PICCOLO
Eu estava de pé no topo de uma grande rocha. Minha capa branca esvoaçava pela brisa quente do entardecer, e apenas o deserto e a quietude eram minhas companheiras.
Meu sangue então ferveu em alerta.
Alguém se aproximava por trás.
Me virei e… nada.
Uma sombra me cobriu do outro lado, emergindo por detrás da rocha.
Gohan.
Ele saltou acima da minha cabeça, pronto para me golpear com um chute, mas segurei seu pé. Entretanto, ele girou e, com a outra perna, me acertou em cheio debaixo do queixo.
Caí para trás num baque. Gohan saltou de novo, pronto para socar minha cara, mas rolei para o lado e me pus de pé. Uma dor dilacerante emergiu da minha barriga. Ele havia me dado um gancho de direita bem na boca do estômago, e fiquei sem ar.
Olhei para ele, e em resposta, ganhei um sorrisinho audacioso.
Aquele nerdzinho…
Me impulsionei para golpeá-lo na lateral do corpo, mas ele sumiu, veloz, e reapareceu atrás de mim, pronto para me chutar de frente.
Hoje não!
Bloqueei seu golpe com meu antebraço e o joguei para o chão. HÁ! Quem estava caído agora, garoto?!
No segundo seguinte, caí de novo por uma rasteira que ele me deu.
Droga!
Gohan sobrevoou acima de mim, cruzou as palmas das mãos na frente da testa, e gritou:
— MASENKOOOOOO!!!!!!!!!!!!!
Um raio de luz amarelo saiu de suas mãos.
Só tive tempo de saltar da rocha, antes que ela explodisse em mil pedaços. Pousei desengonçado no solo pedregoso e seco, com meu peito subindo e descendo enquanto fitava Gohan ainda parado nos céus, agora rindo em triunfo.
Sem querer, esbocei um sorriso para ele.
Esta foi a minha maior falha.
— TENKOCHI! — Ouvi outro alguém gritar.
Lettie.
Me virei para trás, e lá estava ela, a poucos metros de distância.
Lettie estendeu seus braços na frente do corpo, abrindo as mãos uma paralela a outra e, de seus dez dedos, dez bolas de energia saíram como mísseis teleguiados diretamente até mim.
Tentei me desviar, mas Lettie controlava o trajeto das bolas de energia. Consegui rebater cinco delas, porém, as outras cinco me acertaram em cheio.
Fez-se silêncio.
Lá estava eu, caído pela terceira vez, com minha roupa esfarrapada e a poeira do impacto flutuando ao meu redor.
Então, ouvi Lettie e Gohan comemorarem:
— CONSEGUIMOS!!!!!!!
Ali no chão, sorri para mim mesmo.
Sim, eles conseguiram. Me abateram com sucesso.
E eu não poderia estar mais orgulhoso.
Me sentei com um grunhido, sentindo todos os meus músculos doloridos, e avistei os dois se aproximarem.
— Belo golpe, Tia Lettie! — exclamou Gohan.
— Obrigada — sorriu ela. — Você foi excelente causando aquela distração e– ESSA NÃO! — Ela de repente adquiriu um olhar de espanto e correu até se ajoelhar ao meu lado. — Mestre, você… você se feriu!
Com delicadeza, ela segurou meu braço direito, onde um corte profundo rasgava minha pele.
— Sr. Piccolo, o senhor está bem? — Gohan pegou minha capa branca manchada com sangue.
— Oh, não… — Lettie estava devastada, analisando a ferida. — Foi culpa minha, me desculpe… Não quis te machucar…
Ela acariciava meu braço de forma inconsciente, e tive que me conter ao máximo para não demonstrar o quanto eu tremia com aquela proximidade.
Que ódio! Por que eu estava tremendo? Se controle, Piccolo!
— N-Não foi nada… — Fingi uma tosse, esfregando minha mão livre em ansiedade. — Significa que seu golpe é eficiente. — Tentei esboçar um sorriso, mas acho que saiu uma careta ridícula.
Lettie negou com a cabeça e tirou o cinto do seu kimono.
— Deixa eu cuidar disso aqui… — E se pôs a enrolar o cinto no meu braço, cobrindo o corte, não deixando de me acariciar por um momento sequer, o que só me causou mais frio na barriga. Permanecemos em silêncio enquanto Gohan nos observava. Ele então riu, e nos viramos para saber o motivo.
