O dia seguinte fora dominado por aquela ressaca que eu já esperava e, para piorar, teríamos aula de Estudo dos Trouxas. Arr, pra que eu ia querer aprender sobre os trouxas? Eu já sei o suficiente para conviver com eles como qualquer pessoa... Ou melhor, trouxa. E teoria não é lá meu forte, ainda prefiro três aulas práticas a uma aula teórica. Tá, é mentira, é só pra fugir disso aqui.
- Esqueceu de acordar antes de levantar da cama, Weasley?
Assustei-me ao ouvir a voz masculina enquanto caminhava desatenta pelos corredores rumo a aula.
- Arr, nem vem me encher agora, Scamander.
Bufei, fingindo não me importar, mas tentando arrumar ao máximo os cabelos, o que eu devia estar parecendo?
- Relaxa, está sexy assim. Sabe aquela coisa que dizem sobre conhecermos uma mulher apenas quando ela acorda? Então, eu...
- Então você nunca vai realmente me conhecer. - Interrompi-o revirando os olhos.
- Eu diria que você está toda irritadinha hoje se não te conhecesse.
- Eu sempre fico assim quando você está por perto.
- Então quer dizer que eu te deixo nervosa?
Revirei mais uma vez os olhos, ele sempre tinha um jeito de me fazer... Bom, esquece, ou eu me enrolarei ainda mais.
- Então, já desiludiu a lufina?
- Qual é, Domi, eu realmente gosto dela. Não acredita?
- Você gosta? Uhum.
- É, estou pensando em tornar-me um garoto sério.
Eu ri, ele protestou.
- Ei, acredite. A Lizzie é, hum, legal.
- E o nome dela? É esse mesmo?
- Ah, também não sou assim, Domi. Bom, eu só esqueci o da... Da anterior a ela, mas isso não significa nada.
- Então é sério mesmo dessa vez?
- É, eu acho.
- Com uma lufina?
- Faz diferença pra você?
Dei de ombros, tentando dar-lhe certeza de que não me importava.
- Não, com quem você se relaciona não me diz respeito.
- Mesmo?
Eu conhecia bem aquele "olhar sedutor do Lysander, e sabia que era o que ele me enviava.
- Ah, fala sério!
Afastei-me e continuei o caminho em passos rápidos, ele vinha logo atrás com aquele famoso "risinho sacana".
- Ei, espera! Eu só perguntei porque é minha amiga, você sabe. Não precisa ficar com raivinha.
- Não estou com raiva - Meu tom não soou convincente. - Estamos atrasados.
Ele riu e apressou-se também. Alguns passos adiantes fomos barrados por um idêntico ao do meu lado.
- Aonde vai?
-Pra aula, onde mais poderia ser? - Foi o Lysander quem respondeu.
-Estão mesmo afim de ir?
-Nós temos de ir, Lorcan. Onde pensa que estamos?
-Hoje é o primeiro dia, talvez...
-Eu quero assistir a aula menos que você, Lorcan. - Interrompi. - Mas não quero que esse ano seja como o ano passado, não to afim de ouvir o Bill.
-Então tá, né. Vamos lá, loira.
Lorcan me puxou pelo braço e andamos rapido. Ouvi Lysandeer reclamar vindo logo depois de nós. Eu ri, ele negou com a cabeça, deixando-me claro que o tempo que ele me esperou para ir a aula fora perdido.
- É o 6° ano aqui. - Começou a professora quando nós chegamos. - E ainda não sabem o caminho da sala? Ou será que existe uma explicação mais plausível?
- Hum... - Pensei, mas nada me veio a mente.
- Talvez as férias tenham nos afetado de uma forma negativa. - Respondeu-lhe Lorcan, seguindo com um sorrisinho.
- Então a solução seria se pudesse ficar sem elas, Lorcan?
- Se eu puder passa-las com a senhorita...
- Sentem-se ! - Alterou-se a professora. - Antes que eu perca a paciencia.
Nós três rimos. Eles dirigiram-se ate uns amigos da corvinal. Eu me sentei ao lado de Dylan.
Talvez eu contasse alguma parte da aula pra vocês se eu tivesse ideia do que a professora falava. Eu apenas batucava os dedos na mesa, enquanto olhava ao redor. Pela primeira vez eu reparara em Lizzie, que sentava-se junto a outros lufinos e parecia estar fazendo de tudo para ocultar-se. Então o motivo de eu nunca tê-la visto deve estar explicado. Dylan estava um saco. Passara do ponto na noite anterior e agora não aguentava falar nem ouvir.
- Você está um saco. - Comentei quando já não aguentava mais ficar calada apenas a olhar Dylan e seu visível mal humor.
–Minha cabeça dói, já disse.
