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Capítulo 41 – Weenny: O meu passado

Os Amigos POV: 

Todas as festas são especiais para eles, mas esse lançamento dá um toque especial, é um novo projeto realizado, uma sensação prazerosa de dever cumprido, de constatação de suas qualidades como atores e bailarinos.

A imprensa se reúne para pedir que respondam algumas perguntas a respeito deste segundo filme, há um misto de orgulho e alegria nas expressões de todos os amigos, em especial ao ver que são alvos de tantos elogios.

Voltam ao hotel em carros separados, mas sabem que não vão conseguir dormir essa noite, por isso se reúnem no quarto do Ricardo, apenas para conversar.

Relembram os pontos principais da entrevista e se emocionam com tudo o que viram e ouviram.

— Todo o roteiro inicial estava pronto, mas foi adaptado após a apresentação do projeto, eles agregaram ideias incríveis e até mesmo argumentos para os seus personagens. Aconteceram improvisos e isso tudo deixou nosso trabalho ainda melhor.

— Nós os conhecemos após o sucesso com o remake e a festa indiana na emissora sete, eles têm muito carisma e talento, mas eles nos mostraram que são muito melhores do que podíamos imaginar, não estamos apenas surpresos, viramos fãs dessa equipe incrível.

— Sabe o que é você ter que gravar, mas se distrair com o modo carinhoso como um cuida do outro? Uns sempre assistiam as gravações dos outros, ajudavam oferecendo água, comida para a equipe, ajudavam na organização do cenário, participaram ativamente, foi uma experiência incrível!

— Brigas? Nunca! É surpreendente, mas eles se entendem muito bem, respeitam o espaço e o momento uns dos outros, caminham juntos e se apoiam quando é necessário. Lembro de ter ouvido o pessoal da outra produtora falar sobre isso, mas não acreditava que era verdade até conhecê-los.

Essas foram as respostas para perguntas simples da imprensa, se houve interferência dos atores no projeto, como foi a convivência com eles, como foi o desempenho e como é a relação entre eles e com a equipe da produtora.

É verdade que todos ficam orgulhosos por saber que as pessoas enxergam a verdade sobre o relacionamento entre os amigos, mas não compreendem o motivo de tanta surpresa por ver um grupo tão grande sempre unido, sem nenhum escândalo ou briga.

Carol, Claudio e Victor ficam em evidência, são elogiados não apenas por seus desempenhos, mas por cada aspecto de seus personagens.

Os amigos dizem que Banty e Claudio tem muitas coisas em comum, ambos são divertidos, sonhadores e fáceis de conviver.

Já Victor as vezes é mal-humorado como Ravi, mas não tão responsável ou ético quanto ele, mas os amigos não ousam dizer isso, preferem dizer que Victor também é cozinheiro e paquerado por mulheres bonitas.

Carol é tão exuberante quanto suas personagens, isso todos concordam, mas se escondia toda essa beleza atrás do terrível trauma, parece estar desabrochando nesses últimos meses, todos tem reparado nisso. Mas existem outras características em comum, é focada e corajosa como Saina, doce e simples como Maina.

Os bailarinos também atuaram como figurantes e recebem elogios por seus duplos papéis desempenhados com excelência. 

Weenny Alves POV:

Já sinto os sinais do cansaço, procuro meus pais e Eros e não os vejo em lugar nenhum, caminho até uma varanda protegida por uma porta de vidro e então os encontro.

Observo o que aparenta ser uma conversa importante, Eros parece explicar algo aos meus pais, enquanto eles reagem meneando a cabeça ou levando as mãos ao rosto, parecendo surpresos, preocupados ou até inconformados.

O que está havendo? Que assunto é capaz de provocar reações desse tipo? 

Meu pai faz alguns gestos no que parece ser uma longa explicação, continuo parada observando cada detalhe, enquanto penso se devo interrompê-los para satisfazer a minha curiosidade.

Primeiro aquela conversa estranha com o Imperador e agora com meus pais, isso está me deixando inquieta e perturbada.

Caminho com passos firmes até aquela porta de vidro e a abro, eles me olham com uma expressão indecifrável.

— O que vocês fazem aqui? Eu os procurei por toda parte.  – pergunto e vejo que nenhum deles consegue me responder.

Sim, o assunto que conversavam era sério ou grave, consigo ver nos olhos deles.

Todos permanecem mudos, fazendo com que eu perceba que a minha presença é indesejada neste momento. 

Tenho uma breve conversa com meus pais, digo que pretendo descansar e peço que eles fiquem comigo por mais algum tempo, se possível até amanhã. Pretendo aproveitar um pouco mais da agradável companhia, além disso não quero vê-los ir embora tão cedo, me despeço com abraços e beijos, como estamos acostumados.

