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God... Why?!

Harry's P.O.V.

Entro debaixo do chuveiro deixando a água quente percorrer todo o meu corpo, indo do topo da minha cabeça até o chão frio. Sinto meus músculos relaxarem conforme o vapor vai subindo, e me permito encostar minha testa na parede gélida. Parece que a água está levando junto consigo todo aquele pesar, assim como leva todo o sangue que está em meu corpo, impregnado em cada pequena parte dele. Sangue impuro, ruim, de pessoas que não passavam de mais alguns vermes, uns grandes filhos da puta! Observo enquanto o chão do box se torna totalmente vermelho, fazendo um contraste perfeito entre o azulejo branco e o líquido escarlate.

Sinto minha cabeça latejar um pouco e isso me faz resmungar. Fecho meus olhos com força na tentativa de espantar a dor incômoda, e até que parece funcionar. Ao passar a mão por meus cabelos noto que os mesmos também estão sujos de sangue, chegam a estarem grudentos, então decido lavá-los. Enquanto esfrego calmamente meu couro cabeludo, sinto a espuma se formar. Macia, suave, gentil...

Exatamente o oposto do que fui há menos de duas horas atrás!

Com isso os flashes do que aconteceu no galpão voltam à minha mente. Todos aqueles homens, todo aquele sangue, aqueles gritos de dor, a sensação quente de rasgar a carne de cada um deles... Quando isso se tornou tão bom e prazeroso? Eu me senti tão bem matando todos eles. Desde quando isso é normal? Eu literalmente perdi o controle e alimentei uma sede de sangue que eu nunca imaginaria ter. Eu nunca imaginaria que iria me sentir tão bem descontando toda a minha raiva em cima daqueles homens ridículos.

Em meio à todos esses pensamentos um nome ecoa como uma linda poesia em meio a todo esse caos: Louis. Um forte aperto me atinge em cheio, e junto vem esse pesar vem essa vontade louca de chorar. É o que eu faço. Eu choro. Não me prendo, apenas me permito chorar enquanto chamo o nome de Louis. Choro enquanto sinto falta de estar nos braços de Louis. Choro por ter estragado tudo com o homem que eu amo! Choro por, mesmo me sentido tão forte, estar me sentindo inútil, inútil para ele.

Por Deus, eu o amo tanto esse garoto que tudo o que sinto é dor!

- Merda... PORRA, LOUIS! - Grito sem me importar em ser ouvido ou não.

Como posso ficar longe da pessoa que mais amo nesse mundo? Como posso ficar longe quando sei dos riscos que ele corre?

Sinto muito, amor, mas dessa vez eu não vou te escutar!

Passo cerca de quarenta minutos debaixo da água, porém não me importo. Desligo o chuveiro e me seco rapidamente. Passo pelo espelho e paro assim que vejo meu reflexo turvo por conta de todo o vapor. Me encaro por alguns instantes com certa estranheza, como se o que vejo não fosse eu. Limpo o vidro, tornando o reflexo mais nítido, porém minha sensação de estranheza piora. O que vejo parece estar errado, como se não fosse quem eu deveria ser. Não consigo me reconhecer. Não me enxergo como me enxergava antes. Sou eu, mas não sou eu! Minhas feições mudaram, meu corpo mudou, eu... Porra!

Ao olhar para os lados vejo uma pequena tesoura. Pego o objeto prateado e o encaro por alguns instantes, descrente do que minha mente me diz para fazer. Me olho novamente no espelho e seguro uma grossa mecha de cabelo, a cortando logo em seguida. Isso me faz sorrir. Eu me sinto bem. Continuo cortando e cortando, deixando que meu cabelo caia livremente sobre a pia, sem me importar muito com a bagunça. Me observo uma última vez no grande espelho. Meus cabelos, antes longos, agora ficaram bem curtos. Olho bem fundo nos meus olhos e noto o quão vermelhos e inchados estão.

