Após a palestra improvisada que damos a Baha sobre as diferenças entre os três tipos de bestas, o ladrão de licores finalmente nos dá nossas tarefas. Tentando esconder o sorriso sádico e falhando miseralvelmente.
Um: Kaz precisa praticar mais sua poker face.
Dois: Tem algum truque nessa tarefa.
Que seja, pelo menos o velho monstro não voltou atrás em nos dar um treinamento básico.
Quando minha mente para de vagar por pensamentos ociosos começo a procurar por rastros de alguma besta passando por aqui e tambem checo em intervalos regulares com a minha percepção.
Tento sempre ficar com os outros membros do time no alcance da minha percepção enquanto amplio a área de busca. Até o momento a maior indicação que algo com mais de cinquenta quilos passou por aqui são algumas lascas nas raízes gigantes.
Bem mais de cinquenta quilos.
Faço um movimento de corte para baixo com meu sabre 'sobreposto' com Ki de ruptura.
Já que é um tipo de Ki tão raro e que eu escondo intencionalmente, Kaz deve perceber que estou usando isso como um sinal improvisado.
Será que o Kaz ou Jill sabem a técnica de troca de informações que Talavar usou quando nos recebeu na Torre?
Seria mais conveniente que isso.
Aguardo cerca de meio minuto até o bebe galões aparecer.
"Encontrou o que ?" Ele fala sem pressa.
"Rastros." Assim que falei quase me arrependi de tentar provocar o velho monstro. "Parecem ser de uma besta de grande porte e indicam a norte ou nordeste daqui."
Ele acena com a cabeça quando acabo de falar.
"Vou chamar a Jill para nos encontrarmos aqui."
Então ele tem a técnica de transmissão de informação e a Jill deve estar monitarando Baha por perto.
Um minuto se passa em silêncio desconfortável até os outros dois membros do time aparecerem.
Com o ruído leve das folhas caídas sendo pisadas Baha e Jill finalmente se juntam a nós.
"Guie-nos." Kaz fala secamente, olhando em minha direção.
Baha olha para mim e realiza que provavelmente vamos estar em perigo quase mortal mais uma vez.
Ambos sabemos que é dificil morrer com Kaz por perto.
Após eu mostrar os rastros e explicar brevemente para qual direção vamos nos dirigir, Jill parece querer intervir em nossa caça mas Kaz a para com um olhar.
Com um suspiro aceito meu destino e sigo os rastros de pegada e arranhões, que acabam sendo mais distantes entre si do que eu esperava, dando a impressão que a criatura é capaz de pulos insanos.
Ou de vôo limitado.
Acho que sei o que estamos caçando.
Uma fera que fugiu no inicio do cerco a Torre, depois é impossivel. Os dois monstros de lá fizeram questão de dizimar todo ser vivo de dentro da barreira de pó, e é capaz de vôo, provavelmente está ferido.
Um tigre alado que percebeu a estranheza da situação antes do cerco começar pra valer e feriu uma ou ambas as asas quando foi contra a correnteza de feras.
Otimo eu não faço ideia de quais são as capacidades dessa criatura a unica coisa que eu me lembro desses tigres é eles sendo dizimados pela barreira de pó do velho bebado.
"Você vai dar alguma dica sobre as habilidades dessa criatura?" Pergunto sem olhar para Kaz.
"Está ferida, isso já é o suficiente para vocês dois manusearem." Kaz responde como se estivesse estatando o obvio.
Ele provavelmente já sabe o que vamos enfrentar, e está so esperando para curtir o show.
O fato de eu não estar surpesa com isso me deixa um pouco preocupada. Que um dia eu aceite os absurdos que Kaz nos impõe como normal.
"Acharam alguma coisa?" Pergunto a Baha enquanto vou seguinda trilha do que provavelmente é um tigre alado.
"Da minha parte não consegui nada significativo mas, Jill parece ter achado rastros de uma alcateia dispersa de lobos olhos de serpente e bufalos komodo perdidos." Ele responde enquanto evita uma das raízes gigantes. "Como Kaz não falou nada acho que podemos assumir que caça-los seria desafio demais para nós."
"Ou de menos." Na mente do velho monstro pelo menos.
Como Kaz e Jill estão atrás de nós, Baha que está do meu lado é o unico quem eu consigo ver a expreção mas, tenho quase certeza que o ladrão de bebidas está com aquele sorriso odioso.
"Mingten." Kaz fala simplesmente com o tom seco dele, ele é um pouco parecido com os anciões que me treinaram evitando respostas ou avisos diretos para tornar tudo uma lição, nesse caso é algo como: Você devia prestar atenção a sua presa, não sabe qual é o alcance dos sentidos dela.
Ele percebe que isso basicamente confirma que estamos proximos de seja o que for o nosso alvo?
Imagino que sim.
Com as mãos faço um sinal de silêncio para Baha que responde com um gesto bobo de costurar os lábios e seguimos em frente. Sei que não preciso avisar o velho monstro mas, Jill não me passa muita confiança.
Ela parece ter experiência com esse tipo de missão então deve estar tudo bem.
Desde que todas as missões não tenham sido dadas como punição.
Respiro profundamente e faço meu Ki circular ainda no dantian, enquanto deixo minha mão repousar no punho do sabre.
Fazendo o possível para silenciar nossos passos avançamos lentamente.
Só esquecemos que Baha é um total novato nesse lado do "mundo" por ele estar se adaptando tão bem com todo esse caos mas, ele é um novato, e isso quer dizer que de vez em quando ele vai ficar tenso e fazer merda. Como exagerar na força da pisada e romper um misero, quase impercetpivel, graveto que estava escondido embaixo das folhas caídas.
