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Reencontro

V olhava cada cicatriz, cada pequena marca e ferimento naquela pele em uma total descrença, Gabriel havia tirado a camisa e exposto todas as outras marcas em seu torso, V conseguia sentir a dor que ele sentiu em cada uma delas, algumas pareciam extremamente dolorosas, existia até mesmo uma que descia até a região pélvica, não queria saber como aquela parte estava agora.

-Quer saber como eu ganhei cada uma delas? Desde que eu me tornei mercenário elas são a única coisa que eu ganho todos os dias, a primeira eu ganhei aos onze anos, no mesmo ano em que eu entrei pros Espadachins.-Gabriel disse tocando uma cicatriz atravessando seu pescoço horizontalmente, alguém realmente queria matá-lo quando a fez.-Eu estava desesperado por dinheiro, meus pais discutiam todos os dias em busca de uma solução pra conseguir dinheiro suficiente e pagar o tratamento, mas de nada adiantava...

"Chegou ao ponto em que a nossa mãe cogitou assaltar alguém, ela até já tinha comprado a arma, nesse dia eu entrei em desespero, a noite quando ninguém estava olhando eu peguei a arma escondido e fugi de casa, eu fui até uma área mais perigosa do Brooklin e fui até uma gangue aleatória que tinha por alí, eu disse pra elas que faria qualquer coisa pelo dinheiro, eu era jovem idiota, achei mesmo que elas iriam me ajudar. O que elas me pediram era extremo, eu tinha que matar alguém que estava devendo pra elas..."

Gabriel voltou a tocar a cicatriz, acariciando gentilmente a pele marcada.

"Não deu certo, eu fui pego e mandado direto pra cadeia, meus pais ficaram furiosos, mas pelo menos minha mãe abandonou a ideia de roubar. No dia seguinte foi quando eu ganhei a cicatriz, a gangue queria "amarrar as pontas soltas" e mandaram alguém pra me eliminar, eu não tive chance alguma de me defender. Ela me pegou por trás e colocou uma faca no meu pescoço..."

Gabriel invocou uma de suas espadas, olhando seu reflexo na água, ele tinha uma expressão calma apesar do resto da história ser a parte mais difícil.

"O que aconteceu depois foi muito rápido, eu não queria morrer mas minha vontade de viver era muito maior que o meu medo de morrer, foi nessa hora que eu invoquei as minhas espadas pela primeira vez, ou uma delas, na verdade. Eu usei a espada e acabei cortando o braço que me segurava e em retaliação ela cortou meu pescoço antes que eu pudesse escapar do aperto dela, o sangue escorreu muito rápido e apesar dela também estar morrendo pela falta de sangue eu estava prestes a bater as botas..."

Um sorriso, caloroso surgiu em seus lábios, era quase involuntário sorrir quando pensava na capitã.

"Eu acordei algumas horas depois sentindo o cheiro do mar, alguém tinha conseguido me salvar, foi nesse dia que eu conheci a Valery. Ela cuidou dos meus ferimentos e me deixou dormir no seu navio até eu me recuperar, quando perguntei o porquê dela ter me salvado ela me disse que me viu lutando pela minha vida, disse que eu era mais forte do que eu parecia, era um guerreiro de verdade, ela me falou que aquela gangue iria continuar a me perseguir enquanto eu vivesse, o único jeito seria eliminá-las primeiro..."

A sensação de contar aquela história era nostálgica, ele ainda se lembrava bem de como seus olhos brilhavam quando estava diante da capitã.

"Eu treinei com ela por uma semana, e alguns dias depois a notícia de que a gangue tinha sido dizimada uma por uma em uma única noite foi anunciada, o assassino havia matado todas elas sem deixar rastro, depois disso eu comecei a agir em nome dos espadachins e consegui dinheiro o suficiente não só pros meus pais pagarem o procedimento da minha irmã, mas pra gente mudar de vida, hoje nossa família não passa mais dificuldade graças a mim."

-Todas essas cicatrizes valeram a pena, porque tudo que eu fiz foi pela minha família, no meu contrato essa foi a minha única exigência, minha família jamais seria exposta a essa vida.-Gabriel o olhou com uma certa raiva no olhar, V entendia agora, aquela não era uma vida que o caçula dos Heddle desejava para a irmã.-E aí você apareceu, expôs a minha irmã a essa vida de cão que nós levamos...

V teve que rolar os olhos por trás da máscara, todo aquele papo super protetor, já o estava enchendo.

-A Astrid sabe se cuidar muito bem, ela não precisa de você ou eu pra protegê-la.-Nem dois segundos após sua frase ter fim, uma lâmina de água foi arremessada bem ao lado da sua cabeça.

-Um dia! Vocês ficaram juntos e em um único dia, a minha irmã perdeu um olho!-Gabriel exclamou chegando bem próximo de V, o encarando cara-a-cara sem medo algum.-Você viu do que eles são capazes de fazer, acha que a minha irmã é capaz de se defender sozinha da magia deles?

Gabriel tinha razão naquele ponto, nenhum humano era capaz de se igualar a um MB no quesito magia, apesar de ser uma fera a maior não era invencível.

-Me diz, quando um deles chegar na Astrid o que você vai fazer?

Os punhos do tecelão se fechavam, ele estava prestes a respondê-lo de maneira mal educada, quando sentiu algo o atingir em cheio.

Seu corpo foi jogado longe e pode ver Gabriel sendo arremessado também, das sombras surgiu um rosto familiar o observando com um olhar de puro ódio.

-Sentiu minha falta, Victor?

Foram poucos segundos até V distinguir o rosto caolho de Garren e ouvir o som das lâminas de pulso do louva-deus sendo sacadas.