– Já chega de ser maricas, Dylan. - Disse, e ele me olhou incrédulo.
– Cala a boca, Nick.
Dei de ombros e passei a batucar os dedos na mesa e bater a perna, algo que eu fazia quando estava impaciente, ou quando queria irritar Dylan. Nesse momento estava os dois, imagina só.
- Não vai me deixar em paz, não é?
Lancei-lhe um sorriso enviesado e ele passou o resto da aula me ouvindo falar sobre minhas férias.
– Foi incrível na França, ainda mais por estar longe de todos aqueles pirralhos, longe daquele barulho todo.
Eu já concluía quando a aula chegou ao fim. Não tive trabalho algum pra guar as coisas, já que eu sequer as havia posto sobre a mesa. Levantei-me e me dirigi ao Lysander. A aula seguinte seria vaga e, como sempre, eu achava que passaríamos algum tempo falando sobre o que havíamos feito. Achava, até que a Lufina aproximou-se dele e eu mudei meus passos, aproximando-me de Lorcan. Eu não passaría de maneira alguma um tempo com aquela lufina, e ele sabia disso, estava certa de que esta era a razão pela qual ele não me perguntou nada.
- Vamos lá, loira! - Disse Lorcan, como se já planejasse, enquanto passava os braços a meu redor.
- Vamos sim.
Sorri em resposta, antes de seguir com Lorcan para fora da sala.
- E nós estamos indo para...?
- A gente pode ir andar um pouco por aí, ou ao salão principal se você estiver com fome.
- Não, não estou. - Respondi-lhe com um meio sorriso.
- Então podemos ir para os jardins. Ou... Ele sentou-se em um banco lateral no corredor, puxando-me para que sentasse a seu lado e passando os braços ao meu redor. - Podemos ficar aqui.
Eu ri e confortei-me em seus braços.
- Ah aqui está ótimo.
Fechei os olhos, realmente afim de embarcar nos sonhos já que, graças a festinha na noite anterior, eu não havia dormido nada. Deveria saber que Lorcan não o deixaria e, bom, se eu não estivesse realmente cansada eu estaria com igual vontade de estar ali com ele. Ele me cutucou com o dedo, da forma que sabia que eu odiava quando ele fazia. Eu abri os olhos, olhando o sorriso enviesado que ele me enviara.
- Não vai me deixar dormir, vai?
Eu ri enquanto ele balançava negativamente a cabeça.
- Não foi pra isso que viemos aqui.
Ele estreitou as sobrancelhas e fiz um biquinho que o fez cair na gargalhada.
- O que foi?
Perguntei, agora sendo a minha vez de estreitar as sobrancelhas.
- Você com esse biquinho não parece nem um pouco aquela sonserina que se acha cheia de poderes.
- Eu não me acho cheia de poderes, eu realmente os tenho, tá?
- Aham.
Soltei-me dele e afastei-me um pouco cruzando os braços.
- Viu? Nada da Dominique Delacour aí.
Eu ri, tornando a me confortar em seus braços. Acho que esse era um dos motivos de estar por tanto tempo com o Lorcan. Apesar de eu ser fria na maior parte do tempo, quando eu estava com a mente em algum lugar que eu realmente não sei, tínhamos aqueles momentos infantis que eram realmente bons.
- Então, você vai me contar o que fez nas férias? - Perguntei a ele, realmente interessada.
- Nada que você realmente queira saber – ele começou – Aproveitei a viagem pra, bem, pegar umas gregas.
Ele piscou, era isso que estragava aqueles momentos bons que falei. Ele falando de outras garotas, eu digo. É, eles nunca duravam muito.
- Hum, legal... - Comentei, com um sorriso forçado nos lábios.
- O que foi?
Ele me perguntou, eu apenas dei de ombros. Jamais lhe diria que estava cansada daquela coisa que a gente tinha. Nunca diria que queria para mim o que vira um dia antes de embarcar no trem. De qualquer forma, eu jamais achei que poderia sentir por ele o que Victoire sentia por Teddy e o Teddy sentia por ela. Fora a primeira vez que eu realmente me importei ao ouvi-lo falar de outras garotas. Não por eu gostar dele, eu não gostava, mas me afetava de alguma forma saber que o garoto com que estava, saía com outras garotas também, porque eu sabia que aquilo era verdade. Balancei a cabeça afim de tirar toda aquela baboseira de minha cabeça. Era incrível o quão idiota eu conseguia ser quando estava de ressaca.
- Nada.
Dei de ombros, tornando a fechar os olhos, apenas para senti-lo me cutucar outra vez, eu não pude deixar de rir.
- Você é um saco, sabia?
- Ele assentiu com a cabeça.
- Sério, as vezes acho que você não pode ficar pior.