Ainda assim, esse não parece comigo!

Vou até meu quarto e pego algumas roupas quaisquer, me vestindo lentamente. Noto que tudo parece ter ficado consideravelmente menor no meu corpo de uma hora pra outra, então troco as peças por outras mais largas, que ficam perfeitas em mim e me caem bem, assim como ficavam as anteriores.

- Como isso é possível? - Me questiono, porém não me importo muito. - É, parece que vou ter que comprar roupas novas.

Saio do quarto e vou até a sala, pegando em meio aos destroços do que costumavam serem os móveis meu notebook que, por obra divina, está intacto. Me sento na bancada da cozinha e abro o aparelho, indo direto para minha caixa de email e abrindo aquele mesmo email, o bendito email que começou tudo isso. Leio rapidamente o texto e vejo que anexado vem uma foto de Louis, foto que eu não penso duas vezes antes de abrir. Admiro a foto do ômega, a primeira foto sua que vi.

- Quando vi essa foto nunca pensei que iria te amar tanto, Louis. É até engraçado. - Rio.

Me pego observando o ômega. Louis é tão belo, tão precioso, as vezes sinto como se não fosse digno de uma pessoa como ele. E não sou! Olhando esta foto eu percebo o quanto minha visão do ômega mudou. Eu nunca poderia imaginar que após receber esse simples email minha vida mudaria totalmente em questão de alguns meses. Pouco mais de seis meses desde que vi essa foto pela primeira vez, meio ano desde que me apaixonei perdidamente por um garoto de olhos azuis. Meio ano desde que ganhei um enorme presente, desde que ganhei uma nova família, e em apenas pouco mais de três meses uma nova parte dessa família chegará. Mas algo parece estranho, algo está diferente, só não sei dizer exatamente o que!

Quando dou por mim estou chorando novamente. Uma voz dentro da minha cabeça me diz que eu preciso me levantar e ir até Louis imediatamente, e é exatamente o que eu faço. Pego minhas chaves, meu celular e parto em direção à casa do mais novo. No caminho para a garagem o aparelho vibra com uma chamada de Luke, porém apenas a rejeito. Vejo que, fora esta, meu irmão me ligou outras sete vezes. Sorrio para o telefone, porém não pretendo falar com nenhum deles agora.

- Agora não, Lukey... - Entro no carro e logo dou a partida.

(...)

Em questão de poucos minutos chego em frente à casa dos Tomlinson-O'Brien. Noto que o carro de Josh também está aqui, assim como a moto de Shawn. Estranho eles terem vindo justamente para cá, porém não me importo muito.

Por ainda ter as chaves eu entro na casa sem delongas, e logo sinto um cheiro forte de rosas. O cheiro de Louis!

Mas como é possível?

Seu cheiro me atinge com brutalidade, entrando em meus pulmões e fazendo uma festa com a minha mente! É tão forte, tão intenso, parece no mínimo três vezes mais forte do que em seu heat, e só agora noto como estava com saudades de sentir esse aroma maravilhoso!

Vou até a sala de estar em passos largos, dando de cara com Dylan, Tyler, Ashton, Luke, Shawn, Gabriel e Josh. Mark também está aqui e anda de um lado para o outro, parece extremamente preocupado. O ar entre todos os garotos parece estranho, na verdade tudo está estranhamente... Estranho...

- ONDE DIABOS VOCÊ ESTAVA? - Luke grita impaciente assim que me vê.

- Em casa. - Respondo.

- E por que não me atendeu?!

- Desde quando seu cabelo é curto? - Dylan questiona, porém o ignoro.

- O que está acontecendo aqui? - Indago. Ouço um som alto vindo do andar de cima.

- Louis entrou em trabalho de parto. - Gabriel diz.

- HARRY! - Ouço o grito do mais novo vindo do andar de cima, e na mesma hora algo muda dentro de mim e eu perco o controle.