— Hihihi…! — Gohan cobriu a boca, alternando entre olhar de um para o outro. — Acho que o Sr. Piccolo está um pouco carente!
Prendi a respiração e encarei Lettie.
— Por que diz isso, Gohan? — questionou ela.
— Ora, Tia Lettie… — Riu ele. — O Sr. Piccolo não precisa que a senhora cuide do seu ferimento. Ele consegue se regenerar sozinho, lembra?
Foi a vez dela me encarar.
— Oh! — Lettie piscou várias vezes para mim. — É mesmo. — Ela então sorriu. — Eu tinha esquecido.
— O senhor também se esqueceu, Sr. Piccolo? — indagou Gohan.
Agora, era eu quem olhava de um para o outro.
Será mesmo que eu tinha esquecido uma de minhas habilidades primárias? Ou será que apenas… fingi esquecer? Só para… só para sentir o toque carinhoso e cheio de preocupação de Lettie?
Quis me enfiar debaixo da terra e nunca mais sair.
Afastei meu braço das suas mãos, com mais brutalidade do que deveria, e o trouxe junto ao peito, enquanto eu sentia o olhar confuso deles sobre mim.
— Argh! — resmunguei. — Parem de falar asneiras. — Me levantei meio desengonçado, quase tropeçando nos meus próprios pés, e transfigurei uma roupa nova para o meu corpo e uma faixa nova para Lettie. — De pé, agora, vocês dois! Na minha frente. Tenho um anúncio importante a fazer.
Eles me obedeceram, atentos às minhas palavras.
Limpei a garganta e coloquei as mãos para trás, com meu ferimento já fechado, e os olhei com uma expressão séria.
— Hoje, fazem exatos onze meses e meio que iniciamos nosso Treinamento para lutarmos contra os Saiyajins que estão chegando na Terra. Durante este período, vocês aprenderam sobre os fundamentos e controle do Ki, práticas de golpes e lutas, técnicas de levitação e voo, assim como passaram por um treinamento físico intenso para fortalecer e preparar seus corpos e mentes, praticaram simulações de combate e, por fim, criaram técnicas especiais, como comprovamos agora a pouco. E, acima de tudo, conseguiram me vencer. — Meu humor melhorou um pouco ao ver um brilho de orgulho em seus olhos enquanto eu discorria por tudo o que passaram, e não consegui evitar sorrir. — Portanto, declaro que o Treinamento de vocês foi concluído com sucesso. Meus parabéns. Em comemoração, hoje a noite teremos pizza no jantar.
Os dois se entreolharam, boquiabertos.
Gohan então desembestou numa sequência de pulos de alegria, os quais fizeram a terra estremecer de tal maneira que Lettie perdeu o equilíbrio e caiu estatelada no chão enquanto ele saía em disparada correndo ao redor e levantando poeira, com os braços erguidos acima da cabeça ao berrar:
— VIVAAAAAAAA!!!!!!!! PIZZAAAAAAAA!!!!!!!!
Fui até Lettie e estendi minha mão para ajudá-la.
— Esse garoto não toma jeito… — Torci o nariz ao analisar se ela tinha se machucado.
— Está tudo bem. — Lettie limpou a sujeira de sua roupa. — Ele só está feliz.
— E quanto a você? — Engoli em seco de nervoso. — Está… feliz?
Em resposta, ela flutuou até minha altura, mirando seus intensos olhos azuis nos meus, se aproximou devagar e me abraçou.
— Eu já te disse que sou a mulher mais feliz do mundo, esqueceu? — Lettie me apertou um pouco mais.
Foi impossível. Não consegui me conter e a abracei de volta, torcendo para que ela não sentisse meu coração pulando descontroladamente enquanto eu a pressionava contra o meu peito.
Eu seria capaz de ficar o dia inteiro assim com ela, sentindo seu aroma natural, tão refrescante para o clima desértico em que habitamos, com leves notas florais adocicadas.
Ela então olhou para mim, apoiando as mãos em minhas ombreiras, sorriu e disse:
— Independente do resultado da batalha que nos aguarda, se vamos morrer ou não pelas mãos dos Saiyajins, quero que saiba que este ano que passei com você e Gohan foi o melhor ano da minha vida.
Tudo ao meu redor pareceu ficar dormente, como num sonho. Com minha respiração trêmula, percorri meu olhar por todos os detalhes do seu rosto, até parar nos seus lábios, e tive uma súbita vontade de beijá-la.
Beijá-la até alguém dizer chega.