Eu me arrependi de ter dito isso ao ver o sorriso enviesado de volta a seus lábios.
- Ah,eu consigo sim.
Ele disse antes de começar uma série de cocegas. Eu tentei mandá-lo parar, mas não conseguia.
- Então o Lorcan também descobriu o unico jeito de tirar a sua "postura Delacour"?
Ouvi uma voz identica a de Lorcan, e ele parou com as coseras. Lysander estava postado a nossa frente, junto com a lufina retardada do trem.
- Érm, olá.
Ela disse, recebendo uma resposta do Lorcan e nada de minha parte.
- Te procurei por todo canto, Weasley.
- Delacour. - Trarei de corrigi-lo.
- Já voltou a ser a bravinha de antes?
- É preciso ser um Lorcan para amansar a fera. - Foi o Lorcan quem respondeu.
- Não sonha demais, Scamander. - Revirei os olhos.
Todos nós rimos, até mesmo a lufina.
- Então, eu estava aqui com o Lorcan.
- É, eu percebi.
- Ah, não me culpa, achei que estivesse em uma caça as gazelas. Ou a um cerebro.
Disse como se não tivesse nada, mas talvez a lufina não fosse tão retardada, porque se tocou.
- Eu preciso ir agora, Lysander. Vejo você depois.
- Onde vai?
- Estou indo a biblioteca, realmente preciso encontrar algo.
- Tudo bem.
Ela virou as costas e ia sair, quando Lysander puxou-a pelo pulso.
- Espera. - Disse-lhe antes de selá-la nos lábios.
A garota sorriu tímida e depois afastou-se.
- Eu também to de saída. - Disse o Lorcan, afastando-me lentamente de seus braços. - Tenho que acertar tudo para os testes do quadribol.
Ele me beijou antes de sair, eu estranhei Lysander não ter ido junto, já que ele também fazia parte do time.
Lysander sentou-se a meu lado visivelmente irritado, eu bati nele com o ombro, afim que ele começasse o sermão de uma vez.
- Você não precisa ser tão rude, sabia?
- Eu não fiz nada.
- Não percebeu como a tratou?
- Eu não falei dela, a carapuça que serviu, a culpa não e minha.
- Dominique!
Ele aumentou o tom apenas para que eu cessasse, odiando minha forma de agir. Eu dei de ombros.
- Então está com a lufina agora?
- É, eu to com a Lizzie.
- Achei que não fosse sério, que você realmente não fosse ficar com uma Lufina.
- Qual o problema de ser uma lufina, Dominique?
- Você sabe bem...
- Mas não acho certos os seus motivos.
Revirei os olhos, não acreditando que íamos ter outra conversa sobre os meus princípios. Havíamos feito aquilo no ano anterior e ele havia se convencido de que eu não mudaria nada. Agora aquela lufina irritante nos fizera voltar aquela conversa.
- Não começa, Lysander...
- Mas então, você não pode me recriminar por estar com ninguém quando está com o Lorcan.
- Nós não temos nada serio. - Eu lhe disse, fazendo uma careta.
- Aí e que ta. - Ele começou, voltando aquele tom de negação. - Ele nem te respeita, Dominique. O Lorcan nunca foi de uma só.
Eu balancei a cabeça. Eu já sabia disso e fora justamente o que me fez ficar com ele. Mas agora, bem, agora aquilo me incomodava, por mais que fossemos apenas ficantes, por mais que eu não sentisse nada por ele, me incomodava saber que ele realmente não me dava respeito algum.
- E quem disse que eu sou de um só?
Lysander fitou-me com um olhar de repreensão. Eu engoli seco, o vendo estreitar as sobrancelhas. Eu odiava quando ele era assim comigo. Não odiar da forma que eu odiava tantas coisas, mas odiar de um jeito que realmente doía. Sim, doía, por mais que eu não fosse capaz de admitir aquilo.
- Você é muito melhor que essa mascara, Dominique.
Mordi o lábio inferior sem saber o que dizer. Olhei para os lados, para os poucos alunos que passavam por ali. Alguns novatos totalmente perdidos, alguns veteranos divertindo-se em tirar sarro com um outro, mas todos apenas de passagem. Lysander levantou-se sem dizer nada e já ia andando quando perguntei:
- Onde vai?
Meu tom agora saía bem mais baixo. Ele suspirou antes de voltar os poucos passos que havia andado até chegar a mim.
- Quadribol.
Ele respondeu e eu pude perceber que ele fazia o possível pra livrar-se do estresse. Eu assenti com a cabeça e ele abaixou-se para depositar um beijo em minha cabeça.
- Você é uma pessoa maravilhosa, Nick. - Ele disse, e eu lhe dei um sorriso de canto. - Só precisa deixar que as pessoas saibam disso.