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Pássaro Místico (Parte 2)

Enquanto Vektor está imerso nesse momento de descrença, o monstro contra-ataca com uma cotovelada, que atira o garoto contra a parede. O impacto da batida é tão forte que abre uma cratera na área do impacto.

Vektor cai atordoado no chão, um único golpe foi capaz de deixa-lo sem forças para continuar lutando. Ao perceber isso, Hisami assume a batalha em seu lugar, e começar a atirar o máximo de flechas possível no corpo do monstro, esperando que alguma possa causar algum dano.

"Droga! Não resultou em nada! Um puro desperdício! Tudo que me resta agora é esta adaga..."

Sem nenhuma outra opção, ela empunha sua última arma e avança contra o monstro, atacando em diferentes pontos enquanto usa de sua agilidade para desviar de todos os golpes vindo em sua direção.

Seus movimentos são fluídos, porém mesmo ataques em pontos cegos parecem não surtir efeito. Isso porém muda no instante em que a adaga consegue rasgar a carne do pescoço do monstro, numa área próxima ao peito.

Após esse instante, o foco de Hisami é desviado momentaneamente, e esse único momento de distração é tudo que o monstro precisava para enfim conseguir agarrar ela.

"Me solta, seu pássaro maldito!"

Ela tenta usar sua adaga para furar a mão do monstro, mas o ataque é ineficaz, e a adaga quebra ao se chocar à pele do monstro várias vezes seguidas. O monstro começa a espremer o corpo de Hisami em sua mão, com a força aplicada aumentando gradativamente.

A armadura que ela está usando é a única coisa que impede seus ossos e órgãos internos de serem destruídos, porém conforme a pressão aumenta, mais a armadura parece ceder à força do monstro. Desesperada, Hisami tenta usar a força das próprias mãos para se soltar, porém sua situação não melhora.

"Ei. O que pensa que está fazendo?"

A fraca voz de Vektor alcança os ouvidos de Hisami. Seu corpo está de pé, mesmo que não pareça ser capaz de sequer andar. Seu olhar está fixado no monstro, que parece estar focado demais na pessoa em sua mão para prestar atenção.

"Ei, não me ignora. Trate de tirar suas mãos dela. O seu oponente... sou eu."

Do ponto de vista de uma terceira pessoa, Vektor está expressando um olhar completamente diferente do seu habitual. Olhos completamente abertos, olhar completamente fixo. Como um animal encarando sua presa, ignorando por completo o fato de sua presa ser várias vezes maior em tamanho e força.

Porém do ponto de vista de Vektor, o que ele vê é um cenário inexplicavelmente familiar. Seu corpo fraco e indefeso, contemplando uma pessoa sendo alvo de crueldade sem ter a força necessária para reagir. Mesmo que nenhuma memória sólida venha a sua mente, um certo instinto o faz sentir algo que com certeza não é uma novidade.

Uma familiar fonte de fúria.

Ao desviar seu olhar para Hisami, Vektor por algum motivo enxerga um menino. Um menino frágil e indefeso, que usa de suas últimas forças para tentar estender sua mão na direção de Vektor, com a fraca voz do menino ecoando em seus ouvidos...

"S... Socor-"

A mente de Vektor retorna para a realidade no momento em que a armadura de Hisami começa a rachar. Agora é apenas questão de segundos para a armadura se quebrar e quem estiver a vestindo ter seu corpo destruído por dentro.

Mas não havia mais nada para esperar. O corpo de Vektor já está no ar após um salto tão potente e contraditoriamente leve que o faz parecer que está flutuando. Ele já sabe do ponto fraco do monstro, pois viu a luta enquanto enfraquecido. A Slasher Platinum continua em sua mão, mesmo que esteja segurando com delicadeza.

A delicadeza se torna firmeza no momento em que ele se prepara para atacar. Mesmo com a lâmina quebrada, a espada continua a canalizar o poder flamejante do aprendiz. Enquanto seu corpo cai sobre o peito do monstro, Vektor apunhala a garganta do mesmo com sua espada ardente, fazendo o monstro finalmente gritar de dor.

Vektor continua apunhalando incansavelmente a garganta do monstro.

"Solta ela! Solta, solta!! SOLTA LOGO!!!"

Enquanto se prepara para apunhalar o monstro novamente com a força de seus dois braços, Vektor também é agarrado pelo monstro. Diferente de Hisami, Vektor não possui nenhuma armadura o protegendo. Nada pode impedir o monstro de facilmente destruir seu corpo por dentro e matá-lo instantaneamente.

