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Conclave

— Quem é você? — perguntou a comandante, pois ela não conhecia o funcionário.

O rapaz, tentando não demonstrar sua ansiedade, deu um passo à frente.

— Meu nome é Nicolas. Sou do setor de inteligência e eu que liguei e falei do relatório.

Ele parecia um pouco nervoso, segurando uma pasta de documentos com firmeza. Nicolas era um funcionário recente no departamento de inteligência, ou seja, um novato como Cole Fuller.

Ela apontou para a cadeira próximo a ele e disse.

— Por favor. Sente-se e me conte com detalhes — disse ela, sentando-se na cadeira de liderança da sala e cruzando as pernas de maneira formal.

Nicolas se sentou, colocando a pasta na mesa.

— Ah, por que eu tô nervoso? — pensou ele enquanto tentava não olhar muito diretamente para a comandante.

Ele abriu a pasta e começou a falar, à medida que organizava os papéis.

— Eu estava revisando os relatórios militares mais recentes dos estados da região Centro-Oeste quando encontrei este. Tinha uma marcação de urgência no canto superior direito — explicou ele, ajustando os óculos quadrados com um leve tremor nas mãos.

Ava inclinou-se ligeiramente para a frente, e o rapaz continuou a contar ao mesmo tempo que espalhava os documentos informativos pela mesa. 

— O relatório veio de uma brigada militar que está nos seus últimos dias de resistência em Cuiabá. Eles mencionam que a cidade está sob um sistema adverso ao governo nacional, liderado por um grupo de portadores perigosos chamados Conclave.

Ava franziu a testa, demonstrando estranhamento. Ela pegou um dos papéis que Nicolas tinha colocado na mesa e começou a lê-lo rapidamente.

— Continue — incentivou ela, sem tirar os olhos do relatório.

— O Conclave bloqueou todas as vias de acesso e meios de comunicação. A população está isolada midiaticamente e logisticamente. Enfrentam escassez de recursos e um aumento alarmante da violência. As tropas da brigada militar estão acabando, perderam muitos homens, e a defesa está extremamente comprometida.

Ava olhou para ele, percebendo a gravidade da situação.

— Entendo. Alguma exigência deixada por eles? — perguntou ela, colocando o relatório de volta na mesa.

— O relatório finaliza com um pedido urgente para o envio das Forças Especiais. Eles dizem que o Conclave não para de expandir.

 — Conclave… Por que esse caso nunca chegou a mim?

Ela então se levantou e ordenou.

— Por favor, pegue o relatório impresso e coloque no sol por alguns segundos.

Nicolas não entendeu a princípio, mas caminhou até o raio de sol que atravessava a grande janela da sala e colocou o papel no sol.

— Acha que eles deixaram algo oculto, é? — Nicolas não estava entendendo bem, a coceira no cabelo indicava exatamente isso.

— Eu não diria "oculto", mas sim camuflado. 

— Mas o que é isso?

E Ava explicou a ele, enquanto aproximava-se do papel.

— Normalmente, a brigada militar deixa informações camufladas nos relatórios de urgência. Existe um medo genuíno deles de terem tudo que sabe retirado deles. A luz do sol funciona para a revelação.

— Caramba.

Foi então que o sol realmente revelou a tal informação camuflada no relatório que dizia.

"Estamos lutando há 10 dias e vamos morrer. Temos certeza que isso chegará a quem deve chegar, mas não confiem nos superiores, mesmo que quem leia isso seja um superior. Ele nos deixou aqui para morrer, o Senhor não pode saber disso, ele montou tudo isso."

— Senhor? Ele tá fazendo uma metáfora com Deus? — genuinamente, Nicolas não tinha entendido.

— Senhor é um apelido profissional do presidente deste órgão.

— É o Rod Sugg, não é?

— Ele mesmo. — apressadamente, Ava caminhou até a porta, e Nicolas perguntou — Aonde vai?.

E abrindo a porta, ela respondeu.

— Preciso fazer um teste rápido que eu marquei, e depois irei resolver as coisas com Rod. Ah, deixe os papéis na mesa e vá para o ginásio do Centro de Treinamento dos Agentes da Torre. Terá um outro jovem novato como você te esperando, e ele já sabe o que vocês deverão fazer. 

— Tá certo — confuso, mas ele reagiu como se tivesse ouvido algo de costume.

Ela correu pelos corredores do último andar do prédio, entrou no elevador e desceu até o térreo. Caminhou mais alguns minutos enquanto limpava o suor na testa com um lenço branco. 

Quando finalmente, ela chegou onde deveria estar há alguns minutos, no Espaço Livre do Centro de Treinamento dos Agentes da Torre.