Olho para os garotos e é como se tudo estivesse em câmera lenta. Sinto quando minhas pupilas se dilatam, meus instintos tomam conta de mim assim como em um hut.

- SEGUREM ELE! - Meu sogro grita, porém antes que qualquer um se mexa eu já estou correndo andar acima.

Corro rapidamente, meus instintos parecem loucos, e o cheiro de Louis piora tudo. Quando chego no quarto do ômega me deparo com a porta trancada, o que não significa absolutamente nada, porém quando estou prestes a arrombar a bendita porta sou derrubado no chão. Shawn e Gabriel me seguram com força, impedindo que eu me levante.

- ME SOLTA! - Rosno. - LOUIS!

- HARRY! - Seu grito sai esganiçado, carregado de dor, e isso me faz enlouquecer.

- Não... NÃO MACHUQUEM ELE! ESTÃO MACHUCANDO ELE! ME SOLTEM, AGORA! - Grito enquanto me debato freneticamente.

- Segurem e não deixem que ele chegue perto do Louis. Harry vai tentar matar qualquer um que ele julgar estar causando dor ao ômega, e isso inclui a bebê. - Mark se agacha e segura meu rosto com força, me fazendo olhar para si.

- Os olhos dele estão completamente negros. - Ashton diz.

- Isso é normal, ele foi dominado pelos instintos. - Fala. - Harry, ouça: Ninguém está machucando o Lou. Ele está com dor, mas é por causa do parto! Você precisa voltar a ficar consciente!

- Consciente?

- Sim, você precisa ficar consciente! Louis vai ficar bem, Pietro está lá dentro com ele, e meu namorado é um ótimo parteiro! - Gabriel diz rente ao meu ouvido, por estar me segurando.

Lentamente começo a voltar ao normal, porém ainda é difícil me controlar quando ouço o de olhos azuis me chamar. Ouvir os gritos de dor do mais novo partem meu coração, tudo o que eu queria fazer era beijá-lo até sua dor passar!

- O cheiro... - Me sinto meio tonto quando o cheiro de Tomlinson se intensifica ainda mais.

- É normal, durante o parto o cheiro de um ômega chega ao seu ápice de força. - Luke comenta.

- Ainda quero saber quando cortou o cabelo. - Dylan murmura.

Esperamos do lado de fora do quarto por cerca de quase trinta minutos. Eu não consigo me acalmar, ando de um lado para o outro freneticamente. Não saber o que está acontecendo lá dentro é angustiante, e eu me sinto completamente impotente. Mark explicou que a bolsa dele estourou antes da hora, e com isso seria arriscado levá-lo até o hospital. Pietro veio até aqui com todo o material necessário para fazer a cesariana, já que é a única forma de ômegas homens darem à luz. Mesmo com a anestesia, ele ainda sente dor, muita dor... Os meninos me observam porém ficam em silêncio, tudo o que se ouve são os gritos agudos, cansados e esganiçados do mais novo. Seu cheiro é tão forte que por várias e várias vezes tenho que lutar para me manter no controle.

E, por fim, silêncio.

Nunca pensei que o silêncio pudesse ser tão atormentador como agora!

- Não... NÃO! - Uma onda de angústia e dor me invade com força quando ouço Louis rosnar.

- O quê? O que está acontecendo? Eu... - Antes que eu termine de falar Jay sai do quarto aos prantos. A mais velha parece chorar ainda mais quando me vê, e se agarra ao filho, sendo consolada por Dylan. - Jay, o que aconteceu?! ME DIZ!

- A bebê... A bebê... Ela...

- O que aconteceu com a minha filha? - Pergunto já desesperado, porém ela chora tanto que não consegue falar.

Por fim entro no quarto. Assim que abro a porta Louis me olha com seus enormes olhos azuis carregados de tristeza, suas lágrimas rolam de forma densa, formando largos rios em seu rosto. No meio de seus braços um pequeno corpinho se destaca enrolado em um lençol branco, porém está imóvel, em silêncio.