Mas a atual fúria do garoto é tão intensa que o impede de sentir dor ou temer a atual situação na qual se encontra. Suas duas mãos ainda estão livres e agarradas à sua espada, e isso é tudo que ele precisa no momento.

Com toda a força que lhe resta sendo amplificada ao máximo pela adrenalina, Vektor desfere seu ataque final. Ao invés de puxar a lâmina de volta, ele continua fazendo força na esperança de encontrar uma brecha na dura pele do monstro e rasgar seu peito.

Porém essa pele, diferente de uma armadura, não possui aberturas ou brechas. O monstro progressivamente aumenta a força aplicada para espremer o corpo de Vektor, que não desiste de tentar achar uma abertura.

O que acontece no entanto é uma surpresa para ambos. Após aplicar tanta força, Vektor consegue rachar a pele do monstro.

"Está rachando... Eu posso quebrar...! Eu posso cortar!!"

No mesmo instante toda a incerteza que cercava a mente de Vektor desaparece de uma só vez, e toda precaução com o próprio corpo que ele estava tendo até o momento é esquecida.

"HAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHH...!!!!!!"

A faísca necessária em sua alma é finalmente acesa, e seu corpo começa a entrar em combustão. As descontroladas chamas cobrindo o garoto fazem o monstro instintivamente soltar seus dois prisioneiros.

Hisami cai no chão mas consegue se levantar sem muito problema por ter sido protegida por sua armadura, agora quase quebrada. Ela olha para Vektor, que continua em chamas no meio de seu ataque.

"Vektor! Eu já estou bem! Saia logo daí!"

Porém essas palavras não o alcançam, seus sentidos estão agora todos focados naquele ataque. Sem saber mais o que fazer, Hisami apenas se afasta. O monstro começa a rugir de dor e desespero enquanto sua pele finalmente se quebra, e a lâmina quebrada da Slasher Platinum enfim corta a carne de seu peito, deixando uma trilha de chamas por todo o trajeto percorrido pela lâmina.

Com todo o seu fôlego esgotado, Vektor para de emanar chamas ao redor de seu corpo e cai de joelhos no chão, largando a Slasher Platinum que permanece enfincada na carne do monstro. Exausto, o garoto não consegue mexer nenhum músculo, sendo capaz apenas de respirar ofegantemente.

Antes que Hisami tenha sequer a chance de checar o estado de Vektor, o monstro repentinamente sucumbe ao dano e explode em energia sombria, porém este monstro tem tanta dessa energia concentrada que a explosão gera um impacto muito maior que o normal, jogando o corpo de Vektor para longe, para o desespero de Hisami:

"Vektor! Você está bem?!"

Com a quase inexistente energia que ainda lhe resta, Vektor levanta metade de seu corpo e se mantém sentado no chão enquanto Hisami corre em sua direção. Sua cabeça começa a sangrar, mesmo assim ele responde:

"Sim. Tá tudo OK comigo."

"Você não está nem um pouco bem!"

"A parte que realmente importa agora é que vencemos. No fim de tudo, nós dois estamos vivos e inteiros."

"Tem razão, haha... Esta foi uma batalha inacreditável... Eu nunca enfrentei um monstro tão poderoso como aquele."

"Nem eu. Pela forma que aquilo morreu, com certeza não era só um monstro comum... Pera, o que é aquilo?"

No lugar onde o monstro foi morto, uma misteriosa luz brilha dentro das trevas que estão se dissolvendo. Em poucos segundos, apenas a luz se mantém, e no momento seguinte, a porta da sala se abre, enquanto o teto da sala se dissolve no ar como poeira.

A luz logo cresce até se tornar uma criatura gigantesca e então se dissolve, dando lugar a um enorme pássaro de mais de 20 metros de altura. Sua voz de alguma forma alcança as mentes de Vektor e Hisami:

"Muito obrigado por me libertarem. Graças a vocês dois, meu eterno sofrimento chegou ao fim."

Ambos são pegos de surpresa, mas Hisami expressa mais espanto:

"O pássaro está falando!"

Vektor no entanto tem uma noção melhor do que está acontecendo por não ser um conceito novo para ele, porém ele nunca viu uma criatura não-humana ser capaz de algo assim:

"Não é isso... Se fosse isso, o bico dele deveria estar se mexendo. Ele está... usando telepatia!"

