamente, era estranho que um adulto qualquer tivesse que levar comida para a casa de uma criança praticamente recém-nascida, mas que aparentemente vivia sozinha. Aquela não era exatamente a situação, mas ainda assim era uma realidade diferente do ideal comum. 

O velho senhor sorriu e logo fechou a porta enquanto dava as costas para ir embora. O garoto que ainda estava parado em pé na porta viu o homem ir lentamente. Antes que pudesse o ver sumir de sua visão, uma voz em seu subconsciente atravessou todas as barreiras da ideia de realidade, revelando que aquilo não era mais que um simples sonho.

— "Assim como seus pais, você continuará vendo todos irem! Você ficará sozinho para sempre! Esse é o destino daqueles que nascem de guerras."

A voz extremamente grossa e violenta falava diretamente com o cérebro do garoto pequeno, que, na verdade, representava apenas a alma sofrida do já crescido garoto que estava deitado na cama. 

Sua alma se quebrou em pedaços, seus olhos choravam de forma extrema e sua reação foi apenas uma boca aberta que não resolvia nenhum de seus problemas. Logo, a porta se fechou de forma agressiva, ecoando por toda a mente do garoto um forte barulho. 

— "Se não puder ser forte, apenas morra!" — Disse a voz torturante, antes de finalmente parar de falar. 

O garoto acordou bruscamente, quase que saltando da cama. Seu corpo suava e sua alma estava aflita. Seu corpo tremia e seus dentes batiam um no outro. Os olhos que antes pareciam aliviados se encheram de terror e lágrimas, que lentamente atravessaram seu cansado semblante, que emanava seu puro caos através do medo. 

Logo, o barulho da porta ouvido em seu sonho se tornou um som real que ecoou por todo o quarto. 

Tornando a voltar para sua realidade, percebeu baterem à sua porta de forma agressiva. 

— "Não vou repetir, abra! Nós sabemos que você está aí, invasor." — Disse uma voz autoritária que surgia do outro lado da porta.

Mizu se cobriu de um desespero ainda maior, porém, pôde com aquilo recuperar sua mente e limpar suas lágrimas para pensar em seu próximo passo. 

— "Se você quer que eu lute, assim farei…" — O garoto disse em direção ao seu próprio subconsciente. Era como um sinal de determinação que emanava de sua alma. 

Pegando sua mochila, a abriu, e dela pegou um arco e flecha. Abrindo a janela, apontou seu arco e flecha em direção a algo que pudesse fazer bastante barulho. Seu objetivo era chamar atenção para imaginarem sua fuga pulando da janela, criando maior oportunidade para sair pela porta da frente. 

— "Só mais um pouco… agora!"

Atirando em busca de um amontoado de garrafas que tinha avistado, errou bruscamente a mira, acertando um cavalo que estava na rua. 

— "Hyyyra" — Gritou o cavalo após sentir o forte impacto de flecha em seu corpo. 

O cavalo que teve seu corpo tomado pela dor, adrenalina e desespero, começou a bater em diversas coisas, fazendo um grande barulho. Aquilo não era o que ele queria, porém, teve o resultado que tinha planejado. Não era o ideal, porém, serviria por aquele momento. 

— "Poxa! Eu matei o cavalo?!"

Mizu pareceu se ressentir pela vida do cavalo, mas logo tirou a expressão de dó de seu rosto e entendeu a necessidade de sua ação. 

Percebendo a movimentação dos guardas no corredor do hotel, ouviu sumir grande parte dos barulhos de guardas no lado de fora da porta. 

Recolocando seu semblante de seriedade, decidiu abrir a porta para sair enquanto se preparava para lutar. 

Respirando profundamente, colocou a mão sobre a chave e destrancou a porta sem fazer barulho.

Ao abrir a porta, viu um guarda logo à sua frente. Sem relutar, ele enfiou a espada de forma reta no peito do guarda, o matando instantaneamente. 

Soltando a espada do peito do guarda, virou para o corredor, de onde viu apenas outro guarda pronto para um combate. 

— "Então esse será meu primeiro combate sério de espada. Isso vai ser o máximo!" — Disse, Mizu.