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Capítulo 1 - Massacre Na Floresta Parte 1 - Partida

No cimo de uma colina havia uma pequena cabana, que pertencia ao guarda florestal nos limites da pequena cidade fronteiriça Agneza, a norte de Nsona. A cabana, era o único ponto acesso seguro para exploradores e aventureiros, sob a liderança do guarda florestal, que previamente os instruía sobre os cuidados dentro da floresta.

- Bom dia! Senhoras e Senhores! - O guarda florestal saudou com vivacidade, um homem de pele clara com cabelos castanho-escuros, exibia um porte físico de um lutador de artes marciais profissional que media entre 1,90 a 1,95 m. A indumentária era típica de um guarda florestal, que carregava uma espingarda em suas costas e um machete preso na cintura. - Eu sou Kofu, e serei seu guia nesta expedição á Floresta dos Minkisi! - Apresentou-se ele. - A seis anos que guardo e vigio este lugar, e sob minha liderança os levarei até as ruínas de Narrete, passando pela cachoeira Wanga e Morro Mpata! - Informou. - Sigam em fila única atrás de mim, não toquem em nada e nem saiam da formação, partiremos em cinco minutos!

Olhando na direção da floresta o guarda viu um jovem trajado como silvicultor adentrando as densas árvores, carregando apenas um machado apoiado em seu ombro direito. O mesmo aparentava estar na casa dos 20 anos, com tom da pele negra e cabelos cacheados escuros avermelhados nas pontas, que lembravam pincéis escorrendo tinta vermelha iguais a sangue, a mesma cor de seus olhos, o rapaz, devia medir entre 1,75 a 1,80 m. O guarda que até então estava serrando os olhos atento ao silvicultor, arregalou-os quando ele sumiu entre a vegetação em poucos segundos, sem deixar rastros de sua existência.

Os raios solares se intensificavam a cada minuto naquela manhã, e com os preparativos terminados é chegada a hora de partida. Tal como orientados, os exploradores se puseram em fila indiana atrás do guarda, que parecia uma montanha de músculos se movendo em direção a floresta. A expedição era composta por trinta exploradores fora os três homens encarregues da proteção da mesma, estavam o guardas florestal liderando, o seu assistente um homem magro com bigodes trançados no estilo viking, que carregava uma mochila maior que ele, e o batedor, um homem de meia-idade que mais parecia um tanque de guerra.

Já se passou meia hora desde a entrada do batedor na floresta, e Kofu, olhava para o pequeno dispositivo em sua mão esquerda, como se estivesse aguardando alguma resposta do objeto, alguns minutos depois um bip emanou do aparelho e ele o guardou no bolso. - Muito bem, pessoal, hora de partirmos! - Avisou o líder, se dirigindo para a floresta confiante.

- Que empolgante! - Disse um dos exploradores entusiasmado. - Uma infinidade de descobertas, bem na nossa frente!

- Ei! quanta empolgação, Dikanu?! - Indagou a jovem atrás dele, a jovem era uma Animalis e tinha traços de um suricata, que media 1,65m de altura. - Se acalma um pouco!

- Ekaia, não finja que não sentes o mesmo? - Perguntou ainda mais eufórico. - Quanto tempo faz desde a última expedição feita nestas terras esquecidas?

- Nunca houve exploração alguma em Narrete! - Respondeu Ekaia, com um enorme sorriso no rosto. - Devido aos conflitos entre as três grandes nações vizinhas! - Explicou ela. - Mas, graças ao novo acordo entre Chana, Victória e Nsona, temos passe livre para explorar!

- Viu? - Perguntou Dikanu, radiante. - Dá para ver a animação na sua voz! - Os dois explodiram em gargalhadas instantaneamente.

Afastado do casal no grupo traseiro, um velho e historiador e um homem de meia-idade que se vestia como mercenário, conversavam enquanto os outros dois carregavam as bagagens.

- Hei, velho Kaijoko! Tem certeza de que ''Aquilo'' está aqui? - Indagou o homem de meia-idade.

- É claro que está, jovem Hima! - Respondeu-lhe o velho, esboçando um leve sorriso. - Eu procurei por ''Aquilo'' por toda minha vida, então tenho certeza de que está aqui!

- Isto é fantástico! - Disse mercenário com alegria.

