Mestre do Vento

Vektor segue voando até o último local inexplorado da Ilha de Netern: as Colinas do Vento, um local pacífico e belo, completamente coberto por grama. Após pousar numa colina dentro da média de tamanho do local, ele procura alguma casa, na intenção de encontrar o último aprendiz Etykiran.

Após andar por alguns minutos, Vektor encontra uma simples casa em cima de uma colina não muito longe da qual ele estava. Ao chegar lá depois de uma leve caminhada, ele educadamente bate na porta, esperando ser recepcionado por algum membro da família Noogard.

No entanto, quem atende a porta é um pequeno garoto de cabelo verde, com a aparência de um adolescente de 14 anos, conseguindo a proeza de ser ainda mais baixo que Vektor, que reconhece isso e começa a raciocinar:

"(E- Esse é o aprendiz Noogard...? Se for ele, então devo estar com problemas... Será que um moleque desses seria capaz de manusear seus poderes bem o bastante pra me ajudar...? Não, não devo pensar assim, sou eu que sou o atrasado aqui. Além disso, nada foi confirmado ainda. Ainda há a possibilidade dele ser o irmãozinho do aprendiz ou algo do tipo. É, vamos ser otimistas!)"

"Hm? Vai dizer alguma coisa, ou...?"

"O- Olá... Por acaso, você mora nessa casa?"

"Sim, deseja algo?"

"P- Por via das dúvidas, essa é a casa da família Noogard, não é?"

"É sim, por quê? Quer um robô ou algo do tipo? Eu posso providenciar um caso possa pagar."

"N- Não, eu só quero te perguntar uma coisa..."

"Ah sim, pode perguntar."

"Você não é o... aprendiz Noogard, ou é?"

"Não. Eu sou o Mestre Noogard."

"...Como é?

(M- Mestre?! Como assim, mestre?!)

Não zoa com a minha cara, moleque! Como é que alguém tão novo pode ser um mestre Etykiran?! Isso não faz o menor sentido! O mestre Noogard não deveria ser um adulto?! Para de brincadeirinha e fale comigo à sério!"

"Hahahahahahaha!!"

"T- Tá rindo do quê?!"

"Hahahaha, cof cof, hahah, hah... Ah... Ai, ai... Não rio tanto assim desde que li aquele mangá de comédia mês passado, fiquei até com dor no estômago, ugh..."

"Moleque abusado..."

"Ei, também não precisa olhar pra mim desse jeito. Eu já sabia que você viria, por isso só queria dar uma zuada contigo pra ver qual seria sua reação ao ver meu tamanho, esperando ver algo engraçado... E eu tava mais do que certo, foi hilário."

"Ok... Comece a se explicar."

"Ah, é que bem... Eu já sabia que você viria porque é bem fácil acompanhar sua jornada aérea daqui, o cenário aqui é bastante aberto, como pode ter notado..."

"Não tô falando disso! Me dê uma explicação decente do porquê o Mestre Noogard é um moleque mais novo e mais baixo que eu. Quero ver se você consegue me convencer."

"Bem, pra encurtar a história, minha aparência é só o resultado de um dos feitos da sua mãe."

"Hã?! Que que a minha mãe tem a ver com isso?"

"Eu era cobaia das magias experimentais dela, daí um dia ela me forçou a tomar uma poção de rejuvenescimento que ela criou... só que a poção era poderosa demais, e eu acabei ficando com o meu corpo desse jeito. Você pode acreditar na minha história ou não, mas o que você decidir não vai mudar os fatos já determinados, Vektor Drenn."

"Meh, não duvidaria da minha mãe fazer algo assim... Opa peraí, você também sabe o meu nome?"

"Eu tô te falando, eu sei quem você é. Ainda não se convenceu de que eu sou o Mestre Noogard?"

"...Acho que se eu negar agora, vou estar só mentindo pra mim mesmo. Por mais bizarras que sejam suas explicações, toda a informação passada meio que bate com os fatos... Acho que eu posso dizer que você me venceu no argumento."

"Finalmente se rendeu..."

"Mas e então? Você já tem alguma ideia do que estou fazendo?"

"Bem, o garoto chamado Katsuo me avisou há um tempo sobre você ter sido amaldiçoado, mas eu só vi você voando de um canto pro outro pela ilha. Parece que você andou se divertindo pela ilha, não foi mesmo?"

"N- Não acho que 'diversão' seja a palavra adequada..."

"Tô sabendo, está procurando pelos aprendizes, não é?"

"Sim..."

