Com ele saindo do coma a casa virou uma loucura, nem se deram conta de que ele só não reconhecia a Alexia, ligaram para o médico, que ao ve-lo decidiram interna-lo imediatamente, lá fizeram baterias de exames.
A família está no quarto esperando o médico, não demora muito ele entra.
— Como ele está doutor?— Vanusa pergunta assim que ele entra.
— Senhora Vanusa, aparentemente bem, estou esperando os outros exames ficarem prontos, sua dicção está voltando ao normal, ele se lembra bem de tudo que ocorreu antes do acidente e descobrimos que ele foi capaz de ouvir e ver tudo a sua volta em um determinado tempo.
— Mas como explica isso doutor? Nunca tinha ouvido falar sobre tal possibilidade.
— É muito raro, porém acontece, ela é conhecida como Síndrome de Locked-In. — O médico coloca o raio x e os outros exames para Vanusa entender.— A Síndrome de Locked-In ocorre quando há uma lesão no tronco cerebral, especificamente na ponte protuberante. Essa região é responsável por transmitir os sinais nervosos entre o cérebro e o resto do corpo. Quando há danos nessa área, como no caso de Benício, as vias neurológicas responsáveis pelo movimento são interrompidas, resultando na paralisia dos músculos do corpo, exceto dos olhos.
— Ele terá uma vida normal daqui pra frente?— Pergunta Alexia preocupada.
— Não sabemos dizer ao certo. Conversando com ele, descobrimos que seus movimentos estão fracos, isso ocorre ao tempo em coma, os músculos de Benício ficaram atrofiados, o que o deixou temporariamente paralisado. Apesar da paralisia, as áreas do cérebro associadas ao processamento auditivo e visual permanecem intactas. Isso significa que Benício foi capaz de receber estímulos visuais e auditivos de seu ambiente, permitindo que ele ouça e veja tudo o que estava ao seu redor. Embora seja uma condição desafiadora. Agora é crucial fornecer o suporte necessário para Benício durante esse período, oferecendo-lhe cuidados médicos adequados, terapia física e ocupacional, além de apoio emocional para que ele possa se readaptar gradualmente e alcançar melhor qualidade de vida.
— Faremos o que for necessário.— Vanusa fala segurando as mãos de Benício e Alexia.
Com os dias passando Alexia trouxe especialistas de outros países para ajudar Benício a se recuperar, apesar de estar voltando ao normal com os procedimentos médicos, Benício se recusa a falar. Os médicos não conseguiam explicar como a recuperação repentina era possível, em poucos dias ele conseguia se manter de pé, dar pequenos passos e os movimentos das mãos estava voltando gradualmente. Era como se ele estivesse dormindo todos esses 3 anos.
Alexia ficou do lado dele todo tempo, emocionada por ele acordar e se dedicando mais que o normal, ela afastou da empresa e ficou no hospital com ele, revezando com Vanusa e Betina. Em tudo que ele fazia, Benício encarava a bela mulher que ali estava.
Ele conseguiu lembrar dela assim que os efeitos dos medicamentos passaram, enquanto Alexia ajudava em seus exercícios, Benício pensava por que essa mulher fazia ali, e o por quê dela estar ajudando tanto um desconhecido? Ele queria perguntar, mas algo o impedia.
Mesmo com os médicos deixando claro que a memória do Benício está intacta a família concluiu que ele esqueceu somente dela. Com os dias na clínica Vanusa proibiu qualquer visita, somente a família podia chegar perto...
Hoje o dia estava tranquilo, Alexia já tinha ajudado ele com a fisioterapia, ajudou no banho e o alimentar. Ela estava olhando ele dormir, os exercícios esgotava muito ele e com os medicamentos fortes ele passava o maior tempo dormindo, muitas vezes ele fingia não estar evoluindo, Benício tinha medo de que se ele se recuperasse por completo, Alexia iria embora. Ele gostava dos carinhos dela, de como ela cuidava dele.
Em um mês ele nunca tinha pensado em Dafne, até essa tarde. Alexia estava lendo um romance para ele, com a convivência e os cuidados ela sabia que eles estava fingindo dormir, cada palavra de um capítulo ele fazia expressões faciais que fazia ela rir silenciosamente.
— Ali poucos metros de onde estou, o homem que amo, com minha melhor amiga, não sabia como reagir, minha vontade era de sair correndo e me afungentar como sempre fiz, mas fiquei imóvel vendo ele beijar sua boca, seus elogios entravam em meus ouvidos, e tudo que conseguia sentir era o gosto amargo e a dor dilacerante dessa traição...— Ela lia com atenção, sentindo a dor que aquela personagem estava sentindo. Uma batida na porta interrompe sua leitura.
— Posso entrar?— Dafne fala já se coloca para dentro, Alexia concorda com a cabeça com um mal pressentimento, ela para na frente da cama e fica observando ele.— Posso falar com ele um instante? Será rapidinho!—Nesse momento ele abre os olhos e sorri ao ver Dafne ali.
