Saindo...

Selene POV

O telefone escorregou da minha mão e caiu no chão enquanto eu congelava em choque. 

Um bebê? Seria isso mesmo possível? 

"Selene!" Lucius me olhou preocupado "Você está bem? Aconteceu alguma coisa?"

"Não," Eu balancei a cabeça ainda atordoada, consegui um sorriso fraco "Estou bem, apenas cansada. Vou para o meu quarto agora descansar,". 

"Tem certeza?" o olhar dele vasculhou o meu com dúvida. 

"Sim, Lucius," eu confirmei com a cabeça "Estou apenas cansada e um pouco de descanso vai me ajudar. Você sabe como eu fico cansada,". 

"Talvez eu deva chamar o Xavier," ele sugeriu e tirou o telefone do bolso. 

Lágrimas embaçaram meus olhos enquanto eu pensava em como Xavier reagiria se eu contasse a ele sobre o bebê. Ele tinha me dito várias vezes que não queria um bebê comigo. Que ele não me amava e que se eu fosse teimosa e engravidasse, estaríamos por nossa conta... Eu e o bebê. 

"Você sabe que não vai mudar nada," Eu disse baixinho, colocando a mão no braço dele para impedi-lo "Eu já perdi o tempo dele esta manhã quando ele me levou ao Hospital da Matilha. Ele não virá novamente,". 

Vi pena nos olhos de Lucius enquanto ele assentia e insistia que me acompanharia até o meu quarto antes de sair. Como Beta do Xavier... não havia muito que ele pudesse fazer. Como eu, ele era ligado ao Xavier através do laço de Beta e havia certas coisas que ele não poderia fazer. 

Meu quarto era uma caixa pequena localizada no final do mesmo corredor do quarto do Xavier. Eu tinha escolhido ele porque era o mais quente de toda a casa. Devido à minha natureza frágil, o aquecimento moderno não era suficiente para mim e, como eu não dormia na mesma cama que o Xavier, eu estava sempre com frio. 

Mas o quarto era perfeito porque tinha uma janela alta e única, e paredes de barro, e isso me ajudava a bloquear o impacto dos sons dos passos de outros ou quando a garota perfeita de Xavier – Belinda - estava por perto. 

Sentei na minha cama, tentando pensar. Dizia-se que ter um bebê neste tipo de união poderia ajudar a quebrar o laço de companheiros entre nós em pelo menos 50%. O que significava que Xavier não precisaria mais me acasalar comigo a cada lua cheia para ganhar força. E também, um bebê poderia trazer amor... mas era muito raro. 

Devagar, coloquei a mão sobre meu estômago, me perguntando se esse filhote estava saudável. As chances de dar à luz a um filhote saudável como o Xavier, ou um filhote tão fraco quanto eu, eram de 50%. Então, eu poderia desistir do filhote ou arriscar com ele. 

Uma batida suave soou na minha porta e antes que eu tivesse a chance de reagir, Xavier irrompeu no meu quarto. Ele parecia furioso. 

"O que foi?" ele latiu olhando para mim friamente. 

Meus olhos se arregalaram de surpresa com a presença dele. Eu não esperava vê-lo até a próxima lua cheia. Por que ele estava aqui?

"N-Nada," Eu gaguejei olhando para ele com medo. 

"Não dificulta, Selene," ele franzuiu a testa "Lucius disse que você teve uma ligação com o hospital e ficou assustada com isso. O que foi?" 

Eu abri a boca para contar a ele sobre a notícia da Doutora Trisha, mas pausei por um segundo para olhar para o homem na minha frente. Ele não se importaria. No pior dos casos, ele me pediria para marcar uma consulta para um procedimento de evacuação e eu senti meu coração se apertar de medo. 

De repente, eu queria proteger a vida crescendo dentro de mim; até de seu pai. 

"Não foi nada," eu disse calmamente "Sinto muito por ter reagido daquela maneira... Eu tive um momento de fraqueza e meu telefone caiu no chão,". 

Seus olhos amoleceram por um momento... mas eu sabia que meus olhos estavam me pregando uma peça porque, no instante seguinte, ele jogou um pacote de mirtilos selvagens em mim. 

"Come isso... vai te ajudar a recuperar," ele disse bruscamente. "Você comeu alguma coisa hoje?" ele perguntou em seguida. 

Em nossos sete anos de casamento, Xavier nunca se perguntou se eu havia comido ou não. Além de Lucius e meus pais, ninguém nunca me perguntou se eu estava com fome ou se queria comer. Será que era isso? O que as velhas histórias diziam sobre um bebê despertar amor? Ele poderia sentir que eu estava grávida?"

