Responsabilidade!

A Sede da SBC News ficava localizada na zona interna da cidade. Condizente com sua reputação de principal corporação de mídia da cidade, a sede ocupava um prédio de vinte andares.

Os funcionários que trabalhavam na SBC tinham um grande orgulho de seu campo de atuação.

Notícias tinham o poder de destruir uma reputação solidamente construída. Da mesma forma, um único escândalo era o suficiente para arruinar uma empresa.

De certa maneira, canais de notícias talvez fossem mais poderosos do que habilidades de mutantes! Afinal, os mutantes não podiam usar seus poderes como bem entendessem por causa das leis. Mas os canais de notícias eram diferentes!

No 18º andar, um grupo de dez funcionários observava duas telas de computador. Em uma tela, a notícia de que Kiba havia se tornado pai era exibida. Na outra, os índices de TRP do canal eram projetados em tempo real.

Esse grupo consistia de membros de alto escalão do canal. Naturalmente, os índices de TRP eram importantes para eles, pois afetavam diretamente seus salários. Ao observarem a tela, sorrisos floresceram em seus rostos. Os índices de TRP estavam disparando!

"Daniel e Sarah se superaram mais uma vez!" disse uma oficial com reverência.

"Realmente, o TRP está ótimo! Até ultrapassou os canais de entretenimento!" exclamou um oficial.

"Sarah realmente sabe que tipo de notícia vende!" outra oficial acrescentou. A informação sobre Sarah comprando a fonte da 'notícia bombástica' era um segredo conhecido apenas pelos membros do núcleo.

"Daniel também é incrível. Ele mesmo preparou o script da notícia," outro oficial se intrometeu.

Não era tarefa simples para um canal de notícias superar o TRP de canais de entretenimento, mas agora o canal deles tinha conseguido isso. Como poderiam não se orgulhar de Daniel e Sarah por conhecerem o nervo do público?!

"Realmente, escândalos sempre vendem!"

Especialmente se envolvesse uma mulher casada que resultasse em gravidez. E apresentar o escândalo de uma forma inovadora poderia torná-lo um produto para toda a vida!

"Devemos ser gratos ao Kiba por seu hábito de mulherengo, caso contrário não teríamos esse escândalo!" um oficial brincou. No fundo, ele amaldiçoou os deuses por darem ao Kiba tal sorte invejável com mulheres.

"Agatha também merece crédito por ser uma puta!" uma funcionária comentou. Sua expressão denotava como desprezava mulheres como Agatha por terem um caso extraconjugal.

"Haha, tenho certeza de que a Agatha não vai poder mostrar a cara em público," disse um funcionário. Ele queria ficar do lado bom da funcionária, então tomou o partido dela.

"Ela merece!" a funcionária de antes adicionou com um sorriso.

"Daniel também ficaria extremamente satisfeito com o progresso que nosso canal está fazendo!" uma funcionária de óculos observou. Ela tentou mudar de assunto, pois não se sentia confortável com comentários negativos contra a Agatha.

"Claro! O Daniel estaria dançando de alegria!"

"Verdade. Se eu fosse o Daniel, também estaria comemorando!"

O grupo concordou enquanto seus olhares inconscientemente passavam para a sala de escritório próxima. Era o escritório do Daniel.

Os funcionários homens lançavam olhares de inveja. Daniel tinha uma esposa deslumbrante na forma de Sarah, e sabendo disso, eles ficaram com ciúmes.

"Daniel também é um bom marido!" uma funcionária exclamou. Mulheres gostam de homens de sucesso e Daniel foi além, sendo um cavalheiro perfeito.

"Eu também quero um marido bom como o Daniel," disse outra.

Justo então um grande estrondo veio do escritório de Daniel.

*BUM*

O grupo ficou boquiaberto ao ver a mesa passando pela janela do escritório. Não apenas a janela quebrou, mas até a parede próxima apresentou sinais de rachadura!

"FILHO DA PUTA! EU NÃO QUERO SER UM BOM MARIDO!!" Daniel rugiu tão alto que o chão tremeu violentamente.

O grupo estava chocado. Apenas alguns segundos atrás, eles pensaram que Daniel estaria celebrando de alegria, mas agora... Definitivamente ele não estava feliz!

O que aconteceu?

E o que ele quis dizer com não querer ser um bom marido?!

As funcionárias ficaram ainda mais chocadas. Eles o elogiaram por seu comportamento cavalheiro!

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Dentro da sala do escritório, Daniel bufava de raiva. Ele não conseguia mais controlar seu ódio, então descontou nos móveis.

Ele respirou fundo e focou sua atenção na tela virtual onde a imagem holográfica de Kiba era projetada.

Um minuto atrás, Kiba havia dito: "Se você ama sua esposa então não a prenda nas correntes do casamento! Permita que ela tenha a felicidade que ela sempre almejou!"