— Mais um segredo? O que conversamos sobre isso? – me aproximo do Eros e sussurro no seu ouvido, tentando controlar a agitação crescente dentro de mim.

Então viro as costas, fecho a porta de vidro novamente e saio, chamo um taxi e vou direto para o hotel onde estou hospedada.

 

Eros Myron POV:

Não posso adiar a conversa com meus sogros, os chamo para um lugar mais reservado e lhes digo tudo o que acabamos de descobrir sobre a família Alves.

Isso muda tudo.

Nem sei como contarei para Weenny, imagino que ela nunca acreditará nessa história mirabolante, mas totalmente verdadeira, por isso consta nos registros históricos e pode ser facilmente consultada pelos sacerdotes da Índia.

Ronaldo e Vilma ficam chocados, mas depois de uma breve reflexão, meu sogro parece ligar os fatos com as histórias que já ouviu ao longo da sua infância.

Ronaldo começa completar toda a história, da parte que os registros históricos não mencionam e tudo parece se encaixar com perfeição: situações, pessoas, idades e até mesmo as datas!

— Mas então isso muda tudo! Como nunca soubemos da história completa? Nós tínhamos o direito de saber. – Ronaldo pergunta, confuso.

— E agora, o que vamos fazer? – Vilma indaga.

Weenny nos interrompe, percebo que ela está incomodada ao ver que estamos conversando reservadamente, pergunta qual é o assunto, mas nenhum de nós consegue responder, talvez pelo choque provocado por toda essa reviravolta em nossa história...

...Então ela decide pensar que descumpri minha promessa.

Vejo em uma fração de segundos a expressão de decepção daquele fatídico dia, o momento que tanto desejo esquecer.

— Meus sogros, me desculpem, mas continuaremos a nossa conversa em um outro momento. Com licença. – digo, me despeço e saio apressado.

Vejo Weenny esperando o táxi.

— Baby, espere. Precisamos conversar, venha comigo.

— Sabe o que me lembra essa frase?

Sim, eu sei. Essa frase e essa dor em seus olhos... Lamentavelmente eu conheço bem, não saem da minha mente.

— Não é o que você está pensando, por favor, venha comigo. – estendo a mão e rogo a Deus que ela aceite.

Ela concorda e entramos no taxi, mas permanece em um silêncio angustiante.

Em poucos minutos chegamos ao hotel onde estou hospedado, acenamos para os funcionários que nos cumprimentam e vamos para a minha suíte sem demora.

Weenny não me olha e procura se manter longe de mim, é uma atitude natural para quem repudia e sofre com mentiras e omissões, não a condeno.

Assim que abro a porta da suíte, ela escolhe uma poltrona, senta e olha em meus olhos.

— Sem segredos, essa foi a sua promessa.

— Você está certa, vou te contar tudo, mas prepare-se porque a história é longa.

Weenny ajusta a sua posição, mas seu foco ainda são os meus olhos, de certo para ver se há alguma mentira.

— Nós hindus costumamos pesquisar a linhagem dos noivos para saber se existe alguma mácula, algo que nos impeça de casar. O Imperador fez questão de que essa pesquisa fosse feita.

— Sim, isso me foi explicado pelo Guru. – ela diz, impaciente.

— Encontramos muitas coisas a respeito da família Alves. Uma história que mudará o rumo do nosso compromisso e casamento. – digo e a vejo baixar o olhar, de certo pensando que direi algo terrível.

— Se pretende romper o...

— Não é nada disso! Ouça, te contarei tudo, mas preste atenção. – faço questão de impedir que essa frase absurda seja dita.

Weenny firma o seu olhar no meu mais uma vez.

— Há muitas décadas, houve uma ampliação dos territórios portugueses com a conquista de Goa, tornando-se rapidamente a capital do estado português na Índia, e despertou o interesse das famílias mais abastadas de Portugal, sendo assim, seu pentavô decidiu se mudar para Goa com toda a família dele, estabeleceu negócios e aumentou ainda mais sua fortuna, que já era bastante grande, exploraram as riquezas da Índia, como todos os outros colonizadores.

Ela me olha com curiosidade.

— Mas ele não se contentou apenas com uma enorme fortuna, conquistou um cargo de governador, portanto, sendo considerado não só um nobre português, mas a partir daquele momento, um nobre indiano.

— Pentavô... – ela parece pensar em quem pode ser.