"Você está surda, Selene?" ele exigiu "Diga alguma coisa,". 

"Eu só cheguei no meu quarto, vou descer para a cozinha e comer alguma coisa mais tarde,". 

"Se não comer, como espera se manter saudável," ele sibilou e ia dizer algo mais mas se conteve e em vez disso disse "Não vá até a cozinha, vou pedir uma empregada para trazer comida para você e tente descansar. Você está com uma aparência terrível,". 

Com isso, ele virou nos calcanhares e saiu pela porta. 

Isso foi estranho. 

Minutos depois, seguindo a sua promessa, uma empregada entrou no meu quarto com um carrinho de comida e esperou até que eu terminasse de comer. Eu não sabia o que pensar sobre isso, mas me senti esperançosa. Talvez, este bebê mudasse as coisas entre nós e pudéssemos viver como verdadeiros companheiros. 

Foi com esse pensamento que adormeci. 

~~~

Não sei quanto tempo dormi mas quando abri os olhos, estava escuro e senti que minha bexiga explodiria se eu não me aliviasse. Tropeçando pelo quarto escuro, graças à minha visão noturna que era mil vezes mais forte que a de um lobo comum, eu saí do meu quarto em direção ao banheiro no outro extremo do corredor. 

Quando passei pelo quarto do Xavier, algo estranho aconteceu… Eu senti o cheiro dele. Era quase impossível para mim já que meu lobo era super pequeno e não tinha o sentido nasal ativado. 

Seu cheiro era o cheiro da terra após a chuva e estranhamente… Eu soube que era ele sem que me dissessem. Meu lobo, Bea, suspirou de prazer enquanto seu cheiro entrava em nossas narinas novamente. Pela luz em seu quarto, eu sabia que ele ainda não estava dormindo.

Meu lobo estava animado enquanto ela me incentivava a ir até ele. 

"Conte a ele sobre o bebê," ela insistiu "Tenho certeza de que ele ficará feliz,". Ela disse. 

Quando coloquei a mão na maçaneta... outro cheiro me atingiu. Era morango com um toque de limão e vinha do quarto do Xavier. Confusa, eu empurrei a porta lentamente para revelar Belinda inclinada sobre a mesa de bilhar no quarto do Xavier nua enquanto ele a penetrava por trás. 

Seu rosto brilhava com excitação e prazer bruto enquanto ele a empurrava enquanto Belinda gemia como uma banshee. 

"Vou plantar minha semente profundamente no seu útero... você vai carregar meu filho," Xavier grunhiu e se inclinou para beijar a parte de trás do pescoço dela. 

Ele jogou a cabeça para trás e seus movimentos ficaram instáveis… em um último empurrão, ele se esvaziou dentro dela enquanto meu coração se estilhaçava em mil pedaços. 

Essa não era a primeira vez; Eu os tinha visto assim, mas o pedido do Xavier para que Belinda carregasse seu filho continuou soando nos meus ouvidos enquanto eu observava o casal se beijando novamente. 

Minha respiração ficou presa na garganta, me sufocando enquanto o peso da verdade finalmente se assentava em meus ombros… Eu e Xavier nunca seríamos verdadeiros companheiros. Ele nunca me amaria como ama Belinda ou me acasalaria com tanto amor… ele nunca sequer me beijou. 

Xavier deve ter sentido minha presença porque nossos olhares se encontraram e ele me olhou de volta com desafio e quase escárnio ousadamente escritos em seus olhos. A dor no meu coração se intensificou enquanto eu olhava para o estranho que tinha sido meu marido por sete anos e as lágrimas começaram a se formar em meus olhos. 

Segurei a porta com força, meus nós dos dedos tornando-se brancos... O bebê não mudaria nada. Essa era a realidade e as estúpidas lendas lendárias não funcionariam para mim. 

As emoções surgiram dentro de mim – primeiro, foi a dor e depois a raiva seguida por um profundo senso de perda. Naquele momento... senti como se houvesse um desligamento entre mim e o Xavier. Silenciosamente, fechei a porta e voltei para o meu quarto, esquecendo o motivo pelo qual tinha acordado em primeiro lugar. 

Enquanto caminhava de volta pelo corredor silencioso para o meu quarto... deixei as lágrimas fluírem livremente... Eu estava de luto não só porque eu tinha suportado meu marido infiel por sete anos sem queixas, mas porque finalmente me libertaria. 

Eu ia partir... com minha dignidade inexistente e o filhote no meu ventre.