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Amigos?

Distante de Dabsy, no centro das áreas urbanas do país, guardas usando fardas pretas, fechados por botões dourados nas laterais da blusa, na calça e na boca das mangas; nas mãos, luvas brancas empunhavam alabardas. Seguiam em marcha pelos corredores feitos por quarteirões compostos por prédios altos, casas grandes, lojas dos mais variados tipos e bancas beirando a calçada.

Os civis presentes naquele curto desfile militar, esboçavam sorrisos admirando aqueles que estavam para proteger, mas assim que terminassem de passar, a face de boa parte cairia em desprezo.

"Bem que eles são bonitinhos." Seguia com olhos a senhorita adentrando uma loja acompanhada de outra moça que também começava a falar: "Olha boca garota." Ria dando um tapinha em seu ombro.

Assim que a porta de vidro da loja era aberta, um sininho ressoava, alertando o vendedor do que parecia ser uma padaria, sobre as clientes que acabam de entrar.

"Como posso ajudá-las?" Saindo de trás do balcão um homem de 160 centímetros de tamanho, pele bronzeada, sobrancelhas grossas e lábios pequenos. Enxugando as mãos no avental que recaia sobre as pernas.

"Queria um pedaço daquele cacetinho ali..."Apontava para um fino e longo pão posto na prateleira, assim continuando: "… e um cafezinho por gentileza."

"Me veja um chá com bastante açúcar." Pedia a outra enquanto seguia para uma das mesas circulares presentes, e complementava: "Parece que não só a guarda, guarda, pessoas bonitas." Prosseguia do lado da amiga soltando seu trocadilho e gargalhando que nem um leitão.

"Meu santo!" Os olhos reviravam escutando a piada e o abatimento de um animal que sua companheira chamava de risada.

....

Bem longe dali, uma donzela alta de corpo estrutural, vestia um longo vestido marrom que passava dos joelhos. Lançando os belos cabelos prateados as costas, topando o meio delas, prosseguindo com movimentos circulares para formar um coque acima de sua cabeça. Nisso sentiria um arder nas orelhas.

"O que tá rolando com aquele safado agora?" Levava o dedo no queixo pensando, mas sendo puxada de volta a realidade por batidas na porta principal da casa.

"Oh mãe!"

Abrindo a porta veria três crianças, Naty, Ness e seu filho Tyranus na frente dos dois.

"Por onde estava? Hein?!" Questionava arqueando uma das sobrancelhas.

"Tava fazendo um amigo novo." Sorria apontando para Ness com a cabeça: "Ainda tem resto do almoço?" Continuava enquanto se esgueirava rapidamente para dentro.

"E quem disse que sou seu amigo cabeça de esmeralda?" Pensava Ness com uma cara de indignado.

"Vamos entrando, vamos." Acenava para dentro a corpulenta mãe. Abrindo passagem para os dois que restavam.

No chamado dela, Ness se perdia enquanto escalava desde os pés até o rosto no tempo que seu queixo cairia em queda livre: "Que gigantesca." Sibilava para si.

Não era para menos a reação do pequeno, já que a madame teria 250 centímetros de graciosidade e beleza.

"Só se você deixou! Parece que vive com um Kraken na barriga." Dizia a última frase só para os dois a sua frente. Então se curvava um pouco para frente erguendo a mão: "Meu nome é Maia, muito prazer em conhecer você e por ser amigo do meu filho."

"Esse babão aí é o Messi Cobra."Naty apresentava Ness antes do próprio já que ele estava hipnotizado.

"Ah! Certo, Messi." Sorria não deixando escapar algum riso, mas querendo.

"Ei! Ou! De onde saiu esse nome?"Ness franzia o cenho saindo do hipnotismo de Maia, virando-se para Naty: "Sou Ness Onuur." Se apresentando corretamente enquanto regressava o olhar.

"Para mim eu tinha ouvido N-Messssssss..." Concluiria seu pensamento chiando como uma cobra no final: "Enfim. Tia! Você pode fazer tranças em mim? Quero ficar que nem a vó Anyye." Avançava Naty, em passos largos, para o interior da casa.

"Claro que eu posso!" Se expressava Maia num tom alto, como uma amiga de mesma idade dela: "Até eu queria ter cabelos tão fáceis de manusear como os seus para fazer em mim."

Ness parado ainda fora, roubava a atenção da senhorita, que insinuava fechar a porta por achar que ele viria com a menina.

"Não precisa ser tímido." Mudava para um tom abaixo e erguia os braços da boca para formar um sorriso simpático. Então ela notara que o rapaz olhava de canto para o sol, que termina de sumir no horizonte: "Precisa ver seus pais?" O questionava observando suas pupilas se alterarem mediante a escuridão tomar o laranja do céu. Logo deslizando seus olhos para baixo e analisando suas vestes: "Onde moras?"

Houve um silêncio momentânea entre os dois, mas a criança quebrava se virando ao lado oposto que o sol descansava.

"Naquela 'casona' ali ao longe." Apontando para seu lar que se destacava por ser distante do todo.