O pássaro logo responde:

"Isso mesmo. Vocês são duas das poucas pessoas capaz de ouvir minha voz dentro de suas mentes. Você, garoto, pode me ouvir por ser da linhagem dos Drenn, o que significa que eu posso me conectar com sua mente. E você, garota, pode me ouvir pois todos que são capazes de sentir presenças podem ouvir minha voz."

"Você... sabe que eu sou um Drenn?"

"Sim. Por mais que eu não pudesse controlar as ações do monstro, meus sentidos estão conectados ao mesmo, logo fui capaz de ver a batalha pelos olhos daquela criatura. Eu estive selado dentro daquilo por milhares de anos."

"Milhares de anos... Posso te perguntar quem... ou o que é você?"

"Eu sou um servo guardião ancestral dos Drenn. Carrego o título de Mythbird do Fogo. É uma honra conhecê-los, Vektor Drenn e Hisami."

"(Mais um servo guardião... Só o Sych já não é o bastante? Bem, o que importa agora é...)

Por acaso, você sabe como eu faço para adquirir meu poder Drenn ancestral? Eu vim até aqui em busca justamente disso."

"O poder ancestral de cada linhagem Etykiran está selado em cada um dos 5 castelos escondidos neste planeta. Cada Mythbird conhece o caminho para um desses castelos. Caso queira adquirir esse poder, eu estaria honrado em levá-lo até o Castelo Ancestral Drenn."

"É sério?! Você vai nos levar até lá?! Isso seria de grande ajuda, valeu mesmo! Hisami, se prepar-"

"No entanto, cada castelo é restrito apenas para membros da família Etykiran cujo poder está selado. Nem eu serei capaz de entrar lá, então a garota terá muito menos chance."

"Hã...?"

"Apenas você deverá vir comigo, garoto. Lamento dizer, mas vocês dois deverão seguir caminhos diferentes a partir daqui."

"Oh, entendo... É uma pena."

Sem saber muito bem como reagir à situação, Hisami apenas diz:

"Parece que meu trabalho chegou ao fim, não é mesmo?"

"Pois é... Foi só por um tempinho, mas muito obrigado mesmo por toda a sua ajuda. E me desculpa por não ter te mostrado nada de muito interessante."

"Do que está falando? Estes últimos dias devem ter sido os mais agitados de toda a minha vida! Duvido que algo igual aconteça tão cedo."

"Haha, beleza então. Pois bem... acho que é aqui que nos despedimos..."

"Sim. Sentirei sua falta, Vektor Drenn. Caso volte pra este mundo em busca de algum novo poder lendário ou algo assim, passa lá em casa, eu e meu pai vamos adorar te receber de novo."

"Mal posso esperar. Bem, eu falo isso mas eu sinceramente não quero que outro incidente do tipo aconteça no meu mundo. Que situação complicada... Enfim, chega de perder tempo. Vou seguir em frente e ir até o tal Castelo Ancestral. Mas antes disso, posso te pedir um último favor?"

"Claro, é só pedir."

"É que bem... Eu meio que não tô conseguindo andar agora."

"Ah tá, beleza."

Hisami sobe nas costas de Mythbird carregando o corpo de Vektor, que se senta nas costas do pássaro logo em seguida. As penas são macias fazendo parecer que o garoto está sentado na grama. Mythbird então abre suas grandes asas e se prepara para abrir voo. Hisami decide pedir um último favor também:

"Ei, antes de irem, podem me levar de volta pra casa? É que eu não quero que caminhar sozinha na floresta depois disto tudo."

"Por mim tudo bem. E você, Mythbird?"

"Não será problema algum. Preparem-se!"

Mythbird então voa para fora do Templo Ancestral e segue até a casa de Hisami após a mesma apontar de cima da Ilha dos Ancestrais. Durante o voo, ela enxerga o vasto oceano além da ilha e se pergunta:

"O que será que se esconde além do mundo que eu conheço...? Se existe um mundo inteiro além do meu em outro universo, o que impede de haver um outro mundo dentro deste mesmo mundo? Afinal, olha pra todo esse oceano..."

Ela chega em seu destino em poucos minutos. Vektor se despede de Hisami e seu pai sem gastar muito tempo. Mythbird então voa até os céus e segue em direção ao Castelo Ancestral Drenn levando Vektor nas costas, enquanto o garoto se rende à exaustão e dorme durante o voo. O povo da Ilha dos Ancestrais vislumbra o grande pássaro se afastando da ilha.