Como se isso não fosse humilhante o suficiente, Kiba foi um passo além, perguntando: "Você quer ser um bom marido, certo?"

Bom marido?!?

Merda! Eu não quero ser um bom marido se isso significa me tornar um corno! Que tipo de homem eu seria se deixasse minha esposa dormir com outro homem?!?

Ele sentiu um tipo de humilhação que nunca havia sofrido em toda a sua vida. Ele era um magnata da mídia respeitável na Cidade Delta, mas agora esse caçador de esposas explicitou suas intenções de torná-lo um corno!

A parte mais irritante era que esse caçador de esposas fingia que era para o seu próprio bem!

Por dizer que a felicidade de sua esposa dependia dele ser um corno!

Esse desgraçado queria dormir com sua esposa para que ela pudesse sentir a felicidade que ela sempre almejou! Que tipo de felicidade era essa?!?

Claro, eu quero ser um bom marido que mantém sua esposa feliz, mas eu não quero dar a minha esposa esse tipo de felicidade!

Essa felicidade me mataria!

Daniel quis retrucar, mas ele não sabia como responder porque as palavras de Kiba tecnicamente faziam sentido! Ele não queria admitir, mas havia lógica nas palavras de Kiba, por mais absurdas que fossem!

Se uma pessoa se cansa de comer a mesma comida e vestir as mesmas roupas, então e quanto a ter apenas um amante pela vida inteira?!?

Desgraçado! Por que estou pensando que as palavras dele fazem sentido?!?

Eu não quero me tornar um corno!

Se fosse possível, ele queria estrangular Kiba, mas ele sabia que a imagem à sua frente não era nada mais que uma projeção virtual criada pelo dispositivo de telecomunicação.

Ele tentou se acalmar mas falhou após ver a atitude relaxada de Kiba. Seu sangue começou a ferver novamente.

"Eu juro que vou te matar se você der um único passo em direção à minha esposa!" Daniel soltou um aviso.

"Que decepção você não apreciar a bondade," Kiba respondeu em um tom de decepção.

"Bondade?!?" Daniel estava enlouquecendo só de pensar na bondade que Kiba queria oferecer.

"Você pode não querer se tornar um bom marido, mas eu vou garantir que você se torne um!" Kiba declarou, ignorando o aviso de Daniel.

Um homem pode querer se suicidar, mas como um sábio pode permitir que isso aconteça? Da mesma forma, um marido pode não querer se tornar um corno, mas como Kiba poderia permitir isso?

Era o dever de um sábio salvar vidas e, da mesma forma, Kiba sentia que tinha o dever de transformar todo homem (com uma esposa bonita) em corno.

Era um senso de responsabilidade! Era uma missão pela qual ele vivia!

Como Kiba poderia recuar de seu sagrado dever por causa das ameaças de Daniel?

"De qualquer forma, vou garantir que te envie alguns bons clipes de vídeo para o seu entretenimento!" Kiba acrescentou ao terminar a ligação. "Espere por eles!"

Clipes de vídeo?!?

Daniel quase cuspiu um bocado de sangue só de pensar no conteúdo daqueles clipes...

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Kiba estava calmo. Um sorriso era visível em seu rosto, como se ele tivesse obtido um grande sucesso.

[[Parabéns, senhor.]] Como uma inteligência artificial avançada, Claudia conseguia entender a psicologia dos humanos e sabia por que seu mestre deu um 'telefonema de cortesia' para Daniel.

"Parabéns?" Kiba perguntou.

[[Você caiu Daniel direitinho na sua isca. Como você teve sucesso, parabéns são merecidos.]]

"Hehe, obrigado. Pra ser honesto, Daniel foi muito mais fácil de fisgar do que eu pensava."

[[Isso é tudo graças à sua infâmia.]] Claudia disse sem piedade.

"Ei! Você está dando crédito à minha fama, mas eu me esforcei pra conseguir isso!"

[[Senhor, eu usei a palavra infâmia, não fama.]] Claudia o corrigiu.

A boca de Kiba se contorceu. Ele sabia que ela estava se referindo à sua reputação por ter casos com mulheres casadas. Quase todo mundo na cidade sabia que ele se envolvia com as esposas de executivos de topo. As pessoas sabiam que ele não tinha poupado nem as filhas e esposas de funcionários do governo.

Essa reputação era infâmia, e poucos duvidariam de sua habilidade em seduzir uma mulher, casada ou não.

O que os outros não sabiam era que, às vezes, Kiba usava sua reputação como uma arma. Se uma pessoa comum dissesse a Daniel que iria torná-lo corno, chances são de que Daniel não acreditaria naquela pessoa nem daria importância à ameaça.

A razão era simples: um casamento era fundamentado no amor. Não era qualquer um que era capaz de arruinar esse laço sagrado.

Mas Kiba? Ele tinha a reputação de destruir até os melhores casamentos! Ele tinha casos com mulheres que eram loucamente apaixonadas pelos maridos e mesmo assim cediam à tentação!

