ELIA
Enquanto Elia e Candace saíam do Mercado e começavam a caminhar pelas ruas — Candace apontando diferentes lojas e serviços, e acenando saudações para diversas pessoas que sempre sorriam ao vê-la, mas frequentemente pareciam frias ou assustadas quando acenavam para Elia.
Alguns se curvavam diante delas, e outros não. Elia não tinha certeza do porquê, mas quando via Candace retribuir a reverência, tentava imitá-la.
— Não, não! Não assim! — sibilou Candace, quando Elia se curvou para uma mulher com uma faixa de couro sobre suas peles.
Elia se endireitou imediatamente, mas a mulher parecia preocupada e se afastou por trás do prédio que elas estavam passando.
— O que eu fiz? — Elia perguntou baixinho.
Candace soprou um suspiro. — Em Anima, a parte mais vulnerável dos nossos corpos é o pescoço. Nunca o expomos uns aos outros a menos que sejamos companheiros ou muito íntimos. Mesmo entre famílias é raro. Então, quando você se curva, mantenha os olhos no chão e o queixo baixo — a menos que você queira dizer a uma pessoa que está dando controle sobre você.
Elia piscou. — Okay.
Candace puxou a manga de Elia. — Ele te fez um desserviço te jogando no trono antes que tivéssemos tempo para te treinar. Assumir a Rainha seria difícil para qualquer fêmea, mas uma que não foi criada em Anima? É uma tarefa impossível que ele estabeleceu! — ela murmurou. Elia não tinha certeza se ela estava falando com Ela ou consigo mesma, então ficou em silêncio. Mas à medida que caminhavam mais e Candace permanecia calada — obviamente preocupada — Elia falou.
— Por que seria difícil para qualquer uma? O que a rainha precisa fazer?
Candace suspirou e passou a mão pelos cabelos, balançando a cabeça para o lado mais de uma vez. — O fato de você ter que perguntar isso... a verdade é que cada rainha é diferente. A Rainha é uma líder do nosso povo, mas seu papel depende da pessoa. Por exemplo. A mãe de Reth era uma caçadora extremamente habilidosa. Ela fornecia comida e ensinava os jovens. Ela entendia os selvagens e podia aconselhar os homens quando estavam rastreando ou planejando batalhas. E ela era... muito amável.
Elia engoliu em seco. — Okay.
— A avó de Reth era uma mulher sábia. Ela misturava medicinas, dava conselhos, resolvia disputas — e ela ajudava o conselho em tempos de crise. Ela liderava o conselho das mulheres... ela fazia muitas coisas. Ela era uma grande líder.
Elia quis xingar. — Bem, eu não sou nenhuma dessas coisas, — ela murmurou.
— No que você é boa?
Elia não tinha certeza sobre como responder. Ela sempre tinha boas notas, aprendia rapidamente e fazia amigos facilmente — mesmo que geralmente não fossem amigos muito próximos. Mas como isso poderia ajudar em ser uma rainha? Liderando um povo?
— O que você fazia no mundo humano? — Candace perguntou desesperadamente. — Deve ter alguma forma que você demonstrava habilidade ou utilidade aos outros?
Elia deu de ombros. — Meu mundo é — era — diferente. Lá eu ainda era considerada jovem. Ainda estava aprendendo e crescendo. Eu estava estudando. Os únicos trabalhos que tive foram em restaurantes e ajudando os professores na minha escola.
— O que você estudava?
Elia deu um risinho. — Literatura. Mas eu amo animais. Eu queria usar histórias sobre animais para ensinar as crianças o quanto todos somos importantes uns aos outros... Eu queria ser um exemplo.
Elas se olharam, depois ambas riram. — Bem, — disse Candace após um momento, — talvez você esteja no lugar certo afinal de contas.
Elia sorriu, mas o sorriso desapareceu conforme olhava ao redor. — Tem animais nesse lugar? — ela disse.
Candace engasgou por um instante. Elia não tinha certeza se ela estava abafando um riso ou algo mais. — Sim, — Candace disse devagar. — Nós temos animais.
— Que não sejam humanos, certo?
— Sim.
Elia deu de ombros. — Talvez eu possa ajudar com eles?
Candace a encarou por um momento, então desviou o olhar. — Talvez, — ela disse. Ela parecia desconfortável com a ideia.
Elas caminharam em silêncio até que Elia disse de repente, — O que significa ser uma mulher aqui? Nem mesmo uma rainha, apenas... uma mulher? Uma adulta?
Candace virou seu rosto de traços marcantes e olhou para Elia pensativamente, depois olhou ao redor delas. Elas estavam no meio de uma interseção de caminhos. Havia uma árvore grossa à direita delas com algum tipo de estande embaixo, e algumas pessoas reunidas, olhando para as coisas do vendedor à venda. Uma delas, uma mulher de figura robusta olhou para Elia com suspeita e se inclinou para sussurrar algo no ouvido de seu companheiro. O homem se virou e olhou para Elia, e franzou a testa.
Candace pegou o braço dela e a puxou para longe, pelo caminho na direção oposta das pessoas. Elia abriu a boca para perguntar, mas Candace a mandou calar. — Espere. Chegaremos à caverna e então... apenas espere, por favor.
Foi uma caminhada surpreendentemente curta até a caverna de Reth. Os guardas que Elia tinha esquecido desde que a levaram ao mercado pela manhã, de repente saíram da floresta ao redor deles quando chegaram à clareira, e Elia se sobressaltou.
Candace levantou as sobrancelhas. — Você não sabia que eles estavam conosco?
— Não! Como eu saberia? Eles não estavam caminhando conosco. —
Candace balançou a cabeça e murmurou algo sobre humanos fracos, depois fez um gesto com a mão para a entrada da caverna. — Vamos entrar, — ela disse, seu tom sombrio.
Os homens se espalharam atrás delas, cada um de costas para a caverna. Mas um deles olhou para Elia, seu rosto triste.
Ela se surpreendeu com o quanto aquilo doía.