O espaço era amplo, com grama verde impecavelmente cortada e marcações brancas delimitando uma área retangular. Era uma parte tranquila do Centro de Treinamento, usada mais para relaxamento ou exercícios técnicos menos intensos. 

Com a mão levantada para bloquear o sol intenso, Koji franziu a testa em sinal de desconforto. Ele olhou para Ava com uma expressão curiosa e um pouco cética.

— O que a gente veio fazer aqui? — perguntou ele.

Ao lado dele, Saik mexia-se de forma inquieta, ajustando a roupa justa que os dois estavam vestindo. Ele suspirou, visivelmente desconfortável.

— Precisamos mesmo usar essas coisas? — reclamou ele, puxando a gola do traje. — Sério, essa roupa é tão colada que dificulta a respiração, e eu tenho problema de respiração.

Koji e Saik vestiam trajes muito justos, bem semelhantes aos de ginastas, só que mais colados ainda.

— Vocês estão aqui porque haverá um teste de luta física envolvendo os dois. 

Os trajes que vestiam eram justos, semelhantes aos usados por ginastas, mas ainda mais apertados, desenhados para flexibilidade e controle de movimentos. 

De pé à frente deles, Ava sorriu levemente, observando a relutância dos dois.

— Estamos aqui para um teste de combate físico — disse ela, cruzando os braços.

Koji e Saik se entreolharam, inicialmente surpresos e depois com um toque de diversão. A ideia parecia inusitada para eles. Koji fez uma careta cômica, levantando uma sobrancelha.

— Combate físico? — perguntou ele, com uma risada. — Mas você sabe que, se fosse com você, não seria justo.

— Exatamente — disse ela, caminhando lentamente pelo perímetro do retângulo. — Um soco meu não causaria nada a vocês. E o contrário, bem, poderia me matar. Por isso, vocês vão lutar entre si.

Saik parecia ainda mais confuso.

— Quem vai treinar a gente, então? Outro portador? — perguntou, inclinando a cabeça.

— Não, será apenas vocês dois.

Apontando para as marcações brancas na grama, ela explicou.

— Vocês não devem usar suas técnicas ou habilidades especiais. Esta marcação é o limite da arena. Durante o combate, vou jogar alguns objetos para dentro da área, e vocês podem usá-los como quiserem.

Koji riu, descrente, e levantou os braços em um gesto exagerado.

— Vocês terão apenas um minuto. Se empatar, haverá um castigo para os dois.

— Então, por que estamos com esses trajes colados só para um teste de um minuto? 

Antes que pudessem protestar ou fazer mais perguntas, Ava gritou com potência.

— VALENDO!

Com uma explosão de energia, Saik saltou em direção a Koji, que mal teve tempo de reagir. Saik atingiu o peito de Koji com o ombro, derrubando-o no chão.

Ow!

Koji soltou um grunhido surpreso, o impacto deixou-o momentaneamente sem fôlego.

— Não sabia desse ódio por mim, Saik! — exclamou Koji, enquanto rolava para o lado, escapando por pouco de um chute descendente de Saik.

Ligeiramente, Koji levantou e avançou na direção de Saik, que recuou propositalmente. Enquanto Koji avançava, Saik estava em posição de combate, com os joelhos levemente flexionados, permitindo uma base sólida para movimentos ágeis.

— Só esperar o momento — pensou ele.

Quando Koji lançou um golpe direto em direção ao peito de Saik, ele se inclinou levemente para o lado esquerdo, deixando o punho de Koji passar a centímetros de seu corpo.

— Não! — Koji arregalou os olhos ao errar.

A suavidade no movimento de desvio do Saik dava a impressão de que ele estava deslizando pelo ar, como se tivesse todo o tempo do mundo para reagir. Ele quase parecia estar dançando, seu corpo fluía naturalmente de uma posição para outra.

Koji, sem perder tempo, tentou um chute baixo para desestabilizar Saik. Este, entretanto, previu a intenção de Koji e levantou rapidamente o pé esquerdo, girando o quadril para desviar o corpo. 

Assistindo e analisando de fora, Ava pensou.

— É estranho. Saik é um portador que não possui energia externa, logo os seus movimentos físicos num combate corpo a corpo, teoricamente, deveria ser inferior ao Koji. Mas o movimento dele é totalmente superior às tentativas do Koji, e a falta de energia externa parece não ter comprometido as suas ações físicas.

O chute de Koji passou pelo ar, sem encontrar o alvo. Saik aproveitou o movimento para dar um pequeno salto para trás, criando distância entre os dois.

De maneira imprevisível por não avisá-los, Ava lançou um bastão de plástico para dentro da área. Koji, com sua percepção aguçada, viu o objeto cair e o agarrou com agilidade no ar.