Foi por isso que, durante a conversa, Daniel não disse coisas como "ninguém pode acabar com meu casamento" ou "meu casamento é forte demais para ser destruído."

A razão não era que ele não confiasse em sua esposa. Em vez disso, era porque ele acreditava que Kiba tinha a habilidade de ter um caso com sua esposa.

A verdade era que Kiba poderia ter seduzido Sarah mesmo sem fisgar Daniel. Ele só fisgou Daniel para fazê-lo se sentir sufocado.

Essa conclusão se tornaria um demônio em seu coração, e ele sempre seria assombrado por isso. Ele começaria a desconfiar de sua esposa e ficar suspeito dela até mesmo em questões normais! Isso, por sua vez, criaria uma pequena faísca no casamento!

[[Se as condições forem adequadas, uma pequena faísca pode se transformar em uma chama poderosa que queima tudo!]]

"Tenho que criar as condições adequadas para meu próximo passo," disse Kiba com um suspiro. Ele não era do tipo que forçaria uma mulher, então tinha que criar condições favoráveis para que a mulher caísse.

Convencer uma mulher casada a consentir um caso era um processo difícil. Exigia tempo e paciência.

"Claudia, comece a descobrir a qual 'categoria' Sarah pertence," Kiba ordenou.

[[Entendido.]]

Claudia sabia a que categoria seu mestre estava se referindo: o tipo de casamento em que a mulher estava.

Depois de anos de tentativa e erro, Kiba havia feito uma classificação de categorias que o ajudaria em sua caça. Ele basicamente dividiu os casamentos em três categorias:

1. Casamento quebrado - A mulher estava infeliz com o casamento. Isso podia ser devido a uma variedade de razões como problemas financeiros, uma vida sexual monótona, etc. Kiba achava as mulheres dessa categoria fáceis de seduzir.

2. Casamento aventureiro - A mulher estava em busca de diversão fora do casamento. Ela podia estar feliz com o casamento, mas queria se divertir. Kiba acreditava que essa categoria era difícil de lidar, já que a mulher em busca de diversão poderia ter suas próprias condições. Ela não teria um caso com qualquer Zé, Chico ou Mané. Esta categoria era a razão pela qual Kiba decidiu se tornar um mestre em todas as artes.

3. Casamento feliz - As mulheres desta categoria tinham uma vida conjugal serena. Elas não precisavam de emoção externa, pois estavam completamente satisfeitas. Este tipo de mulher era o mais difícil de seduzir.

"Eu realmente espero que Sarah não pertença à terceira categoria!" Kiba murmurou. "Senão, eu teria uma dor de cabeça com todos os planos que precisaria pensar!"

[[...]]

"Como o mundo pode saber a quantidade de trabalho duro que faço por semanas e meses apenas por um dia de prazer!" Kiba reclamou. Só ele sabia quão difícil era seu trabalho.

[[Senhor, você é sem-vergonha.]] Claudia observou.

Ela tinha um processo de pensamento livre e não era restrita de muitas maneiras. Então ela frequentemente fazia observações brutais, porém honestas.

Kiba ficou pasmo. Como alguém poderia chamá-lo de sem-vergonha? Isso ainda por alguém que o conhecia tão bem!

"Claudia, suas palavras me magoaram!"

[[Senhor, você planeja tornar alguém corno, mas seu comportamento é como se estivesse fazendo um favor ao pobre corno. Agora você ainda reclama do seu 'trabalho'.]]

"Ah bem... você não entenderia, já que não é humana!"

[[Entender o quê?]] Claudia estava surpresa.

Já que ela administrava um laboratório de pesquisas avançado, ela havia estudado todos os livros sobre psicologia humana. Não só isso, mas ela também havia estudado materiais de pesquisa baseados em experimentos ao vivo com seres humanos. Então, ela tinha confiança em sua capacidade de entender o comportamento psicológico humano.

"Responsabilidade!" Kiba respondeu com um tom solene.

[[Responsabilidade?]] Claudia não conseguia entender como o comportamento sem-vergonha de seu mestre e a palavra 'responsabilidade' estavam conectados.

Até onde ela sabia, havia uma distância infinita entre seu mestre e responsabilidade.

"Sim, eu sinto um senso de responsabilidade no que faço. Um humano deve ter orgulho do que faz, não importa o trabalho, porque envolve responsabilidade! E sentir-se sobrecarregado pela responsabilidade é uma resposta natural dos humanos!" Kiba explicou com a cara fechada.

Claudia ficou em silêncio enquanto analisava suas palavras.

"Agora você entende?" Kiba perguntou a ela.

[[Sim, senhor. Entendi que você é mais sem-vergonha do que eu jamais imaginei.]]

"......"

[[Será que você algum dia vai se sentir sobrecarregado pelo seu comportamento sem-vergonha?]]

"........"