Pelo caminho puderam observar Tauracos de Crista-flamejante, uma espécie de pássaro que como o nome sugere tem a crista uma de fogo, e Niotibó Portador de Raios, são pequenas aves que quando batessem as asas criavam relâmpagos e sumiam com eles no ar. Algumas arvores como Inkamamasane Florescente e Umbangalunda Escarlate chamaram a atenção do grupo, bem como outras espécies mais abundantes e vistosas.

As horas passaram, enquanto o grupo se aproximava da cachoeira de Wanga à sul, uma debandada que vinha do Norte para sul, mudou a direção quando se deparou com os exploradores. Era uma manada de Holongo Nebulosos, uma das espécies de antílope únicas da região com cascos e caudas fumegantes e quando em movimento criavam um rasto de nevoa densa.

Apôs a névoa se dissipar, a paisagem da maravilhosa cachoeira apresentou-se para os curiosos exploradores. E a alguns metros do rio, foi montado um acampamento provisório para pesquisa e recolha de materiais, pois o ecossistema em si era inédito.

- Ok, pessoal! - Pronunciou-se Kofu, em um tom audível a todos. - Temos duas horas para coleta, descanso e pesquisa, então aproveitem ao máximo! - Disse olhando novamente para o dispositivo em sua mão.

- Hei, Ekaia! - Dikanu, a Chamou enquanto analisa uma tábula pequena, um pouco mais rio abaixo. - Está em Narrete nativo ''Tundaku'' o que significa?

- E-é exatamente escrita nativa! - Disse ela se aproximando do colega. - De uma forma nada amigável ''Saiam''! - Afirmou ela. - E parece que foi feita recentemente, já que a vegetação não é tão vívida nesta tábula!

- Porquê alguém iria colocar algo assim num lugar desses? - Perguntou Dikanu.

- Vai saber, esquece isso! - Respondeu ela dando de ombros. - A equipe de arqueólogos descobriu uma caverna por de trás da cachoeira, vamos lá ver! - Meio a contragosto ele a seguiu, dando uma última olhada na tábula deixada para trás.

Dikanu, adentrou a caverna debaixo da cachoeira seguindo Ekaia, se deparando com um corredor que lembrava a entrada de uma tumba. A vegetação, a humidade cobrindo as paredes mostravam que a muito tempo que este espaço não era visitado por alguém. Havia algumas figuras entalhadas nas paredes, que pareciam contar uma história em uma língua indecifrável, até mesmo para os arqueólogos estudiosos.

Mais adiante na gruta, era possível visualizar uma variedade de cadáveres ressequidos, conservados pela humidade e ausência de luz espalhados no local, e pela posição de cada corpo parecia que foram atacados por alguma coisa que os encurralou.

- Ei, Jorge! - Chamou um dos arqueólogos. - O que achas que fez isto? - Indagou ele, com preocupação.

- Não sei! - Respondeu Jorge, analisando os corpos. - Pode ter sido um animal selvagem!

- Olhe bem para as roupas e joias! - Disse novamente o arqueólogo. - São da era Jikama (cicatrização)! - Afirmou ele ainda inquieto. - Mas essas terras foram abandonadas séculos antes da era Jikama!

- O que você quer dizer com isso, Moniz? - Questionou Jorge a argumentação do colega.

- Essas pessoas foram mortas a quase 150 anos! - Respondeu Moniz com seriedade.

- Eu me perguntava o que faziam juntos elfos, aquaris, animalis e anões numa caverna em uma terra inabitada! - Interrompeu Ekaia, se agachando junto ao cadáver para analisar um bracelete decorado com missangas e uma escrita específica, Nix. E quando tentou tocar no bracelete, ela sentiu um leve formigamento na ponta dos dedos, a joia emitiu reação estática durante o contacto. - Uau! - Disse em espanto sacudindo a mão rapidamente. - Parece que há eletricidade no ambiente, me empreste umas luvas de borracha? - Pediu a Dikanu atrás de si, que em seguida vasculhou sua mochila.

- Aguarde um instante! - Respondeu enquanto retirava alguns itens da mochila, poucos segundos depois ele estendeu a mão direita para ela. - Aqui tens!

- Prof. Moniz! - Chamou a Jovem arqueóloga, retirando a bracelete. - É possível que este grupo tenha sido vítima de perseguição durante a Jikama?

- Isto é possível..., mas não faz sentido! - Disse o professor pensativo. - Já que apenas mercenários esclavagistas perseguiam outras raças, para os comercializar!