— Claro.— Mesmo a contra gosto Alexia concorda.— Amor a sua amiga quer falar com você, vou deixa-los sozinhos, depois eu volto.— Os dois se olham por longos minutos.— Se precisar, me chama. Benício?
— O que? — Ele fala com a voz um pouco rouca.
— Eu te amo... — Alexia se aproxima e da um leve beijo nos seus lábios, ele não entende o que está acontecendo, do porque essa mulher o beijou na frente da sua namorada, mas o beijo foi tão rápido que ele nem teve tempo de virar o rosto e protestar. Ela sai do quarto e vai para o refeitório da clínica, Alexia estava a madrugada inteira até quase o horário do almoço, com ele.— Por favor, me vê um café puro.— Com as mãos no rosto, cansada e com frio, ela resmunga.— Por que ele me olhava com tanta indiferença, já para a Dafne olhou como se fosse a mulher mais especial do mundo?— Com raiva ela acaba bufando alto demais, chamando a atenção para ela, Alexia é conhecida por toda pequena cidade, as pessoas a olha preocupados.
— O que foi senhora Alexia, algum problema? Posso lhe ajudar de alguma forma?— A garçonete fala com uma voz doce, mostrando toda sua preocupação com ela, Natasha coloca o café sobre o balcão e a olha com ternura.
— Oh! Não, imagina, não aconteceu nada meu anjo, não se preocupe, me desculpa por assusta-los, estava pensando alto demais. Obrigada pela preocupação Tasha.— Alexia sorri para a garçonete e para os senhores que sorria para ela, logo Natasha vai atender outras mesas, e ela fica ali sozinha, encolhida pelo frio que estava fazendo, ela fica imersa nos seus pensamentos.
— Querida, meu marido pediu para lhe entregar, não quero ser indelicada, mas percebemos que está com frio.— A gentiu senhora entrega um casaco para Alexia, que levanta e a abraça tão agradecida.
— Obrigada senhora, muita gentileza da parte de vocês, prometo lavar e devolver em breve.— Os senhores se despedem e ela novamente fica sozinha, até que Vanusa entra correndo, estava angustiada procurando ela, as duas iam trocar os horários, agora é a vez da mãe de Benício ficar com ele.
— Desculpa a demora filha, minha mãe saiu sozinha e demorei para encontra-la.— Alexia olha com dor no coração ao saber que Emma havia saído de casa sozinha e correria riscos nas ruas.
— Meu Deus, está tudo bem com ela? A encontraram?
— Sim, ela disse que foi te procurar, com tudo que aconteceu, você não conseguiu ver ela pela manhã, e a teimosa disse que vão tomar você dela de novo.— Alexia fica triste pela doença da vó, mas feliz por saber que mesmo ela esquecendo quase todos dia até mesmo dos filhos, ainda sim ela se lembra dela, mesmo que seja a lembrança de outra pessoa que ela vê na Alexia.
— Vou passar dar um abraço nela.— Alexia suspira tristemente lembrando do olhar que recebeu do Benício.
— O que foi filha?— Vanusa segura nas mãos dela e encara os seus olhos.— O que aflige o seu doce coração?
— Sabe, são sei o que acontece, des que Benício acordou ele me olha como se nunca tivesse me visto antes, já com a Dafne ele falta levantar da cama e ir abraçar ela.
— Fica calma minha preciosa, talvez ele possa estar confuso pelo tempo que ficou em coma, você vai ver, assim que receber alta, ele ira conversar com você, eu sei que vocês se amam, tanto que iam até me dar um ne ...— Vanusa se cala ao quase falar sobre a gravidez.— Apesar dele nunca ter falado numa namorada, eu sabia que ele tinha alguém, só não imaginei ser tão especial assim, como você é.— A mãe de Benício desconversa, mas cada palavra que sai da boca dela referente a Alexia é as mais sinceras.
— Obrigada minha sogra linda, eu realmente precisava ouvir isso.— Alexia termina o café sem nem se dar conta no que Vanusa ia falar. Alexia abraça Vanusa com gratidão, sentindo-se reconfortada pelas palavras sinceras de sua sogra. Aquela conexão familiar era algo que ela nunca imaginou ter, mas que agora valorizava imensamente.
As duas permanecem abraçadas por alguns momentos, compartilhando o calor e o carinho entre elas. Alexia sabia que poderia contar com Vanusa para enfrentar qualquer desafio que viesse em seu caminho. Finalmente, elas se separam e Alexia toma uma decisão. Ela tinha que encontrar forças para confrontar Benício e entender o que estava acontecendo. Ela não podia mais continuar naquele limbo de incertezas.
— Assim que ele estiver melhor quero entender o que está acontecendo, se realmente ele esqueceu quem sou.
— Estarei do seu lado para tudo.— Vanusa fala sorrindo graciosamente, Alexia se despede dela e sai em direção da casa, para ir tomar banho e voltar para o escritório.
No quarto, Benício senta na cama e puxa Dafne para um longo abraço, sem exitar beija seus lábios com saudade.