— Ah, quero testar os desvios que consegue! — disse Koji, sorrindo com entusiasmo enquanto atacava com uma série de golpes rápidos.

Saik desviava com facilidade, como se previsse cada movimento de Koji. Ele deu uma cambalhota para trás, pegando uma cadeira de plástico que Ava colocou discretamente dentro do campo. 

Ele a girou nos braços e a usou como um escudo improvisado para bloquear os ataques de Koji.

— Isso vai ficar interessante! — exclamou Saik, com um brilho nos olhos, enquanto bloqueava um golpe e rapidamente contra-atacava, empurrando Koji para trás.

Sentindo a pressão de estar na defensiva agora, Koji manteve a compostura e pensou.

— Eu não vou conseguir ganhar na força bruta, mas dá para tentar algo abusando do meu reflexo.

Ele deslizou para o lado, contornando a cadeira de Saik, e tentou desarmá-lo com um golpe no braço. Saik desviou novamente, mas Koji foi mais rápido, acertando uma pancada leve na perna do seu adversário com o bastão, desequilibrando-o.

— Merda!

Ava lançou uma última surpresa: uma granada de fumaça militar que explodiu ao cair no chão, liberando uma densa nuvem de fumaça cinza que envolveu os dois combatentes. O campo de visão se reduziu a quase nada.

— Onde você está, Koji? — gritou Saik, rindo e se movimentando com cautela dentro da fumaça, tentando localizar seu adversário.

— Aqui! — respondeu Koji, com sua voz vindo de um ponto indefinido. Ele apareceu de repente atrás de Saik, tentando pegar a cadeira de suas mãos e portando o bastão.

Saik girou rapidamente, instintivamente desviando e bloqueando com a cadeira. Os dois estavam tão próximos que cada movimento parecia uma dança rápida e frenética. De certo modo, eles se moviam desesperados, e a fumaça aumentou com a intensidade do momento.

Dez!

Nove!

Gritava Ava.

Oito!

Sete!

Com apenas segundos restantes, ambos estavam em seus limites. Koji tentou um último ataque rápido, mas Saik conseguiu desviar no último instante, tropeçando para trás com a cadeira ainda em mãos. 

De pé, Koji ainda tentou outro ataque com o seu bastão contra Saik, que estava caído no chão e segurando a cadeira.

Apesar do cansaço, Saik desviou mais uma vez, girando o corpo para evitar o bastão e, ao mesmo tempo, desferindo um contra-ataque com a cadeira, prendendo o bastão entre os vãos da cadeira e girando, assim fazendo o bastão sair voando das mãos do Koji.

— Que? — Koji olhou para o bastão voando na direção da Ava, que apenas deu um passo para o lado e esquivou do bastão.

Foi nesse momento que o apito de Ava soou, alto e claro, cortando a tensão. Koji e Saik pararam, respirando pesadamente. A fumaça começou a dissipar, revelando os dois competidores cansados, mas claramente empolgados com o duelo.

— Empate! — anunciou Ava, sorrindo enquanto se aproximava. — Parece que vocês dois vão ter que enfrentar o castigo juntos.

— E o que é castigo? — perguntou Saik, curioso, enquanto aproximava-se de Ava, já Koji se sentou na grama, levemente cansado.

— Vocês vão ficar uma hora dentro de galões grandes cheios de gelo — ela respondeu.

Koji, ainda sentado, deixou escapar um suspiro resignado.

— Mas a gente tá fedendo, esse castigo não é agora, né?

E ela explicou.

— Vocês podem dar uma passada rápida nos banheiros do Centro de Treinamento para se lavarem minimamente. Os galões estão sendo enchidos de gelo neste momento nos corredores do ginásio atlético pelos novatos.

Os dois mostraram uma expressão de descontentamento, mas sabiam que não tinham escolha. Ava deu alguns passos para trás, já se preparando para sair. 

— Eu preciso ir agora resolver uma coisa importante, e vocês já entenderam, certo? Vão ao banheiro, se banhem rapidamente e vão para o corredor do ginásio do CT. Lá tem pessoas que ficarão de olho em vocês. Caso não cumpram a uma hora de castigo, ok? Vejo vocês de noite, se precisar. Caso contrário, apenas amanhã de manhã.

Com isso, Ava se afastou, deixando Koji e Saik para lidarem com as consequências de seu empate. 

— Puta merda… Eu ainda não acredito que ela nos fez vestir essas roupas coladas. — resmungou Koji, se levantando e tirando as gramas da bunda com as mãos.

— Eu não sei se fico puto com isso. Talvez tenha coisa pior pra nós dois fazer mais pra frente, quem sabe…