- E chacinar um grupo inteiro de civis e ainda deixar os pertences valiosos para trás, é incomum! - Completou Jorge, aproximando o seu rosto ao bracelete que Ekaia exibia com a mão esquerda a todos.

Hima, prestava atenção na conversa dos arqueólogos e parecia interessado em tal objeto, mas mudou o foco quando Kofu entrou na gruta e gritou. - Exploradores, terminou o tempo! - Anunciou ele do centro da caverna. - Temos que chegar até Mpata antes do anoitecer! - Os exploradores voltaram a formação anterior.

Assim que abandonaram a cachoeira em direção ao Norte, eles caminharam por duas horas seguindo Kofu, até que ele fez sinal para pararem numa clareira com pequenas poças enquanto olhava para o dispositivo a espera de sinal. O silencio do aparelho mostrou a Kofu, o que a pressa de chegar ao Morro de Mpata não o permitia enxergar. A floresta havia mudado bruscamente em pouco tempo, a abundância de variedades de animais que perambulavam ao redor caiu para zero e as arvores pareciam mortas. E uma sensação inquietante de estar a ser observado o afligia, e quando associado com a falta de retorno de seu batedor.

Kofu sabia que algo os seguia enquanto os cercava a uma distância considerável desde o momento que saíram da caverna, mas para fazer uma breve analise e criar uma estratégia para a situação propôs uma pequena pausa.

- Meus senhores! - Gritou chamando a atenção de todos. - Esta paragem foi feita de emergência devido a uma situação incomum, e terei que pedir que deixem para trás qualquer coisa que seja pesada e que atrapalhe na sua mobilidade ou de outro! - Disse em tom firme olhando para os exploradores. - Pois teremos que nos apressar a chegar até Mpata, porque estamos a ser seguidos por Iyanda Dikixi da floresta!

Assim que ouviram o motivo da paragem, a imagem de alguns monstros disformes de cabeça enorme com braços e pernas contorcidos sedentos de sangue, surgiu em suas mentes. E em prontidão pegaram apenas no essencial e formaram duas filas indianas com Kofu na frente, enquanto o grupo de 12 mercenários do velho Kaijoko e Hima ficaram na retaguarda. Ao partir em direção a Mpata a toda velocidade, Hima fez uma expressão de empolgação esboçando um leve sorriso como se esperasse por esta situação a tempos.

- Muito bem, rapazes! - Disse Hima, que ao contrário de outros mercenários que carregavam lanças, espadas longas, flechas e machados, ele portava um par de sabres-curvas nas costas. - Vamos dar um 'Show'!

- Wooooh! - Responderam em coro os outros mercenários.

Depois dos primeiros 5 km, a exaustão tomou conta dos exploradores o que começou a diminuir o ritmo do grupo drasticamente, permitindo que os Dikixi se aproximassem mais rápido, dando início a um confronto de média distância. O grupo mercenário era composto por quatro arqueiros que mantinham os monstros distantes, três lanceiros que cuidavam dos que escapavam das flechas, três espadachins apoiando os lanceiros e o velho Kaijoko que era o curandeiro cuidando do grupo todo, os Dikixi não eram particularmente fortes, mas sim numerosos, o que suprimia as forças dos mercenários.

Depois de uma hora correndo, com os exploradores todos calmos seguindo as instruções de Kofu, mas a exaustão começou a tomar conta dos corpos dos mercenários que ainda permaneciam firmes. Mas na frente do grupo, uma investida de Dikixi atacou como um tsunami dilacerou a maioria dos exploradores, e arrancou o braço direito de Kofu, ainda com a mão esquerda ele lançou uma bola de fogo gigantesca, que abriu caminho para os restantes seguirem em frente.

Com a abertura criada por Kofu, foi revelada um mar de Dikixi que cobria a paisagem inteira, e o choque visual desencadeou pânico e histeria, perturbando a formação defensiva e por consequência anulou a estratégia inicial. Assim que se quebrou a formação, e cada um correu para uma direção, Ekaia encontrava-se paralisada, enquanto Dikanu a sacudia para acordá-la, perto deles, Jorge tentava alcançar Moniz que tivera a parte de baixo devorado por um Dikixi. A tentativa de Jorge recuperar seu amigo o distraiu de tudo ao seu redor, sendo cercado por três Dikixi, o pavor o impedia de gritar por ajuda ou mover um musculo para fugir. Dikanu sentiu um arrepio apenas com o som de ossos quebrando e carne se rasgar, foi então que ele olhou ao redor para ver que o massacre se iniciou e em fração de segundos foram reduzidos de 30 para apenas 13 sobreviventes. Ekaia estava em choque, Kofu gravemente ferido, Dikanu e os 8 restantes exploradores eram inúteis já que não sabiam usar habilidades de combate, Hima e Kaijoko estavam sobrecarregados pela quantidade de monstros a se defender.