— Alguns países tentaram invadir Goa, muitas pessoas foram forçadas a conversão, mas seus antepassados eram Cristãos Portugueses, não sofreram nenhuma violência deste tipo. Mas os Ingleses decidiram invadir e dominar Goa. Seu pentavô era um homem em pleno vigor, junto com os homens mais jovens de sua família, aliaram-se ao exército e guerrearam em favor de Goa, mas enquanto a guerra acontecia, ele preferiu proteger os mais velhos, mulheres e crianças, mandando-os para um refúgio em Bombaim, a maior e mais importante cidade da Índia, hoje em dia é chamada de Mumbai, para que fossem protegidos por um rei que era seu amigo e aliado.

Paro para observar sua expressão, que é de pura confusão neste momento.

— Nesta guerra, todos os homens jovens da sua família morreram e seu pentavô foi gravemente ferido, decidiu fingir-se de morto para ganhar tempo e ter a chance de ser resgatado e levado para um lugar seguro. Conseguiu ser salvo e levado para dentro do forte em Bombaim. O rei chamou os melhores médicos para tentar salvá-lo, seu pentavô temia que os que restaram da sua família ficassem marginalizados e desprotegidos, mas o rei prometeu resguardá-los e propôs um casamento por aliança, o rei desejava casar-se com a única filha de seu pentavô, a sua tetravó, que tinha apenas quinze anos naquela época, esse casamento traria muitos benefícios, sendo o principal deles o de salvaguardar os mais velhos, mulheres e crianças da sua família. Então, seu pentavô achou que o acordo proposto era bom e justo, já que daria o status e a proteção que os que restaram de sua família mereciam, decidiu aceitar o casamento por aliança e entregou sua tetravó para ser a quinta esposa do rei, tornando-a, portanto, uma rainha Maratha.

— Minha tetravó uma rainha indiana?

— Sim. O rei deu o devido reconhecimento aos bravos guerreiros que lutaram e deram suas vidas em favor de Goa, mas infelizmente o governo Britânico assumiu a regência de Goa e o que restou dos seus antepassados se refugiaram em Bombaim, benefício obtido com o casamento desta nova rainha. Seu pentavô morreu em consequência dos ferimentos de guerra, sem nem ao menos ver o que aconteceu depois do casamento da filha, toda a família foi convertida ao hinduísmo, sua tetravó teve dois filhos, um príncipe e uma princesa.

Weenny parece ter dificuldade para digerir a história.

— Tiveram uma vida confortável e feliz por muitos anos. O rei decidiu casar seu trisavô com uma princesa, enquanto eles eram apenas crianças, esse casamento teve o interesse de resguardar a dinastia Maratha. Um tempo depois houve mais uma guerra pela regência, mas desta vez em Bombaim, o rei foi assassinado, o forte foi invadido e todas as mulheres e as crianças se lançaram no fogo para salvaguardar a honra do rei, mas seus antepassados e alguns servos fiéis não admitiram que os herdeiros do rei e de sua tetravó fossem mortos, apenas eles poderiam recuperar o trono que lhes pertencia legitimamente, então decidiram fugir com eles para Portugal, com o único objetivo de buscar proteção e esquecer os horrores que passaram na Índia.

— Sim, minha família é de Portugal.

— Então seu trisavô e a irmã dele cresceram, ele pode consumar seu casamento com a princesa, tornaram-se rei e rainha sem trono, eram os únicos herdeiros vivos do Rei de Bombaim, mas precisavam continuar refugiados, se soubessem que ainda estavam vivos, certamente seriam caçados e mortos. Tiveram três filhos, duas princesas e um príncipe, sua trisavó e o irmão dela e morreram poucos anos após o nascimento da terceira filha, de uma doença altamente fatal naquela época. Sua bisavó era apenas uma adolescente quando o irmão dela decidiu que devia casá-la com um nobre bem mais velho, apenas por interesse em suas posses, o casamento foi feito pois ela devia obediência ao irmão mais velho.

— Então... – Weenny diz.

— Anos depois houve uma forte desavença por conta da enorme herança que deveriam partilhar, então o irmão de sua bisavó usurpou todo o espólio, ela ficou tão desolada que decidiu partir de Portugal e foi rumo ao Brasil com seu marido, com algumas roupas apenas e nada mais. Vieram em um navio, uma viagem muito longa, com pessoas de todas as classes sociais, os ricos usufruíam de todas as melhores acomodações e alimentos, enquanto para os mais pobres só sobrava alguns restos de comidas, além do porão sujo e molhado, por essa razão existiam muitos doentes a bordo, alguns muito graves. Nesta época, sua bisavó estava no final da gravidez de seu terceiro filho, mesmo assim decidiu ajudar aos doentes e aos mais velhos, até que seu marido acabou adoecendo também, sofreu muito até morrer, ainda antes de desembarcar no Brasil.

— Eu lembro dessa história.