Suspirando, ela se abaixava para estar na mesma altura, ou menos tentava: "Veja com ela se pode vim jantar conosco. Caso não, vou ver se faço um lanche da tarde para vocês amanhã, certo?" Finalizava dando uma piscadela exagerada para erguer o clima.

Ness se animava exibindo suas covinhas pela primeira vez, afundando tal imagem no coração da grande Maia, que remexia no seu cabelo ondulado antes deixá-lo correr até sua casa.

O tempo que o assistia correr, se afundava em memórias passadas, lhe tirando um semblante melancólico. Não durando muito tempo após ouvir panelas colidindo com o chão e criando uma harmonia de terror.

"Acho que ele achou." Debochava Naty de longe.

"Eu te pego!" Reclamava Maia fechando a porta com brutalidade.

....

Abrindo a porta devagar, Ness buscava se espreitar pela casa, não localizando sua mãe pela curta brecha que abria, então se apertava no vão para invadir com um ninja - a fim de não chegar no limite silencioso das dobradiças enferrujadas. Mas, assim que entrou, sentiu o frio correr sua espinha, de algum modo sabia o que o esperava furtiva atrás da porta que acabara de abrir.

"Não se preocupe, não vou reclamar com você." Sairia Aliora detrás de Ness com um longo bastão espinhoso, o deixando mais arrepiado: "E então? Percebi que fez amizades novas." Falava como se o estivesse seguindo o dia todo, o que não era muito difícil.

"Eu não diria que são meus amigos. Eles me tiram do sério." Reclama com covinhas no rosto: "Conheci eles hoje e..." Notava, em meio a fala, uma panela carregada de uma gororoba borbulhante no fogão de barro, harmonizando com o som do estalo das toras que queimavam alimentando as chamas. Engolindo seco, percebia a janta quase pronta, não gostando da ideia de fazer desfeita com os esforços de mãe. E antes mesmo que o rapaz pudesse seguir, Aliora o cortava: "Vá."

Ness ficou sem saber o que dizer, como se seu cérebro estivesse reiniciando. Fixando a atenção nos olhos da mãe percebia sua íris momentaneamente reluzindo. Ele já sabia do que se tratava, os olhos dela possuíam uma percepção extremamente rebuscada, como se cada mini expressão ou respiração em falso já ditasse sua intenção. Sem dúvidas era uma habilidade impressionante, que o pequeno jurava nunca encontrar outro igual.

"Mas minha parte vai estragar, não vai?" Acuado, ele tentava rebater.

Sem respondê-lo de imediato, Aliora passava ao seu lado dando um tapinha em sua testa, indo em seguida para boca do fogão.

"É sopa, posso requintar amanhã de manhã se quiser. Tente interagir um pouco mais com seus novos amigos." Seguia remexendo a panela com uma colher de madeira: "Mas não volte tão tarde, amanhã tenho que ir cedo à cidade, não quero chegar no sol de meio-dia por lá. Estamos no solstício de verão, lembre-se."

Assentindo com a cabeça sem contradizer suas palavras mais, temendo que ela mudasse de ideia. Andava de maneira rápida até a porta, para quando a fechasse correria até a casa de Maia.

....

Já era tarde da noite, o clima era gélido, fazendo a madeira de uma embarcação em alto mar, estalar em contração. As ondas pareciam agitadas, chicoteando no casco da estrutura e exercendo uma força maior nos ventos, que com facilidade tornaria um veleiro numa lancha veloz.

"O que vê capitão?" Indagava um tripulante qualquer.

Um punho fechado era erguido e posta a frente daquele tripulante, travando qualquer outro de fazer mais perguntas.

Este, ditado como comandante, se localizava na proa do navio de tamanho médio. Vestia um sobretudo longo preto que rastejava no chão, toda a extensão da borda do traje continha uma contínua linha branca. Sua presença era sombria, e tinha um cabelo preto bagunçado cobrindo a região dos olhos. Só que quando uma brisa rebatia em uma dessas mechas, era possível notar seu olhar sombrio com a íris reluzindo.

"Vejo um lugar problemático." Ecoava a voz grave dele.

Murmúrios se geravam, pois não havia nada além de mar e escuridão. Porém, feixes luminosos começavam a aparecer do horizonte e calavam os que ainda duvidavam.

Se aproximando um pouco mais, as partes da origem dessa luz apareciam.

Grandes muros circulando o que parecia uma imensa cidade, com colunas circulares a cada 30 metros ligando os paredões, servindo de ponto de vigia para os militares. No entanto, a ilha era extensa e se assemelhava a um losango devido o meio ser mais largo que as pontas, tendo toda a extensão do litoral que a contorna um desnivelamento, dificultando o atracamento de barcos, forçando qualquer um a ir para o porto. Com isso a cidade ficara no centro de tudo, a dois quilômetros do porto que ficava em uma das pontas.

"É por isso que vamos só pegar o que queremos e partir daqui." Continuava o capitão.

Os demais que estavam na sua retaguarda passavam o olhar na protuberância do sobretudo na linha das costas das pernas, porém não possuíam semblantes confusos, mas sim de receio por já saberem do que se tratava.