Foi então que o céu escureceu, e grandes nuvens negras e pesadas surgiram acima de nossas cabeças.
Um calafrio percorreu minha espinha, e Lettie estremeceu em meus braços, provavelmente sentindo o mesmo, fitando aquelas estranhas nuvens no céu.
Raios e trovões rugiram por entre elas.
Gohan correu até nós, só que desta vez, de medo, e pulou no colo da tia. Num instinto de proteção, passei meu braço pelos ombros de Lettie, os deixando semi-ocultos sob minha capa.
— O que está acontecendo? — sussurrou Gohan.
— Isso não parece um temporal… — Lettie exibiu uma feição preocupada. — Cadê a água?
— Não… — repliquei com um semblante grave. — Isso não é chuva… Essas nuvens, eu conheço esse tipo… — Arregalei os olhos ao me dar conta da verdade e exclamei: — Shenlong! Ele foi invocado!
— Shenlong?! — repetiu Lettie. — O dragão que concede desejos?
— Sim… Bulma deve ter conseguido reunir as sete Esferas do Dragão, e agora… estão fazendo o pedido a Shenlong!
— Isso quer dizer que estão ressuscitando o meu papai?! — indagou um alarmado Gohan.
Eu e Lettie trocamos olhares tensos, e respondi:
— Sim. É bem provável que sim…
— Mas, isso é bom, não é? — perguntou ela. — Significa que meu irmão voltará para nos ajudar, certo?
— Sim… — Analisei a densidade daquelas nuvens, com dezenas de raios arroxeados iluminando seu interior. — Mas, não sabemos quanto tempo ele pode demorar até nos encontrar. Contudo, a aparição de Shenlong também significa que–
Antes que eu terminasse de falar, nos sobressaltamos de susto ao sentirmos uma distante, porém intensa presença e um poder sinistro nos atingindo de tal maneira, que estremecemos.
— O-O que foi isso??? — Lettie apertou Gohan junto a si e se encolheu contra mim.
Olhei para o céu escuro e soturno e respondi:
— São eles... Os Saiyajins. Estão chegando, mais cedo do que previmos.
***
A noite da pizza não foi tão boa e divertida como planejei, mesmo eu trazendo uma pizza brotinho de chocolate de surpresa para agradar Lettie.
Um clima de tensão pairava no ar enquanto comíamos ao redor da fogueira, numa mistura de silêncio, ansiedade e inquietação, como se, a qualquer momento, os Saiyajins pudessem aparecer bem ali, a nossa frente. Qualquer barulho noturno era motivo para nos empertigarmos em estado de alerta.
Quando terminamos de comer, Lettie se dirigiu a Gohan:
— Querido, diga "boa noite" ao Sr. Piccolo. Você precisa descansar.
Ele apenas assentiu e veio até mim. Então, mais uma vez fui surpreendido ao receber um abraço apertado dele.
— Boa noite, Sr. Piccolo. Quero que saiba que, se o meu papai não pudesse ressuscitar, eu queria que o senhor se tornasse o meu novo papai.
Aquilo me doeu mais do que um arrombo no meio do peito. Como Gohan poderia desejar aquilo, sendo que fui o culpado pela morte de Goku? A única coisa que consegui fazer foi afagar seus cabelos com um incômodo nó na garganta.
— B-Boa noite, Gohan. Até amanhã.
Em silêncio, Lettie o levou até a barraca para fazê-lo dormir. Enquanto isso, coloquei mais alguns galhos e folhas secas para aumentar o fogo, e me encaminhei até a beirada do Acampamento, de braços cruzados e escrutinando a paisagem ao redor, não deixando nem por um segundo de sentir a força e presença dos Saiyajins que se aproximavam cada vez mais.
Ouvi passos, e Lettie parou ao meu lado.
— Estou com um mau pressentimento.
Meu coração apertou, e respondi:
— Eu também estou.
Silêncio.
— E-Eu… — disse ela, baixinho. — Tenho medo de que vamos… morrer.
Meu coração apertou ainda mais, e respondi:
— Eu também tenho.
Lettie soltou um suspiro trêmulo e virou-se para mim:
— Você acha que isso é ser… egoísta?
— Não. — Fechei meu semblante. — O único egoísta aqui, sou eu.
— Por que diz isso?
Foi a minha vez de suspirar e a olhei de lado.