— Então sua bisavó desembarcou com dois filhos pequenos e um na barriga, viúva e sem condições financeiras para se sustentar ou para encontrar um teto para seus filhos, aventurando-se em um país diferente do dela. Nos anos que se sucederam ela dependeu da caridade de outras pessoas, trabalhou como costureira e faxineira para sustentar seus três filhos, um menino mais velho e duas meninas, a mais nova é a sua avó. Todos receberam nomes e cidadania brasileira, sua bisavó fez questão de esquecer todas as histórias e o passado vivido na Índia e em Portugal.

Ela parece lembrar de algo dessa parte da história.

— Alguns anos depois, sua bisavó conseguiu comprar dois terrenos e construiu casas para si e para seus filhos, todos já estavam trabalhando e ela finalmente pode respirar aliviada. Anos mais tarde, seus filhos escolheram seus cônjuges e se casaram. 

Weenny esfrega os olhos como se tentasse despertar de um sonho ou pesadelo.

— Minha avó teve um péssimo casamento que resultou em três filhos, dois homens e uma mulher, meu pai é o filho mais novo. – ela completa essa parte da história.

— Só depois de tanto tempo, após a morte da sua bisavó, foi que a sua avó aceitou falar sobre a história dos antepassados, em uma conversa privativa com seu pai, segundo ela foi muito doloroso, de tal forma que toda a família queria esquecer o que viveram. Contei a primeira parte para seu pai e ele me contou todo o restante, por isso tivemos aquela conversa, para que eu pudesse trazer à tona a história completa da família Alves.

— E por isso você tem certeza de que tudo isso é verdade? De onde veio a primeira parte da história? Como minha avó sabia dos antepassados?

— Sei que você tem muitas perguntas para fazer, vou tentar respondê-las com base em tudo o que ouvi e li. – digo e a vejo suspirar.

— Até a morte do rei, toda a história consta dos registros históricos, talvez pensassem que seus antepassados estariam mortos e por isso nunca foram perseguidos. Tudo foi descoberto através da pesquisa dos sacerdotes sobre a sua linhagem, lembra que disse que o Imperador exigiu que esse protocolo fosse cumprido? – Weenny concorda — A segunda parte da história me foi contada pelo seu pai, a partir dos relatos das suas bisavó e avó, ambas não quiseram ir para o túmulo guardando esses segredos.

— Você disse que isso mudava tudo... Como?

— Você é uma legítima Princesa Maratha, somos, portanto, da mesma casta.

— Desculpe, mas não entendo onde você quer chegar.

— Esse casamento não é mais algo entre o que Principe herdeiro pediu e exigiu do seu pai, o Imperador, passa a ser mais do que um casamento por amor, mais do que que um louco casamento entre uma firanghi e o herdeiro do trono do Império, agora é um casamento por aliança, entre hindus, com a realeza envolvida, entre o reino Maratha e o Império Rajput. 

— Ainda não consigo assimilar toda essa história e compreender que faço parte de algo tão grandioso, talvez demore muito tempo para digerir tudo isso. – ela realmente parece aturdida ao dizer.

— Baby, basta que você entenda que é uma Princesa de uma importante província da Índia, seu trono foi usurpado, mas eu poderei restituir a dignidade e o poder que foi tirado da sua família, hei de lhe dar o trono merecido, depois de tantos anos, finalmente uma Alves subirá ao trono novamente, quero dizer, uma Singh, esse é seu verdadeiro sobrenome indiano, seu nome é Weenny Singh e não Alves.

Ela me olha com estranheza.

— Não sei se é isso que quero ou que nós queremos, tudo o que eu sonhei era ter você como meu marido, mas agora fui tragada para um verdadeiro conto de fadas. – ela diz e me faz querer toma-la em meus braços.

— Não se preocupe com nada nesse momento. Você me exigiu toda a verdade, eu a busquei e te contei em detalhes, porque quero que entenda que jamais esconderei algo de você novamente.

— Como vai ser agora? 

— Na prática nada vai mudar, vamos nos casar e seremos felizes. Tudo isso só serviu para mostrar a nobreza da sua linhagem, é mais importante para o Imperador, seus conselheiros e sacerdotes, porque mantém a honra da família intacta e pura.

— Só soube de tudo isso agora? 

— Quando saí da Índia a pesquisa ainda não havia sido concluída. Assim que as informações foram levadas ao conhecimento do Imperador, ele me fez saber de toda a história, parece aliviado e satisfeito em saber da sua origem e até me parabenizou pela escolha.

Satisfeito principalmente pelos benefícios que esse casamento trará quando souberem que seu herdeiro está casando-se com uma Princesa Maratha.

Acalento a minha Princesa em meus braços, a levo para o quarto e a faço descansar em meus braços, sei que ela precisa de uma boa noite de descanso, após tamanha revelação.