Por um momento me deixo ter esperanças de que a fauna da região cause ruídos parecidos quando se locomovem. E em menos de um segundo essa pensamento otimista é destruído por um rugido, que torna meu corpo rigido.
Assim sem conseguir me mover minhas suspeitas são confirmadas quando um tigre alado com a asa direita faltando pedaçõs salta rápidamente entre as raízes gigantes em nossa direção.
Com minha mão ainda no punho do sabre envio um pouco do meu Ki a uma das lápis artificiais, a de eletricidade e não faço nenhum esforço para controlar a pequena descarga elétrica que se segue me tirando do estado de paralisia um pouco antes que o tigre nos alcance.
Aumento a intensidade da circulação do meu Ki e dessa vez ativo a pedra lápis de ar, balanço meu sabre próximo ao chão na direção geral do tigre levantando folhas e pó que cobrem a besta.
Com os poucos instantes que ganhei checo a condição de Baha.
Ele saiu do estupor exatamente agora.
Ele não tentou se dar uma pequena queimadura pra sair da paralisia?
Novato.
Huurraooh!
Com um um rugido e bater de asas, incluindo a desfigurada, o tigre desfaz a nuvem de pó.
Dessa vez nenhum de nós é paralisado, então não ficamos paralisados simplesmente por ouvir o rugido há outra condição que precisa ser atendida.
Baha sobrepõe seu punho com o fogo gerado pela lápis e se distancia de mim, assim evitamos os dois ficarmos paralisados ao mesmo tempo.
Ele é esperto quando importa.
Com a visão livre o tigre escolhe seu próximo alvo, provavelmente porque Kaz e Jill não fizeram nada ele avança sobre eles para testa-los. Kaz levanta Jill pelo colarinho e de a um passo para o lado se esquivando do tigre.
O tigre inala ar em um movimento um pouco exagerado se preparando para outro rugido.
Antes que ele consiga rugir, Jill ainda segurada como um filhote de gato, levanta uma das mãos o que faz com que as mangas do jaleco recuem revelando uma pulseira de vinhas com pedras lápis encrustadas nela. A pulseira começa a girar no braço de Jill e as folhas e galhos ao redor se movem em sincronia criando uma mordaça improvisada que imita a pulseira de Jill ao redor da boca do tigre.
"Eu consigo me esquivar sozinha." Jill fala olhando para Kaz enquanto ele a segura em uma mão.
"Desfaça a mordaça." Ele responde a soltando.
Os dois se afastam do tigre enquanto a força que mantinha a mordaça improvisade se dissipa, virando vegetação morta que o tigre quebra facilmente, ambos ficando em direções opostas a minha e de Baha cercando o tigre.
Agora sem ter para onde fugir, o alvo mais provavel é aquele que não conseguiu lidar com a paralisia.
Não sei se Baha realizou que é o alvo mais provavel, então me preparo para interceptar o próximo ataque.
Em um movimento simultaneo o tigre alado ruge e salta na direção de Baha.
Rápido demais para ele esquivar, nesse ritmo ele vai ser paralisado denovo.
O tigre deve estar usando vibraçãoes transmitidas atraves do rugido para causar esse estado de paralisia, com isso em mente ativo totalmente a pedra lapis de eletricidade que gera faíscas elétricas e em seguida se tornam 'serpentes' cercando o meu sabre, antes que os raios possam atinger qualquer coisa, desativo a lápis de forma súbita criando um som similar a de um trovão.
Espero que isso interfira nas vibrações do rugido, impedindo o tigre de paralisar Baha novamente.
Baha, que parecia querer se esquivar, vai direto em direção ao tigre enquanto a besta ainda não processou que o rugido paralisante foi anulado. Com o tigre nos ultimos segundos no ar de seu salto Baha estende o braço e Katar sobrepostos com fogo e corta o abdomem do tigre enquanto corre na direção oposta.
Corro na direção geral que Baha estava antes do salto para não deixar nenhuma rota de fuga aberta para o tigre alado.
Após ter seu rugido cancelado seguidamente o tigre simplesmente corre em minha direção assim que alcança o chão.
Ativo a lápis de luz enquanto salto para o lado para não colidir com tigre, comigo ainda na sua linha de visão meu sabre reflete a luz de maneira exagerada criando um breve clarão de luz que o desorienta.
Mudo para a lápis de vento fazendo com que vento fique ao meu favor, qualquer melhoria na minha velocidade conta, avanço em direção ao tigre e corto profundamente uma de suas pernas dianteiras.
'Eu queria arranca-la.' Lamento em minha mente enquanto me afasto do tigre que está prestes a soltar outro rugido ao mesmo tempo que tenta me esmagar com a outra garra.
Antes que o tigre consiga rugir Baha atira uma das Katar na direção da cabeça do tigre passando perto de seus olhos mas acaba batendo em seus dentes e presas, não feriu a besta mas interrompeu o rugido.
Com o tigre levemente confuso com o 'palito de dente' que foi jogado nele, desisto de me afastar do tigre, ao inves avanço com tudo segurando o sabre com as duas mãos enfio a lamina na boca do tigre atravessando seu crânio.
O tigre tenta me atacar com as garras mas antes que ele consiga me afasto dele deixando o sabre para trás. Segundos depois o tigre alado finalmente para de respirar.
Um pouco hesitante me aproximo do tigre para pegar meu sabre.
"Se essa coisa voasse eu já estaria morto." Baha murmura enquanto se move para o meu lado.
"Ou teria fugido do velho monstro e da Jill." Respondo meio sem pensar com adrenalina ainda correndo a toda velocidade em minhas veias.
"Como nos saímos?" Pergunto olhando para Kaz quando acabo de remover o sabre da boca do tigre.
Com um suspiro exasperado ele responde.
"Eu devia dar um frisbee pro cabeça de vento."