— Se você ou Gohan morrerem, podemos ressuscitá-los com as Esferas do Dragão. — Desviei meu olhar, sem coragem de encará-la. — No entanto, se eu morrer, as Esferas do Dragão morrem comigo, e então… acabou.
Lettie franziu o cenho, perplexa.
— Hã?! O que está dizendo?!
— Se eu morrer, Kami-sama também morre — respondi com amargura. — Ele é o criador das Esferas do Dragão. Sem nossa presença, elas desaparecem.
Ousei olhá-la de novo, a qual parecia confusa com o que eu disse, e molhei os lábios.
— Lettie, refleti bastante sobre o que você me disse de eu também ser um alienígena. Pra você entender em poucas palavras, eu e Kami-sama somos da mesma raça. — Pausei por um segundo. — Há muito tempo, Kami-sama meio que... extraiu a parte ruim de si, dando origem ao meu pai, Piccolo Daimaoh. — Respirei fundo. — Por causa disso, nossas vidas estão, de algum modo, conectadas. Se algo acontece com um, acontece com outro.
Lettie se mostrou em choque, com seus olhos marejados.
— Então… — disse ela, ainda me fitando. — Você fica.
— O quê?
— Você não vai participar da batalha contra os Saiyajins. — Sua respiração estava rápida. — Você vai ficar aqui, em segurança.
— De jeito nenhum! — Me virei para ela. — Não vou ficar aqui de braços cruzados enquanto você e Gohan correm perigo com esses maníacos. Preciso ir... para proteger vocês.
— Mas quem vai proteger você?! — Lettie se ergueu na ponta dos pés, e nos encaramos por um momento. Ela então baixou a cabeça e se apoiou no meu braço, parecendo subitamente fraca, e disse: — Mestre… — Uma lágrima escorreu pelo seu rosto. — O que será de mim se você for embora?
Pressionei os lábios ao sentir seu toque. Por que ela fazia aquilo comigo? Por que me fazia sofrer mais?
— Por favor — eu disse —, não me chame mais de Mestre.
— Como é? — Ela afastou seu braço, confusa.
— Seu Treinamento acabou. Não há mais necessidade de você me chamar de Mestre. Me chame apenas de Piccolo. Nada de "Piccolo Júnior", muito menos "Piccolo Daimaoh". — Voltei a olhar a paisagem, com as narinas infladas e minha voz carregada de repulsa. — Não quero estar envolvido com mais nada relacionado ao meu pai.
Fez-se silêncio.
— Está bem. — Diferente da minha, a voz dela era suave e tranquila. — Se é assim que deseja, então assim o farei. Entretanto, saiba que isso não muda o respeito e admiração que tenho por você.
Me virei para ela e sacudi a cabeça, irritado.
— Respeito?! Admiração?! Como você fala uma coisa dessas, Lettie?! Que tipo de respeito ou admiração você pode ter por mim? Por acaso se esqueceu de tudo o que fiz?!
— Eu já disse que você mudou. — Sua entonação ainda era baixa, porém firme. — Por que continua insistindo nisso?! Por que sente tanto… rancor de si mesmo?!
Me inclinei até sua altura e respondi, entredentes:
— Quer saber o porquê?! Então aqui vai: porque cada vez que olho pra você, vejo alguém que nunca poderei me tornar. Desde a primeira vez que te vi na ilha do Mestre Kame, percebi algo diferente em você. Seus olhos emitiam um brilho tão intenso, que precisei te olhar de novo para ver se eu não tinha visto coisas. E lá estava o brilho de novo. — Pausei, a olhando intensamente. — Você tem a mínima noção do efeito que causa nas pessoas? Se esqueceu de que Raditz contou que até sua mãe amoleceu após seu nascimento e quis te salvar? E digo mais: quer saber porque todo mundo naquela ilha ficou surpreso por você subir na Nuvem Voadora de Goku? — Me aproximei dela até ficarmos cara a cara. — Porque só os puros de coração conseguem subir nela.
Lettie arregalou os olhos ao ouvir tal revelação, cheios de lágrimas. Com uma expressão de dor e angústia, continuei a falar. Eu precisava botar aquilo pra fora:
— Eu nunca vou conseguir subir na Nuvem Voadora. — Bati no meu peito. — E o fato de saber que ainda pode existir algo podre e imundo aqui dentro… me apavora.
Silêncio.
Ainda nos encarando, meus lábios tremeram, denunciando meu estado de espírito, e precisei apertar minhas mãos nas laterais do corpo para controlar o choro que emergia do meu âmago. Droga. Eu não queria que ela me visse assim. O que pensaria? Que eu era um fraco?
