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Nada Fácil

Na Avenida Central, Dynami

Saik andava à frente do seu grupo de vinte civis, ao lado estava o capitão Williams, que segurava uma Uzi e suava bastante mesmo com o clima nublado.

— Para onde foi o Nahome? — perguntou Saik, por estranhar o sumiço do agente.

— O nosso plano de evacuação não tem nada haver com a Torre. São objetivos diferentes — respondeu o capitão, ocupado em carregar sua Uzi.

— Que puta sacanagem. 

Os Gyakus estavam à solta, mas a preocupação não atingia Saik, ele estava distenso, seu livro aberto e um ventinho frio já eram o suficiente para sua calmaria.

— Achei que tinha deixado esse livro lá no campo — limpando o suor do rosto com um pano branco, comentou Williams.

— É… Eu achava que daria para voltar e pegar, mas percebi que não era uma boa ideia — respondeu enquanto lia o livro.

Grrr! Grrr!

Inesperadamente, um rugido grave e vibrante foi escutado por toda região da cidade, todos os olhares do grupo de Saik voltaram-se para o alto dos edifícios. Uma criatura estava no topo de um grande arranha-céu da cidade, e para acalmar os civis, Williams chamou suas atenções.

— Oh silêncio! Vamos fazer silêncio, por favor!

Com os olhos focados para o monstro no prédio, Saik fechou seu livro e entregou para Williams sem dizer nada.

— O que vai fazer? — perguntou Williams, com o livro em mãos e uma leve tensão.

Ao contrário das pessoas, que estavam trêmulas e sussurravam sons de medo e apreensão, os olhos caídos de Saik demonstravam sua serenidade, não havia nada que pudesse tirar esse comportamento particular. 

— É só um Gyaku, não estou sentindo outro por perto. Poderia levar essas pessoas para as bases sozinho, capitão? — Saik estava tentando ver a criatura com mais visibilidade, pois o imóvel era muito alto e a identificação do Gyaku era irreconhecível, a sua pergunta ao capitão era importante para a segurança dos civis.

Grrr! Grrr!

— Consigo. Mas e você? 

— Eu? Zero preocupação. Eu tô tranquilo, então podem ir — disse Saik, enquanto caminhava tranquilamente para se aproximar do edifício.

Williams guiou o grupo na avenida com objetivo de chegarem nas bases militares no sul da cidade, enquanto Saik observava a figura peculiar. As nuvens escuras e a fria neblina, coincidentemente, abriram-se e deixaram os raios de sol tocar o chão. O mais interessante disso certamente era a aparência grotesca do Gyaku no edifício, tinha o corpo de gorila, cabeça de corvo com dois chifres.

— Gorila no prédio? Que referência inusitada — pensou Saik, roendo a unha do polegar com um sorriso sarcástico como se nada estivesse acontecendo.

O silêncio que tomava conta da região foi quebrado quando o Gyaku soltou um rugido ensurdecedor e, com uma velocidade surpreendente, saltou do edifício. O impacto de sua aterrissagem afundou o solo, formando crateras e rachaduras que se estendiam pela rua. Saik manteve-se calmo, assumindo uma postura defensiva.

— Parece que o bicho não tá a fim de relaxar, né? — os olhos de Saik seguiam cada movimento da besta.

O Gyaku avançou, suas garras gigantescas cortavam o ar com força brutal, e Saik até tentou deslizar para o lado. Mas a criatura furiosamente atingiu-o com a palma de uma terceira pata do gorila, Saik foi praticamente empurrado com força contra a vidraçaria de um estabelecimento. 

Saik caiu dentro de um salão de beleza, com a mistura do aroma de produtos capilares e a poeira dos vidros quebrados no chão.

— Três braços? Que tipo de macaco é esse? — resmungou Saik, levantando-se entre os vidros quebrados.

A impaciência ou fome excessiva da criatura resultava em rugidos estrondosos que ecoavam pelas ruas desertas, e também em destruição. Pois com uma fúria transbordante, o monstro pegou vários veículos que estavam nas ruas e, instantaneamente, preocupou Saik.

— Isso não vai ser tão fácil.

Os veículos giravam no ar e prestes a serem arremessados na direção do Saik, ele não hesitou e ativou sua técnica.

— Elatós: Energia Maleável

Todas as técnicas necessitavam de um simples comando, basicamente era obrigatório que fosse falado o nome do demônio pertencente a seu pacto para que houvesse a ativação. 

Com a adrenalina pulsando em seu corpo, Saik agilmente liberou um pouco de sua energia interna e criou um círculo protetor em sua volta.

Os carros foram lançados com brutalidade, mas colidiram contra o escudo de energia de Saik, ricocheteando e caindo desamparados ao redor do salão devastado internamente. O Gyaku, enfurecido, soltou um rugido selvagem e avançou com sua fúria concentrada no salão. Ele acertou o teto com sua mão fechada, provocando o desabamento completo do teto do estabelecimento.