"Olha, se você veio pra cá só pra procurar pelo meu filho, saiba que ele não é muito do tipo de passar tempo em casa. Se bem que eu acho que você já deve ter se encontrado com ele no mínimo umas duas vezes."

"S- Sério?! E como foi que eu vi ele e nem notei?"

"Bem, acho que preciso te contextualizar um pouco melhor. O nome do meu filho é Hayato Noogard. Ele vive brincando com os robôs dele enquanto faz roleplay como hobby."

"Roleplay?"

"É, ele parece gostar muito de encarnar no personagem dele. Pode-se dizer que ele se passa como um tipo de supervilão."

"(Roleplay de supervilão...? P- Peraí...)"

"Ele gosta de sobrevoar a Cidade dos Etykirans com uma aeronave gigante. Ele se autointitula como..."

"(Não, não... Por favor, ele não...! Qualquer um menos ele!)"

"...Vilão do Mal."

"Por que esse cara sempre volta pro meu caminho?!!"

"W- Wow, calma! Ele fez alguma coisa contra você?"

Sem esconder seu descontentamento, Vektor solta um longo suspiro antes de responder:

"Você não faz ideia... do quanto de energia eu tive que gastar com aquele cara... Bem, acho que ainda assim eu tenho o dever de dizer..."

Vektor lentamente abaixa a cabeça enquanto fecha os olhos e diz:

"M- Me desculpe! Pelos meus motivos, eu tive que destruir os robôs do seu filho duas vezes!"

Diante desse pedido de desculpas, Mestre Noogard fica nervoso e timidamente diz:

"N- Não se preocupe, a culpa não é sua! É que ele pega pesado às vezes..."

"Desculpa, mas acho que 'pegar pesado' é um eufemismo..."

"Ele não faz por mal, isso é só um hobby que ele arranjou pra passar o tempo. Se quiser culpar alguém, pode jogar a culpa em mim."

"Não tem pra que assumir a culpa do seu filho."

"Ele só começou com esse negócio de roleplay porque queria uma forma de se divertir sozinho, já que eu fui meio negligente demais quando ele era criança. Quer dizer, eu nem sequer sei repreender ele direito quando ele passa dos limites desse jeito, então..."

"Me perdoe, mas eu não acho isso uma justificativa boa o bastante pro que ele fez contra a segurança dos outros. Ele quase machucou pessoas de verdade!"

"Tem isso, né? Foi mal, haha! Bem, eu não tenho direito nenhum de julgar ele... Eu também... quando mais novo... fiz muitas besteiras..."

"Hm?"

Ainda com a cabeça abaixada, Vektor lentamente levanta a cabeça e percebe que o olhar brilhante e animado de Mestre Noogard repentinamente havia se tornado vazio e triste, como se estivesse perdido da realidade... Ao perceber isso, Vektor diz com uma voz preocupada:

"Mestre...?"

"A- Ah, desculpa! Minha mente ficou distraída por um momento! Foi mal por isso, eu tenho esse hábito de me distrair fácil..."

"T- Tá tudo bem..."

"M- Mas enfim, o que eu tô querendo dizer com tudo isso é pra você não entender as coisas do jeito errado. O Hayato não é uma má pessoa. Longe disso, ele é bastante bondoso até. Ele só faz esse negócio de Vilão de Mal pra se divertir do jeito dele, nada além disso."

"Ele realmente se diverte passando vergonha daquele jeito?"

"Você acha aquilo vergonhoso?"

"Tá zuando? Eu fui capaz de sentir a vergonha alheia a quilômetros de distância!"

"Sério? Eu honestamente acho até que legal esse jeitão dele."

"Sua definição de 'legal' parece diferir bastante da minha."

"É aquilo, cada um com seus gostos."

"Pois bem, então vamos deixar isso pra lá e pensar na parte importante... Pelo que eu entendi, agora eu preciso encontrar o Hayato dentro da aeronave dele... Estou certo?"

"Olha, eu sinceramente não recomendaria fazer isso hoje."

"Ué, por quê?"

"Não acho que vai dar certo se você simplesmente aparecer por lá e se explicar pra ele, ainda mais você que destruiu os robôs dele."

"Tem razão."

"Te aconselho a passar o resto do dia aqui, assim dá pra gente pensar numa estratégia."

"O problema é que eu tenho um certo tempo limite..."

"De quanto tempo?"

"Amanhã é meu último dia."

"Quer dizer que precisamos de um jeito de reunir todos os 5 aprendizes em um só dia... Acho que ainda podemos pensar num jeito. De qualquer forma, você está tempo demais aí fora. Pode entrar, e por favor não repara na bagunça."

"Com sua licença."