Contudo, em resposta, assim como fez naquele dia mais cedo, ela levitou até ficar na minha altura e, com delicadeza, segurou meu rosto.
— Olhe para mim — pediu ela. — O passado só nos afasta do futuro bom que temos pela frente. O que você precisa fazer agora é focar naquilo que quer, no que deseja, e no que sonha.
Baixei minha cabeça, me permitindo ser amparado por suas mãos quentes e tão aconchegantes, e enfim deixei uma lágrima cair, a qual foi carinhosamente limpa pelo seu polegar.
Eu não conseguia entender… Lettie me disse para eu focar em meu sonho, mas… que sonho?
O único sonho que tive durante toda a minha vida (se é que eu podia chamá-lo assim) foi o de dar continuidade para aquela porcaria de ideia do meu pai de conquistar o mundo, mas agora…
— Eu não tenho mais nada com o que sonhar, Lettie… E nem mereço.
Ela pousou os pés no chão e apoiou as mãos no meu peito, me olhando profundamente.
— Tem, sim, e merece. Seu sonho está bem aqui. — Ela tocou na região do meu coração e me deu o sorriso mais doce. — Procure, e você encontrará.
Apertei os olhos com força para impedir que mais lágrimas escorressem e abri a boca para confessar uma culpa presa em meu coração:
— Lettie, eu…
Ela colocou o indicador nos meus lábios e disse:
— Sei o que vai me dizer. Sim, eu te perdoo por tudo o que fez, inclusive por ter matado meu irmão. E saiba que Gohan também te perdoa.
Arquejei ao ser pego de total surpresa com sua declaração. Como era possível ela saber o que eu ia dizer?
Lettie então ergueu meu queixo e me fez olhá-la.
— Agora, e quanto a você?
— O que tem eu? — repliquei num sussurro incrédulo.
Ela curvou os lábios num meio sorriso triste e completou:
— Quando você vai se perdoar?
Travei. Simplesmente travei com aquela indagação a qual eu temia saber a resposta.
Lettie piscou devagar com um pequeno sorriso e me deu um último apertãozinho carinhoso.
— Boa noite, Piccolo. Obrigada por tudo, inclusive pelas pizzas. — E caminhou até a barraca e entrou.
Ao me ver sozinho ali no meio daquele acampamento, senti tamanha fraqueza em minhas pernas que caí de joelhos no chão. As estrelas piscavam lá no alto, e não pude deixar de pensar que duas delas, na verdade, poderiam ser as duas cápsulas dos Saiyajins vindo ao nosso encontro.
Olhei para a barraca, pensando nos outros dois Saiyajins lá dentro, e minha fraqueza deu lugar a força.
Eu poderia não ter um sonho ou perspectiva de felicidade diante de tudo o que fiz no meu passado, no entanto, assim como Lettie e Gohan demonstraram durante o Treinamento, eu agora tinha um objetivo:
Eu os protegeria. Nem que eu tivesse que dar a minha vida por eles.
E ao grande Piccolo Daimaoh, meu pai e predecessor, tenho um recado para você:
Eu sempre te conheci. Você sempre esteve ali, na minha mente.
Eu sei quem você foi e tudo o que fez de mim.
Mas hoje, eu te entendo, e não farei mais parte dos seus desígnios.
Eu sei quem eu sou agora, e te declaro como meu inimigo.
Pois quero ser muito mais do que este demônio dentro de mim.
Obrigada por ler mais um capítulo!
Hoje, eu trouxe 2 curiosidades:
A primeira é sobre o golpe "TENKOCHI" de Lettie. Quis criar um golpe único para ela, assim como todos os guerreiros de Dragon Ball também possuem o seu. Com a ajuda do meu querido e amigo ChatGPT, chegamos no "Tenkochi (天候地)", uma combinação de "Tenkou no Chikara (天候の力)", que significa "Poder Celestial" ou "Força dos Céus". É como se a Lettie pegasse emprestado um pouquinho do poder de Deus e os lançasse como estrelas (as 10 bolas de energia).
A segunda curiosidade é que, esta declaração final do Piccolo para o seu pai, foi retirada de uma música de uma banda cristã que adoro. A música se chama "Dear Wormwood", da banda The Oh Hellos. Recomendo fortemente que vocês ouçam e vejam a tradução, é linda!
Mais uma vez, obrigada por todo o apoio!