- Temos que chegar até Mpata, antes que isto piore! - Disse Kaijoko criando uma bolha de água em volta dos sobreviventes. - O mais rápido que pudermos!

- Com apenas dois de nós podendo lutar não vai ser possível que todos sobrevivam! - Respondeu Hima ofegante. - E carregar peso-morto não ajuda, será melhor se os deixarmos para trás!

- E-Eu... ainda consigo lutar! - Retrucou Kofu se levantando apoiado no seu machete outrora preso em sua cintura. - E não vou deixar que alguém que confiou a vida a mim fique para morrer enquanto posso lutar!

- Mesmo perdendo parte do torço ele ainda consegue se mover?! - Disse Kaijoko com admiração. - Deve estar usando uma quantidade absurda de ''Mana''!

Mana é a energia vital que reside em todos os seres vivos, podendo conceder habilidades variadas dependendo do seu 'vinculo elementar', quer seja fogo, água, terra ou ar. Além de aprimorar suas habilidades físicas, é um elemento usado em toda parte estando presente no quotidiano nas coisas simples. E o fato de ter pertencido ao exército de Nsona, o permitiu aprender o manuseio da mana, sendo proficiente no elemento fogo e terra.

- Não importa quanto tempo passa, o senso de honra de um soldado sempre permanece irritante! - Bufou Hima, depois de um longo suspiro.

- Mais velho! - Chamou Kofu, olhando para Kaijoko. - Consegue manter essa bolha por quanto tempo?

- Nessas condições, uns 10 minutos! - Respondeu-lhe o velho. - Porquê?

- Eu preciso que estenda para 15 minutos enquanto vamos para Mpata! - Pediu Kofu com muita dificuldade de respirar. - Eu cuidarei dos Dikixi fora da bolha enquanto isto!

- Tem certeza que consegue? - Hima questionou vendo o estado do líder da expedição.

- Essa é a única chance que temos! - Afirmou Kofu. - A única em que todos sobrevivem!

Dikanu pôs Ekaia em suas costas e se preparou para partir, os demais faziam o mesmo e tentavam dar suporte a quem não era capaz de se mover. Faltavam 2.5 Km até Mpata, e sem a interrupção dos Dikixi era fácil alcançar 800m em 5 minutos, a única resistência era a fatiga acumulada, mas o desejo de viver superava tudo.

O Morro de Mpata estava cada vez mais perto faltando 200m, Kofu, invocou um mar de chamas fora da bolha de água, o que reduziu grande parte da área em carvão junto com os Dikixi. O calor extremo fez com que a bolha de água evaporasse assim que chegaram a 100m dos portões de Mpata, e a fumaça começou a se dissipar e revelar uma figura humanoide esguia. O som dos passos no solo carbonizado, pareciam tambores anunciando a chegada da morte, o cheiro a queimado sumiu dando lugar ao aroma putrefato de cadáver, bem como o calor das chamas substituído por um frio arrepiante acompanhado de um medo que nunca haviam sentido antes. Dikanu e os outros exploradores começaram a vomitar sem parar pelo medo, uns até desmaiaram assim que viram o rosto da figura que fez Kofu, Hima e Kaijoko caírem de joelhos só com a sua presença.

- P-p-porquê um m-mensageiro da morte está aqui? - Gaguejou Kaijoko ao ver o corpo humanoide da figura, com braços e garras longas, pernas de raposa e cauda brilhante flamejante.

- Não olhem para o rosto dele! - Gritou Hima baixando a cabeça. - Quem olhar vai morrer na hora! - Disse evitando olhar o rosto da figura, que tinha uma caveira que parecia flutuar em uma fumaça negra que saia do pescoço e dava forma a sua cabeça.

- Não está aqui! - Disse o mensageiro da morte, a voz era tão grave que nenhum humano entendia o que falava.