Ufa!

Saik conseguiu se lançar para fora do salão, agora com os pés na avenida, que estava em estado caótico, inúmeras crateras, destroços e partes desbalanceadas dificultavam um combate.

— Eu não posso demorar muito, não tenho energia externa, então é vencer na técnica ou morrer tentando.

O desmoronamento do salão subiu uma extensa nuvem de poeira que encobriu o local do combate.

— Pouca visibilidade é a arma perfeita para esse bicho feio. A velocidade dele é superior a minha, mas levo a melhor na agilidade. Vai ser uma questão de segundos para conseguir pegar esse bicho no pulo — analisou Saik, com a mão esquerda na cara por causa da poeira densa.

Saik estreitou os olhos, tentando discernir a criatura em meio a pouca visibilidade. Antes que pudesse perceber, uma enorme mão surgiu do nevoeiro poluído para esmagá-lo. Ele projetou seu corpo inteiro para trás e gritou.

— Barreira de Energia! 

A criação da barreira, moldada por energia interna, salvou a vida do Saik. A mão do Gyaku chocou-se com a barreira e reverberou pelo ar, Saik acabou sentindo o impacto do golpe, mesmo com a barreira de energia. O portador sabia que precisava manter a calma e concentrar sua mente.

Em um ataque repentino, ele esquivou-se de um golpe que esmagou o solo. 

— É agora ou nunca.

O monstro estava enlouquecido e voltou a avançar na direção do Saik. Em uma fração de segundos, a silhueta do Gyaku já encontrava-se ao seu lado, e uma ofensiva com as garras era esperado por Saik.

— Ganhei, seu bicho feio — sussurrou Saik, com um sorriso de alívio e uma expressão esperançosa.

Como ele entendeu previamente o movimento do Gyaku, pois o conhecimento de batalha desses monstros é limitado, com poucas ofensivas e ideias em mente para utilizar. Saik aproveitou essa oportunidade, concentrou energia interna em seu braço esquerdo e com um pulo mínimo, certeiro para desviar do ataque de garras que a criatura efetuou. A energia fluía perfeitamente e assim, ele moldou-a em uma lâmina afiada.

No pulo que deu, o seu corpo girou de uma maneira que ele não previa exatamente, mas acabou sendo extremamente preciso. Com uma movimentação rápida, Saik usou a lâmina de energia para atingir o pescoço da criatura. O golpe foi perfeito, a cabeça da criatura se separou do corpo e caiu no chão.

Oof… Oof…

O suspiro de cansaço do Saik não era de menos, o fato de não ter energia externa sempre obrigava-o a lidar com a tensão de usar somente energia interna em um combate. Ele respirou fundo, dissipando a Energia Maleável de seu braço esquerdo, sua expressão inalterada dizia tudo.

— Caramba. Esse gorila foi inusitado, mas foi legal se sentir em um filme — brincou Saik enquanto olhava para o Gyaku morto e ria sozinho com o que ele mesmo disse.

No céu da região, um drone sobrevoava e noticiava o ocorrido entre Saik e o Gyaku para o departamento de inteligência da Torre.

— Departamento, informo a presença de portadores presentes em Dynami. Saik, um portador de 24 anos, sua técnica é Energia Maleável. Tahiko, um portador de 25 anos e sua técnica é Amplitude Natural — informou a voz robótica do drone para a comandante da Torre.

Na sede do departamento, a comandante, chamada Ava, de cabelo loiro e longo, sobrancelhas levemente arqueadas, rosto fino e sério, perguntou ao drone com curiosidade.

— Mais alguém? — perguntou a misteriosa comandante.

— Koji, um portador de 21 anos e sua técnica é Esferas. Os três portadores integram a quinta classe, provavelmente são portadores iniciantes. Aparentemente estão atuando junto com as Forças Armadas para a evacuação dos sobreviventes restantes na cidade.

— Por favor, avise o agente Nahome de sua missão. Precisamos saber quem é o responsável pelo aparecimento dessas criaturas.

Como dito pelo drone, Koji, Saik e Tahiko integravam a quinta classe, que era uma lista classificatória criada pela Alliance que definia o quão poderosos eram os portadores.

Os iniciantes/novatos integravam a quinta classe, a mais baixa. À medida que desenvolviam suas habilidades, subiam para a quarta e terceira classes. A partir da segunda classe, a Alliance e a Torre monitoravam esses portadores com mais cuidado para manter o equilíbrio na convivência com os humanos. 

A primeira classe era a mais alta, pois reunia os portadores mais poderosos do mundo. Cada classe representava um nível de habilidade e controle sobre suas técnicas, com extrema vigia conforme o poder aumentava.