- Harry... E-Eu sinto muito... Mas a bebê nasceu morta... - As palavras de Pietro me atingem como adagas em chamas, assim como a Louis, este que começa a chorar mais intensamente.

- Harreh... - O mais novo chora descontroladamente, sua voz sai rouca e arrastada. Ele estende os braços pra mim como se quisesse mostrar a bebê, e logo a leva de volta para perto de si.

Meu mundo parece simplesmente desabar sobre mim. Por alguns instantes eu sinto como se estivesse em um pesadelo, porém logo noto que isso é real. O pior pesadelo que alguém poderia ter da maneira mais dolorosa e tortuosa possível!

- Saiam daqui. - Peço, e na mesma hora todos saem do quarto, nos deixando á sós.

Vou até a cama e me sento ao lado de Louis. O mais novo balança a pequena bebêzinha de forma melancólica, como se ainda tivesse esperanças de que ela fosse simplesmente acordar. Olho para Louis e sinto uma enorme dor em meu peito. Se para mim já é difícil, imagino para ele que teve que carregar esse pequeno milagre dentro de si por todos esses meses. Eu choro assim como o ômega. Chegando mais perto eu posso vislumbrar melhor o rosto da nossa filha, e aproveito para acariciá-la. Tão pequena e frágil, mas já tão bela...

Porra!

Louis suspira pesadamente e me olha. Seus olhos estão vermelhos, seu rosto está suado, ele parece exausto. O ômega me olha profundamente enquanto luta para reter tudo o que está prendendo, porém quando toco seu rosto ele desaba. Louis chora como nunca. O mais novo abraça a bebê enquanto grita em plenos pulmões. Essa cena acaba comigo, me destrói completamente.

Porra!

PORRA!

- Por quê? P-Por que isso aconteceu, Hazz? Por que nossa filha... Morreu? - Eu não tenho palavras pra descrever a dor que estou sentindo agora o ouvindo falar assim.

- Eu não sei, amor... - É tudo que consigo dizer.

- Minha filha... Eu perdi minha filha... O que eu fiz de errado, Harry? Foi minha culpa?

- Claro que não, Lou! Amor, você foi perfeito! Você cuidou dela da melhor maneira que pôde, e você foi um pai perfeito! Mas as vezes coisas como essas acontecem, e nós não temos como evitar.

- Dói tanto, Hazz... Faz essa dor passar, por favor... - Seu pedido termina de me destruir.

- Eu não posso, amor... Eu também estou com dor...

Tomo Louis em meus braços e permito que ele chore. Não só ele como a mim mesmo. Nunca em toda a minha vida imaginei que um dia sentiria uma dor tão grande quanto essa! A dor da perda pode ser tão corrosiva, tão forte, tão... Intensa. Eu sinto como se algo dentro de mim estivesse sendo dilacerado, arrancado com brutalidade. Algo que eu mal pude ter, mal pude amar, e simplesmente perdi...

Deus... Por quê?!

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Peço perdão aos mais sensíveis, porém saibam que eu sofri tanto quanto vocês!

Esse cap. sobre a perda do bebê foi pensado assim que decidi que Louis ficaria grávido, e antes que vocês caiam matando em cima de mim, isso é sim importante para algo que virá e que provavelmente vai se desenrolar na segunda temporada, caso tenha uma! (Att do escritor dia 24/04/2024: realmente desenrolou na segunda temporada e ela está IMPECÁVEL! Quando eu escrevi esse cap não imaginei que iria desenvolver tantas coisas baseadas no acontecimento desse capítulo aqui, mas veio muito aí)

Uma coisa: A perda seria diferente. Louis iria perder em um acidente de carro, porém como as coisas nunca são 100% como nós queremos e como minha mente acabou me levando pra esse lado, acabou ficando assim.

Espero que tenham gostado e até o próximo!

Kisses!