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Capítulo 2: preciso viver

Jun Lin se acomodou no piso da velha casa, observando o ambiente à sua volta. O cheiro de madeira queimada e o toque da poeira sobre as tábuas eram constantes. Ele sabia que precisava se adaptar rapidamente para sobreviver naquele novo corpo, e o primeiro passo seria entender seu território.

Durante um mês, Jun Lin se dedicou a estudar a rotina de Zhao Li, o lenhador, e de Mei Ling, sua esposa. Zhao Li era uma figura impressionante. Sua barba vermelha e espessa descia até o peito, balançando a cada movimento, e seu semblante era tão feroz que, em sua vida anterior, Jun Lin pensaria nele como um dos anões que os jovens costumavam ver em jogos de RPG. Com seu machado sempre em mãos e seu rosto severo, ele parecia um guerreiro saído de uma dessas histórias de fantasia, forte e impassível.

Contudo, havia algo sobre Zhao Li que desarmava completamente essa imagem de homem rústico e ameaçador: sua flauta de bambu. Sempre que Zhao Li pegava sua flauta, a atmosfera mudava. Aquela grande figura com a barba flamejante, tão associada à força e ao trabalho árduo, se transformava. A melodia que ele tocava era incrivelmente suave e harmoniosa, quase mágica. Era difícil acreditar que o som tão delicado e encantador saía de alguém que passava o dia inteiro cortando lenha.

Para Jun Lin, esses momentos eram únicos. Escondido nas sombras da casa, ele parava tudo para ouvir a flauta de Zhao Li. As notas tranquilas e melancólicas, ressoando pela casa antiga, traziam uma paz inexplicável. Em sua vida anterior, ele jamais imaginaria que um lenhador com aparência de guerreiro poderia ser capaz de produzir uma música tão delicada, quase transcendental.

Por outro lado, havia Mei Ling. Embora fosse geralmente calma e organizada, ela se tornava rabugenta sempre que se tratava de Zhao Li ou do filho que estava longe, lutando na guerra. Suas preocupações com os dois eram constantes e moldavam seu humor. Quando estava calma, Mei Ling dedicava-se a fazer tapetes coloridos, sentada em seu canto, tecendo com destreza. Nesses momentos, ela acariciava seu gato alcoólatra, que, em troca, se aninhava em seu colo, ronronando contentemente. Mei Ling cuidava do felino com carinho, sempre atenta a seu bem-estar, e isso trazia um certo conforto à casa.

O gato, que tinha a pelagem desgrenhada e um andar cambaleante, era um verdadeiro conquistador das tavernas. Ele sempre se aproveitava de bebidas derramadas ou de copos deixados descuidadamente na beirada das mesas. Com seu jeito desajeitado e um apetite insaciável por álcool, ele se aventurava pela cidade, sempre em busca de uma nova oportunidade de roubar a bebida de algum bêbado desatento.

Era um gato esperto, mas também desajeitado. Com o corpo pesado e a mente embriagada, suas tentativas de se equilibrar frequentemente resultavam em tombos cômicos, mas perigosos. Jun Lin não podia deixar de se sentir intimidado por aquele felino, mesmo quando estava bêbado. O gato tinha uma habilidade surpreendente, quase como um lutador de artes marciais da embriaguez; ele se movia com uma agilidade inesperada, mesmo em seu estado alterado, o que tornava a experiência de se cruzar com ele bastante arriscada.

Certa noite, enquanto Mei Ling servia o jantar, ela comentou, franzindo a testa:

— Às vezes, sinto que algo está nos observando. Você já notou, Zhao Li?

— Deixe disso, mulher. É apenas a sua imaginação. Ratos são criaturas tímidas. Se houvesse um aqui, já teria fugido.

Mei Ling bufou, preocupada.

— Ratos! Como se já não tivéssemos problemas suficientes com essa casa velha e nosso filho longe! E você ainda com esse gato que nunca para quieto!

Zhao Li deu uma risada, tentando amenizar a situação.

— Ele pode ser um pouco bagunceiro, mas você sabe que o cuido bem. O que faríamos sem ele?

— Você tem razão — Mei Ling suspirou, seu semblante suavizando. — Apenas fico preocupada. O gato pode se meter em encrenca.

Decidido a agir, Jun Lin observou. Com o olhar atento, notou que, após o jantar, Mei Ling costumava se afastar da mesa para limpar. Foi nesse intervalo que ele se atreveu a se aproximar e pegar um pedaço de queijo que sempre caía no chão. Essa estratégia se tornou parte de seu repertório: observar, esperar e agir no momento certo.

As migalhas deixadas no chão se tornaram a principal fonte de sustento de Jun Lin. Ele aprendia a se esgueirar entre os detritos, aproveitando cada oportunidade para garantir o que podia. Cada migalha, cada pedaço de pão ou queijo que encontrava, era uma vitória que o fortalecia e o mantinha motivado.

Certa noite, enquanto Mei Ling terminava de arrumar a cozinha, ela deixou cair um pudim no chão.

— Olha, Zhao Li! O pudim caiu! — exclamou Mei Ling, curvando-se para pegá-lo, ainda com seu semblante preocupado.

— Deixe isso, Mei Ling. É só um pudim. Depois eu compro outros ingredientes , com esses nobres comprando lenha isso não vai ser problema — disse Zhao Li, olhando pela janela.

— Ah, claro, agora preciso deixar um pudim perder porque você ganha mais? — Mei Ling retrucou, mais irritada do que nunca.

Decidido a agir, Jun Lin observou. Com o olhar atento, notou que, após o jantar, Mei Ling costumava se afastar da mesa para limpar. Foi nesse intervalo que ele se atreveu a se aproximar e pegar o pudim. Essa estratégia se tornou parte de seu repertório: observar, esperar e agir no momento certo.

Ao final do mês, Jun Lin já se sentia mais confiante. As experiências diárias moldaram sua forma de pensar. Ele não era mais apenas um rato em um corpo novo; havia se tornado um sobrevivente. Sua determinação e astúcia o equiparam para lidar com os desafios que ainda viriam.

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